Quantcast
Channel: LEGIO VICTRIX
Viewing all 965 articles
Browse latest View live

Peter Chojnowski - Distributismo: A Economia como se as pessoas importassem

$
0
0
por Peter Chojnowski

(2011)



As verdadeiras expressões "proféticas" e a análise das circunstâncias atuais, juntamente com a consideração das leis escritas na natureza humana que se manifestam na história, podem fornecer uma predição a respeito do resumo das coisas que virão.  Este julgamento de mentes bem informadas e perceptivas é um pouco minado por um único fator. O universo, e o "universo" da sociedade humana no qual as leis inerentes escritas na natureza humana por seu criador revelam eventos históricos por si mesmas, é também um universo contendo criaturas livres que são indeterminadas quanto aos meios que elas podem empregar para alcançar seu fim humano específico. A liberdade humana insere uma variável na necessidade material do universo. Esta contingência e variabilidade tem sua fonte última na espiritualidade da alma humana. É precisamente por causa da sua rejeição materialista da alma humana que Karl Marx, por exemplo, poderia ridiculamente fazer previsões tão precisas como outras previsões para o movimento "necessário" da economia, da política e da história social. Isto não significa, porém, que não exista uma lei natural inerente que determine qual esforço humano "funcionará" e qual levará à catástrofe. Durante os séculos XIX e início do século XX, houve um grupo de estudiosos, teólogos, filósofos, críticos sociais e poetas que previu o inevitável desaparecimento do sistema econômico capitalista que estava se desenvolvendo apenas na Europa continental, mas que estava em funcionamento há 100 anos na Inglaterra. Quando você lê seus trabalhos, especialmente os autores britânicos do início do século 20, aqui incluímos Hilaire Belloc, G.K. Chesterton e Arthur Penty, descobrimos que suas análises são mais válidas hoje do que há 70 ou 80 anos, que suas previsões provavelmente serão cumpridas em breve. O que eles previam era nada menos que o colapso do sistema capitalista. No caso de Belloc, em seu livro "O Estado Servil", previa-se que o capitalismo logo se transformaria em um sistema econômico e social que se assemelharia às economias escravistas das eras pré-cristãs e cristãs primitivas. Por que eles previam tal colapso ou transformação inevitável? Em seus escritos, muitas razões são dadas, porém, podemos reduzi-las a três. A primeira, referindo-se ao "paradoxo capitalista". O paradoxo é uma consequência do capitalismo ser um sistema econômico que, a longo prazo, "impede as pessoas de obter a riqueza produzida e impede o proprietário da riqueza de encontrar um mercado". Como o capitalismo luta tanto por níveis mais altos de produção e salários mais baixos, finalmente "o trabalhador que atualmente produz diz que não pode comprar as mesmas botas que o trabalhador fez". Isto leva à "posição absurda de as pessoas fazerem mais bens do que necessitam e terem ainda menos bens disponíveis do que precisam para si próprias".

Continue lendo...

Kerry Bolton - A Resposta Corporativista

$
0
0
por Kerry Bolton

(2019)



Quando um Estado cai no caos e na falência, seja do tipo econômico ou moral, pode haver uma reação das partes saudáveis remanescentes do povo na direção da regeneração. Oswald Spengler referiu-se em “O Declínio do Ocidente” a esta época como um retorno do "Cesarismo" e a derrubada da plutocracia. Embora seja uma reação, ela é, no entanto, revolucionária, porque o estado de decadência é tão avançado que apenas uma mudança radical, não apenas nas estruturas de governança, mas na psicologia das pessoas, é necessária. É literalmente uma "revolução", na medida em que procura um regresso às origens.

Na época da decadência da Civilização Ocidental - que tem vindo a ocorrer através de transformações como a Reforma, incluindo a de Henrique VIII, a "Revolução Gloriosa", a Revolução Cromwelliana, a Revolução Jacobina, a Revolução Industrial, a Revolução Americana e as revoluções de 1848 - cada passo minou ainda mais a ordem social e abriu caminho, geralmente em nome do "povo", para um aumento da influência dos interesses comerciais, até se alcançar a fase de plutocracia (domínio do dinheiro).

Continue lendo...

Alain de Benoist - Crise Sanitária, Crise Econômica, Crise Política: Como será o Mundo Pós-Coronavírus?

