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Alexander Jacob - A Burguesia, o Protestantismo e os Protocolos

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por Alexander Jacob



Dois livros publicados no início da década de 1950 por dois aristocratas europeus merecem um estudo cuidadoso por todos os conservadores europeus contemporâneos uma vez que expressam as reações autênticas de nobres autênticos perante as mudanças revolucionárias que a Europa por muito tempo tem sofrido sob o jugo da democracia e do totalitarismo. Estes são Liberdade ou Igualdade: O Desafio de Nosso Tempo de Erik Ritter von Kuehnelt-Leddihn (1952) e O Homem e as Ruínas do Barão Giulio Cesare Evola (1953). Ambos Evola e Kuehnelt-Leddihn se opunham à democracia por suas tendências de nivelamento que consideravam ser uma mera fase de transição para os sistemas totalitários comunista, bem como capitalista. No entanto, enquanto Kuehnelt-Leddihn focava na mania democrática da igualdade - que ele considerava incompatível com a liberdade ou a verdadeira liberdade - sem atribuir claramente esta mania às classes médias, Evola inequivocamente identificava a burguesia e sua natureza mercantil inata - que milita contra o ethos guerreiro das sociedades aristocráticas anteriores - como a fonte dos males da democracia.

Erik von Kuehnelt-Leddihn (1909-1999) foi, como um membro da aristocracia do Império Habsburgo, um monarquista e "arquiliberal" na tradição de Alexis de Tocqueville. Ele dedicou sua carreira principalmente a defender as liberdades que ele sentia serem ameaçadas por doutrinas democráticas e socialistas. Entre 1937 e 1947 ele viveu e ensinou na América, retornando para a América regularmente após esse tempo, a partir de sua Áustria natal, a fim de lecionar e continuar a sua missão de melhorar a compreensão americana da mente e da mentalidade dos europeus. Ele esteve associado com o Instituto Acton para o Estudo da Religião e Liberdade e, antes disso, com o Instituto Ludwig von Mises a partir do qual o Instituto Acton tinha se ramificado como um desdobramento cristão. Ele estava constantemente ciente da diferença entre a ordem monárquica católica a que pertencia e os vários sistemas democráticos e totalitários que brotavam ao redor dele na Europa pós-1914, e sua principal preocupação era combater o impulso de nivelamento da democracia que leva ao totalitarismo e a privação de liberdades.

Já em 1943, durante a guerra, ele tinha escrito um trabalho sobre a história política chamada A Ameaça do Rebanho, ou Procrustes Solto (Milwaukee, WI:. The Bruce Pub Co.) que discutiu os defeitos da democracia e do socialismo na Europa, bem como nos Estados Unidos e Rússia. Vou limitar as minhas observações, principalmente, para o segundo de seus estudos políticos, a Liberdade ou Igualdade: O Desafio de Nosso Tempo (Caldwell, ID: The Caxton Printers, 1952), e me referir ao primeiro apenas para comprovação contextual. A primeira parte de Liberdade ou Igualdade é dedicado a um exame da ligação indissolúvel entre a democracia e tirania. Em seu trabalho anterior, A Ameaça do Rebanho, ele destacou a conexão entre a burguesia da Europa e o desenvolvimento do capitalismo. Ele apontou especialmente para a Reforma Protestante como esse movimento que libertou o espírito capitalista através do reforço do prestígio dos judeus usurários na sociedade europeia. Os países protestantes do norte da Europa se desenvolveram particularmente com velocidade extraordinária em Estados capitalistas, enquanto o sul ficou para trás em sociedades mais tradicionais:

"A cidade-Estado teocrática de Genebra de João Calvino ainda tinha alguns traços aristocráticos, mas sua alma já era essencialmente oclocrática e burguesa. À época de sua morte nós encontramos uma civilização de classe média altamente desenvolvida e uma cultura de caráter capitalista e semirepublicano nos países do vale do Reno - na Suíça, no Palatinado, na Alsácia , na Holanda - mas um processo similar sob a mesma influência acelerada também pode ser observado em distritos longínquos: sul da França, Ilhas Britânicas, e na Hungria oriental (51)".

O problema desse novo governo do dinheiro e da tecnologia era que, diferentemente do sul católico, ele era culturalmente estéril:

"À parte uns poucos poetas nós vemos esses seguidores de Calvino contribuindo muito pouco às artes e letras. Eles careciam de pintores, músicos, arquitetos originais; a hilariedade era para eles suspeita e seu humor era limitado".

Também surgiu ali no norte o perigoso slogan do "progresso":

"..as antigas sociedades hierárquicas e pessoais foram marteladas em massas sem forma pelos dois grandes produtos do 'progresso' - a megalópole e a fábrica. 'Progresso'é (a) um ideal coletivista e (b) um ideal urbano..."

E logo no esteio dessa recém-forjada ideia de "progresso" veio a noção de "humanidade":

"'Humanidade' enquanto tal mal existia enquanto princípio vivo na Idade Média porque o homem não tinha em relação a eternidade qualquer existência coletiva. Indivíduos se sacrificavam por suas famílias, seus senhores feudais, reis, cidades, direitos, privilégios, religião, sua amada Igreja ou a mulher amada, na verdade, por tudo ou qualquer um com quem tivessem uma relação pessoal. Esse amontoado anônimo de areia chamado 'humanidade' era desconhecido ao homem medieval e até o conceito de 'nação' não era equivalente a uma massa cinza de cidadãos unilinguais sendo vista como uma hierarquia de estrutura complexa...O coletivo singular 'humanidade' só foi criado após a Reforma como uma unidade viva".

A burguesia responsável pelo capitalismo e pela democracia, porém, não era simpática em relção as classes baixas, que eram mais próximas da aristocracia:

"A burguesia capitalista do século XIX (principalmente, se considerarmos as classes média-alta) defendia um sistema eleitoral que excluísse as classes mais baixas até mesmo de uma influência indireta sobre o governo. O 'democrata' de classe média frequentemente teme o trabalhador manual, que não raro se aliava ao aristocrata, e ele usualmente odeia o camponês politicamente, parcialmente por conta da aversão arraigada dos elementos agrários contra a cidade, paricalmente por conta da estrutura e tendências conservadoras-patriarcais da população rural".

Assim, o fogo-fátuo da "humanidade" tornou os homens não mais "fraternais", mas menos:

"A cultura e civilização democratistas os rebaixou a um amontoado não-hierárquico de areia mas, paradoxalmente, isso não os aproximou. Só o pensamento de um criador comum e uma origem comum pode unir seres humanos". 

Esta é, de fato, a fonte da alienação das democracias modernas:

"No hierárquico Tirol, as pessoas estão muito mais próximas umas das outras do que na 'democrática' Nova Iorque, e mesmo o albanês praticando sua vendetta é um melhor vizinho do que o habitante de Berlim ou Estocolmo atuais".

Interessantemente Kuehnelt-Leddihn traça os primórdios da democracia popular ou "oclocracia" ao pensamento materialista de João Calvino e à negação do próximo mundo pelos pensadores iluministas que fomentaram a Revolução Francesa:

"Há pouca dúvida de que ateísmo, agnosticismo, e a negação do outro mundo são parcialmente responsáveis pelo rápido desenvolvimento técnico que nos proporcionou, à parte dos primorosos instrumentos para destruição em massa, vários meios de superar tempo e espaço".

Distribuição massificada de commodities através da tecnologia torna tudo disponível para todos porque "ninguém deve ter o direito de se orgulhar de ser o único possuidor de uma coisa específica" e o resultado sociológico é uma rápida coletivização:

"A 'democracia' em suas primeiras fases é intrinsecamente uma luta contra privilégios e depois o democratismo continua esta luta amarga e despersonalizante contra tudo e todos, com a ajuda da magia demoníaca da técnica".

A educação universal também é identificada por Kuehnelt-Leddihn como uma das características "coletivistas" da democracia:

"...ao invés de se ater ao princípio hierárquico no mais aristocrático de todos os domínios - a educação intelectual - todo um corolário de compromissos com o espírito de massa foi feito neste campo; a educação se tornou assim finalmente nada além de outro fator de nivelamento, tal como a industrialização".

Também é significativo que as classes médias eram especialmente opostas à Igreja Católica por conta de sua natureza hierárquica e sua preocupação com mistérios, que em uma democracia tem que ser racionalizados pelas massas semi-educadas. Como ele nota,

"Também é necessário ter em mente que a classe mais antagônica à Igreja tem sido durante os últimos séculos a classe média, ou burguesia. É a classe média na França, Áustria, Alemanha, Boêmia e Morávia que mostra a maior proporção de protestantes".

Diferentemente de Evola, Kuehnelt-Leddihn não considera o liberalismo como uma característica distintiva da democracia mas, pelo contrário, ele considera a obsessão característica da democracia como sendo o desejo por igualdade, que como mencionado acima contradiz o desejo natural por liberdade. A liberdade ele define em Liberdade ou Igualdade como a liberdade de desenvolver a própria personalidade:

"...a maior quantidade de autodeterminação que em uma dada situação é factível, razoável e possível. Como meio de salvaguardar a felicidade do homem e proteger sua personalidade é um fim intermediário, e assim forma parte do bem comum. É óbvio que sob estas circunstâncias ela não pode ser brutalmente sacrificada às demandas de eficiência absoluta, nem aos esforços de um máximo bem estar material".

Neste contexto, ele toma cuidado particular em distinguir a democracia anglo-saxã da continental, pois a primeira é dirigida desde cima e retém o caráter de uma "república aristocrática", enquanto a outra tende à democracia de massas, que leva ao totalitarismo. Ele também nos lembra que:

"...algumas das melhores mentes na Europa (e na América) foram assombradas pelo medo de que houvesse forças, princípios e tendências na democracia que eram, ou por sua própria natureza ou, pelo menos, em suas potencialidades dialéticas, inimiga de muitos ideais humanos básicos - a liberdade sendo um deles".

Os principais defeitos da democracia derivam de suas preocupações materialistas, assim sua produção em massa, militarismo, nacionalismo étnico, racialismo e todas as tendências "simplificadoras" que tendem a uma uniformidade ou igualdade, o que ele chama de "identitarismo". Ele cita a observação de Lorde Acton de que "Liberdade é a palavra de ordem da classe média, igualdade da baixa". Isso, porém, é diferente de sua própria observação em A Ameaça do Rebanho de que "Liberdade é o ideal da aristocracia, tal como igualdade é para a burguesia e fraternidade para o campesinato". De fato, se igualdade fosse a demanda primeira das classes baixas como Lorde Acton havia sugerido, o nivelamento que Kuehnelt-Leddihn aponta claramente não se deve a eles, mas sim às elites que as organiza como "massas e homens que são 'similares e iguais', atraídos por prazeres pequenos e vulgares". Sua citação de Alexis de Tocqueville em Liberdade ou Igualdade, de fato torna isso claro:

"...acima dessa raça de homens está um poder imenso e tutelar, que toma com osua atribuição garantir suas gratificações, e vigiar seu destino. Este poder é absoluto, minucioso, regular, previdente e manso. Seria como a autoridade de um parente, se, como essa autoridade, seu objeto fosse preparar os homens para a maturidade; mas ele busca, ao contrário, mantê-los em perpétua infância: ele está contente em que as pessoas se regozijem, desde que eles não pensem em nada além de gozo. Para sua felicidade tal governo voluntariamente trabalha, mas ele escolhe ser o único agente e árbitro dessa felicidade: ele provê sua segurança, prevê e abastece suas necessidades, facilita seus prazeres, administra suas principais preocupações, dirige sua indústria, regula a herança de propriedade, e subdivida suas heranças - o que resta além de poupá-los todos do cuidado de pensar e do trabalho de viver?".

Vemos a partir desta descrição do funcionamento da democracia que o esta é uma caricatura maternalista do ideal político paternalista que veremos é proposto por Evola. Mesmo que Kuehnelt-Leddihn não culpe, como Evola, a burguesia por este nivelamento forçado das classes mais baixas, ele faz notar que a produção em massa capitalista e o militarismo nacionalista são criações dos capitalistas burgueses, ao invés do proletariado.

Podemos notar também que ele considera o nacionalismo racial como uma forma de "proletarização", onde nações inteiras são elevadas a um status pseudo-aristocrático. No entanto, pode ser inferido a partir de sua própria discussão sobre as diferentes atitudes em relação ao nacionalismo e racismo entre católicos e protestantes (veja abaixo) que esse nacionalismo e racismo não são tanto as características das classes mais baixas como daqueles que exploram o sistema democrático, que devem ser principalmente as classes médias capitalistas.

Em geral, Kuehnelt-Leddihn não acentua as revoluções perigosas da burguesia em Estados monárquicos ou aristocráticas nem seu efeito pernicioso sobre as classes mais baixas, pelas quais ele tem pouca simpatia. Ele também não relaciona claramente os judeus na sociedade europeia com as transformações de monarquias para democracias e sociedades coletivistas pelas quais países europeus tem passado na história recente, ainda que ele apressadamente sugira as raízes do materialismo e no obscurantismo no Velho Testamento que marcam as democracias protestantes. Sua principal preocupação é a defesa da liberdade individual e social, ele estuda a transformação gradual de governos democráticos em tiranias. Se nos Estados democráticos ditadores reais não surgem em cena, o totalitarismo se manifesta, no entanto, no aparato burocrático do Estado, que atende às necessidades de bem-estar social das classes mais baixas. Aqui, novamente, ele é, na superfície, pelo menos, mais indulgente para com as classes médias já que ele não observa que uma burocracia estatal benevolente pode atender às verdadeiras necessidades das pessoas ao mesmo tempo em que ela também pode interferir nas ambições financeiras das classes médias.

No desenvolvimento da democracia em uma tirania totalitária Kuehnelt-Leddihn corretamente nota o papel crucial desempenhado pelo protestantismo. Diferente de Evola, que não discute a natureza ou perigos do protestantismo em sua crítica do catolicismo moderno, Kuehnelt-Leddihn coloca a culpa pela degeneração democrática no protestantismo. Ele nota que, ideologicamente, as democracias dependem de princípios relativistas que são eles próprios característicos de movimentos protestantes:

"...relativismo, que o pensador e lógico claros rejeitam, desempenha um enorme papel no reino político e espiritual da democracia. Nós deixamos para o psicólogo determinar as implicações femininas de tal relativismo. Mas o relativismo e a aptidão para se comprometer caminham juntos, e uma recusa absoluta de compromenter fundamentais (um traço católico, ao invés de protestante) logo traria a maquinaria democrática à paralisia".

Enquanto católicos são irredutíveis em relação a dogma, protestantes são mais subjetivos em sua abordagem de questões doutrinárias. Católicos são consequentemente mais convictos de seus princípios e não veem o latitudinarianismo com bons olhos. Como ele nota,

"...o dogma católico, exceto por um 'aumento em volume', permaneceu imutável, e os comentários em cima dele tem variado apenas dentro de certos limites. O protestantismo, por outro lado, está em constante processo de evolução. Enquanto a fé dos católicos pode ser exposta ao processo de 'diminuição da fé', a dos protestantes também está sujeita ao 'estreitamento da fé'."

Assim a chave para o real entendimento das culturas católicas do continente europeu e das Américas do Sul e Central é, para o protestante bem como para o católico das ilhas britânicas e da América do Norte, um entendimento e apreciação dos valores culturais, artísticos e intelectuais do humanismo, do renascimento e do barroco.

A insistência protestante de que a "religião é uma questão privada" está completamente oposta à preocupação da Igreja com a "totalidade da cultura humana", a própria cultura sendo distinguida da civilização, que cuida meramente dos confortos materiais da humanidade:

"Porém, enquanto a civilização é basicamente falta de fricção, suavidade, conforto e diversão material, nós temos que olhar para o Cristianismo tradicional - com sua oposição violenta à eutanásia, ao aborto, à contracepção, ao pacifismo, ao individualismo - com osendo algo 'desconfortável'."

Protestantismo e calvinismo também possuem uma tendência vetero-testamentária para tomar o sucesso terreno como sinal de favor divino, o que está ausente em nações católicas, "onde o pediente é um membro 'útil' da sociedade e o comercialismo não é muito apreciado".

