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Aleksandr Dugin & Sergey Kuriokhin – Manifesto dos Novos Magos

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por Aleksandr Dugin e Sergey Kuriokhin

(1996)



1. Estamos diante de uma crise da arte, de uma falta de vitalidade e da dominação do puro mecanicismo. O pós-modernismo - a própria síndrome da degeneração - é ele próprio deformado. Atualmente, o interesse pela arte é breguice (em teatros, cinemas e shows de rock) ou a das provozierte Leben ("a vida provocada" nas palavras de Gottfried Benn), que é a ocupação de um círculo estreito e fechado de "intelectuais vampíricos" que perderam completamente todas as orientações, mas não perderam a necessidade de comida, status social e vaidade.

2. Estamos diante de uma crise política, de uma falta de pensamento e de uma nova ideologia e da degeneração da política desde o início da Perestroika. A política perdeu totalmente toda lógica e vida. A política hoje é ou uma conjunção patológica (no centro) ou uma caricatura patológica (na periferia). A política é sempre e em toda parte igualmente desinteressante.

3. Os pontos baixos críticos da degeneração da arte e da política foram alcançados simultaneamente, de uma só vez. Nem sempre é assim que as coisas acontecem, mas não é outro senão o caso agora. Os pontos mais baixos dos dois senoides coincidiram.

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Karl White - Emil Cioran: O Anti-Filósofo da Vida e da Morte

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por Karl White

(2017)



Desde o início, o empreendimento filosófico tem se concentrado na morte. A filosofia nos ensina como morrer, declarou Sócrates. Segundo ele, estamos fingindo ser sábios quando tememos a morte, pois não sabemos nada sobre ela e, ao contrário de todos os nossos instintos, ela pode ser uma bênção. A filosofia também se esforçou para amenizar nossos medos, reiterando incessantemente um lembrete de nossa mortalidade: ela tenta nos elevar acima do cotidiano para fazer nossa morte parecer nada excepcional; insta-nos a uma espécie de modéstia, onde devemos lembrar que estamos comprometidos com a morte, um constante memento mori (que se traduz literalmente como 'lembre-se de morrer'). Ela tem sucesso em algum desses objetivos? Segundo o pensador romeno E.M. Cioran, a resposta é um retumbante e mortalmente não, pois, segundo ele, "a natureza não foi generosa com ninguém, exceto aqueles que ela dispensou de pensar na morte". Diante da verdadeira catástrofe, a filosofia pode ser apenas uma meditação sobre seu próprio fracasso e impotência quando confrontada com a realidade de nossa extinção.

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Severiano Scarchini – Caspar David Friedrich: A Natureza e o Sublime no Romantismo Alemão

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por Severiano Scarchini

(2019)



Geralmente consideramos a arte alemã como algo secundário, desprovido de relevância, mas nenhum julgamento se mostrou tão errado ao longo da história. Certamente, nos séculos precedentes, a história da arte viu brilharem artistas italianos e franceses, consignando-os à lenda. No entanto, há uma corrente artística que nunca antes havia incorporado tão profundamente a alma e os sentimentos de um povo, neste caso o alemão, como o romantismo.

O romantismo alemão traduz o sentimento da natureza e a aspiração do sublime através da representação de paisagens evocativas e melancólicas, como montanhas cobertas de neve, enormes florestas silenciosas e extensões marinhas infinitas.

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John Médaille – Subversivos Patrióticos: O Distributismo como Problema Político

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por John Médaille

(2019)



Distributismo como Problema

Quando as pessoas pensam no distributismo, mesmo as que sabem um pouco sobre isso, elas tendem a vê-lo como algo problemático, algo mais parecido com o agrarianismo e com uma nostalgia ingênua por um passado rural, uma busca por uma "era de ouro" que nunca existiu. Nisso, eles não estão completamente enganados, pois os distributistas frequentemente se apresentam dessa maneira, e não há erro em julgar alguém por suas palavras. Mas, se deve haver algum avanço real, o distributismo deve se apresentar melhor. E nesta tarefa, vejo dois grandes problemas. O primeiro é o mal-entendido (mesmo entre os distribuidores) da natureza da propriedade e o segundo é o mal-entendido (especialmente entre os distributistas) do papel da política. Ou seja, temos um problema teórico e político.