$
0
0
por Alain de Benoist

(2020)



A história está sempre aberta, como todos sabem, e isso a torna imprevisível. Mas, em certas circunstâncias, é mais fácil ver o médio e longo prazo do que o curto prazo, como mostra bem a pandemia do coronavírus. No curto prazo, certamente se imagina o pior: sistemas de saúde saturados, centenas de milhares, até milhões de mortos, rupturas de cadeias de suprimentos, tumultos, caos e tudo o que se seguirá. Na realidade, estamos sendo levados por uma onda e ninguém sabe aonde ela vai levar ou quando vai acabar. Mas, se olharmos mais além, certas questões se tornam evidentes.

Já foi dito, mas vale repetir: a crise de saúde está soando (provisoriamente?) o toque de morte da globalização e da ideologia hegemônica do progresso. Com certeza, as grandes epidemias da Antiguidade e da Idade Média não precisavam da globalização para produzir dezenas de milhões de mortos, mas é claro que a generalização dos transportes, das trocas e das comunicações no mundo contemporâneo só poderia agravar as coisas. Na “sociedade aberta”, o vírus é muito conformista: age como todo mundo, circula – e agora nós não estamos mais circulando. Em outras palavras, estamos rompendo com o princípio da livre circulação de pessoas, bens e capitais, que se resumia no slogan “laissez faire”, ou seja, deixe ir, deixe passar. Isto não é o fim do mundo, mas é o fim de um mundo.

Continue lendo...

Marco Maculotti – Jacques Bergier e o “Realismo Mágico”: Um Novo Paradigma para a Era Atômica

$
0
0
por Marco Maculotti

(2019)



Jacques Bergier (1912-1978) - jornalista, escritor e engenheiro francês, nascido numa família de judeus russos - é mais conhecido pela sua escrita a quatro mãos com Louis Pauwels “O Amanhecer dos Magos: Introdução ao Realismo Fantástico” (1960), um compêndio a meio caminho entre uma obra de ficção científica distópica e um tratado esotérico capaz de unir, de forma mais ou menos coerente (e, sobretudo, bastante fascinante), temas limítrofes tão distantes uns dos outros, como a alquimia, as civilizações desaparecidas, o nazismo esotérico, o socialismo mágico, a horrível mitopoiese de H.P. Lovecraft e Arthur Machen, a Terra Oca e as teorias teosóficas de Madame Blavatsky.

A "via" que Bergier, "divulgador científico, perito em narrativas do Imaginário, cientista ‘de esquerda’ que havia participado na Resistência e tinha estado nos campos de concentração alemães", propôs seguir foi precisamente o do chamado "Realismo Fantástico" (ou "Mágico"): um novo método de investigação em que o conhecimento científico mais avançado (incluindo a física quântica) estava destinado a se fundir com antigos corpora sapienciais, muitas vezes de natureza secreta e iniciática (pense nas vertentes alquímica, hermética e teosófica), bem como com os estudos fortiani sobre o paranormal e a ficção científica de escopo cósmico do novo século. Do ponto de vista de Pauwels e Bergier, como escreve Gianfranco de Turris:

"Não havia diferença substancial entre teorias e hipóteses sustentadas na ensaística científica e nas histórias da imaginação: tudo podia ser colocado no mesmo nível... Além disso, mais ou menos abertamente, eles sustentavam a tese de uma espécie de ‘complô mundial’ que, desde tempos imemoriais, buscava impedir tais ligações e, portanto, a descoberta de novas verdades, a fim de manter a humanidade em níveis cognitivos inferiores.”

Este último é um tema que Bergier tratou sobretudo em sua obra “Os Livros Malditos”, onde ele chega a postular a existência de uma seita de "Homens de Preto" tão antiga quanto a própria civilização, que por milhares de anos tem sido usada para ocultar, queimar e retirar de circulação certos textos considerados particularmente prejudiciais pelas implicações que poderiam fazer surgir na mente dos leitores mais exigentes. Estes enigmáticos "Homens de Negro", que conceitualmente são muito pouco distintos dos famosos Men in Black trazidos à atenção do público norte-americano por ufólogos e também por Hollywood, teriam planejado entre outras coisas a destruição da Biblioteca de Alexandria, inspirado a Santa Inquisição em sua tristemente famosa "caça às bruxas", persuadido os chefes de Estado a ilegalizar as sociedades secretas, promovido a censura, ordenado a prisão de gênios e inovadores e finalmente formulado o chamado "segredo iniciático", que se violado pode até levar à imolação nas mãos dos confrades e superiores. 

Continue lendo...