Protestantes temerosos de fragmentação social naturalmente tendem ao menor denominador comum que marca sistemas coletivistas. Católicos, por outro lado, são mais pessoalmente desenvolvidos do que protestantes, que através de sua tendência de comprometer, solidariedade, cooperação, vizinhança, tendem a ser mais conformistas que católicos, e mesmo mais preconceituosos. De fato, uma das características distintivas da própria democracia - para Kuehnelt-Leddihn bem como para Evola - é que ela é "anti-personalista" e "coletivista" e sua tendência de exercer "pressão horizontal" resulta em sistemas totalitários.

Não é surpreendente, assim, que "Calvino estabeleceu em Genebra o primeiro Estado policial verdadeiramente totalitário na Europa". A Revolução Francesa também era de inspiração protestante:

"Também é óbvio que a substância ideológica da Revolução Francesa é quase em sua totalidade o produto da dialética protestante. Ainda que haja alguns elementos cartesianos e jansenistas menores na filosofia política de 89 e 92, os principais impulsos vieram da América, da Grã-Bretanha, da Holanda e da Suíça".

É por isso também que, como Kuehnelt-Leddihn nos lembra, "o Conde Keyserling chama a América de socialista em um sentido mais profundo e chega à conclusão de que 'a maioria dos americanos quer obedecer como nenhum soldado já o quis'."

Os católicos, por contraste, são antidemocráticos por natureza:

"é virtualmente certo que as nações católicas, com seu amor por liberdade pessoal, seu pessimismo terreno, seu orgulho e ceticismo, jamais em seus corações aceitem a democracia parlamentar".

Os países católicos privados da monarquia tendem ao burocratismo, à anarquia ou a ditaduras partidocráticas, mais do que à democracia:

"Nós devemos nos perguntar se nos casos mais extremos, quando temperamento violento é combinado com total incompatibilidade ideológica (Espanha, Portugal, Grécia, América do Sul), um governo de cima com base burocrática não é a única salvaguarda contra a alternativa da anarquia e da ditadura partidocrática".

O catolicismo é essencialmente paternalista e hierárquico, qualidades que Evola também prescreve para seu Estado conservador orgânico. Católicos favorecem patriarcas, mas não policiais, eles podem até mesmo ser frequentemente anarquistas e militar contra o Estado. Enquanto a uniformidade dos partidos políticos dominantes nos países protestantes facilita o nacionalismo, bem como o totalitarismo, os católicos não são nacionalistas populares nem favorecer a centralização, mas sim o federalismo. Kuehnelt-Leddihn dá o exemplo do federalista alemão Constantin Frantz (1817-1891) que se opunha a regimes totalitários centralizados e ele nos lembra que os prussianos também não eram pan-germanistas, mas sim dinásticos.

A solução política para os problemas inerentes do governo democrático que é proposta por Kuehnelt-Leddihn é uma monarquia hereditária com órgãos locais de autogoverno. Ao contrário de ditadores, monarcas são restritos pela lei cristã e aqui a doutrina da imperfeição humana, ou "pecado original" serve como uma influência moderadora nas monarquias, assim como em democracias. A monarquia, como o catolicismo, é paternalista e não "fraternal". A razão da superioridade de tal regime paternalista, típico também de ordens católicas, é que obriga o governante a ser mais responsável do que os líderes democraticamente eleitos são. Monarquias não são oligárquicas, plutocráticas ou propensas à corrupção já que o dinheiro não governa o Estado como nas democracias. Além disso, o monarca não só representa a responsabilidade política mas também promove "grandes" estadistas dentro de seu governo possuído de um compromisso comparável aos deveres de um Estado. A monarquia é também mais eficiente com sua burocracia do que uma democracia é e mais capaz de realizar grandes empreendimentos.

Monarcas são na maioria dos casos biologicamente superiores e e o governo hereditário constitui uma regra orgânica que é contrária ao governo partidário variável. Eles são treinados para governar desde a infância e tem uma educação moral e espiritual para o seu ofício. Ao mesmo tempo, eles têm um maior respeito pelos súditos e protegem as minorias, uma vez que não dependem de nenhum apoio da maioria. Monarquias também tendem a ser internacionalmente e etnicamente mistos servindo assim como uma força unificadora.


Como democracias dependem do que o historiador socialista judeu Harold Laski chamou de um "quadro comum de referência" ou consenso, há, de fato, menos a liberdade de expressão em democracias do que nos Estados monárquicos. Isto é particularmente verdadeiro de Estados católicos que são marcados por diferentes níveis de iluminismo e, assim, não caem na armadilha do utopismo protestante. O catolicismo não acredita que todos são capazes da mesma educação e compreensão, pois é constantemente consciente da noção de imperfeição humana ou "pecado original". A liberalidade da Igreja Católica em geral surge da generosidade e não do raciocínio relativista que forçosamente reconcilia os opostos.

Infelizmente as liberdades maiores desfrutadas em monarquias católicas tradicionais foram limitadas por em tempos recentes por regimes protestantes. Mas Kuehnelt-Leddihn nos lembra que apenas 13% da população do continente europeu é seguidora de credos protestantes. E deve-se ter em mente que "os países da Europa continental todos precisam de uma missão, uma finalidade última, um objetivo metafísico, que mesmo eleições, exportações ampliadas, mais calorias e melhor tratamento odontológico não vão tornar desnecessário".

É de vital importância, portanto, que deve-se "buscar ajudar o continente europeu a encontrar sua própria alma". Após a discussão de Kuehnelt-Leddihn sobre monarquismo e catolicismo e sua oposição natural ao republicanismo e ao protestantismo, devemos assumir que o que é necessário é uma restauração, na medida do possível, do sistema monárquico católico. "Só assim pode o continente esperar se tornar de novo o que costumava ser, uma terra livre e real".

***

As posições políticas do aristocrata siciliano Julius Evola (1898-1974) tem sido razoavelmente obscurecidas por seus interesses em sistemas esotéricos como o hermetismo, o budismo zen e o yoga. As pessoas tem uma noção geral de que ele era um simpatizante tanto do movimento fascista italiano quanto do nacional-socialista alemão, mas uma leitura mais atenta de suas obras tardias, especialmente sua principal obra política O Homem e As Ruínas revelará que ele era mais próximo da ideologia fascista, especialmente como representada pelo filósofo Giovanni Gentile do que dos pensadores racialistas do Reich nacional-socialista como Alfred Rosenberg ou Walther Darré.

Mais forçosamente do que Kuehnelt-Leddihn, Evola identifica a burguesia como a fonte dos problemas do mundo moderno, já que eles são os principais representantes das doutrinas do liberalismo baseadas na primazia do indivíduo. O liberalismo é uma filosofia materialista e utilitarista na medida em que toma em consideração apenas as necessidades materiais dos indivíduos que constituem a sociedade. Suas falsas campanhas de liberdade são desmentidas pelo fato de que o capitalismo explorador é um resultado natural do materialismo burguês:

"O ponto de virada foi o advento de uma visão da vida que, ao invés de manter as necessidades humanas dentro de limites naturais em vistas do que realmente vale a pena buscar, adotou como seu mais elevado ideal uma elevação artificial e multiplicação das necessidades humanas e dos meios necessários de satisfazê-las, em total desconsideração pela crescente escravidão que isso constituiria inexoravelmente para o indivíduo e para a coletividade".

O individualismo fomentado pelo liberalismo resulta em um atomismo e fragmentação da sociedade que é então combatido por formas de totalitarismo que são igualmente inadequadas em suas preocupações meramente quantitativas e econômicas. O totalitarismo é, segundo Evola, ordem imposta de cima sobre um povo sem forma. Marx estava realmente certo ao atacar as burguesias, mas errou seriamente ao forçar o proletariado a servir como pedra de fundação de uma sociedade utópica caracterizada por uniformidade estéril:

"O totalitarismo, para poder se afirmar, impõe uniformidade. Em última análise, o totalitarismo se apoia e depende do mundo inorgânico da quantidade ao qual a desintegração individualista levou, e não do mundo da qualidade e da personalidade".

Assim, o totalitarismo destroi todos os vestígios de desenvolvimento orgânico que os Estados burgueses anteriores possam ter mantido de seu passado aristocrático:

"O totalitarismo, apesar de reagir contra o individualismo e o atomismo social, traz um fim definitivo à devastação do que pode ainda sobreviver em uma sociedade da fase 'orgânica' anterior: qualidade, formas articuladas, castas e classes, valores de personalidade, liberdade autência, ousadia e iniciativa responsável, e feitos heroicos".

A exaltação do "trabalhador" em sistemas socialistas, bem como coletivistas, é também uma universalização da natureza essencialmente servil do pensamento econômico liberalista. A solução para os problemas inerentes em qualquer ordenamento burguês da sociedade consiste no desenvolvimento da personalidade, ao invés do individualismo entre o povo. Entre nações, também, autarquia deveria ser encorajada, ao invés do internacionalismo do comércio global:

"É melhor renunciar à atração de melhorar as condições econômicas e sociais gerais e adotar um regime de austeridade do que se tornar escravo de interesses estrangeiros ou ser capturado em processos mundiais de hegemonia econômica e produtividade inconsequentes que estão destinados a varrer aqueles que os iniciaram".

O controle necessário da economia só pode ser realizado pelo Estado. Os conflitos de classe nos quais Marx focou deveriam ser corrigidos por um sistema corporativo ou um sistema de estamentos como na Idade Média:

"O espírito fundamental do corporativismo era o de uma comunidade de trabalho e solidariedade produtiva, baseada nos princípios da competência, qualificação e hierarquia natural, com o sistema em geral caracterizado por um estilo de impessoalidade ativa, desprendimento e dignidade".

De importância primeira no sistema corporativo da história europeia é o fato de que "a usura de 'bens líquidos', o equivalente do que hoje é o emprego bancário e financeiro de capital, era considerada um negócio judaico, longe de afetar todo o sistema".

Em outras palavras, a usura judaica foi, se utilizada por Estados, sempre considerada como um elemento de párias da sociedade europeia. A solução da Evola à injustiça social do capitalismo focava na eliminação dos capitalistas parasitas e na desproletarianização dos trabalhadores:

"as condições básicas para o restabelecimento das condições normais são, por um lado, a desproletarianização do trabalhador e, por outro lado, a eliminação do pior tipo de capitalista, que é um receptor parasitário de lucros e dividendos e que permanece alheio ao processo produtivo".

Ao contrário de Marx, que procurou transformar o proletariado em proprietários e diretores de empresas, Evola afirma que a erradicação adequada dos males do capitalismo deve começar com a redução da motivação desenfreada por lucro das empresas e seus diretores por parte do Estado. Todas as empresas, portanto, devem, em geral, ser responsáveis perante o Estado. Todas as questões econômicas nacionais devem ser tratadas na Câmara Baixa dos parlamentos enquanto a Câmara Alta deve ser o único representante da vida política da nação. O último corpo não pode ser um eleito, mas deve ser nomeado - e para a vida. Na verdade, esta Câmara Alta deve agir como o que Evola chama de elite governante ou "Ordem" de uma nação.


Evola imagina esta Ordem em termos guerreiros e a subordinação da classe mercantil para a guerreira é uma característica essencial de sua doutrina política. Naturalmente, os guerreiros não são os mesmos que os soldados, que são apenas funcionários militares pagos. Guerreiros são governados por conceitos de honra e lealdade para com a nação, tais como foram encontrados recentemente nos escalões militares prussianos. O Estado é de fato um fenômeno essencialmente político-social masculino, em contraste com a sociedade, que é principalmente feminina. O núcleo do Estado será formado por Männerbunde ou elites dominantes do sexo masculino:

"A razão para a posição exclusiva de homens governantes em um Estado é que toda verdadeira unidade política aparece como a encarnação de uma idéia e um poder, distinguindo-se, portanto, de toda forma de associação naturalista ou 'direito natural', e também de toda a agregação social determinada por meros fatores sociais, econômicos, biológicos, utilitários, ou eudemonísticos".

Este poder é em suas origens sagrado, como foi por exemplo no conceito de imperium no Império Romano pois ele expressa uma ordem transcendente, um conceito que será familiar para os alunos do filósofo fascista, Giovanni Gentile.

Democracia e socialismo sinalizam uma mudança perigosa do governo do Estado masculino para o da sociedade feminina e do demos. Um Estado não é uma "nação" tampouco, já que uma nação é tipicamente uma mátria (motherland), mesmo que ocasionalmente seja chamada de pátria (fatherland) em alguns países. Os romanos, francos, bem como os árabes que espalharam o Islã foram todos constituídos de Männerbunde em primeiro lugar, e só quando eles degeneraram em democracias eles se tornam "nações".


Uma vez que qualquer revolução conservadora precisa restaurar a primazia do ethos guerreiro ela deve começar por se opor ao mercantil da burguesia:

"a idéia 'conservadora' a ser defendida deve não só não ter ligação com a classe que substituiu a aristocracia caída e exclusivamente tem o caráter de uma mera classe econômica (isto é, a burguesia capitalista), mas ele também deve ser resolutamente oposta a ela. O que precisa ser "preservado" e defendido de uma "forma revolucionária"é a visão geral da vida e do Estado que, baseando-se em valores e interesses superiores, definitivamente transcende o plano econômico e, portanto, tudo o que pode ser definido em termos das classes econômicas".

Isso também demandaria a formação de uma nova elite ou Ordem:

"A tarefa essencial que temos pela frente requer formular uma doutrina adequada, a defesa de princípios que têm sido exaustivamente estudados, e, a partir destes, dar nascimento a uma Ordem. Essa elite, diferenciando-se em um plano que é definido em termos de virilidade espiritual, determinação, e impessoalidade, e onde toda obrigação naturalista perde seu poder e valor, vai ser a portadora de um novo princípio de uma autoridade superior e soberania; ele será capaz de denunciar a subversão e a demagogia em qualquer forma que elas aparecem e reverter a espiral descendente dos quadros de nível superior e a ascensão irresistível do poder das massas. A partir desta elite, como se de uma semente, um organismo político e uma nação integrada vão surgir, apreciando a mesma dignidade que as nações criadas pela grande tradição política europeia. Qualquer coisa menos do que isso representa apenas um atoleiro, diletantismo, irrealismo, e obliquidade".

Desconsiderando as normas de um Estado socialista o Estado conservador orgânico deve ser um "heróico" que não é baseado no núcleo familiar, mas nas Männerbunde que produzem os líderes do Estado. Estes homens, que até mesmo renunciariam a uma vida familiar para uma dedicação à tarefa de governar:

"Na medida em que um movimento conservador-revolucionário está em causa, existe uma necessidade para os homens de estarem livres  destes sentimentos burgueses. Estes homens, através da adoção de uma atitude de compromisso militante e absoluto, devem estar pronto para qualquer coisa e quase sentir que a criação de uma família é uma 'traição'; esses homens deveriam viver livres de impedimentos, sem quaisquer laços ou limites à sua liberdade. No passado, havia ordens seculares onde o celibato era a regra...o ideal de uma 'sociedade guerreira', obviamente, não pode ser o o ideal pequeno-burguês e paroquial de "casa e crianças"; pelo contrário, eu acredito que, no domínio pessoal o direito a um amplo grau de liberdade sexual para estes homens deve ser reconhecido, contra o moralismo, o conformismo social e 'heroísmo de chinelos'."

Não há perigo de extinção da linha de governantes ainda que eles sigam uma vida celibatária já que "o exemplo daquelas ordens religiosas de vários séculos que abraçavam o celibato sugere que uma continuidade pode ser garantida com meios outros que a procriação física. Além daqueles que devem estar disponíveis como tropas-de-choque, seria certamente auspicioso formar um segundo grupo que garantiria a continuidade hereditária de uma elite escolhida e protegida, como a contraparte da transmissão de uma tradição político-espiritual e cosmovisão: a antiga nobreza era um exemplo disso".