Distributismo como Problema Teórico

A principal preocupação do distributismo é a justiça distributiva, julgada em grande parte pela distribuição da propriedade. Pois existem apenas duas fontes de riqueza: os dons de Deus e o trabalho do homem. Por "dons de Deus" entendemos aquelas coisas que o homem não pode criar nem prescindir, coisas como terra, ar, água, espectro de transmissão e coisas do gênero. E em acordo com quase todos os sistemas religiosos, os distributistas consideram esses dons como dados por Deus (ou pela Natureza, se você tiver dúvidas sobre o divino) a todos os homens para uso comum. Mas esses dons só podem ser úteis ao homem quando aplicamos nosso trabalho, seja físico, intelectual, espiritual, administrativo, etc., e sem esse trabalho, os dons permanecem ocultos, inúteis. Então, pegamos uma árvore e fazemos uma cadeira, porque as pessoas preferem sentar em cadeiras do que em árvores; o trabalho do homem aplicado ao dom de Deus torna os dons disponíveis de uma forma que podemos usar, e toda riqueza é produzida dessa maneira.

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Maurizio Neri - O Comunitarismo de Jean Thiriart

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por Maurizio Neri

(2005)



Uma reconstrução filosófico-política do comunitarismo não pode deixar de se concentrar na figura de Jean Thiriart, tanto pelo uso particular do termo em questão derivado de sua reflexão teórica e suas iniciativas políticas, quanto pelos reflexos que elas tiveram na parábola do próprio comunitarismo na Itália. Vamos começar com uma breve biografia do personagem.

1 – Biografia Ponderada

Jean-François Thiriart, nascido em Bruxelas em 1922, de uma família de cultura liberal, na juventude militou na Jeune Garde Socialiste Unifiée (Jovem Guarda Socialista Unificada) e na Union Socialiste Antifasciste (União Socialista Antifascista). Mas, a certa altura, uma evolução semelhante à que caracterizou vários expoentes da extrema esquerda desde o início da época da Grande Guerra (pensemos, apenas para nos limitar ao caso mais clamoroso, ao percurso de Mussolini). De fato, ele primeiro colaborou com o Fichte Bund (Liga Fichte), subsidiária do movimento nacional-bolchevique de Hamburgo, e depois se juntou à associação Amis du Grand Reich Allemand (Amigos do Grande Reich Alemão), favorável a uma aliança da Bélgica com a Alemanha nazista, tanto que em 1943 ele foi condenado à morte pela resistência belga. Após o colapso do Terceiro Reich, Thiriart passou vários anos na prisão. Em 1960, na época da descolonização, ele se colocou decididamente a favor do predomínio domínio dos brancos no Congo, em Katanga, na Rodésia, participando da fundação do Comitê de Ação e Defesa das Belgas d’África, que mais tarde se tornaria o Movimento da Ação Cívica. O controle da África lhe parecia necessário para a luta que a Europa teria que conduzir contra os imperialismos norte-americano e soviético. Dois anos depois, como representante desse movimento, se encontrou em Veneza com expoentes de outros grupos e nacional-revolucionários europeus. Saiu dali uma declaração na qual os participantes se comprometiam a dar vida a “um Partido Nacional Europeu, centrado na ideia de unidade europeia, que não aceita a satelitização da Europa Ocidental pelos EUA e não renuncia à reunificação dos territórios da Leste, da Polônia à Bulgária passando pela Hungria".

Mas o projeto, como tantos outros criados por Thiriart, não decolou. No entanto, ele não se resignou e decidiu fundar de forma independente um novo grupo, a Jeune Europe (Jovem Europa), que logo se estabeleceu em muitos países do velho continente: Bélgica, Holanda, França, Suíça, Áustria, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra. A organização ofereceu o apoio de suas redes na região metropolitana à OEA (Organisation del l’Armée Secrète)[Organização do Exército Secreto], uma formação política constituída por militares de extrema-direita ligados ao ambiente dos franceses da Argélia que se opunham à independência da colônia. Vários militantes, incluindo o próprio Thiriart, foram presos. A aliança foi motivada pelo fato de que, no caso da vitória da OAS, a Argélia e a própria França poderiam constituir "santuários" em vista de uma ação revolucionária na Europa.