Yukio Mishima e a Crise de Identidade Japonesa no Auge da Prosperidade Econômica

$
0
0
[Texto tirado do extinto blog "Otakismo"]

 

"As mulheres: bolas de sabão; o dinheiro: bolas de sabão; o sucesso: bolas de sabão. Os reflexos sobre as bolas de sabão são o mundo em que vivemos." Yukio Mishima (Pavilhão Dourado)

O escritor e dramaturgo Yukio Mishima (Kimitake Hiraoka - 1925-1970) é decerto um dos personagens japoneses mais icônicos do século XX por escancarar de modo excêntrico das contradições de um país milenar que avançava na estrada do progresso sem vislumbrar, um pouco que seja, a vista pelo retrovisor, nem mesmo o velocímetro.

Mishima, educado como um samurai, viveu e morreu como um, tendo entrado na escola enquanto o Japão militarista 'entrava' na China. Sem a atenção do pai, que o queria formado em engenharia a despeito de seu talento pelas artes, e cuidando de uma avó doente e possessiva, Kimitake refugiava-se na literatura para aguentar a opressão do dia-a-dia, e justamente por isso criou seu nome artístico, na intenção de esconder do pai suas atividades. Influenciado por obras como o Hagakure do século XVII ("o ventre de onde nasceu minha escrita"), sua produção ganha destaque imediatamente após o cessar da Segunda Guerra Mundial, onde descreve a situação política e social do país, ocupado pelas forças americanas, com esmero literário.
Continue lendo...

Daniele Perra - Os Caminhos de Retorno no Século XX

$
0
0
por Daniele Perra

(2018)



Em uma carta datada de 1933 dirigida a Carl Schmitt para o parabenizar pelo sucesso da terceira edição de "O Conceito do Político", Martin Heidegger se felicitava com o grande jurista por ter mencionado o Fragmento 53 de Heráclito: "O conflito, de todas as coisas pai, de todas as coisas rei, de alguns fez deuses, de outros homens, de alguns servos, de outros homens livres”. Além de demonstrar sua gratidão por não ter deixado de fora nenhum termo no fragmento e, em particular, a palavra "Basileus" (rei), o filósofo alemão admitiu ter mantido durante anos uma interpretação particular do breve dito heraclítico: uma interpretação, em sua própria maneira de ver, intrinsecamente ligada ao conceito de Verdade. Ao mesmo tempo, porém, Heidegger revelou a Schmitt que ele próprio estava em meio a um conflito e que qualquer projeto literário na época seria de importância secundária.

Parece imediatamente evidente que no fragmento heraclítico com o termo "pòleimos" (conflito) não se dá a entender exclusivamente o conflito armado (a jihad inferior ou exterior na tradição islâmica) mas também e sobretudo um conflito interior (a jihad superior) voltado para o aperfeiçoamento do ser humano de modo a torná-lo verdadeiramente homem e, portanto, cada vez mais próximo do divino. Portanto, para Heidegger, esse conflito não era outro senão o esforço do eu que o levará àquilo que ele mesmo definiu como um corpo a corpo consigo mesmo, a abandonar o ensino por vários anos, mas também, mais tarde, a produzir as suas obras maduras mais importantes: O “Nietzsche” e “Caminhos da Floresta”. Assim como Heidegger, que identificava no "Einkehr" (recolhimento) o primeiro passo no caminho do "Ruckkehr" (retorno) como o único caminho filosófico viável numa época em que a metafísica foi pervertida na sua anti-essência, o Imã Ruhollah Khomeini reconheceu como a introspecção e a auto-reflexão eram as condições essenciais para o início da luta interior e a ascensão até Deus. De acordo com o Imã, a autodisciplina, a contemplação e a auto-análise eram os pré-requisitos para cada buscador da Verdade que luta contra si mesmo na sua jornada espiritual rumo ao caminho do "despertar" (yaqzah).

Continue lendo...

Seyla Benhabib – A Crítica de Carl Schmitt a Kant: Soberania e Direito Internacional

$
0
0
por Seyla Benhabib

(2011)


I.Os Ventos da Guerra – Por Quem Eles Sopram?


Em 1922, Carl Schmitt publicou “Teologia Política: Quatro Capítulos sobre o Conceito de Soberania”[1]. Republicado em 1934 com um novo prefácio de Schmitt, este texto, junto a “O Conceito do Político” (1932) e “Crise da Democracia Parlamentar” (1923)[2], estabeleceu Schmitt como um dos principais críticos do projeto democrático liberal. Schmitt documentou não apenas a transformação sociológica do parlamentarismo liberal no governo de grupos e comitês de interesses especiais que eventualmente solapavam os parlamentos de funcionarem como corpos deliberativos. Ele também apontou as falácias racionalistas do liberalismo até seus “conceitos-limite” – die Grenzbegriffe – serem descobertos. Estes conceitos-limite, na perspectiva de Schmitt, constituíam as bases secretas e impensadas sobre as quais a estrutura do Estado moderno se apoiava. A soberania é um desses conceitos-limite; governo por discussão, e a pressuposição de que todas as opiniões eventualmente convergirão através da deliberação até um resultado racional, estão entre as outras pressuposições inquestionadas do liberalismo.