O Estado conservador orgânico estará baseado não em indivíduos, mas em pessoas, cuja razão de ser é sua personalidade e seu desenvolvimento superior. Essa realização da personalidade de um indivíduo é equivalente a sua liberdade. A pessoa "livre"é de fato livre dos clamores de sua natureza inferior e demanda um autodomínio completo. A pessoa mais altamente desenvolvida ou diferenciada é a pessoa ou líder absoluto:

"A 'pessoa absoluta'é obviamente o oposto do indivíduo. A unidade atômica, desqualificada, socializada ou padronizada a qual o indivíduo corresponde é oposta na pessoa absoluta pela síntese atual das possibilidades fundamentais e pelo controle pleno dos poderes inerentes na ideia de homem (no caso limitador), ou de um homem de uma dada raça (em um domínio mais relativo, especializado e histórico): isto é, por uma extrema individuação que corresponde a uma desindividualização e a certa universalização dos tipos correspondentes a ele. Assim, esta é a disposição necessária para incorporar a autoridade pura, assumir o símbolo e o poder da soberania, oua forma de cima, nomeadamente o imperium".

Assim, diferentemente de Kuehnelt-Leddihn que defendia a monarquia hereditária, Evola parece favorecer um ditador esclarecido ou alguém que pertença a uma nova ordem aristocrática de homens. O Estado formado por esta elite não será apenas orgânico, mas também hierárquico e firmemente baseado no princípio de autoridade. De fato, este princípio é o núcleo de qualquer Estado orgânico, que deve necessariamente crescer a partir de um centro definido:

"Um Estado é orgânico quando possui um centro, e este centro é uma ideia que molda os vários domínios da vida de maneira eficaz; é orgânico quando ignora a divisão e autonomização do particular e quando, por virtude de um sistema de participação hierárquica, cada parte dentro de sua relativa autonomia realiza sua própria função e desfruta de uma conexão íntima com o todo. Em um Estado orgânico podemos falar de um 'todo', nomeadamente algo integral e espiritualmente unitário que articula e se desdobra, mais do que de uma soma de elementos dentro de um agregado, caracterizado por um conflito desordeiro de interesses. Os Estados que se desenvolveram nas áreas geográficas das grandes civilizações (fossem eles impérios, monarquias, repúblicas aristocráticas, ou cidades-Estado) em seu ápice eram quase sem exceção desse tipo. Uma ideia central, um símbolo de soberania com um princípio de autoridade positivo correspondente era sua fundação e força animadora".

A base de toda autoridade é ela própria uma qualidade "transcendente", como Gentile também insistiu:

"Inversamente, a visão orgânica pressupõe algo 'transcendente' ou 'de cima' como base de autoridade e comando, sem o que automaticamente não haveria conexões imateriais e substanciais das partes com o centro; nenhuma ordem interior de liberdades singulares; nenhuma imanência de uma lei geral que guia e sustenta pessoas sem coerção; e nenhuma disposição supraindividual do particular, sem o que cada descentralização e articulação eventualmente representaria um perigo para a unidade de todo o sistema".

Apenas um Estado orgânico pode absorver todas as múltiplas diferenças e conflitos que podem existir dentro de um Estado:

"Mesmo contrastes e antíteses tiveram sua parte na economia do todo; como eles não tinham o caráter de peças desordenadas, eles não questionam a unidade supra-ordenada do organismo, mas agia como um fator dinâmico e vivificante. Mesmo a 'oposição' do sistema parlamentar britânico dos primórdios foi capaz de refletir um significado semelhante (ela foi chamado de 'oposição mais leal de Sua Majestade'), embora ela tenha desaparecido mais tarde no regime parlamentar partidarista". 

O nacionalismo também deve ser evitado, se for do tipo populista, em vez de um baseado no conceito de uma nação espiritual:

"No primeiro caso, o nacionalismo tem uma função niveladora e anti-aristocrática; é como o prelúdio de um nivelamento mais amplo, cujo denominador comum não é mais a nação, mas sim o Internacional. No segundo caso, a idéia da nação pode servir como base para uma nova recuperação e uma importante primeira reação contra a dissolução internacionalista; ela defende um princípio de diferenciação que ainda precisa ser mais bem realizado em direção a uma articulação e hierarquia dentro de cada pessoas". 

Sua visão de uma Europa regenerada é uma de um império sagrado orgânico, ou imperium, centrado não "nos conceitos de pátria e nação (ou grupo étnico)", que "pertencem a um plano essencialmente naturalista ou 'física'", mas sobre "uma sensação de ordem superior, qualitativamente muito diferente do sentimento nacionalista enraizado em outros estratos do ser humano":

"O esquema de um império em um sentido verdadeiro e orgânico (que deve ser claramente distinguido de cada imperialismo, um fenômeno que deve ser considerado como uma extensão deplorável do nacionalismo) foi exibido anteriormente no mundo medieval europeu, que salvaguardava os princípios tanto de unidade como de multiplicidade. Neste mundo, os Estados individuais têm o caráter de unidades orgânicas parciais, gravitando em torno de um unum quod non est pars (um que não faz parte, para usar a expressão de Dante) - ou seja, um princípio de unidade, autoridade e soberania de um natureza diferente daquela que é própria de cada Estado em particular. Mas o princípio do Império pode ter uma tal dignidade única, transcendendo a esfera política, no sentido estrito, fundador e legitimando-se com uma idéia, uma tradição, e um poder que é também espiritual". 

Os principais obstáculos para a formação de uma nova Europa são a hegemonia americana cultural, o jugo de um governo democrático, e "a profunda crise do princípio da autoridade e da idéia do Estado". Mas mesmo que a tarefa de unificar a Europa possa ser formidável ela deve ser tentada, com o planejamento e organização realizada de cima para baixo, pelas novas "Ordens" de elite das várias nações que a constituem.

No que respeita às fundações religiosas de um Estado ou Império, Evola é notavelmente pessimista em sua estimativa do poder do catolicismo de fornecê-las já que ele a considera excessivamente comprometida hoje com um caminho democrático liberal que privou-a da sua força política tradicional. Na verdade, ele considera o movimento anti-guibelino ou guelfo da Idade Média como a própria fonte da secularização do Estado moderno. Assim seria melhor "viajar de forma autônoma, abandonando a Igreja a seu destino, considerando sua incapacidade real para conceder uma consagração oficial a uma verdadeira, grande, tradicional e super-tradicional direita".

Apesar de seu tratamento insensível da Igreja Católica e seu potencial como uma base religiosa para um Estado conservador, Evola examina em maior detalhe os efeitos subversivos de outra seita internacional, o Judaísmo, cujas ambições políticas foram expostas nos chamados Protocolos de Sábios de Sião (1903), que, mesmo que não sejam baseados em fatos, representariam uma representação literária dos objetivos totalitários dos judeus. Como Evola explica:

"O único ponto importante e essencial é o seguinte: este texto é parte de um grupo de textos que, de várias maneiras (mais ou menos fantástica e às vezes até mesmo fictícia) expressaram a sensação de que o transtorno dos últimos tempos não é acidental, uma vez que corresponde a um plano, as fases e instrumentos fundamentais dos quais são descritos com precisão nos protocolos".

O principal mal do projeto dos judeus internacionais é a sua completa economização da vida moderna:

"A economização da vida, especialmente no contexto de uma indústria que se desenvolve em detrimento da agricultura, e uma riqueza que é concentrada sobre o capital líquido e finanças, procede de um projeto secreto. A falange dos modernos 'economistas' seguiu este projeto, assim como aqueles que espalham uma literatura desmoralizante atacam valores espirituais e éticos e desprezam todo princípio de autoridade". 

Não só foi o marxismo uma ferramenta útil dos judeus, mas também as doutrinas filosóficas e biológicas que promoveram o ateísmo como a biologia evolucionista de Darwin e o niilismo de Nietzsche. Os judeus empregam diversas táticas de subversão, recorrendo a falsificar doutrinas do chamado "tradicionalismo" e "neo-espiritualismo":

"O conteúdo deste 'tradicionalismo' consiste de hábitos, rotinas, resíduos sobreviventes e vestígios do que já foi, sem uma compreensão real do mundo espiritual e do que neles não é meramente factual, mas tem um caráter de valor perene".

O efeito sobre o indivíduo destes vários movimentos subversivos é para "remover o suporte de valores espirituais e tradicionais da personalidade humana, sabendo que quando isso é feito, não é difícil transformar o homem num instrumento passivo das forças e influências diretas da frente secreta".

A maneira mais eficaz de combater a subversão do judaísmo internacional ou do sionismo é para os novos guerreiros aprender a operar no plano metafísico, mantendo uma "lealdade incondicional a uma idéia", uma vez que é "a única protecção possível da guerra oculta; onde essa lealdade é insuficiente e onde os objetivos contingentes de 'política real' são obedecidos, a frente de resistência já está comprometida". Como ele adverte aqueles que desejam empreender uma revolução conservadora ou contra-revolução, "nenhum lutador ou líder na frente de contra-subversão e da Tradição pode ser considerado maduro e apto para suas tarefas antes de desenvolver a faculdade de perceber este mundo de causas subterrâneas, para que ele possa enfrentar o inimigo na base adequada. Devemos lembrar o mito dos Sábios dos Protocolos: em comparação com eles, homens que vêem apenas 'fatos' são como animais irracionais. Há pouca esperança de que algo pode ser salvo quando entre os líderes de um novo movimento não há homens capazes de integrar a luta material com um conhecimento secreto e inexorável, que não está a serviço de forças obscuras, mas fica em vez do lado do princípio luminoso da espiritualidade tradicional".

Vemos, portanto, que, ao contrário Kuehnelt-Leddihn, Evola centra-se na burguesia como a principal fonte da degeneração democrática da Europa moderna, assim como sua discussão sobre as dimensões "ocultas" da subversão continuada ajuda a concentrar-se no judaísmo internacional como os principais agentes da subversão que devem ser combatidos em uma contra-revolução. Infelizmente Evola não coloca muita esperança em uma monarquia hereditária ou no catolicismo como as bases gêmeas de sociedade europeia tradicional, mas sim procura construir uma nova ordem de cavaleiros que trará fortes líderes esclarecidos para os Estados europeus.


A falta de entusiasmo para o catolicismo na discussão de Evola do Estado é, contudo, corrigida pela análise perceptiva de Kuehnelt-Leddihn da diferença entre catolicismo e protestantismo. Em forte contraste com a atitude negativa de Evola à Igreja moderna, o relato de Kuehnelt-Leddihn da história política coloca uma ênfase acentuada na religião estabelecida, e, especialmente, sobre o catolicismo, em sua formulação do Estado conservador. Qualquer tentativa contemporânea de voltar a Europa à sua singular vitalidade pré-democrática pode, portanto, ter que começar não apenas das advertências de Evola sobre os perigos da burguesia mercantil e da guerra clandestina dos judeus contra as tradições aristocráticas europeias, mas também a partir das revelações de Kuehnelt-Leddihn dos efeitos deletérios que o relativista e materialista temperamento do protestantismo teve na sociedade europeia moderna.

Guillaume Durocher - Questões Alemães

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por Guillaume Durocher



Martin Schulz, um político social-democrata alemão e presidente do Parlamento Europeu, supostamente disse a um político israelense:

"Para mim, a nova Alemanha existe apenas para garantir a existência do Estado de Israel e do povo judeu".


Uau!


A fonte? Avraham Burg, um empresário israelense e membro do Knesset, no Haaretz ano passado. Então isso é um pouco velho, mas eu não vi isso ser discutido antes, e ajuda a explicar a reação suicida da Grã-Mufti Merkel e da classe política alemã à invasão afro-islâmica da Europa, chamada de "crise imigrante".

Burg nos diz:

"Dê um grande 'obrigado' a Martin Schulz


[...] Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, é um amigo próximo meu. Na maioria das questões relativas ao conflito israelo-palestino nós discordamos. Ele está mais próximo do mainstream israelense, e suas posições se assemelham aos do presidente do Partido Trabalhista Isaac Herzog. Ele uma vez me disse, durante uma conversa franca, 'Para mim, a nova Alemanha existe apenas para garantir a existência do Estado de Israel e do povo judeu'. Ele é um intelectual brilhante e um político consciencioso, e nós não precisamos nos preocupar, ele não vai abandonar sua amizade existencial tão facilmente. [...] Assim, eu quero dizer um grande 'obrigado' a Martin Schulz, um dos últimos e melhores amigos de Israel no mundo".


Bem, Burg estava fazendo esses comentários no contexto da revolta entre políticos e a mídia israelense por causa de um comentário feito por Schulz reclamando (em um discurso bastante pró-israelense) do fato de que israelenses na Cisjordânia (colonos judaicos, para ser mais preciso) podem usar quatro vezes mais água do que os palestinos.

Burg poderia estar exagerando um pouco para ajudar a imagem de seu amigo Schulz durante uma crise midiática. Mas Schulz não fez qualquer tentativa de corrigir a afirmação relatada no Haaretz. Assim ou ele, de fato, a fez em privado ou estava feliz em vê-la relatada sem correção ou outros comentários. Schulz está então contente com ter o público israelense saber que o povo alemão e seu governo, a República Federal da Alemanha, existem "apenas para garantir a existência do Estado de Israel e do povo judeu".

Não deveria o governo alemão existir apenas para servir aos interesses do povo alemão, e não os de um povo estrangeiro ou grupo minoritário?

Schulz é um político social-democrata alemão comum. Como ocupante temporário da função de Presidente do Parlamento Europeu, ele possui uma minúscula quantidade de poder dado a ele sob o estranho regime que é a União Europeia, a pequena recompensa por uma longa carreira de manter a cabeça abaixada e seguir o fluxo da ortodoxia plutocrática e internacionalista.

Enquanto tal, Schulz é tão bom indicador quanto qualquer outro das tendências das classes políticas alemã e europeia hoje. Sua insanidade é também a insanidade da Chanceler Angela Merkel e da elite político-midiática alemã em geral.

Obviamente, a República Federal da Alemanha não é uma incorporação justa ou particularmente "democrática" da vontade espontânea do povo alemão. Ao invés, ela foi fundada sob ocupação estrangeira após a Segunda Guerra Mundial, após os alemães terem sido traumatizados pela incineração de dezenas de milhares de civis, pela limpeza étnica de 9 milhões de alemães na Prússia Oriental, Silésia, Sudetos, e pelo estupro em massa de pelo menos 2 milhões de mulheres alemães pelos Aliados, a coalizão igualitária de liberais e comunistas.

Em resposta, os alemães ocidentais criaram uma ditadura antinacionalista, a República Federal, para que nunca mais as potências ocidentais tivessem motivo para infligir tamanha chacina horrível e sadista sobre seu povo. Políticos alemães como Schulz foram criados a base de "antinazismo" e foram ensinados a acreditar que seu povo, os alemães, eram o povo mais maligno no mundo e que eles tinham o dever de se redimir através de um altruísmo ilimitado e não-recíproco em relação a outros povos.

Os alemães foram, de certa forma, reprogramados após a Segunda Guerra Mundial para se autodestruírem. Esta programação ainda está operando e até mesmo entrou em metástase. "Jornalistas" alemães populares dizem abertamente ter uma missão sagrada de solapar ideias nacionalistas e de direita, não reportar sobre elas objetivamente ou discuti-las criticamente.

Daí, a afirmação de Schulz de que "a nova Alemanha só existe para garantir a existência do Estado de Israel e do povo judeu" e o convite suicida de Merkel para um assentamento islâmico ilimitado na Alemanha.

O caso de Merkel é ainda mais curioso. Ela foi criada na ditadura comunista da Alemanha Oriental, a República Democrática Alemã. Os alemães são um povo talentoso, e a Alemanha Oriental foi a ditadura mais economicamente próspera e rigorosa de todo o bloco comunista, com até 5% da população servindo como informantes do Ministério de Segurança do Estado (Stasi).