No "Manifesto à Nação Européia", era possível identificar o núcleo essencial do pensamento político de Thiriart:

"Entre o bloco soviético e o bloco dos EUA, nossa tarefa é construir a Pátria Grande: uma Europa unida, poderosa e comunitária, de Brest a Bucareste"

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Andrea Virga – O Novo Comunitarismo de Costanzo Preve

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por Andrea Virga 

(2012)



Este ensaio pretende apresentar e discutir a teoria comunitarista desenvolvida nos últimos anos pelo filósofo de Turim Costanzo Preve, cuja particularidade reside em se posicionar, ao contrário de outras elaborações similares, na esteira da filosofia política comunista. Na introdução, serão apresentados brevemente o papel e a posição dessa teoria no percurso filosófico de Preve, em particular referindo-se ao texto de referência fundamental: “Elogio do Comunitarismo”[1]. Passamos então a uma definição histórica, ou seja às raízes do comunitarismo, ou de suas coordenadas históricas, da filosofia grega ao idealismo alemão. Então, a uma definição negativa, isto é, em relação às patologias e aos adversários do comunitarismo, ou seja sua comparação com as outras grandes "famílias políticas": comunismo, fascismo, liberalismo. Finalmente, uma definição mais concisa e positiva emerge da conclusão.

Dada a quantidade reduzida da bibliografia primária relevante e a quase total ausência de bibliografia secundária, as referências bibliográficas estarão diretamente na nota, sempre que necessário ou útil. O mesmo se aplica a quaisquer comentários do autor do ensaio sobre pontos singulares.

Rumo a um "Novo" Comunitarismo

Costanzo Preve, nascido em Valenza (AL) em 14 de abril de 1943, teve uma educação eclética: estudando ciências políticas em Turim (com Galante Garrone e Bobbio), filosofia em Paris (com Hyppolite, Sartre, Althusser e Garaudy), germanística em Berlim Ocidental e literatura neogrega em Atenas. Posteriormente, até 1991, ao mesmo tempo em que lecionava nas escolas secundárias de Turim, ele teve uma fase de forte compromisso político e cultural. Durante esse período, Preve, como outros intelectuais comprometidos de sua geração, seguiu um caminho político na esquerda extraparlamentar, militando, após uma breve adesão ao PCI, no Lotta Continua e depois no Democrazia Proletaria. A essas posições políticas, heterodoxas em relação às do comunismo italiano, ele adotou interesses de estudo e inspirações intelectuais igualmente "dissidentes" dentro da tradição filosófica marxista: Lukács, Bloch, Adorno e, em particular, Althusser.

O colapso do socialismo real na União Soviética e na maioria dos países satélites, devido a uma série de causas internas e externas, levou o filósofo de Turim a abandonar a política, para se dedicar a uma longa reflexão crítica e filosófica sobre as causas do fracasso político do fenômeno que ele chamou de "comunismo histórico do século XX". Nesta fase, entre 1990 e 2010, ele foi particularmente prolífico, com cerca de 70 ensaios publicados ao longo desses vinte anos. A partir de suas conclusões sobre o assunto - e mantendo constantemente em mente os desenvolvimentos típicos de uma era de transição, como a das décadas de 1990 e 2000 - Preve passou a considerar superados os rótulos políticos de "direita" e "esquerda" (mas não a definição de "comunista") e a apoiar a necessidade de um novo modelo sociopolítico e filosófico anticapitalista, que vá além das teorias do marxismo clássico e do século XX.

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Alain de Benoist – Oswald Spengler: Uma Introdução

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por Alain de Benoist

(2011)



Em 1925, André Fauconnet pôde escrever: "Depois do fim da guerra mundial, nenhuma obra filosófica na Europa Central teve um impacto comparável à de Spengler"[1]. A afirmação não é exagerada. A publicação do primeiro volume do “Declínio do Ocidente”, em abril de 1918, poucos meses antes do fim da Primeira Guerra Mundial, teve o efeito de um trovão[2]. A resposta na Alemanha, em particular, foi fenomenal, como evidenciado pelo número de livros e brochuras publicados em resposta, comentário, elogio ou crítica. Uma das razões para este sucesso, como Ernst Cassirer observou, foi sem dúvida o título do livro, que tinha sido inspirado a Spengler por um livro de Otto Seeck publicado no final do século XIX[3].