As críticas sociológicas e filosóficas de Schmitt se provaram formidáveis e inspiraram pensadores da direita e da esquerda. De Otto Kirchheimer e Walter Benjamin a Hans Morgenthau e Leo Strauss, até Chantal Mouffe e Ernesto Laclau[3], bem como muitos outros em nossos tempos, Schmitt é a éminence grise a quem nos voltamos quando o projeto liberal-democrático está em crise. Não há necessidade aqui de documentar o extenso renascimento schmittiano que floresceu na Europa e nos Estados Unidos nas últimas décadas. Ao invés disso, eu gostaria de relembrar brevemente algumas teses da “Teologia Política” de Schmitt para poder demarcar as continuidades e as descontinuidades entre preocupações contemporâneas que podem ser reunidas sob a “teologia política” e as próprias preocupações de Schmitt.

Continue lendo...

Gabriele Adinolfi – Para Além do Populismo: Por um Partido Estratégia

$
0
0
por Gabriele Adinolfi

(2019)



O forte avanço do Vox na Espanha levou a um governo minoritário de esquerda que acentuou as tensões. Não é assim tão diferente do que está acontecendo na Itália, França e Alemanha.

Hoje estamos assistindo a uma "crise de representatividade" da classe dominante (progressista e burguesa), diante das demandas dos desiludidos da globalização expressas no "populismo". Entre a primeira e os segundos se situa o poder econômico, que não é completamente unitário e se articula em função das necessidades do momento histórico. 

Esta divergência em três níveis cria um impasse aparente. No plano do poder real, que, mais do que estratégias, exprime orientações, temos a classe política vetusta e obsoleta, que, ancorada no "Estado profundo", trava uma guerra civil abstrata, mas constante, evocando e provocando fantasmas e climas de urgência, e os representantes do populismo, que avançam nas urnas mas sem nada expressar de concreto.

Continue lendo...

Israel Lira - A Origem Medieval da Quarentena

$
0
0
por Israel Lira

(2020)



No mundo contemporâneo, e agora mais do que nunca com a atual pandemia, estamos acostumados com os termos isolamento e quarentena, conceitos de diferentes escopos, aliás. Nosso governo, no entanto, optou pela noção abrangente de “isolamento social obrigatório”, que nos remete às declarações de nosso próprio presidente, que, ao se referir a esta idéia, argumentou que preferia o uso desta, à palavra quarentena, devido à carga cognitiva que ela traz consigo. Sem prejuízo disso, não muda o fato objetivo de que estamos em quarentena, e aí vem precisamente a distinção, que geralmente é abordada no plano internacional. Para citar um exemplo específico, a Divisão de Saúde Pública do Estado de Delaware, diferencia o isolamento da quarentena pelo sujeito a quem é imposta a ação restritiva, ou seja, quando o sujeito é uma pessoa infectada por alguma doença contagiosa, o confinamento da mesma ocorre para impedi-lo de infectar outros. Em outras palavras, o sujeito ativo do isolamento é uma pessoa infectada, e o sujeito passivo que se busca proteger com essa ação é a pessoa saudável. Não obstante, é esta última que nos remete à quarentena, que está ligada ao isolamento em situações pandêmicas, e é quando o sujeito passivo torna-se ativo, ou seja, objeto de cumprimento de restrições.

Continue lendo...