Na verdade, o "prusso-stalinismo" da Alemanha Oriental teve sucesso. A taxa de natalidade nativa foi mantida em níveis de substituição por políticas natalistas agressivas e progressivas, incluindo benefícios sociais generosos, um chamado "ano do bebê" de licença pós-maternidade paga, e pressão propagandística em cima de todas as mulheres (incluindo trabalhadoras e educadas) para que tivessem filhos pela Pátria. Por causa dessas políticas, a fertilidade alemã oriental se recuperou até níveis de substituição nos anos 80, níveis próximos da notoriamente obcecada França (e sem depender da fertilidade de imigrantes africanos e muçulmanos, é claro). Em contraste, na Alemanha Ocidental, toda política natalista era tabu por sua associação com o Terceiro Reich. Nascimentos desabaram na década de 70 ao nível de 1.3 e nunca se recuperaram desde então.

Os alemães orientais tinham até mesmo algumas políticas eugênicas, ainda que elas não estivessem no mesmo nível dos comunistas tchecoslovacos. Praga implementou incentivos financeiros consideráveis (o equivalente a 10 meses de salário) para a esterilização voluntária de até 2 mil mulheres por ano, afetando massivamente a taxa de fertilidade elevada da população cigana. (Também houve aparentemente uma pequena minoria de casos de esterilização forçada, pelos quais a República Tcheca tem considerado pagar reparações).

A linha dura do comunismo, via de regra, ajudou a vacinar os europeus orientais e centrais contra a forma mais suave de esquerdismo que se tornou hegemônica no Ocidente desde os anos 60. Assim, o movimento Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente (PEGIDA) é mais forte na Alemanha Oriental, particularmente Leipzig, onde a queda do regime comunista alemão começou há mais de duas décadas. 

Poloneses, húngaros, tchecos, eslovacos e romenos ficam todos assombrados com a perspectiva de assentamento africano ou islâmico imposto pela União Europeia, e seus governos estão levantando vários graus de resistência. Eles riem dos franceses por terem permitido que sua nação fosse afro-islamizada, levando à transformação de igrejas em mesquitas, festivais anuais de queima de carros, e impulsos periódicos de terrorismo matando, dependendo da situação, judeus, cartunistas de esquerda ou bondosos brancos liberais.

Merkel, porém, parece não se importar. Ela é, suspeito, apenas uma marionete refletindo o consenso de uma classe política alemã que não é capaz de pensar em objetivos mais elevados do que vender mais alguns BMWs e ser gentil com estrangeiros para demonstrar que eles se redimiram por seu passado.

Mas quando isso acaba? Thilo Sarrazin, uma figura mais intransigente, profetizou que isso acabará com o fim do próprio povo alemão.

Vamos esperar que os alemães acordam antes que isso aconteça. A Europa não pode, eu creio, ressuscitar sem a Alemanha. E não haverá salvação para a Alemanha a não ser que a classe política atual seja removida e substituída. 

Até então, o povo alemão será governado por indivíduos como Martin Schulz e Angela Merkel. Tão perturbados, tão danificados, que eles acreditam que a nação alemã tem o dever de se destruir. Importando povos da África e do Oriente Médio, eles parecem friamente indiferentes àqueles alemães cujas vidas tem sido arruinadas como resultado. 

Juan Pablo Vitali - Mishima ou o Heroísmo Trágico da Antimodernidade

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por Juan Pablo Vitali



Enquanto ouço a música de Philip Glass, do velho filme "Mishima, Uma Vida em Quatro Capítulos" produzido por Francis Ford Coppola e George Lucas, e dirigido por Paul Schrader, recentemente remasterizado, não posso fazer menos do que refletir sobre certo sentido trágico da vida. Este mesmo sentido trágico da existência que tiveram os gregos, aos quais Mishima conhecia muito bem, e os demais grandes povos antes de se tornarem progressistas, e começar a crer que a cada dia nos aproximamos mais à autosatisfação e menos ao sofrimento e à morte. Mas o sofrimento e a morte de todos os modos nos perseguem e finalmente nos alcançam, às vezes se ter logrado ser na vida mais que uma bolsa de orgasmos mecânicos, de imagens vazias que não poderíamos recordar e uma infinidade de contradições angustiantes.

É notável ver como a morte por suicídio, em determinados casos, neste caso mediante o rito do seppuku, gera ao seu redor um espaço que alguns homens reconhecem ainda como sagrado. Um ponto onde se convocam os irredutíveis, os que ainda reconhecem o significado simbólico das coisas.

O fazer a si mesmo de Mishima, em um sentido que poderíamos denominar alquímico, me remete à antiga prática das artes marciais, que silenciosamente ainda desenvolvem milhões de pessoas mesmo no Ocidente, algumas sem compreender seu profundo significado.

A autodisciplina como um prazer superior, como um crescimento contínuo, tem muito a ver com a arte, chame-se esta Bushido, escultura, poesia, teatro, pintura ou dança. Todas essas artes foram praticadas por Mishima de algum modo.

Sua vida torturada é uma parábola poética. Desde seu narcisismo que muitos dos preocupados por estes temas não duvidaram em qualificar de homossexual, até a árdua disciplina da Sociedade do Escudo, nos mostra sempre uma busca desesperada por moldar as formas da beleza em um sentido externo e em um sentido interno, desconexamente primeiro e em uma fusão profunda depois.

Os que fazem gala de um antiamericanismo e um antijudaísmo baratos deveriam ouvir atentamente a música de Philip Glass, músico que reúne ambas origens, ademais de ser budista e um defensor da causa tibetana. Lamentavelmente, não é o bom gosto o que geralmente se globaliza.

Possivelmente a apreciação que o Ocidente considerva pela cultura japonesa não é mais que a admiração silenciosa e furtiva por tudo que perdemos. Reconhecemos em um japonês imperial como Mishima coisas que excepcionalmente reconhecemos em um ocidental. Ou quiçá nos resulte menos perigoso o reconhecimento desse tipo de estética e ideias nas paragens longínquas do Oriente, do que sacando à luz os muitos exemplos de grandes suicidas com ideias afins no Ocidente. E deixamos bem clara nossa convicção sobre que em ambos os casos merecem nosso reconhecimento e admiração.

Não cabe dúvida de que nessas ocasiões o suicídio é uma mensagem. Primeiro, porque deixa estabelecido que para alguns homens há coisas mais importantes que a própria vida, e que sem essas coisas a vida não se justifica. Mas também porque a épica desse tipo de suicídio está atada a uma causa, e para além da derrota dessa causa, tampouco vale a pena viver.

Exatamente o contrário da mentalidade progressista, que crê encaminhar-se sempre rumo à ausência de sofrimento, em uma irracional negação da morte.

Por isso os progressistas conseguem converter todas as derrotas em vitórias, porque por irracionais e falsas que resultem suas teses, para eles o atual sentido do mundo representa um pensamento totalitário que justifica a tudo, e de nenhum modo poderiam reconhecer que esse sentido do mundo é negativo e também racionalmente falso.


Aleksandr Dugin - Apenas Bolchevismo

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por Aleksandr Dugin



Capital nacional não existe. A natureza do capital é internacional. Ele ignora todos os obstáculos ao lucro econômico. Quaisquer restrições à liberdade dos mercados são obstáculos a este lucro. Isso inclui divisões estatais, nacionais, confessionais e outras. O fascismo, que não compreendeu sua própria essência no que concerne a necessidade de combinar nacionalismo especificamente com socialismo, caiu vítima dessa ilusão monstruosa e imperdoável. O nacionalismo não pode ser mercadológico ou liberal. Essa ideologia apela à vida imateral, coletiva, supraeconômica. A vida comunal é tanto o centro do nacionalismo quanto o centro do socialismo. O capitalismo está baseado em uma posição radicalmente diferente e irreconciliável, o conceito de lucro material, eficácia, racionalização do mundo presente, momentâneo, objetivo. Lembremos que o nacional-socialismo original estava baseado em um conceito jüngeriano radicalmente socialista e rigidamente antiburguês, o Trabalhador.

Mas é completamente desnecessário se voltar constantemente para a experiência alemã e italiana. O nacionalismo russo contemporâneo deve repensar sua própria experiência histórica. E, dada uma abordagem adequada, se tornará óbvio para nós que a ordem soviética, o bolchevismo, foi de fato uma expressão consistente, finalizada, aperfeiçoada das tendências nacionais radicais russas nas condições de um terrível e paradoxal século XX. O bolchevismo em sua própria essência, em sua lógica mais profunda, seu espírito não é outra coisa que o nacional-bolchevismo. Se olharmos de perto para a história do Partido Comunista, veremos instantaneamente que nenhum internacionalismo abstrato existiu em suas fileiras. Desde os tempos dos populistas, o "internacionalismo" era entendido como sendo um nacionalismo socialista, imperial, eurasiano, que coincide completamente com a missão histórica mundial do povo russo, como um povo portando não só e tanto o princípio do sangue, da etnicidade, como o princípio de um ideal cultural e espiritual especial. O nacionalismo russo sempre foi integracionista, supraétnico, ético e messiânico. Nem racial, nem regionalista, nem local. Tal como o bolchevismo.

O que isso significa para o movimento patriótico? Precisamos reavaliar radicalmente o período soviético, trabalhar em um modelo historiográfico especial, e usar seu esquema para reescrever a história soviética em uma terceira variante. Até então, estamos conscientes de duas abordagens, a soviética e a anti-soviética. A abordagem soviética reflete a história soviética em termos marxistas, permanecendo hipnotizada por uma metodologia comunista alienada e escolasticamente complicada, turvada como resultado de inúmeros saltos e períodos de desenvolvimento da doutrina socialista. Mais do que isso, a principal linha da historiografia estritamente soviética foi cortada por causa do colapso da União Soviética, e em seu lugar apareceu uma pletora de agrupamentos históricos marginais, similares a seitas, emaranhados em terminologia, brigando uns com os outros, incapazes de chegar a uma imagem ideológica unitária do período soviético.

A segunda abordagem ideológica coincide com a perspectiva anti-soviética. Ela tem duas posições. Uma é amplamente conhecida, a "democrática", "ocidentalista. Segundo essa teoria, o socialismo é uma ilusão e um mal, o período soviético é uma anomalia enraizada em condições arcaicas e sombrias das massas totalitárias subdesenvolvidas habitando o noroeste eurasiático.

Outra variedade de modelo anti-soviético é monarquista, "branco". Segundo este modelo, o desenvolvimento normal de uma potência europeia peculiar foi artificialmente interrompido por uma conspiração de estrangeiros fanáticos, que realizaram um golpe antipopular e governaram usando a força e o terror por longas décadas até que o sistema apodreceu até acabar.

Diferentes interpretações nessas duas perspectivas principais, a soviética e a anti-soviética, são bem conhecidas, mas há também consciência de suas discrepâncias internas e exageros inerentes.

Na verdade, o que possuímos até agora não revela a abordagem fundamental, real, do fenômeno bolchevique.

Tal abordagem só pode se formar no evento do reconhecimento da unidade fundamental, do parentesco ético e espiritual entre a ideia nacional (especialmente a russa) e o pathos básico do comunismo enquanto ideologia, incluindo o marxismo. Outras abordagens distinguem radicalmente nacionalismo e socialismo (comunismo), os veem como antíteses ideológicas, tendências incompatíveis. E a convicção nessa incompatibilidade é projetado mais além no curso inteiro da reconstrução histórica. As consequências são conhecidas, a essência do fenômeno se perde, contradições se acumulam criando exageros e equívocos intermináveis. Pode ser que a única abordagem próxima à verdade seja a do liberalismo ocidental extremista, caracterizado pela máxima russofobia em conjunção com o máximo ódio por quaisquer formas de socialismo ou comunismo. Apenas aqui, ainda que em uma forma negativa, é percebida corretamente a solidariedade surpreendente, a consonância do bolchevismo com a Ideia Russa, o profundo parentesco com o outro lado de formas externas.

O problema se condensa em trabalhar não uma forma negada, como no caso dos anticomunistas russofóbicos, mas um modelo historiográfico completamente positivo e apologético do bolchevismo enquanto fenômeno combinando organicamente em si traços nacionais e comunistas. Em princípio, a base para tal construção foi estabelecida por Mikhail Agursky no fundamental livro "Ideologia do Nacional-Bolchevismo" e especialmente em sua variante em inglês "Terceira Roma". Surpreendentemente, essa brilhante obra não foi seguida por um desenvolvimento sério do tema por outros autores. Nada além de rascunhos, fragmentos, detalhes. Apesar de que pareceria que a criação de toda uma escola histórica, armada com a metodologia de Agursky e tendo em sua posse uma multitude de obras de pesquisa de anti-socialistas russofóbicos radicais, cujos esquemas podem ser usados como blocos prontos com uma substituição automática do valor ético do mesmo fenômeno de um sinal de "menos" para um de "mais", se faz necessária.

Talvez seja necessário aguardar algum tempo, até que a agiotagem política dos apoiadores e opositores do socialismo passe, até que os inúmeros historiadores sem talento, enchendo todas as instituições do terrível período do brezhnevismo tardio (eles indiretamente promoveram a rendição do socialismo) sejam postos para escanteio. Agora, com ritmo crescente, o método historiográfico "monarquista" está sendo desacreditado, enquanto a posição liberal-russofóbica, não obstante seu domínio desde a perestroita, logo se tornará fisicamente insegura na situação da condição desesperada do povo russo e de uma inevitável explosão social.

O último refúgio dos canalhas permanece sendo o nacional-capitalismo, o fascismo de direita, anti-socialista (via de regra, ligado ao racismo, etc.). É contraditório e irresponsável. Ele é absolutamente falso e não leva a lugar nenhum. Essa teorização de um compromisso antinatural está conceitualmente e historicamente fadada ao fracasso. É um beco-sem-saída deliberadamente amoral e burro, misturado a ressentimento e/ou complexos paranoicos.

Ao contrário, todos os caminhos estão livres para a historiografia nacional-bolchevique. Ela é a única que tem futuro. É uma abordagem na qual a paixão pela verdade histórica está ligada a uma escolha ética adequada, orgulho nacional e um ideal social exaltado.

Já pode ser visto que no futuro a necessidade de usar o termo "bolchevismo" com o prefixo "nacional-" desaparecerá. O bolchevismo já é em si mesmo nacional-bolchevismo, já que nenhum "bolchevismo não-nacional" já existiu alguma vez. 

Alain de Benoist - Confrontando a Globalização

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por Alain de Benoist(1)



Tudo mundo está falando sobre globalização, um fenômeno ainda mais significativo por ser geralmente considerado inevitável e além do controle de qualquer um. O que isso significa? Ainda que haja muitas obras sobre este tema(2), o conceito permanece confuso. Para alguns, globalização é um desenvolvimento para além do Estado-Nação. Para outros, ela define um novo tipo de oposição entre capital e trabalho trazido pela ascensão do capital financeiro, ou uma nova separação entre trabalho especializado e trabalho não-especializado. Alguns a veem como a expansão do comércio mundial com a inclusão de novos jogadores do Sul (acompanhada pela estratégia de globalização de corporações multinacionais), enquanto outros enfatizam a ampliação de trocas causada pela revolução informacional. O que ela é realmente?

Em primeiro lugar, a globalização cultural deve ser distinguida da globalização econômica. Estes dois fenômenos se sobrepõem, mas não são a mesma coisa. Um dos traços mais óbvios da globalização econômica é a explosão das trocas financeiras. Hoje, o comércio internacional cresce mais rápido do que vários PNBs. Em 1990, as trocas internacionais eram já 15% dos negócios mundiais. Em apenas 5 anos, de 1985 a 1990, as exportações aumentaram em 13.9%. Entre 1960 e 1989, a troca de produtos manufaturados dobrou enquanto o fluxo de capital quadruplicou. Durante este tempo a natureza do fluxo financeiro mudou: o desenvolvimento contínuo do investimento estrangeiro direto foi acompanhado pela disponibilidade de capital de curto prazo. Esses investimentos diretos também estão crescendo mais rápido do que a riqueza mundial. A taxa anual de crescimento passou de 15% entre 1970 e 1985 para 28% de 1985 a 1990, enquanto durante este período os investimentos diretos quadruplicaram em volume, passando de 43 bilhões de dólares em 1985 para 167 bilhões em 1990. Uma economia global emergiu com uma fatia cada vez maior do PNB diretamente dependente das trocas estrangeiras e do fluxo de capital internacional.