Fortemente criticado por Heinrich Rickert e Otto Neurath[4], chamado de "porco trivial" (triviale Sauhunde) por Walter Benjamin e "Karl May da filosofia" por Kurt Tucholsky, Spengler foi saudado por Georg Simmel, a quem enviou uma cópia do seu livro, como o autor da "filosofia da história mais importante desde Hegel", o que não foi um pequeno elogio[5]. O livro também causou grande impressão em Ludwig Wittgenstein, que aprovou o pessimismo de Spengler, bem como as principais linhas de seu método, no economista Werner Sombart e no historiador Eduard Meyer que, após uma discussão de cinco horas com o autor do “Declínio do Ocidente”, tornou-se seu admirador e amigo[6]. Max Weber ficou menos impressionado, mas mesmo assim convidou Spengler para falar em seu seminário de sociologia na Universidade de Munique, em dezembro de 1919. Quanto a Heidegger, que frequentemente cita Spengler, mas nunca lhe dedicou um estudo exaustivo, ele deu uma palestra em abril de 1920 em Wiesbaden sobre “O Declínio do Ocidente”[7].

A idéia central do livro, que se insere na tradição tanto da Kulturkritik alemã como na do "pessimismo cultural", é que a humanidade não tem mais objetivo pré-estabelecido, ideia orientadora, plano organizacional do que as "tem a orquídea ou a borboleta". A humanidade é "um conceito zoológico, ou então uma palavra vazia" ("Die Menschheit hat kein Ziel, keine Idee, kein Plan, so wenig wie die Gattung der Schmetterlinge oder der Orchideen en Ziel hat. ‘Die Menschheit’ ist ein zoologischer Begriff oder ein leeres Wort")[8]. É por isso que Spengler fala quase sempre de Weltgeschichte ("história mundial"), não de Universalgeschichte ("história universal"). Não há, portanto, "história da humanidade" no sentido de um processo homogêneo. Há apenas histórias separadas correspondentes às várias culturas, cujo desenvolvimento e declínio obedecem às mesmas leis. "Para ele, como escreve Lucian Blaga, a cultura é um verdadeiro organismo, dotado de uma ‘alma’ específica, radicalmente diferente da alma individual de cada um dos homens que constituem a coletividade"[9].

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Luca Negri - O Cosmismo Russo

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por Luca Negri

(2017)



Façamos um exercício extremo de história alternativa: que caráter teria assumido a Revolução Russa de 1917 com Aleksandr Bogdanov no lugar de Lênin como líder dos bolcheviques? Qual seria o destino então, com soviéticos alternativos no poder, da Rússia e de toda a Europa. Hipótese improvável, mas que nos permite imaginar um outro bolchevismo, não necessariamente melhor, mas mais em sintonia com séculos de espiritualidade eslava. Solzhenitsyn escreveu que Lênin era um produto do jacobinismo europeu mais que do caráter russo; o mesmo se pode dizer apenas parcialmente de Bogdanov, das suas bizarrices e dos seus companheiros.

Já tradutor de Marx, Bogdanov escreveu também um romance de ficção científica no qual o socialismo triunfava no planeta Marte e os alienígenas ensinavam aos terráqueos como sair da pré-história. Era membro dos “construtores de Deus”: bolcheviques heréticos embriagados por leituras científicas e místicas. Nietzscheanos com o ateísmo como ponto de partida e não de chegada: Deus deveria ser (re)construído pelo homem, pelo super-homem soviético, por uma super-humanidade que finalmente chegaria. E tudo devia ser feito rapidamente, com todos os recursos da tecnologia material e da suprassensível.

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Sebastiano Fusco - Lovecraft ou a Inconsistência do Real

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por Sebastiano Fusco

(2014)



A última vez que tentei obter uma cópia do Necronomicon - o livro oculto que contém o conhecimento para abrir os mundos e fazer irromper criaturas monstruosas em uma realidade despreparada para recebê-los - foi há algum tempo, na antiga biblioteca de uma cidade de arte italiana, famosa por sua coleção de incunábulos (você me permitirá permanecer vago, por razões que serão claras imediatamente). Um "bibliotecário cortês", como teria dito Lovecraft, depois de alguma hesitação me disse que, sim, ele se lembrava da presença do volume nas prateleiras augustas daquele templo do conhecimento, mas infelizmente, em um período indefinido, ele tinha sido perdido, roubado ou destruído. E, como prova, ele me mostrou os registros da venerável instituição em que o livro foi devidamente marcado com um cartão bibliográfico completo com todos os elementos necessários, e com as palavras "Removido" ao seu lado. Manifestei o meu pesar por um trabalho tão assustador ter acabado em mãos imprudentes, e o educado bibliotecário concordou.