Hans Thomas Hakl – Deificação como Tema Central nas Obras Esotéricas de Julius Evola

$
0
0
por Hans Thomas Hakl

(2018)




Os Primeiros Anos


Os esforços de Evola para superar as condições ordinárias da vida podem ser detectados quando ele ainda era um homem jovem. Isso logo o levou a uma exploração de reinos transcendentais não circunscritos por limites materiais.  Em sua "autobiografia espiritual", escrita em 1963, ele observou que seu impulso decisivo para a transcendência "se manifestava" nele "desde os primeiros anos".[1] Isso também pode ser visto claramente em seu período artístico, de 1915 a 1923, quando se tornou um dos mais renomados dadaístas da Itália. Em sua brochura “Arte astratta” [Arte Abstrata], escrita em 1920, quando tinha 22 anos, ele o expressou da seguinte maneira: 

“Eu vejo a arte como uma criação desinteressada que vem da consciência superior de um indivíduo e é, portanto, capaz de transcender as paixões e as cristalizações que são baseadas em experiências comuns, e que é independente delas”.[2]

Outro sinal do anseio de Evola pela transcendência é a recorrência do simbolismo alquímico em sua arte abstrata.[3] Esse desejo de ser diferente do homem comum também se manifesta em sua luta por uma autossuficiência absoluta do Eu como condição necessária para a liberdade genuína. Não depender de nada fora de si mesmo era o seu objetivo último.  Foi o jovem filósofo italiano Carlo Michelstaedter (1887-1910) que o guiou nesta direção, e Evola continuou a trabalhar para este fim pelo resto de sua vida. “Assim” - dizia ele – “o valor real só se encontra naquilo que existe para si mesmo, que não demanda o princípio da vida interior e do poder pessoal de nada ou ninguém – na autarquia”.[4]

Continue lendo...

Aleksandr Dugin - Coronavírus e os Horizontes do Mundo Multipolar: As Possibilidades Geopolíticas da Epidemia

$
0
0
por Aleksandr Dugin

(2020)



A pandemia mundial do coronavírus tem enormes implicações geopolíticas. O mundo nunca mais voltará a ser o mesmo. No entanto, é cedo para dizer que tipo de mundo irá se tornar. O surto não passou: nem sequer alcançou o auge. As perguntas mais importantes permanecem sem resposta:

– Que tipo de perdas a humanidade sofrerá em última instância, quantas mortes?

– Quem poderá deter a propagação do vírus, e como?

– Quais são as consequências reais para aqueles que ficaram doentes e os que sobreviveram?

Ninguém pode responder essas perguntas com exatidão, e portanto, nem sequer podemos imaginar vagamente o dano real. No pior dos casos, a pandemia conduzirá a uma grave diminuição da população mundial. No melhor dos casos, o pânico será prematuro e sem fundamento.

Porém, já nos primeiros meses da pandemia, algumas mudanças geopolíticas globais já são bastante óbvias e em grande medida irreversíveis. Não importa como se desenvolvam os eventos posteriores, algo mudou na ordem mundial de uma vez por todas.

Continue lendo...

Thibault Isabel - Quem Pagará o Preço da Crise? As Classes Populares ou a Finança Mundial?

$
0
0
por Thibault Isabel



O choque para a economia mundial causado pela pandemia de Covid-19 foi mais rápido e mais grave do que a crise financeira de 2008 ou mesmo a Grande Depressão de 1929. Durante esses dois episódios, as bolsas de valores caíram pelo menos 50%, os mercados de crédito foram paralisados por falências em cascata, as taxas de desemprego subiram mais de 10% e o PIB contraiu a uma taxa anualizada de 10% ou mais. Este processo levou cerca de três anos. Em março de 2020, foram necessárias apenas três semanas para prever um resultado igualmente desastroso.

A Crise no Sistema


Seria errado analisar a situação pensando que esta crise é a conseqüência exclusiva da pandemia de coronavírus. A pandemia foi apenas um gatilho, que veio para parar a máquina já engasgada do sistema econômico global. Muitos especialistas há muito nos advertiam do risco de estouro das bolhas financeiras, e as aberrações de mercado se tornaram aparentes quando, após uma delirante supervalorização dos ativos em janeiro, foram tomadas por um pânico sem precedentes quando foram anunciadas as primeiras medidas de contenção, experimentando um tímido renascimento apenas quando novas intervenções públicas foram anunciadas, como se o setor privado agora esperasse tudo dos governos para salvá-lo.

O contexto é tanto mais dramático na medida em que o custo intrínseco da crise econômica e financeira será adicionado ao custo de gestão da crise sanitária. O relançamento de uma economia global, que está paralisada há meses, representará um esforço titânico, enquanto a maioria dos Estados já está fortemente endividada pela crise de 2008, que ainda não foi digerida pelas contas públicas (enquanto os mercados financeiros estão novamente colhendo lucros fabulosos há vários anos). Segundo as estimativas atuais, o endividamento dos principais Estados ocidentais aumentará em cerca de 25% nos próximos três anos.

Continue lendo...