O outro fator importante é obviamente o papel crescente dos computadores e eletrônicos. Ao reduzir os custos de transações de longa distância e permitindo a comunicação em "tempo real" em qualquer lugar do mundo, assim fornecendo instantaneamente informação crucial para a estruturação de preços, informação que costumava levar semanas para alcançar uns poucos centros financeiros, as novas tecnologias de comunicação tornaram possível um fluxo financeiro sem precedentes. O sol não mais se põe sobre os mercados de ações interligados. A moeda vai de uma ponta do globo à outra, procurando pelos melhores retornos na velocidade da luz. Essa globalização, porém, é exclusivamente financeira: o mercado monetário é o único no qual a arbitragem instantânea faz sentido.

Graças a essa mobilidade ampliada, tornada possível por computadores, transações em mercados monetários tem experimentado um crescimento fantástico. Eles agoram excedem um trilhão de dólares por dia. Estes fundos vem de holdings bancárias comerciais, corporações multinacionais, reservas de moeda flutuantes mantidas por bancos centrais criados especialmente para esse tipo de transação. A base do sistema é a troca de moeda que, dia após dia, ou mesmo hora após hora, pode resultar em ganhos consideráveis, muito acima dos derivados da atividade industrial ou comercial tradicional. Em antecipação às taxas de troca flutuantes, a computadorização permite o deslocamento virtual imediato de enormes quantias de moeda, quase completamente independente dos bancos centrais. É por isso que este novo fenômeno é chamado de "economia de cassino".

Alguns comentaristas situam as origens da globalização no início da década de 70, à época do choque duplo dos preços estratosféricos do petróleo e da crise do sistema monetário internacional. À época, a lentidão da produtividade e da taxa de crescimento, a saturação progressiva da demanda por bens de consumo duráveis, o fardo cada vez maior das limitações financeiras estrangeiros, junto ao abandono de taxas de câmbio fixas e a explosão do déficit comercial americano, levaram a um aumento em produtos financeiros puramente especulativos. Esse processo continuou até a década de 80, com a dívida pública crescente favorecendo o desenvolvimento de um vasto mercado de moeda, especialmente com a onda de desregulamentação que, começando com a Administração Reagan, rapidamente se espalhou para todas as nações desenvolvidas. À época, os Estados começaram a recuar face a integração financeira adotando os 3 Ds, descompartimentalização, descartando o intermediário e desregulamentação. Ao liberalizar o mercado de capitais, essa estratégia permitiu arbitragem a nível global e abriu mercados de consumidores e grandes corporações para negociadores estrangeiros. Então, no início dos anos 90, o súbito colapso da União Soviética e a transição brutal nos países outrora comunistas ao capitalismo irrestrito se traduziu no ingresso de mais 2.5 bilhões de pessoas no mercado global, enquanto ao mesmo tempo difundindo a ilusão de um planeta unificado dentro de um único bloco.

A Monopolização do Capital

Essa série de eventos deve ser situada dentro de uma cronologia mais ampla. Longe de ser uma aberração ou uma inovação radical, ou mesmo resultado de alguma conspiração, a globalização é simplesmente parte de uma dinâmica de longo prazo do capitalismo. Como Karl Marx já observou durante o século retrasado, "a tendência de criar um mercado global é parte do próprio conceito de capital"(3). Para Philippe Englehard, "a globalização é indubitavelmente apenas o encerramento da explosão da modernidade ocidental"(4). Ela justifica toda uma série de metamorfoses através da longa história da economia mercantil, uma economia baseada desde o início na troca aberta dentro de um clima de individualismo e universalismo, predicado em uma metafísica da subjetividade e do sucesso material. Ela começou com o desenvolvimento de negócios de longo prazo à época das cidades-Estado italianas no século XIV, continuou com as "grandes descobertas" e a revolução industrial, então com o colonialismo. Entre 1860 e 1873, a Inglaterra já havia tido sucesso em criar o início de um sistema comercial global. Em julho de 1885, Jules Ferry declarou à Câmara de Deputados que "fundar uma colônia significa criar um mercado". Ao contribuir para a desintegração de culturas e sociedades tradicionais na África e Ásia, o colonialismo permitiu a penetração de produtos ocidentais e abriu novos centros comerciais, uma prática que não seria abandonada até que perdesse sua lucratividade, i.e., quando as colônias começaram a custar mais do que arrecadavam(5).

O mercado enquanto instituição é em si mesmo indissociavelmente ligado com a internacionalização das trocas. Na teoria econômica clássica do século XVIII, a livre circulação de bens e serviços já é pressuposta como levando à equalização de sistemas de produção e padrões de vida. Enquanto tal, o capitalismo aparece como um nômado desde os primórdios. Assim, como Adda nota, a globalização "apenas traz o capitalismo de volta a sua vocação original, mais transnacional que internacional, que é jogar com fronteiras como com Estados, com tradições como com nações, para melhor subsumir todas as coisas sobe a lei singular do valor"(6). Porém a globalização também exibe um número de novos traços. Ademais do fato de que, na troca internacional, são agora produtos manufaturados que assumem precedência sobre matéria-prima, a esfera financeira adquiriu um grau extraordinário de autonomia em relação à produção econômica real. A grande desregulamentação dos mercados da década de 80 efetivamente anunciou a chegada de um capitalismo não mais primariamente industrial, mas especulativo. A massa monetária circulando no mundo hoje é estimado como sendo mais de 15 vezes o valor da produção. Essa "bolha" financeira agrega fundos dos setores privado, bem como do público, seja a administração da dívida pública por nações individuais ou fundos de pensão nacionais. Ela naturalmente encoraja lógicas especulativas e ilegais: drogas e corrupção se tornam partes integrais da nova ordem econômica.

Outra novidade é a universalização do mercado. Transações agora envolvem setores previamente independentes. Cultura, serviços, recursos naturais, propriedade intelectual são agora parte do mecanismo de livre-comércio. Todas as coisas são agora transformadas em moeda. O que entra no sistema como uma coisa viva sai como commodity, um produto morto. Ademais, os jogadores não são mais os mesmos. Ontem, esses jogadores eram primariamente nações. Hoje, eles são corporações multinacionais que dominam investimento e comércio, enquanto mercados financeiros ditam as regras e os bancos controlam um setor financeiro cada vez mais desconectado da economia real. Um mundo organizado ao redor de Estados-Nações está dando lugar para uma "economia mundial" estruturada por jogadores globais. Essa é uma transformação fundamental. Algumas décadas atrás, Estados-Nações eram ainda os esquemas políticos e sociais naturais para gerenciar os sistemas nacionais de produção. A competição capitalista se desenrolava basicamente entre nações. O traço dominante do sistema capitalista era, assim, a territorialização, i.e., sua ligação a uma nação industrializada particular. Apesar de em expansão, o mercado era primariamente nacional. Mesmo para companhias com subsidiárias estrangeiras, era crucial ter uma companhia-mãe localizada em uma nação poderosa. Economia e política basicamente coincidiam, tornando as decisões de política econômica nacional ainda mais importantes. Finalmente, o Terceiro Mundo ainda não havia se tornado parte do sistema industrial e havia um contraste marcado entre centros industriais e periferias.

Hoje, a integração global do capital rompeu muitos sistemas nacionais de produção e os reestruturou como tantos segmentos de um sistema de produção global. Os vários componentes de produção estão agora espalhados longe da localização geográfica da corporação e às vezes até independente de seu controle financeiro. Produtos incorporam componentes tecnológicos de tão variadas origens que não se pode reconhecer nem a contribuição específica de cada nação, nem a nacionalidade da força de trabalho que produz a mercadoria. Robert Reich nota que quando um americano compra um carro da General Motors por 20 mil dólares, menos de 800 dólares retornam a produtores americanos. A globalização está criando uma reorganização caracterizada primariamente por uma desterritorialização generalizada do capital. O "espaço de lugares" está sendo deslocado por um "espaço de fluxos". Em outras palavras, o território está sendo substituído pela rede(7), que não mais corresponde a um território particular, mas está inscrito em um mercado global, independente de quaisquer limitações políticas nacionais. Pela primeira vez na história, o espaço político e o espaço econômico não estão mais ligados. Este é o significado mais profundo da globalização.

O aparecimento de empresas industriais capazes de planejar seu desenvolvimento em uma escala global e implementar estratégias globais integradas é um dos traços mais característicos da globalização. Companhias multinacionais são aquelas que fazem mais da metade de seus negócios no exterior. Em 1970, havia 7 mil delas. Hoje há 40 mil e elas controlam 206 mil subsidiárias ao mesmo tempo que empregam apenas 3% da população mundial (por volta de 73 milhões de pessoas). O orçamento dessas corporações em 1991 era maior do que todas as exportações mundiais de bens e serviços (4.8 trilhões de dólares); elas controlam diretamente ou indiretamente 1/3 da renda mundial e o top 200 dessas companhias monopoliza 1/4 da atividade econômica mundial. Quase 33% do comércio mundial agora se dá entre subsidiárias das mesmas corporações, não entre diferentes corporações. Essas corporações em rede tem imensos recursos a sua disposição. O orçamento da General Motors (132 bilhões de dólares) é maior do que o PNB da Indonésia; o da Ford (100.3 bilhões de dólares) é maior que o PNB da Turquia; o da Toyota maior que o PNB de Portugal; o da Unilever maior que o PNB do Paquistão; o da Nestlé maior que o PNB do Egito, etc.

Essas corporações, cujas origem nacional é agora meramente uma referência formal, há muito tem aprendido a substituir objetivos de lucratividade mínima com objetivos que maximizam o ganho financeiro, quaisquer sejam as consequências sociais. Menos preocupados com a produção do que com controle de mercados e patentes, eles são acima de tudo grupos financeiros que colocam a maior parte de seus lucros em moeda ou em subprodutos, ao invés de distribuírem os lucros entre acionistas ou investi-los em atividades produtivas. Ademais, como elas são mais ricas que muitas nações, não é difícil para elas comprar políticos e corromper funcionários de governo. Para se tornarem mais competitivas, corporações multinacionais também desenvolveram uma nova estratégia. Para evitar desvalorizações massivas e brutais, como na década de 30, elas tem sido forçadas a buscar outras saídas para os excedentes de capital flutuante, já que os lucros de produção de investimentos clássicos não são mais suficientemente altos. A luta pela fatia de mercado os levou a incluir trabalhadores pouco qualificados e mal pagos na força laboral mundial para melhor maximizarem seus lucros(8).

Enquanto nações ocidentais anteriormente estiveram contentes em explorar os mercados internos de países meridionais, as companhias multinacionais estão agora ocupadas reexportando para mercados ocidentais produtos montados ou produzidos a baixo custo no sul. A globalização está ocorrendo pela repatriação de uma porção da atividade econômica em países meridionais, através de uma reorganização global dos ciclo de produção e da transformação de uma força de trabalho local em trabalhadores assalariados. Este fenômeno, chamado deslocamento, se tornou generalizado desde a década de 80 e é meramente a reorganização-extensão em escala global das relações de trabalho, outro passo na direção da criação de um mercado laboral global. Não é necessário dizer que, desde essa perspectiva, o livre movimento de moeda é essencial para desviar lucros para centros de tomada de decisão, um processo que tem o efeito duplo de reduzir a acumulação local e restringir o poder de compra(9).

Simultaneamente, da Ásia e, em menor medida, da América Latina e do antigo império soviético, novos jogadores estão começando a emergir no comércio global. No passado, abismos entre salários no norte e no sul refletiam diferenças similares em produtividade e qualidade. A emergência de novas nações industrializadas e o aparecimento súbito de multinacionais em algumas das nações meridionais alteraram radicalmente essa situação. Em 1995, a renda per capita em Cingapura já havia ultrapassado a da França. Essa tendência obviamente só continuará a crescer. O sucesso dessas nações recém-industrializadas de modo algum dá sustento às teses do liberalismo. O "milagre asiático"é primariamente um resultado de características culturais específicas, seja no Japão, na China, na Coreia ou Cingapura(10). Ele pode ser explicado em termos da engenhosidade das políticas industriais desses países. Longe de aceitar acriticamente a teoria das vantagens comparativas da especialização em produção de baixo custo imposta a eles, sem se preocupar com demanda real, eles focaram na produção de bens para os quais há alta demanda ao redor do mundo. É claro, a globalização modifica a competição entre nações. Tão logo as empresas e fundos possam se mover livremente no mundo, a competitividade de empresas nacionais não está mais automaticamente ligada ao de nações. O espaço transnacional nos quais essas grandes corporações operam não mais coincide com a organização ótima do espaço nacional. A posição de um país no mundo só é definida pelo nível de competitividade que seus produtos tem no mercado global, seus empresários estão obrigados a se posicionarem nesse mercado segundo a melhor razão custo/benefício. Pode-se até mesmo dizer que as nações não são nada mais que pontos no espaço de produção de grandes corporações. A própria noção de vantagem comparativa está se tornando obsoleta.

As nações não tem mais qualquer escolha senão retornar a políticas de competição pura, em detrimento da coesão social. Isso é precisamente o que aconteceu na Europa a partir da década de 80, primeiro sob a influência das teorias liberais de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, então como resultado do Tratado de Maastricht. Essa aceitação das demandas da globalização se traduziu em uma desregulamentação e liberalização generalizadas, com prioridade dada a mercados estrangeiros acima dos domésticos, a privatização de corporações estatais, a abertura para investimentos internacionais, o ajuste de salários e preços pelo mercado global, a eliminação progressiva de auxílios e subsídios, e, finalmente, a redução de gastos projetados para desacelerar a competição, como educação, previdência e proteção ao meio-ambiente. Uma após a outra, as nações europeias adotaram políticas estritamente monetaristas (chamadas de deflação competitiva) que se resumem em combater a inflação por meio de altas taxas de juros, cujo resultado mais claro tem sido um crescimento lento e a ampliação do desemprego. Taxado em um nível inferior aos salários, o capital financeiro, enquanto isso, contribui menos e menos para o bem-estar geral.

Ao mesmo tempo, a crise da dívida forçou países do Terceiro Mundo a fazer ajustes similares: os realinhamentos estruturais que o FMI e o Banco Mundial tem exigido levaram a maioria desses países a usar as mesmas receitas que as nações industrializadas, com resultados ainda mais catastróficos. As próprias organizações internacionais se tornaram instrumentos de globalização. O papel do FMI e do Banco Mundial é impôr a desregulamentação, gerenciar a flutuação de dinheiro e forçar as economias do Terceiro Mundo a se submeterem ao imperativo absoluto de manutenção da dívida. O G7 está tentando coordenar as políticas de gerenciamento de crise das grandes nações industrializadas, sem atacar os problemas fundacionais. Mas um papel bastante particular está reservado para as organizações que supervisionam o comércio mundial.

No passado, negociações comerciais entre nações lidavam com um pequeno número de práticas nacionais, como cotas de importação, tarifas alfandegárias, controle sobre transferência de fundos, etc. Hoje, o que está em jogo na diplomacia comercial vai muito além de questões de fronteiras. Negociações agora incluem instituições dentro de países: a estrutura de seu sistema bancário, os termos de seu direito à propriedade privada, sua legislação social, seus regulamentos sobre competição, concentração ou propriedade industrial. O princípio subjacente dessas negociações é que o comércio internacional vai unir nações com mais ou menos as mesmas instituições. Na tentativa de reduzir a incerteza e o risco de investimentos estrangeiros diretos ele encoraja sistemas de propriedade e regulações mais uniformes, geralmente consistentes com a legislação americana. O poder de negociação de corporações multinacionais é assim reforçado por um novo poder lobista que lhes permite demandar arranjos especiais em questões de regulação, salários ou impostos para aumentar a lucratividade e competitividade. Em última análise, "através de um número crescente de negociações locais e internacionais, as sociedades são confrontadas com a demanda por transformar suas regras e instituições domésticas para se conformar a um modelo imposto desde fora"(11).