Ao sair do edifício histórico da biblioteca, não fiquei particularmente surpreendido. Sei que o Necronomicon não existe e nunca existiu, porque é uma pura e simples invenção literária do Lovecraft. Mas sei também que o volume sinistro tem uma marcada e perturbadora propensão a não ter em conta a sua própria inexistência, manifestando-se indevidamente no mundo real das formas mais inesperadas e com os efeitos mais imprevisíveis. Respostas semelhantes às que me foram dadas pelo cortês bibliotecário me chegam uma vez a cada cinco na investigação que venho conduzindo há anos sobre a persistência de Lovecraft e sua mais famosa invenção, o Necronomicon, na cultura popular e no processamento das mídias de massa. Além da crença geral e inabalável dos leitores de que o livro amaldiçoado existe, apesar de todos os desmentidos, aqueles que querem verificar a sua existência encontrariam evidências em abundância: resenhas publicadas por periódicos de renome, citações como "obra consultada" em bibliografias de ensaios respeitáveis, inclusões em catálogos de coleções de livros, testemunhos verídicos de quem estava prestes a comprá-lo mas que no último momento o viu escapar de suas mãos, relatos de desaparecimentos misteriosos relacionados com estranhas desgraças, ofertas de venda por cifras bizarras em boletins de livrarias antigas, menções nas listas de preços de prestigiosas casas de leilão, em legados hereditários e assim por diante. Além disso, é claro, nos cartões de repertório presentes num número crescente de bibliotecas em todo o mundo, nas quais o livro de Abdul Alhazred aparece invariavelmente como "indisponível à consulta", "fora de lugar" ou "subtraído".

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Israel Lira - Arqueofuturismo: Um Dinamismo Vitalista

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por Israel Lira

(2019)



“...as formas políticas e sociais da modernidade se fragilizam; as formas arcaicas ressurgem em todos os domínios, o renascimento de um Islã conquistador, é um exemplo perfeito. Por fim, as alterações futuras da tecnociência – principalmente na genética – assim como o retorno trágico à realidade que o século XXI prepara, exigirão o retorno a uma mentalidade arcaica. É o modernismo que é um passadismo. Não se tem que voltar ao ‘tradicionalismo’ clássico, impregnado de folclorismo e sonhador de um retorno ao passado. A modernidade já está obsoleta. O futuro tem que ser ‘arcaico’, ou seja, nem moderno, nem passadista” (Faye, 1998:15)

Após a citação de Faye fica muito claro que este sempre foi diáfano no estabelecimento dos princípios consubstanciais de seu sistema teórico, para evitar com isso, precisamente, que este pudesse se confundir com outras teorias que também tem dentro de suas considerações a tecnociência. No caso particular de Faye, a aproximação universal de sua proposição se entende sob a categoria de construtivismo vitalista[1], enquanto que sua conceituação específica sob a forma do neologismo arqueofuturismo[2]. Esta nova doutrina influenciou diversas correntes teóricas até hoje[3], dentro do marco de propostas antiglobalistas, anti-individualistas e antiliberais, frente a um mundo pós-moderno que se apresenta a nós sob a narrativa do niilismo cultural, cujas principais expressões fenomênicas as temos no secularismo niilista, na globalização neoliberal, no narcisismo hiperindividualista e no relativismo cultural extremo[4].

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Mircea Eliade - Adão e Eva

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por Mircea Eliade

(1942)



O episódio do nascimento de Eva da costela de Adão, como nos foi preservado no capítulo I (26-28) e no capítulo II (21-22) do Gênesis, logo deu origem a exegeses infinitas nos círculos dos estudiosos judeus. Algumas dessas exegese e comentários rabínicos - da era alexandrina em diante - foram-nos transmitidos. De fato, se Eva foi feita da costela de Adão, pode-se assumir que Adão era andrógino; ele reunia ambos os sexos. O "nascimento" de Eva foi, portanto, apropriadamente a ruptura do andrógino primordial em duas partes: masculino e feminino. Parece que este foi o significado dado pela exegese rabínica ao texto bíblico. "Adão e Eva foram criados de costa para costa, presos por seus ombros; então Deus os separou com um golpe de machado ou cortando-os em dois. Outros pensam de forma diversa: o primeiro homem (Adão) era macho do lado direito e fêmea do lado esquerdo; e Deus os dividiu em duas metades" [1].