Strategika - Entrevista com Robert Steuckers: A Geopolítica do Coronavírus

$
0
0
por Strategika


Lemos muitos elementos contraditórios segundo diferentes fontes de informação disponíveis ou de acordo com opiniões dos profissionais de saúde. Para você, qual é, de fato, a realidade desta pandemia?


Não podemos excluir uma origem natural da pandemia (embora eu permaneça cético perante a fábula do pangolim e do morcego), mas devemos aceitar discutir uma outra hipótese: isso é um ato de guerra bacteriológica dirigida contra a China, o Irã e a Europa, os três principais focos da doença. O vírus mutante, porque o vírus é, ao que parece, mutante, poderia também ter escapado de um laboratório chinês, ou outro, mas então por que ele atinge os rivais da hegemonia, quase excluindo outras regiões do globo? Se a hipótese de uma guerra bacteriológica se revelar exata, poderíamos estabelecer o seguinte cenário: o centro nevrálgico da China foi atingido, sua indústria impulsionada pelas deslocalizações neoliberais no resto do mundo, sobretudo na Europa, fica reduzida, o que tem um efeito sobre sua moeda, capaz, a médio prazo, de suplantar o dólar. Ademais, essa recessão ou essa sabotagem trava a realização das famosas “rotas da seda”. O Irã, inimigo número um de certos círculos neoconservadores, é, por sua vez, atingido, país que então poderia facilmente se tornar o principal fornecedor de hidrocarbonetos para a China e um parceiro comercial mais importante da Europa, como no fim do regime do último Xá, com os acordos EURATOM, em particular. Essa é a tese de Houchang Nahavandi, ex-ministro do Xá e autor de livros muito importantes sobre a história recente e antiga do Irã, cuja leitura recomendo enfaticamente.

Na Europa, as calamidades se abatem sobre os elos mais fracos e sobre o principal motor da economia europeia, a Alemanha. A Grécia deve enfrentar a crise dos refugiados na sua fronteira trácia, enquanto sua saúde econômica e financeira está vacilante há uma década, na sequência da crise de 2008. Ela ainda escapa amplamente do coronavírus mas… Wait and see… A Itália, recorde-se, assinara acordos especiais, fazendo dela o trampolim da China na UE. A Espanha igualmente recebeu a crise da pandemia em cheio, porque ela também é uma economia fragilizada que pode levar à ruína o projeto europeu, favorecido pelos Estados Unidos nas décadas de 1940 e 1950, em seguida considerado concorrencial e colocado, nomeadamente pela doutrina Clinton, como “alienígena”, ou seja, como inimigo potencial, se não inimigo declarado. A França também foi afetada, ainda que, oficialmente, seja considerada aliada desde Macron, presidente formado intelectualmente por uma escola americana. Ela está sendo progressivamente esvaziada de seus expoentes industriais (Alsthom, Latécoère…) e pesadamente infestada pelo coronavírus, tudo simplesmente porque o hiperliberalismo a debilita desde a presidência de Sarközy, cortada nos setores essenciais, não mercadológicos, incluindo o setor médico. Sem um setor médico forte, bem estruturado, prevenindo todas as formas de pandemia, compreendendo aquelas que poderiam ser desencadeadas por um ataque bacteriológico, um país é o alvo ideal para esse tipo de operação.

Continue lendo...

Rébellion - Entrevista com Pierre de Brague: A situação é catastrófica, mas não por causa do coronavírus

$
0
0
por Rébellion


Com a livre circulação e a abertura de fronteiras, a globalização mundialista é responsável por esta catástrofe sanitária para você? Você acha que os ultraliberais vão finalmente calar a boca?


Como eu já disse em “On nettoyerie l’info”: “Sim, a situação é catastrófica, mas não por causa do vírus!”.

Não acho que haja uma grande crise sanitária por conta do coronavírus, mas sim uma gigantesca operação de mistificação orquestrada pela propaganda da mídia e pelos laboratórios da Big Pharma que pressionam os governos (alguns deles encontram lá seus relatórios) com estatísticas distorcidas, tudo para mascarar a imensa crise sistêmica que se vem cozinhando há pelo menos duas décadas.

A hipócrita mundialização liberal, que na realidade mascara o globalismo mais monopolista, é de fato o terreno mais propício para este tipo de “cenário”. Em essência, esse sistema entrega os povos a todas as predações possíveis (instabilidade, precariedade, uniformização) e a verdadeira questão do momento é a revelação e a busca ou não dessa estratégia de dominação pelas finanças e o desmembramento da economia produtiva e da solidariedade social. Deve-se notar também que os países socialistas estão gerenciando a epidemia muito melhor.