As cláusulas do GATT ou da OMC vão muito além dos objetivos tradicionais de acordos de comércio justo. Seu objetivo primário é promover a mobilidade de capital. Os acordos que eles alcançam não realmente acordos de comércio justo tanto quanto acordos para a livre circulação de fundos, com a intenção de estabelecer novos direitos de propriedade internacional para investimentos estrangeiros e para criar novos limites às regulações nacionais e governamentais. Como Ian Robinson escreveu, "os acordos sobre livre circulação de fundos podem ser entendidos como instrumentos que, em nome da redução de obstáculos ao comércio, alteram ou permitem a renegociação de leis, políticas e práticas que bloqueiam o caminho rumo a uma economia global de mercado"(12).

Finalmente há outra novidade que facilita a compreensão da natureza da globalização cultural: o capitalismo não mais vende apenas commodities e bens. Ele também vendo sinais, sons, imagens, software, conexões e links. Ele não só enche casas: ele coloniza a imaginação e domina a comunicação. Nos anos 60, a sociedade de consumo prosperou em cima de bens materiais identificáveis como carros, eletrodomésticos, etc. O sistema que Benjamin R. Barber chama "McMundo", como em MacIntosh ou McDonald, é um mundo virtual resultante da intensificação de todos os tipos de transações transnacionais que convertem para homogeneizar estilos de vida. "Os adereços do sistema McMundo", diz Barber, "não são mais carros, mas o parque de diversões Eurodisney, a MTV, filmes de Hollywood, pacotes de software. Em resumo, conceitos e imagens, tanto quanto objetos"(13).

Essa commodificação generalizada torna o consumo de espetáculo-propaganda a única forma de integração social, enquanto ao mesmo tempo intensificando sentimentos de exclusão e tendências agressivas naqueles deixados de fora. Através de uma enxurrada de imagens e sons universais, ela contribui para a padronização de estilos de vida, para a redução de diferenças e particularidades, para a conformidade de atitudes e comportamentos, para a erradicação de identidades coletivas e culturas tradicionais. Mas mais do que isso, chega ao ponto de modificar nossa percepção do espaço e do tempo. Sob a rede de satélites estacionários, sob a influência de impérios econômicos que multiplicam alianças e fusões, sob o efeito de estradas de informação que levam a mesma subcultura global aos rincões mais longínquos da terra, o planeta está encolhendo. Dominados por um número cada vez menor de monopólios, que são mais e mais poderosos, o espaço em que commodities, investimentos e moeda circulam está sendo cada vez mais unificado. Ademais, enquanto até agora todas as sociedades viveram o tempo tanto como uma sucessão de momentos como duração subjetiva, essa distinção está se apagando. A revolução tecnológica do "tempo real" acelera a circulação de fluxos materiais e imateriais, sem qualquer possibilidade de um ponto de referência ou contextualização.

A revolução tecnológica do “tempo real” acelera a circulação de fluxo material e imaterial, sem possibilidade de um ponto de referência ou contextualização. Essa compressão do tempo torna o imediato o único horizonte restante de significado. Como René Char coloca, “abolir a distância mata”. A proximidade que novas tecnologias de comunicação cria acaba esmagando coisas e confundindo formas. Nós estamos realmente testemunhando uma redefinição da realidade. A internet é um bom exemplo. Enquanto a mídia clássica está limitada a mostrar o que acontece em outro lugar, a internet permite a seus usuários se transportarem virtualmente para este outro lugar. O ocupante do sistema McMundo assim vê ao mesmo tempo todo lugar e lugar nenhum. A internet inaugura um novo estilo de vida que se poderia chamar de nomadismo eletrônico, mas que é também um colonialismo eletrônico. Como Nelson Thall, sucessor de Marshall McLuhan na Universidade de Toronto, aponta, “no fim, o poder da internet é que ela permite ao mundo inteiro pensar e escrever como os norte-americanos”.

Assim a globalização não deve ser confundida com uma simples internacionalização, que foi o sistema criado e organizado pelas nações para definir as relações internacionais(14). Ela é melhor definida como a transição de uma economia internacional concebida como um agregado de economias nacionais e locais que diferem nas maneiras em que operam e são reguladas, para uma verdadeira economia planetária de mercado governada por um sistema de regras uniformes, no sentido de Karl Polanyi(15). Ela descreve “a crescente interdependência unindo todos os componentes do espaço para leva-los a uma uniformidade e integração cada vez mais restritivas” (16). Aqueles nos controles são os novos jogadores extra-estatais e extra-nacionais, cuja única ambição é maximizar seus lucros pelo planejamento da organização planetária de suas atividades, e pela eliminação de tudo que possa ser um obstáculo para sua liberdade de ação. Esses novos jogadores fortalecem sua autonomia a cada dia, e são portanto cada vez mais interdependentes, ao ponto de constituírem um único e imenso organismo de mercado.

Imiseração das Massas

Uma vez que a natureza exata da globalização seja compreendida, é fácil entender as consequências. A primeira é um aumento trágico da disparidade econômica. Hegel já havia dito que as sociedades ricas não são ricas o suficiente para reduzir a miséria excessiva que elas geram. Hoje, a pobreza não resulta mais da escassez mas da má distribuição de riqueza e de uma mentalidade psicológica e cultural que não pode conceber a riqueza senão em termos de trabalho e produção.

Entre 1975 e 1985, o produto mundial bruto aumentou em 40%; desde 1950, o comércio mundial aumentou em onze vezes; o crescimento econômico, quintuplicou. Porém, durante o mesmo período, tem havido um crescimento sem precedentes da pobreza, do desemprego, da desintegração social e da destruição ambiental. O verdadeiro PNB per capital no hemisfério sul hoje é apenas 17% do de sua contraparte no norte. O mundo industrial, que representa apenas ¼ da humanidade, possui 85% da riqueza mundial. As nações do G7 constituem 11% da população mundial, mas 2/3 do PNB do planeta. Apenas a cidade de Nova Iorque usa mais eletricidade do que toda a África Subsaariana. Entre 1975 e 1995, a riqueza americana aumentou apenas 60%, mas esse aumento foi monopolizado por 1% da população. Um último dado revelador: as posses dos 358 bilionários no planeta hoje são maiores do que a renda anual cumulativa dos 2.3 bilhões de indivíduos mais pobres, ou o equivalente de quase metade da humanidade. Isso significa uma coisa: quanto mais riqueza, mais pobreza, o que refuta a teoria liberal segundo a qual toda a sociedade acabaria se beneficiando dos lucros dos mais ricos. Na verdade, como ela dá um quase-monopólio às forças do mercado, a globalização contribui para o desenvolvimento de desigualdades e da exclusão social, assim ameaçando a coesão social.

Similarmente, o colonialismo continua por outros meios. A ajuda humanitária ao Terceiro Mundo aperfeiçoou a técnica da usura como meio de controle. A OMC está agora demandando que países do sul tratem investidores estrangeiros como se eles fossem locais, eliminando quaisquer obstáculos legislativos para o trabalho, meio-ambiente ou saúde. Onde quer que ajustes estruturais liberais tenham sido feitos, os resultados tem sido uma piora das condições de vida das massas e um aumento na instabilidade social. Uma consequência lógica de tudo isso é a fuga de capital, que permite a mensuração do caráter fundamentalmente parasitário da globalização. Quanto a países que se recusam a satisfazer essas demandas, eles são simplesmente marginalizados, ignorados e finalmente expulsos dos circuitos internacionais. Obviamente, essas consequências não são sentidas apenas em países do sul. No norte, a globalização se traduz em uma competição transnacional exacerbada que, por meio de exportações e investimentos diretos, está causando um nivelamento de salários e empregos. Todos os bens ou serviços produzidos localmente que possam ser produzidos em outro lugar estão vulneráveis às pressões exercidas pelo capital pela redução de salários e benefícios.

Do outro lado da alavanca, o capital humano decrescente e o envelhecimento progressivo da força de trabalho aumentaram os custos, dessa forma encorajando os empreendedores a relocarem suas operações para países cuja força de trabalho é menos cara e mais flexível. Como a produção competitiva de países em desenvolvimento é encontrada especialmente em áreas que demandam um trabalho não-especializado considerável, essa força de trabalho é encorajada e explorada no sul, e cada vez mais excluída do trabalho no norte, contribuindo para o aumento no desemprego estrutural. Na ausência de um número crescente de escoedouros comerciais, as companhias só podem alcançar o tamanho crítico de que precisam para sobreviver em mercados globais tomando fatias de mercado de seus competidores e pela melhora constante em seu nível de competição, o que se traduz em um movimento contínuo de reestruturação industrial e downsizing, com consequências sociais devastadoras.

Esses deslocamentos são só o começo. Em 1990, produtos manufaturados exportados pelos países recém-industrializados do sudeste asiático para os países desenvolvidos ainda representavam apenas 1.61% do PNB desses. Na França, as trocas comerciais com países recém-industrializados respondem por aproximadamente apenas 1% da taxa atual de desemprego. Mas essa tendência provavelmente é aumentar. Entre 1970 e 1990, a fatia que países emergentes tinham em mercados de ações de países avançados foi de .7% para 6.44%. Nessa taxa, ela poderia atingir 55% em vinte anos.

Enquanto a revolução industrial permitiu a integração do trabalho não-especializado, a globalização tende a excluir sistematicamente aqueles que não tem o tipo certo de know-how. Desde a perspectiva das tendências anteriores do capitalismo, isso representa uma ruptura fundamental que põe em questão todos os compromissos sociais adotados pelo Estado de Bem-Estar keynesiano. A globalização de salários e a globalização financeira se combinam para reverter o curso de políticas econômicas e sociais dominantes durante as décadas de crescimento pós-guerra. Durante os trinta anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, que correspondem ao apogeu do sistema fordista, o capitalismo havia entrado em acordo com as demandas sociais formuladas em sociedades industriais, bem como com a determinação de nações para criar as bases de uma ordem econômica internacional. O Estado de Bem-Estar foi o resultado desse compromisso histórico entre capital e trabalho. Foi um ajuste estratégico do capital para atender um número de demandas sociais. A globalização rompeu com esse contrato social. A partir da década de 70, a lógica econômica do capitalismo começou a se desconectar das preocupações sociais, o que levou ao questionamento da hierarquia de salários e dos mecanismos de coesão social.

Essa desconexão do econômico e do social caminham juntas do enfraquecimento da conexão entre o Estado de Bem-Estar e a classe média ao redor da qual o crescimento das décadas precedentes foi construído. A globalização está levando ao surgimento de um modelo ampulheta de sociedade, na qual a grande maioria dos ocupantes tendem a cair na direção do fundo, sucumbindo a uma existência precária, enquanto o dinheiro está polarizado nas esferas mais elevadas, assinalando a desestruturação das classes médias, ou seja, daquelas classes “que os capitalismos do início do século XX não só geraram, mas em cima das quais fundaram seu crescimento”(17). Durante os trinta anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, essas classes médias se consolidaram, levando à integração de porções cada vez maiores da população e assim à redução relativa de desigualdades.

Hoje, este modelo de uma classe média irreversivelmente em expansão é obsoleto. O resultado é uma profunda transformação das relações e interesses de classe dentro dos países capitalistas. Na verdade, a desestruturação das classes médias corresponde a uma desestruturação das classes baixas, que estão vendo seus mecanismos tradicionais de defesa obliterados. Os sindicatos são obviamente incapazes de pressionar empresas multinacionais, acostumadas a jogar com diferenças salariais no mercado mundial, como elas faziam com seus adversários tradicionais de negociação.

Essa mudança assinala uma regressão assombrosa, um retorno a situações de superexploração comparáveis àquelas que o movimento dos trabalhadores sofreu na aurora do capitalismo industrial. Apesar de sua filosofia da história falha, Marx pelo menos viu que a lógica da monopolização do capital leva à reificação das relações humanas. Pode-se apreciar a ironia da história. Precisamente quando o sistema comunista entra em colapso, as teses de Marx são parcialmente confirmadas não apenas na impiedosa lógica do lucro, mas no fato de que o desemprego e a pobreza estão novamente, como no século XIX, se tornando características estruturais da sociedade, que incerteza e exclusão social crescem a cada dia, que as rendas do capital se elevam conforme as rendas do trabalho decrescem, e que as garantias conquistadas pelos trabalhadores após décadas de luta estão agora sendo questionadas.

O Declínio do Estado

A última consequência da globalização é a crescente perda de poder dos Estados-Nações. Em vistas da mobilidade crescente do capital internacional, da globalização dos mercados, e da integração das economias, os governos nacionais estão vendo suas possibilidades de ação macroeconômica diminuírem em um piscar de olhos. Em questões monetárias, seu impacto já é quase nulo porque as taxas de juros e câmbio são agora controladas por bancos centrais independentes que tomam suas decisões segundos os mercados. Um país decidindo em uma redução unilateral em suas taxas de juros testemunharia imediatamente uma fuga de moeda para países oferecendo a possibilidade de ganhos maiores. Ao mesmo tempo, a amplitude de mobilização monetária dos bancos centrais tem se tornado inferior ao volume de transações: em julho de 1993, em um único dia de ataques especulativos contra o franco, o Banco da França perdeu todas as suas reservas cambiais. Em questões orçamentárias, os Estados veem sua margem de liberdade similarmente reduzida, graças a uma dívida pública ampliada que impede qualquer estímulo não-legislado. Finalmente, em relação a política industrial, os governos não tem solução para resistir à competição além de tentar atrair empresas estrangeiras por meio de subsídios e privilégios fiscais especiais, o que os deixa à mercê das multinacionais.

Porém, essas firmas não estão satisfeitas meramente com romper barreiras: elas também dobram o aparato legislativo criado para regular suas operações. Salários e impostos altos ou condições laborais custosas as fazem ir embora. O resultado é que “qualquer forma de regulação pode ser vítima das pressões do mercado simplesmente porque companhias multinacionais veem um custo”(18). O poder fiscal dos Estados, então, não é mais soberano, mas contratual, porque ele deve ser negociado com um capital cada vez mais errático sempre em uma posição melhor para ditar suas condições. “Nenhum governo, mesmo no norte”, explica Edward Goldsmith, “tem mais controle sobre corporações multinacionais. Se uma lei perturba sua expansão, elas ameaçam ir embora e elas podem fazê-lo imediatamente. Elas são livres para percorrer todo o planeta para escolher a mão-de-obra mais barata, o meio ambiente menos protegido por lei, os impostos mais baixos, e os subsídios mais generosos. Não há mais qualquer necessidade de elas se identificarem com uma nação ou permitirem que uma afiliação sentimental atrapalhe seus projetos. Elas estão totalmente fora de controle”(19). No fim, conclui Adda, “a globalização financeira pode ser analisada como um processo de contornar as regras instituídas pelos Estados mais desenvolvidos através de um sistema multilateral de regulações econômicas globais”(20).

A economia globalizada assim pesa tanto nos Estados-Nações que eles veem seus meios tradicionais de ação gradualmente relegados a modalidades de adesão. Confrontados por uma crescente dificuldade de controlar os ricos, eles se encontram privados de uma alavanca política essencial: o desenvolvimento coerente de seu território. Como todos os esforços orçamentários no âmbito social significam menos habilidade para competir economicamente, eles não podem mais preencher seu papel histórico de gerenciar compromissos sociais. Os políticos se tornam, assim, impotentes e o Estado muda de papel. De mediador social, ele agora apenas gerencia questões territoriais que estão fora de seu controle. Reduzido ao papel de espectador, ele é como “um funcionário que anota decisões tomadas em outro lugar”(21).