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Daniel Estulin – Venezuela: Inteligência Conceitual, Geopolítica Profunda

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por Daniel Estulin

(2018)



Conferência no Supremo Tribunal de Justiça
Caracas, 5 de abril de 2018

(Saudações, saudação a Chávez, introdução)

Acho que todos concordariam que o mundo ficou totalmente louco. Eventos que costumavam levar anos para acontecer agora acontecem em questão de semanas. Onde quer que olhemos, existem problemas, conflitos armados, problemas financeiros em escala global, seja nos Estados Unidos, Canadá, México, América Latina, África, Ásia, Europa, Oceania, Antártida... Em todo lugar da Terra há uma guerra pela sobrevivência.

É difícil para muitos entender esse cenário, porque continuamos pensando em termos de bem e de mal, capitalistas e socialistas, dois blocos, OTAN e pacto de Varsóvia. Muita coisa mudou desde a queda da URSS, uma queda não porque o Ocidente era superior ao nosso sistema, mas porque, a partir da década de 1960, houve um acordo entre os círculos da URSS e do Ocidente com o objetivo de unir os dois sistemas em um e converter tudo em liberalismo como um sistema único global.

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Giacomo Maria Arrigo – Limonov: Delinquente, Político, Mendicante

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por Giacomo Maria Arrigo

(2019)



“Por que você quer escrever um livro sobre mim?” Esta é a pergunta feita a Emmanuel Carrère por parte de Eduard Veniaminovich Savenko, melhor conhecido como Limonov. Eis como Carrère, hoje considerado um dos maiores escritores franceses vivos, descreve a sua reação àquela pergunta:

“Fui pego de surpresa mas respondo, com sinceridade: porque você tem – ou teve, não me lembro mais o tempo que usei – uma vida apaixonante. Uma vida romancesca, perigosa, uma vida que aceitou o risco de descer na história”. 

E assim nasce o livro “Limonov”, uma biografia romanceada daquele Eduard Savenko que tantiu viu do alto dos seus atuais 76 anos: delinquente na União Soviética, poeta na França, primeiro mendigo e depois empregado doméstico nos Estados Unidos, combatente nos Bálcãs, fundador, junto a Aleksandr Dugin, do Partido Nacional-Bolchevique na Rússia pós-soviética, prisioneiro nos cárceres de segurança máxima.

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Aleksandr Dugin - Os Deuses da Peste: A Geopolítica da Epidemia e as Bolhas de Nada

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por Aleksandr Dugin

(2020)



O Coronavírus e o Colapso da Ordem Mundial

Nas últimas décadas, tem havido grande expectativa a respeito do surgimento de algo fatal, irreversível, decisivo. Talvez a epidemia do coronavírus seja esse algo. É muito cedo para tirar conclusões exatas, é verdade, mas alguns elementos geopolíticos e ideológicos parecem ter ultrapassado um limiar sem retorno. Em outras palavras: a epidemia de coronavírus representa o fim da globalização.

A Sociedade Aberta reúne as condições necessárias para a pandemia. Aqueles que escolheram derrubar as fronteiras foram os mesmos que, fatalmente, prepararam o território para a aniquilação total da humanidade. Você pode rir, sim, mas logo vai aparecer alguém vestindo um roupão Hazmat branco para tirar o sorriso (inadequados) do seu rosto; e então, só o fechamento poderá nos salvar. Fechamento em todos os aspectos: fronteiras fechadas, economias fechadas, fornecimento fechado de bens e produtos; o que Fichte chamou de Estado de comércio fechado. Soros deve ser linchado, e um monumento deve ser construído para Fichte. Essa é a primeira lição.

A segunda: o coronavírus é a última página do liberalismo. O liberalismo, em todos os sentidos, tornou mais fácil a propagação do vírus — já que a epidemia requer a demolição de todas as fronteiras. O liberalismo, portanto, é o vírus. Logo, logo e os liberais serão equiparados a “leprosos” e “maníacos” contagiosos, que falam em dançar e se divertir em meio à peste. O liberal é o portador do coronavírus, seu advogado por excelência. Isso ficará mais evidente caso se verifique mesmo que o vírus foi criado nos Estados Unidos, a cidadela do liberalismo, como uma arma biológica. Segunda lição: o liberalismo mata.

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Edgar Allan Poe - A Máscara da Morte Rubra

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por Edgar Allan Poe



A “Morte Rubra” havia muito devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era seu avatar e sua marca. A loucura e o horror do sangue. Surgia com dores agudas e súbita tontura, seguidas de profuso sangramento pelos poros, e então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E entre o aparecimento, a evolução e o fim da doença não se passava mais de meia hora.