Continue lendo...

Yann Vallerie - Entrevista com Alain de Benoist: Será uma Crise Econômica tão Grande quanto a de 1929

$
0
0
por Yann Vallerie


Antes de mais nada, o que você acha da liderança do governo, que parece realmente não saber onde enfiar a cabeça desde o começo desta pandemia? Michel Onfray evoca um possível fim do regime como resultado, você então acredita que as pesquisas de opinião sobre Emmanuel Macron e Edouard Philippe nunca foram tão positivas?


Michel Onfray disse, com mais talento do que eu, tudo que tinha de ser dito sobre a desastrosa gestão da atual crise de saúde pela equipe de Emmanuel Macron. Escrevi, anos atrás, que é na situação excepcional que se pode tomar a medida completa do personagem. Agora sabemos do que se trata. Um estadista decide, ordena e requisita. Macron, contudo, confia no conselho dos “especialistas” que, como sempre, discordam entre si. Ele redescobriu as virtudes da “soberania nacional e europeia”, porém após multiplicar reformar liberais que favoreceram as realocações e a dependência das importações. Ele saúda e agradece àqueles que lutam e se dedicam, mas ninguém esquece que antes da chegada do COVID-19, Macron se recusou a escutar suas reivindicações.

Isto é evidenciado pelo estado lamentável de nossos serviços de saúde, sobre o qual foram impostas metas míopes de rentabilidade e cuja dilapidação está sendo medida hoje: falta de máscaras e de testes de triagem, leitos removidos, equipe de enfermagem à beira do colapso, serviços hospitalares saturados. Queríamos incluir na lógica do mercado um setor que, por definição, está fora do mercado. Os serviços públicos foram sistematicamente enfraquecidos e destruídos. Estamos pagando o preço. E este é apenas o começo, porque o confinamento durará semanas, senão meses. Não estamos no fim do começo, muito menos no começo do fim.

Continue lendo...

Sergio Fritz Roa - Entrevista com Claudio Mutti: Sobre Julius Evola

$
0
0
por Sergio Fritz Roa

(2004)


Como você conheceu a obra de Julius Evola?


Li "Revolta Contra o Mundo Moderno" quando tinha dezoito anos. Fui um líder da seção italiana da Jeune Europe, uma organização de que era membro na altura, que me deu um exemplar do livro. O pragmatismo de Jean Thiriart e a sua concepção maquiavélica da política não nos satisfiziam completamente, de modo que em nós, jovens "nacional-europeus" de quarenta anos atrás, a exigência de uma visão integral do mundo e de uma verdadeira consagração da ação política permanecia viva. O trabalho de Evola representava, portanto, para mim e para outros, a porta de entrada para uma Weltanschauung espiritualmente fundamentada.

Qual é a importância de Julius Evola para o mundo ocidental?


Em primeiro lugar, é necessário limpar o terreno do mal-entendido que tal sintagma ("mundo ocidental") inevitavelmente supõe. Se é verdade que nos séculos passados existiu de fato uma "civilização ocidental", hoje a mesma denominação serve para indicar uma Zivilisation spengleriana que, além de se espalhar por uma área geográfica muito mais ampla, tendo seu próprio epicentro e paradigma nos Estados Unidos da América, se configura como uma verdadeira pseudo-religião idólatra, cujos principais dogmas são o Mercado, os Direitos Humanos e a Democracia. Desta forma, o Ocidente, este Ocidente que adquiriu dimensões quase planetárias, é a manifestação mais monstruosa do que podemos chamar, evolutivamente, de Anti-Tradição. Tanto a Europa como a América Latina podem extrair do trabalho de Evola, e do seu apelo ao valor fundamental da Tradição, os pontos de referência essenciais para o seu despertar e para uma luta coerente contra esta "civilização ocidental" antinatural e anti-humana.

Continue lendo...

Sofia Metelkina - Foucault em Quarentena: O Coronavírus visto por Filósofos Liberais e de "Esquerda"

$
0
0
por Sofia Metelkina



Uma pandemia é um congelamento do tempo, uma ampla reflexão sobre o que está acontecendo no mundo. Tendo se encontrado em um regime incomum de fechamento e restrição, a maioria dos filósofos em diversos flancos políticos – de conservadores a esquerdistas e liberais – se referiu de uma forma ou de outra ao famoso filósofo francês Michel Foucault, que descreveu os mecanismos disciplinares do poder, a biopolítica e a regulação da vida privada da “biomassa global”.