Tal mudança é revolucionária na medida em que solapa uma das fundações da política moderna: a soberania nacional. Segundo Badie: “a globalização destrói soberanias, corta através de territórios, abusa de comunidades estabelecidas, desafia contratos sociais e torna obsoletas conceitos anteriores de segurança internacional... Assim, a soberania não é mais o valor fundamental indisputável que era, enquanto a ideia de interferência externa lentamente, mas de forma garantida, muda de conotação”(22). Assim que o conceito de soberania é desafiado, porém, a questão da identidade vem em foco com toda a anonimidade social que ela traz consigo. Princípios democráticos também são ameaçados. Há uma ligação direta entre a perda de soberania nacional e o enfraquecimento da democracia. Por um lado, a globalização tende a generalizar múltiplas lealdades em detrimento da adesão cívica. Pelo outro, a legitimidade democrática da classe dominante é posta em questão assim que ela não possui mais os meios de intervir entre as demandas da capital e as necessidades sociais. Finalmente, a livre circulação de moeda também limita o controle democrático sobre a política econômica e social porque tal política também está sujeita a pressões externas que o governo não pode mais ignorar e porque há uma transferência de poder de tomada de decisões para jogadores econômicos globais irresponsáveis. A cidadania se torna assim irrelevante ao ponto de que passamos a imaginar o que “tomar o poder” significa hoje em dia.

A Dissolução do Modernismo

A globalização não é o que Ernst Jünger chamou de “Estado universal”(23), constituído pela fusão progressiva da “estrela vermelha” e da “estrela branca”, ou seja, Oriente e Ocidente. A globalização é o resultado de uma modernização que assume a forma de um ajuste estrutural buscando integrar cada sociedade no mercado mundial. Ela é um processo que se apresenta como uma resposta à crise da modernidade que nasce a partir do Iluminismo(24). Mas essa resposta consiste apenas em hipostatizar a economia de mercado, em transformar todo capital em capital financeiro, e em ampliar o poder da tecnociência. A ideia geral é que a ciência permitirá uma compreensão de tudo; a especialização técnica, a resolução de tudo; e o mercado, a compra de tudo. Mas não é assim que acontece. Polanyi previu que o mercado destruiria a sociedade. A hora chegou. O “comércio suave” que, segundo Adam Smith, supostamente pacificaria as relações humanas, transplanta a guerra para o coração das trocas. A ditadura do econômico, a primazia do setor privado na conduta das questões públicas, leva à dissolução de todos os laços sociais. O universo da desregulamentação generalizada leva a culturas do menor denominador comum: o mesmo modelo consumista. “O olho sem preconceitos”, notou Jünger há mais de 30 anos, “fica surpreso pelo vasto conformismo crescente, que pouco a pouco se estende por todos os países, não apenas como um monopólio por uma das potências competitivas, mas como um estilo de vida global”(25). “O choque contemporâneo da globalização é a consequência de um liberalismo universalista que, apesar das aparências, abomina diferenças. Seu programa implícito é a homogeneização do mundo através do mercado e, consequentemente, a erradicação dos Estados-Nações e das culturas... A chegada da sociedade liberal não pode suportar cultural slag ou a pertença comunitária. O programa liberal maximalista busca a erradicação das diferenças, seja quais forem sua natureza, porque elas criam um obstáculo para o grande mercado e para a paz social. Na verdade, não é apenas o resíduo cultural que é excessivo, mas o próprio fato social... Basicamente, a lógica da modernidade ocidental se situal no caráter universal acultural de todos os mercados”(26).

Mas globalização também não é universalidade. Em certos sentidos, ela é até mesmo o oposto, porque a única coisa que ela universaliza é o mercado, ou seja, um modo de troca econômica que corresponde a um momento histórico de uma cultura particular. Nesse sentido, a globalização é apenas o imperialismo do mercado ocidental se expandindo para cobrir todo o planeta, um imperialismo internalizado pelas mesmas pessoas que são suas vítimas. A globalização é a imitação em massa do comportamento econômico ocidental. Ela se resume em converter o planeta inteiro a essa religião do mercado, cujos teólogos e sumo-sacerdotes operam como se os únicos objetivos fossem a lucratividade(27). Esse não é um universalismo do ser, mas do ter. É um universalismo abstrato de um mundo fragmentado, onde indivíduos são definidos apenas por sua habilidade de produzir e consumir. O capitalismo propõe vencer onde o comunismo falhou: criar um planeta sem fronteiras, habitado por um “novo homem”. Mas esse novo homem não é mais o trabalhador ou o cidadão, mas o consumidor “conectado” que partilha do destino comum de uma humanidade indiferenciada conectada apenas pela internet ou pelo supermercado.

“O escritor portuquês Miguel Rorgar”, escreveu Zaki Laïdi, “uma vez definiu o universal como ‘um lugar sem muros’. Por isso, ele queria se referir a que os valores da universalidade não poderiam ser promovidos e defendidos a não ser que as pessoas já se sentissem conectadas em um lugar sólido, real. A globalização, porém, desenvolve uma dinâmica inversa. Os indivíduos se sentem desenraizados pela globalização. Se sentindo impotentes, eles erguem muros, mesmo que frágeis e risíveis”(28). A nível psicológico, os indivíduos se sentem agora despossuídos por mecanismos sobrepujantes, um ritmo cada vez mais veloz e limitações ainda mais pesadas, variáveis tão numerosas que eles não são mais capazes de entender onde se situam. Que isso acontece em uma época em que os indivíduos são mais solitários do que nunca, abandonados a sua própria sorte, quando todas as grandes cosmovisões desabaram, só intensifica esse sentimento de um vazio. “A globalização”, diz Laïdi, “estranhamento reproduz o mecanismo freudiano da massa nas garras da infecção e do pânico: infecção, na medida em que a globalização engendra conformismo e uniformidade; pânico porque todo mundo se sente sozinho, encarado por mecanismos além de sua compreensão”. Dessa forma, a globalização se assemelha a um quebra-cabeças de imagens fragmentadas. Ela não fornece qualquer visão do mundo e exclui qualquer representação, enquanto os poderes públicos, que a declaram irreversível, são incapazes até de alguma resistência simbólica a ela. “As profundidades do problema da globalização resultam da interação entre um mundo sem fronteiras e um sem marcadores... É essa dialética entre um mundo sem fronteiras e um mundo sem marcadores que explica a crise de significado e que reforça nossa percepção de um mundo desordenado”(29). Isso é reminiscente do que Peguy escreveu em 1914, logo antes de morrer: “todos são infelizes no mundo moderno”.

Quanto mais cresce a globalização, mais as sociedades tentam reconstruir sua particularidade. Mas elas tem grandes dificuldades em fazê-lo. Algumas inventam identidades a partir do ar. Outras tentam recriar uma dimensão interna artificial em um mundo em que tudo está se tornando puramente externo. Alimentados por todos os tipos de frustrações, muitos dão início a projetos marginais que levam irreparavelmente ao irredentismo e à xenofobia. O resultado é o que Benjamin R. Barber chamou de “Jihad versus McMundo”(30). Por um lado, um planeta na estrada da uniformidade, progressivamente homogeneizado pelo mercado e pela comunicação global; pelo outro, reagrupados sob o título conveniente de “Jihad”, um conjunto de espasmos identitários, de afirmações étnicas ou religiosas agressivas, que geram guerras civis e conflitos tribais por toda parte(31). Tal erupção de identitarismo convulsivo é compreensível, porque ele é apenas a consequência lógica da transformação de todo o planeta em uma “sociedade aberta”: abertura em excesso inevitavelmente leva a fechamento em excesso. A reinvenção do tribalismo, do clanismo ou do etnocentrismo pode ser assim interpretada como uma reação desesperada contra uma ameaça de despossessão.

Já que através de suas desculpas ambas reações desacreditam uma à outra, elas não podem ser sustentadas. Seria mais justo considera-las, com Barber, como epifenômenos da globalização que reforça e justificam mutuamente uma à outra. Ao fazê-lo, elas voltam seus excessos para fora e os redirecionam, da mesma maneira que a desigualdade crescente resultando das limitações de uma economia generalizada empurram os mais pobres para o extremismo. Uma vez que as guerras etnorreligiosas estejam terminadas, porém, a bandeira do McMundo retorna até com mais força. Ademais, de muitas maneiras, essas duas forças antagônicas são duas formas diferentes, a suave e a dura, da mesma tendência totalitária. Ambas conspiram para extinguir todas as formas de democracia e qualquer participação ativa na vida pública. Finalmente, só se pode ficar assombrado com o jeito com que certos movimentos fundamentalistas, sejam os Talibãs do Afeganistão ou aqueles envolvidos em conflitos étnicos africanos, rejeitam ideias ocidentais modernas em nome de seus valores tradicionais e ao mesmo tempo se abrem para todo tipo de produtos culturais e tecnológicos ocidentais: ouvir a CNN, vestir jeans, beber Coca-Cola.

Assim os extremos se encontram. Tão cedo quanto 1920, o linguista russo Nicolas S. Trubetzkoi apontou a relação paradoxal entre cosmopolitismo e chauvinismo. “Só se precisa considerar o chauvinismo e o cosmopolitismo”, ele escreveu, “para se perceber que não há diferença radical entre ambos, que eles são apenas dois aspectos do mesmo fenômeno”(32). O cosmopolitismo, ele acrescentou, só nega diferenças nacionais com base em uma ideia de humanidade derivada de um modelo específico. Ele só convida a humanidade civilizada a formar uma única entidade universalizando o modelo de uma civilização particular, nesse caso a civilização ocidental, implicitamente considerada o mais completo “estádio” de civilização. “Assim há um paralelismo entre o chauvinista e o cosmopolita... A diferença é simplesmente que o chauvinista leva em consideração um grupo étnico menor do que o cosmopolita”(33). Mas ambos sabem apenas uma coisa: “O que se assemelha conosco é melhor e superior ao que é diferente de nós”(34).

Uma Resposta Política: Europa Soberana

É claro que o crescimento ilimitado do capitalismo financeiro não é o único resultado da crise atual e que regulações são necessárias em todos os níveis para se responder aos desafios da globalização. Em primeiro lugar, os mercados financeiros podem ser regulados no nível internacional. Originalmente proposto por Tobin, a taxação dos movimentos financeiros de moeda já está ocorrendo. Um imposto de .05% sobre operações cambiais mundiais desencorajaria um número de operações especulativas de curto prazo e produziriam 150 bilhões de dólares por ano, o dobro da quantia atual de ajuda internacional. Assim, tal soma permitiria criar um fundo para proteção social ou para defesa ambiental. Também é possível visualizar organizações internacionais que gerenciaram a economia global diferentemente das existentes, cuja tarefa seria a de impor redistribuição substancial dos lucros da globalização para benefício daqueles mais vitimizados por ela. Engelhard propõe a criação de uma moeda global. O estabelecimento de uma moeda planetária flutuante, o retorno a um padrão valorativo internacional estável obviamente impediria a especulação que se alimenta primariamente das diferenças cambiais.

De qualquer maneira, se “o fenômeno da globalização é visto como a vingança da economia contra o social e o político”(35), é igualmente óbvio que uma resposta econômica à globalização não é o bastante. Então a questão é como preencher a fenda entre a incrível expansão da economia mundial e o fato de que não há organizações capazes de lidar com esse fenômeno. Se a política deve controlar e regular a economia, se segue que uma economia planetária deve ser confrontada politicamente a nível mundial. Em outras palavras, assim que a economia se expande globalmente, não deveria a política fazer o mesmo? Infelizmente, um Estado mundial é um delírio e criaria mais problemas do que resolveria(36).

Similarmente, opôr o Estado-Nação à globalização seria um duplo erro. Primeiro, porque a globalização espalha um processo de homogeneização a todo o planeta, que no passado as burocracias estatais já atingiram a nível nacional. Segundo, e mais importante, porque o Estado-Nação hoje opera a um nível de intervenção e decisão que está completamente paralisada pelo mero fato da globalização. Sujeito a limitações externas que excedem suas capacidades, o Estado-Nação simplesmente não é mais capaz de confrontar problemas globais sozinho. Acreditar que o Estado-Nação ainda pode decidir sobre a abertura ou fechamento de suas fronteiras para fluxos financeiros, acreditar que é possível reconstruir uma sociedade coesa protegida por muros que isolariam seus habitantes do mundo externo, é ou um sonho utópico ou uma mentira(37). 

A Europa política e, mais amplamente, a regionalização de um número de grandes conglomerados continentais, poderia efetivamente confrontar a globalização. Sem ser uma panaceia (porque há sempre o risco de que, pelo investimento direto, os países em questão possam estar em competição dentro de suas fronteiras com corporações estrangeiras multinacionais), a integração europeia permitiria a resposta a uma gama suficientemente grande de necessidades de mercado, ao mesmo tempo constituindo um polo de tamanho suficiente para confrontar os fluxos financeiros globais. O espaço econômico europeu é potencialmente o maior mercado do mundo em termos de população e poder global de compra. Uma autoridade política europeia, controlando e coordenando políticas orçamentárias e monetárias, tornaria mais fácil abandonar a política de crescimento externo, em oposição ao interno, sem abandonar a proteção social. Similarmente, uma única moeda usada com razoabilidade reduziria a prerrogativa do dólar e similarmente se tornaria um elemento de poder e de uma refundação da soberania.

Mas ainda é necessário lutar por uma Europa verdadeiramente soberana, onde cada estágio de integração de mercados nacionais seria acompanhado por uma maior habilidade de tomar decisões e não simplesmente constituir um espaço de câmbio livre? Hoje esse dificilmente seria o caso. As instituições europeias podem tão facilmente resistir à globalização quanto promove-la. Neste momento, os atos da Comunidade Europeia, que os Estados-membros impõem sobre si mesmos, não estão predicados em uma soberania europeia verdadeira(38). Finalmente, a vida diária permanece local, que é o único lugar em que políticos ainda podem ver os efeitos de suas políticas. Confrontados pela globalização da troca e pela universalização de signos, esse tsunami que apaga todas as diferenças e valores, o que perdura é a singularidade de formas: línguas, culturas e outros elos sociais pacientemente recriados dia após dia. Engelhard escreve sobre “a reabilitação da política passa, de um momento para o próximo, por uma reconstrução do social e do cultural, e vice-versa. Mas isso só é possível enquanto a cultura não seja vista como estática, mas como uma tensão criativa, portadora de significado e ao mesmo tempo um processo para aprofundar a arte de viver junto”(39). Jean Baudrillard recentemente comentou que “todas as culturas dignas desse nome se perdem no universal. Todas as culturas que universalizam a si mesmas perdem sua singularidade e morrem. Foi assim com aquelas que destruímos ao assimilá-las pela força, mas acontece o mesmo para a nossa com sua pretensão de universalidade”. Ele acrescentou: “tudo o que importa hoje o faz contra o universal, contra essa universalidade abstrata”(40). 