Mas o príncipe Próspero era feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos dentre os cavaleiros e damas da sua corte e com eles retirou-se, em total reclusão, para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e magnífica, criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a uma muralha forte e muito alta, com portas de ferro. Depois de entrarem, os cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos.

Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos de desespero dos que estavam fora ou de frenesi do que estavam dentro. O mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse meio-tempo era tolice atormentar-se ou pensar nisso. O príncipe havia providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, havia improvisadores, havia bailarinos, havia músicos, havia beleza, havia vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá fora, a “Morte Rubra”.

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Daniele Perra - A Abordagem Confucionista ao COVID-19

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por Daniele Perra

(2020)



Prefácio

Nestes dias de propagação global do novo coronavírus, vários analistas vêm identificando pelo menos duas estratégias distintas seguidas pelos Estados em às relações às regiões de contágio. A primeira, que remete ao chamado darwinismo social, é a linha adotada pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Brasil e, inicialmente, pela Alemanha. Ela se baseia numa espécie de “seleção natural” e supõe que a morte de milhares de pessoas é um fator de imunização potencial geral das massas. Obviamente, embora o novo coronavírus tenha mostrado uma taxa de mortalidade bastante reduzida (e isso, paradoxalmente, também é evidente no caso italiano, considerando os dados fornecidos pelo Istituto Superiore di Sanità em relação às mortes para pelo COVID-19 e àquelas por patologias anteriores mais graves), existe um teto de mortes que representa um limiar a partir do qual o colapso do Estado aparece como risco real. E esta seria a razão para a reviravolta parcial nas ações adotadas por de Donald J. Trump e Boris Johnson.

A segunda estratégia está mais ou menos ligada ao denominado despotismo asiático, nos termos sinólogo e sociólogo alemão Karl August Wittfogel. Tal estratégia estaria baseada em uma implementação variada, em diferentes graus, de um tipo de autoritarismo e na atualização da Saúde Pública como instrumento fundamental da sociedade. Essa estratégia foi adotada pela China, pela Coreia do Sul e, embora com um atraso temerário e com consideravelmente contraditório (pouco controle sobre os recursos humanos em saúde; extensão inútil da “zona vermelha” a todo o país e não apenas às zonas de foco), pela Itália.

Aqui, escrevendo na esteira do pensador argentino Norberto Ceresole, eu gostaria de propor uma abordagem diferente. Ao invés das duas categorias mencionadas acima, gostaria identificar essas diferentes estratégias para combater a emergência com base nas categorias de civilização do lucro/dinheiro e civilização da fé/espírito.

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François Busquet - Limonov: O Rock Star do Nacional-Bolchevismo

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por François Busquet

(2020)



“Nem todo mundo pode cantar,
Não é dado a todos
Cair como um pomo aos pés dos outros.
É essa a suprema confissão de um pilantra”

Esses versos são de Sergei Yesenin, um poeta tão profundo quanto a sua pátria: cossaco, camponês, mas também soviético.

Sim, de fato: nem todos sabem cantar. E cantar era justamente o que Eduard Limonov fazia de melhor – isso sem falar, obviamente, em seu tato com as mulheres e com a guerra. Suas mulheres – incluindo aquelas com quem se casou – foram indescritivelmente românticas, mas de um romantismo sombrio (cinco casamentos e, agora, um funeral), como se tivessem saído de uma pintura da Fronda ou de uma página do Corto Maltese, rodeadas pelos odores de canhão e de veneno sedutor. Quanto à guerra, ele prezava sua violência sem restrições. Canta, musa, a cólera de Eduard!

Curioso destino o dele. Ele permaneceu jovem até o fim, morrendo aos setenta e sete anos de idade na flor da idade. Mesmo velho, permaneceu tal como era no final da adolescência. Ele possuía o poder milagroso de não envelhecer, e isso graças aos favores da da genética e da poética. Até seus últimos dias, ele conservou assim essa inalterável juventude: Rimbaud das estepes na sola do vento; a pele ligeiramente enrugada e a energia febril dos sobreviventes presa ao corpo. Um sobrevivente: ele vinha sendo um sobrevivente desde aquele dia, em 2016, quando um cirurgião removeu um coágulo de sangue tão grande quanto um punho do seu cérebro flamejante. Ele relatou tudo isso em "E Seus Demônios" (2018): “Eu estava praticamente no outro mundo”.