Consideremos as opiniões de alguns filósofos atuais no espectro esquerdista e liberal e vejamos que insights e erros eles têm cometido em suas avaliações.

Continue lendo...

Juntem-se ao Canal da Legio Victrix no Telegram!

$
0
0
pelos Editores do Legio Victrix


Atualmente, o portal Legio Victrix, que acreditamos ser o maior arquivo virtual de textos dissidentes, conquistou um público fixo que acompanha as nossas postagens novas e pesquisa os nossos artigos mais antigos. 

Infelizmente, porém, o Facebook tem se tornado cada vez menos viável enquanto plataforma de divulgação das nossas novas publicações. Dos quase 6 mil seguidores da página do Legio Victrix no Facebook, nem 5% recebe as publicações da página em sua feed de notícias. 

Por isso, a pedido dos seguidores do Legio Victrix, para facilitar o acesso aos nossos artigos, criamos um canal no Telegram onde serão sempre divulgadas as postagens novas que fizermos por aqui. 

Assim, entrem no canal da Legio Victrix no Telegram: https://t.me/legiovictrixoficial

Leonid Savin - Nacionalismo Médico, Identidade e Multipolaridade

$
0
0
por Leonid Savin



Como já aconteceu muitas vezes na história, 2020 tinha uma surpresa reservada para a humanidade – durante vários meses, o ecossistema fortemente entrelaçado do mundo globalizado foi transformado por um novo coronavírus, que escalou de poucos casos na China para uma pandemia global. A pandemia da COVID-19 alterou os processos políticos internacionais. Comparações já estão sendo feitas: a crise global de 2008 levou à formação dos BRICS, o FMI foi criado durante a Segunda Guerra Mundial e o G7 surgiu após a crise do petróleo de 1973, portanto, com certeza esta crise também levará ao surgimento de alguma nova configuração.

Os globalistas ansiosos estão gritando que uma nova onda de nacionalização está começando em todo o mundo, e regimes autocráticos estão agarrando a oportunidade de consolidar seu poder. Os EUA estão prevendo que a crise econômica iminente será ainda pior que a anterior e aumentará a taxa de desemprego do país para 20%.

Em artigo datado de 18 de março de 2020, o ex-secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos do Leste Asiático e Pacífico, Kurt Campbell, e o diretor da Iniciativa de Estratégia da China da Brookings Institution, Rush Doshi, observou que “embora suas implicações geopolíticas devam ser consideradas secundárias às questões de saúde e segurança, essas implicações podem, a longo prazo, ser igualmente conseqüentes – especialmente quando se trata da posição global dos Estados Unidos”.

Continue lendo...

Andrea Virga - Índios e Identidade: Mesmo Inimigo, Mesma Barricada

$
0
0
por Andrea Virga

(2019)



Nos últimos meses, os indígenas americanos, vulgarmente chamados “índios”, parecem ter voltado “à moda”. Em março, o novo presidente do México, o populista de esquerda Andrés Manuel López Obrador, começou a exigir um pedido de desculpas da Espanha e do Papa pela conquista ocorrida cinco séculos antes. Por outro lado, seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, havia se distinguido por uma abordagem completamente oposta, fortemente antagônica aos povos indígenas do Brasil, culpados de viver há milênios em territórios ricos em recursos naturais. Mais tarde, em outubro, realizou-se o Sínodo da Amazônia, com uma controvérsia contígua sobre a aculturação, intensificada pela exibição de algumas estátuas da Pachamama em uma igreja romana. Finalmente, chegamos aos recentes acontecimentos na Bolívia, com a derrubada subversiva do Presidente Evo Morales, o primeiro presidente indígena eleito na América do Sul.

Em todos estes casos, a discussão do tema no debate local, para variar, deixou a desejar. À esquerda, estão agarrados ao mito roussseauniano do bom selvagem, mas isso não deve nos surpreender, dada a tendência de certos pensamentos neoiluministas de brincar com tipos ideais que não correspondem à realidade, como os rebeldes sírios moderados e o capitalismo ético. Os governos pós-coloniais independentes, ligando-nos ao primeiro exemplo, têm falhas mais graves para com os nativos do que a Igreja ou a Coroa espanhola, que se comprometeram desde o início, embora muitas vezes em vão, a proteger as populações nativas da ganância feroz dos colonizadores e conquistadores. Nem – para dizer a verdade – havia realmente necessidade de um sínodo especial para a região amazônica, agora que as novas fronteiras da evangelização são a África e a Ásia Oriental.

Continue lendo...
Viewing all 965 articles
Browse latest View live