Sim, ele veio de outro mundo, um mundo de velhos brezhnevianos, de ideais desbotados e de marechais senis e congestionados, dos quais ele foi o enfant terrible; duplamente dissidente: da gerontocracia soviética e do "Grande Hospício Ocidental" (1993).

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Luca Siniscalco - Em Memória de Eduard Limonov: Sonhador e Guerreiro, Poeta da Superação da Solidão Cósmica

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por Luca Siniscalco

(2019)



“Tenho várias vidas: a literária, a política, até mesmo a mística e, claro, a privada. Mas o destino não queria que eu sossegasse: as várias famílias que tentei constituir sempre se desmoronaram. E agora eu vivo assim: eu pego moças na estação de Leningradskaya ou, caso contrário, passo longos meses sozinho com o meu rato” (Zona Industrial)

*

Soube agora da sua morte. O meu fôlego tropeça perante a memória de uma jornada decembrina de poucos meses atrás. O entusiasmo com a notícia do seu regresso à Itália, a alegria com a sua entrada no “palco” da conferência de imprensa (ele que era um ator shakespeariano nato), a honra de poder ter uma conversa, ainda que breve, com ele, a desilusão de reconhecer a sua dura frieza eslava, a serenidade, pouco depois, na experiência do pathos da distância – o que Nietzsche ensina, poucos compreendem, e menos ainda a praticam. Emmanuel Carrère tentou compreendê-lo, com resultados literários extraordinários, e conseguiu criar um fenômeno cultural generalizado: ao proletário anárquico e elitista que fundou Limonka – um jornal com o título dadaísta, “granada Limonov” – nunca foi de agrado.

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Adriano Scianca - Coronavírus: Três Mentiras do Globalismo

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por Adriano Scianca

(2020)



O globalismo nunca dorme. Mesmo diante de um contexto de crise, que coloca em xeque todos os seus postulados, essa ideologia nefasta segue acreditando que pode achar validade para si própria em qualquer lugar. Resumindo: é uma ideologia que não falseável no sentido popperiano, porque se crê corroborada tanto por A como pelo inverso de A.

Atualmente, sobre isso, existem pelo menos três tópicos em particular que circulam nas mídias sociais, nos jornais e nos programas de televisão: a) a emergência do coronavírus confirma a validade da globalização e a inutilidade das fronteiras (“soberanamente”) fechadas; b) a emergência do coronavírus confirma a validade dos especialistas, dos técnicos e dos noticiários contra as falsidades e, portanto, contra as fake news; c) a emergência do coronavírus confirma a superioridade da democracia e da “sociedade aberta” sobre os autoritarismos.

Obviamente, todos esses três argumentos estão baseados em uma abordagem inicial distorcida, em simplificações e em perspectivas hiper-generalistas, propositalmente colocadas de forma maniqueísta e caricatural para forçar certas conclusões. Mas olhemos de forma mais detalhada.

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Aleksandr Dugin - A Ordem Pós-Global é uma Inevitabilidade

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por Aleksandr Dugin

(2020)



A crise que a humanidade atravessa por conta da pandemia do coronavírus já assumiu contornos tão globais que um simples retorno à situação anterior (pré-epidêmica) parece impossível.

Se, por uma série de variáveis, a propagação do vírus não puder ser radicalmente interrompida dentro dois meses a um ano e meio, o processo se tornará mesmo irreversível e, ao que tudo indica, a ordem mundial entrará em colapso. A história já viu períodos semelhantes, de catástrofes mundiais, guerras e eventos extraordinários.

Deste modo, se olhamos para o futuro a partir do ponto em que estamos agora, mesmo com toda a incerteza e indefinição, podemos ainda assim traçar alguns dos cenários mais prováveis:

(1) A globalização entrou em colapso completamente – de forma rápida e irrevogável: não é de hoje que já se podem observar sinais de uma crise, mas a epidemia simplesmente destroçou todos os principais axiomas do mundo global: fronteiras abertas; interdependência das sociedades; eficácia das instituições econômicas existentes e competência das elites no poder diante de problemáticas como a do coronavírus. A globalização caiu: ideologicamente (liberalismo), enquanto modelo econômico (redes globais) e politicamente (a liderança das elites ocidentais).

(2) Nas ruínas da globalização, será estabelecida uma nova arquitetura para um mundo pós-globalista (pós-liberal).

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