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1 - Face a la Mondialisation
2 - Ver Robert Reich, L’Économie Mondalisée (Paris: Dunod, 1993); Francois Chesnais, La Mondialisation du Capital (Paris: Syros, 1994); Jacques Adda, La Mondalisation de l’Économie, 2 Vol. (Paris: Decouverte, 1996); Samir Amin, Les Défis de la Mondialisation (Paris: L’Harmattan, 1996); Anton Brender,L’Impératif de Solidarité. La France Face à la Mondialisation (Paris: Decouverte, 1996); Jean-Yves Carfantan,L’Épreuve de la Mondialisation. Pour une Ambition Européene (Paris: Seuil, 1996;François Chesnais, ed., La Mondialisation Financière. Genèse, Coût et Enjeux (Paris:Syros, 1996); Elie Cohen, La Tentation Hexagonale. La Souverainaité à l’Épreuve de la Mondalisation (Paris: Fayard, 1996); Philippe Engelhard,L’Homme Mondial. Les Sociétés Humaines Peuvent-elles Survivre? (Paris: Arlea, 1996).
3 - Philippe P. Engelhard, Principes d’une Critique de l’Économie Politique (Paris:Arléa, 1993).
4 - Ibid., p. 543.
5 - "O resto dos eventos", disse Marcel Mauss em 1920, "vai no sentido de uma crescente multiplicação de empréstimos, trocas, identificações tudo até os detalhes da vida moral e material". Ver sua "La Nation", em Oeuvres, Vol. 3: "Cohésion Social et Divisions de la Sociologie," (Paris: Minuit, 1969), p.625.
6 - Adda, op. cit., Vol. 1.
7 - Bertrand Badie, La Fin des Territories (Paris: Fayard, 1996).
8 - Charles-Albert Michalet, Le Capitalisme Mondial (Paris: PUF, 1985).
9 - "A liberalização das transferências internacionais de capital", escreve Samir Amin, "a adoção de câmbios flutuantes, a alta taxa de juros, o déficit na balança americana de pagamento, a dívida externa do Terceiro Mundo, e a privatização, constituem uma política perfeitamente racional que oferece ao capital flutuante a válvula de escape para a especulação, assim mascarando até mesmo o perigo maior de uma desvalorização massiva do capital excedente". Ver “Les Vrais Enjeux de la Mondialisation,” in Politis-La Revue (October-December 1996), p. 70
10 - Como Engelhard nota, "os sistemas culturais daqueles povos foram os menos brutalizados pela modernidade ocidental ou, pelo menos, eles se abriram para ela e o fizeram com cuidado, e com um olho nas melhores performances econômicas. Tal é o caso com o Japão, mas também com certos povos do sudeste asiático e da China". Ver Principes d’une Critique, op. cit., p. 23.
11 - Suzanne Berte, “Le Rôle des Etats dans la Globalisation,” in Sciences Humaines(September- October 1996), p. 55.
12 - “Mondalisation et Démocratie: un Point de Vue Nord-Américain,” inM(March-April 1996), p. 16.
13 - “Internet et Tchador, Même Combat,” in La Vie (November 14, 1996), p. 58 .See also Benjamin R. Barber, Jihad versus McWorld (Paris: Desclée de Brouwer, 1996).
14 - Marcel Mauss já havia notado que, "o internacionalismo digno desse nome é o oposto do cosmopolitismo. Ele não nega a nação. Ele a situa. Inter-nação, isso é o oposto de a-nação". Ver ‘La Nation et l’Iinternationalism’ (1920), in Oeuvres, Vol.3, op. cit., p. 630.
15 - The Great Transformation (New York: Octagon Books, 1975 [1944]).
16 - Bertrand Badie, “Mondialisation et Société Overte,” in Après-demain (April-May, 1996), p. 9.
17 - Pierre-Noel Giraud, L’Inégalité du Monde. Économie du Monde Contemporain(Paris: Galimard-Folio, 1996).
18 - Robinson, op. cit., p. 19.
19 - “Seconde Jeunesse pour les Comptoirs Coloniaux,” in Le Monde Diplomatique(April 1996).
20 - Ibid., Vol. 1, p. 94.
21 - Ricardo Petrella, in Le Monde Diplomatique (May 1995). Sobre a maneira pela qual a globalização reduz o poder dos Estados-Nações, ver também Kenishi Ohmae, The Borderless World (New York: Harper Collins, 1990); Vincent Cable, “The Diminishing Nation-State,” in Daedalus (Spring 1995); Kenishi Ohmae, ed., The Evolving Global Economy:Making Sense of the New World Order (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1995).
22 - “Mondialisation et Sociétée Overte,” op. cit., p. 9.
23 - Jünger sugeriu que "a diferença entre a estrela vermelha e a branca é apenas a tremulação que acompanha a ascensão de uma estrela no horizonte. Que ela ascenda aos céus, e que a unidade seja desvelada". Ver L’Etat Universal (Paris: Gallimard, 1962), p. 35.
24 - Gustave Massiah, “Quelles Reponses a la Mondialisation?” in Après-demain(April-May 1996), p. 6.
25 - Ibid., p.34.
26 - Engelhard, Principes d’une Critique, op. cit., pp. 199, 250 and 256. "Da mesma maneira que diferenças em riqueza, talento ou o que seja, são inelimináveis, é necessário que os indivíduos se tornem absolutamente os mesmos... Essa falta de diferença ocasionalmente insuportável é latente no paradigma neoclássico, que postula a separabilidade absoluta de preferências individuais. Em outras palavras, minhas coisas tem que ser independentes e incomparáveis em relação às do vizinho... Essa falta de diferença, que culmina na absoluta separabilidade de escolhas pessoais, está fortemente ligada à negação da cultura. Em efeito, toda pertença cultural ou comunitária se resume a reduzir preferências pessoais a ser parte de um grupo". Ibid., pp. 251 and 256.
27 - Sobre isso, ver Philippe Lancon, “L’Économie, comme Theologie de la Contri-tion,” in Liberation (June 3, 1996), p. 5.
28 - “Qu’est-ce que la Mondialisation?” in Liberation (July 1, 1996), p. 6. See alsoZaki Laïdi, Un Monde Prive de Sens (Paris: Fayard, 1996); “Pour une Pedagogie de laMondialisation,” in Après-demain (April-May 1996).
29 - “Pour une Pedagogie de la Mondialisation,” op. cit. p. 4.
30 - Jihad versus McWorld, op. cit.
31 - Essas são as reações convulsivas que levaram às teses de Samuel Huntington, segundo as quais o mundo está rumando para uma guerra cultural ou civilizacional. Ver "The Clash of Civilizations?" em Foreign Affairs (verão 1993); e The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order (New York: Simon & Schuster, 1996). Essa tese deve ser considerada com reticências, já que a cultura determina a especificidade de conflitos menos do que "a especificidade de conflitos condiciona o papel da cultura e a percepção que os atores tem dela". Ver Panajotis Kondylis, in Frankfurter Allgemeine Zeitung, citado em CourrierInternational (October 10, 1996), p. 42.
32 - L’Europe et l’Humanité (Mardaga: Liege-Siprimont 1996), p. 47.
33 - Ibid., p. 49.
34 - Ibid., p. 65.
35 - Adda, op. cit., Oeuvres, Vol. 1, p. 62
36 - Danilo Zolo, Cosmopolis. La Prospettiva del Governo Mondiale (Milan:Feltrinelli, 1995).
37 - Resistir à globalização não implica necessariamente em uma reasserção da territorialidade típica do Estado-Nação. Um grande número de dinâmicas sociais particularistas se opõem à territorialidade. Só se precisa considerar o exemplo do fundamentalismo islâmico, que desafia todo fundamento em nações particulares. Similarmente, solidariedades identitárias, religiosas, étnicas, linguísticas ou culturais são transnacionais. Desde essa perspectiva, ameaçado ao mesmo tempo pela globalização e pelas novas formas de particularismo, o Estado-Nação aparece mais ou menos como um horizonte identitário obsoleto. See Bertrand Badie, “Entre Mon-dalisation et Particularismes,” in Sciences Humaines (May 1996), pp. 22-25.
38 - Ver Arlette-Doat, “Les Institutions Européennes: Pôle de Résistance ou Facteurd’Accélération?” in Après-domain (April-May, 1996), pp. 44-45.
39 - Engelhard, Principes d’une Critique, op. cit., p. 365.
40 - “Le Mondial et l’Universel,” in Libération (March 18, 1996), p. 7.

Claudio Mutti - A Geopolítica da Língua

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por Claudio Mutti



"Nessas condições, só podem existir línguas vencedoras e línguas vencidas" (J.V. Stálin, Ao companheiro Kholopov, 28 de julho 1950).

Língua e Império

Se o termo geolinguística não fosse já utilizado pelos linguistas para expressar a geografia linguística ou linguística espacial, a saber, o estudo da difusão geográfica dos fenômenos linguísticos, ela poderia ser empregada para indicar a geopolítica da língua, quer dizer, o papel do fator linguístico na relação entre o espaço físico e o espaço político. Para sugerir esta possibilidade não está somente a existência de compostos nominais análogos, como a geo-história, a geofilosofia, a geoeconomia, mas também a relação da geopolítica da língua com uma disciplina designada por um de tais termos: a geoestratégia.

"Sempre foi a língua companheira do império": o nexo entre hegemonia linguística e hegemonia político-militar, assim naturalmente representado pelo gramático e lexicógrafo Elio Antonio de Nebrija (1441-1522), respalda a definição que o Marechal da França Louis Lyautey (1854-1934) deu da língua: "um dialeto que tem um exército e uma marinha de guerra". Na mesma ordem de ideias se inspira o general Jordis von Lohausen (1907-2002), quando afirma que "a política linguística é considerada como estando no mesmo plano da política militar" e diz que "os livros no idioma original desempenham no estrangeiro um papel às vezes mais importante que o dos cânones". De acordo com o geopolítico austríaco, de fato, "a difusão de uma língua é mais importante que qualquer outro tipo de expansão, já que a espada só pode delimitar o território e a economia aproveitá-lo, mas a língua conserva e preenche o território conquistado". É este, por outro lado, o significado da famosa frase de Anton Zischka (1904-1997): "Preferimos aos professores de línguas que aos militares".

A afirmação do general von Lohausen pode ilustrar-se com uma ampla gama de exemplos históricos, começando pelo caso do Império Romano, que entre seus fatores de potência esteve a difusão do latim: um dialeto campesino que com o desenvolvimento político de Roma se converteu, em competição com o grego, na segunda língua do mundo antigo; utilizado pelos povos do Império, não por mposição, mas induzidos pelo prestígio de Roma. Desde o princípio o latim serviu às populações submetidas para se comunicarem com os soldados, os funcionários oficiais e os colonos; em seguida se converteu no selo distintivo da comunidade romana.

Não obstante, no espaço imperial romano, que por meio milênio constituiu uma só pátria para diversae gentes (diversos povos, tribos) localizadas entre o Atlântico e a Mesopotâmia, e também entre Grã-Bretanha e Líbia, não correspondeu a uma língua única; o processo de romanização foi mais lento e difícil quando os romanos entravam em contato com territórios nos quais se falava a língua grega, expressão e veículo de uma cultura que gozava, nos ambientes da própria elite romana, de um enorme prestígio. O romano foi em substância um império bilingue: o latim e o grego, enquanto línguas da política, do direito e do exército, ademais das letras, da filosofia e das religiões, desenvolveram uma função supranacional, a qual os idiomas locais da ecúmene imperial não tinham a capacidade para desempenhar.

Seguramente é quase impossível separar claramente a linha da fronteira do domínio do latim e do grego ao interior do Império Romano, não obstante, podemos afirmar que a divisão do Império em duas partes e a sucessiva cisão se produziu ao longo de uma linha de demarcação coincidente, grosso modo, com a fronteira linguística, que reduziu à metade tantos os territórios da Europa como os do norte da África. Na Líbia, de igual maneira, ao longo dessa linha é onde se produziu recentemente a fratura que separou de novo a Tripolitana da Cirenaica.

Seguindo o mapa linguístico da Europa, se apresenta uma situação que Dante descreve identificando três áreas distintas: a do mundo germânico, onde se congrega também eslavos e húngaros; a da língua grega e aquela dos idiomas neolatinos; no interior dessa última, ele pode distinguir posteriormente três unidades particulares: o provençal (língua d'oc), o francês (língua d'oil) e o italiano (língua do sí). Mas Dante está longe de utilizar o argumento da fragmentação linguística para sustentar a fragmentação política, de fato, ele está convicto que só a restauração da unidade imperial poderia se realizar se a Itália, "o belo país onde o 'sim' soa", voltasse a ser "o jardim do Império". E o Império tem sua própria língua, o latim, porque, como diz o próprio Dante, "a língua latina é perpétua e incorruptível, e a língua vulgar é instável e corruptível".

Em uma Europa fragmentada linguísticamente, que o Sacro Império Romano queria reconstituir em unidade política, uma poderosa função unitária é desenvolvida também pelo latim: não pelo sermo vulgaris (latim vulgar), mas pela língua da cultura da res publica clericorum (república dos doutos). Este "latim escolástico", se queremos indicar sua dimensão geopolítica, "foi o portador para toda Europa, e inclusive para fora, da civilização latina e cristã: confirmando a ela, como na Espanha, na África (...), na Gália; ou incorporando a essa nova zona ou apenas tocada pela civilização romana: Alemanha, Inglaterra, Irlanda, para não falar também dos países nórdicos e eslavos".

As Grandes Áreas Linguísticas

Entre todas as línguas neolatinas, a que maior expansão alcançou foi a língua castelhana. Impulsionada pela bula de Alexandre VI, que em 1493 dividiu o Novo Mundo entre espanhois e portugueses, o castelhano se impôs nas colônias pertencentes a Espanha, desde o México até a Terra do Fogo; mas inclusive, depois da emancipação dos Estados particulares saídos das ruínas do Império da América, estes mantiveram o castelhano como língua nacional, razão pela qual a América Latina possui uma unidade cultural relativa e o domínio da língua espanhola também se estende sobre uma parte do território dos EUA.

Pelo que corresponde ao domínio da outra língua ibérica, para presenciar a extensão da área colonial que em outros tempos pertenceu a Portugal, bastará o fato de que a língua de Camões é "a língua romance que deu origem ao maior número de variedades crioulas, já que algumas estavam extintas ou em perigo de extinção": de Goa ao Ceilão, de Macau a Java, de Málaca ao Cabo Verde e Guiné. Entre os Estados que aceitaram a herança da fala portuguesa, se impõe hoje em dia o país emergente, representado pelo acrônimo BRICS: Brasil, com seus duzentos milhões de habitantes, frente aos dez milhões e meio de habitantes que vivem na antiga pátria-mãe europeia.

A expansão extraeuropeia do francês como língua nacional, ao contrário, foi inferior em relação ao que lhe caberia como língua da cultura e da comunicação. De fato, se o francês é a quinta língua mais falada no mundo por número de habitantes (uns duzentos e cinquenta milhões) e é a segunda mais estudada como língua estrangeira, se encontra por sua vez no nono posto por número de falantes nativos (aproximadamente setenta milhões; ao redor de centro e trinta se também se acrescentarem os indivíduos bilingues). Em todo caso, é o único idioma que se encontra difundido, como língua oficial, em todos os continentes: é língua de intercâmbio na África, o continente que inclui o maior número de entidades estatais (mais de vinte) nos quais o francês é a língua oficial; é a terceira língua na América do Norte; é utilizada também no Oceano Índico e no Pacífico Sul. Estados e governos que por diversas razões tem em comum o uso do francês, se agrupam na Organização Internacional da Francofonia (OIF), fundada em 20 de março de 1970 na Convenção de Niamey. 

Eminentemente eurasiática é a área de expansão da língua russa, língua comum e oficial de um Estado multinacional que, inclusive na sucessão das fases históricas e políticas que mudaram a dimensão territorial, segue sendo a mais extensa sobre a face da terra. Se no período soviético o russo poderia ser glorificado como "o instrumento da civilização mais avançada, da civilização socialista, da ciência progressista, a língua da paz e do progresso (...) língua grande, rica e poderosa (...) instrumento da civilização mais avançada do mundo" e, enquanto tal, de ensino obrigatório nos países da Europa oriental, depois de 1991 ela goza de um status diferente em cada um dos Estados sucessores da URSS. Na Federação Russa, a Constituição de 1992 consagra o direito de todo cidadão à própria pertença nacional e ao uso da língua correspondente e, ademais, garante a cada República a faculdade de se valer, junto à língua oficial russa, das línguas das nacionalidades que a constituem.

Se o russo está na primeira posição pela extensão do território do Estado do qual é o idioma oficial, o chinês tem a preeminência pelo número de falantes. Atualmente utilizado aproximadamente por um bilhão e trezentos milhões de pessoas, o chinês desde a antiguidade se apresenta cmo um conjunto de variações que tornam muito difícil aplicar-lhe o termo "dialeto"; se destaca entre todos o mandarim, um grupo grande e diversos que por sua vez se distingue em mandarim do norte, do oeste e do sul. O mandarim do norte, que tem seu centro em Pequim, foi tomado como modelo para a língua oficial (pǔtōnghuà, literalmente língua comum"). falada como língua mãe por mais de oitocentos milhões de pessoas. Oficialmente, a população da República Popular da China, que em sua Constituição se define como "Estado Plurinacional Unitário", se compõe de cinquenta e seis nacionalidades (minzu), cada uma das quais usa sua própria língua, e entre essas, a mais numerosa é a Han (92% da população), enquanto as outras cinquenta e cinco, que constituem o 8% restante, "falam pelo menos sessenta e quatro idiomas, dos quais vinte e seis tem uma forma escrita e são ensinados nas escolas primárias".

O hindi e o urdu, que podem ser considerados como continuações do sânscrito, são as línguas predominantes no subcontinente indiano, onde dez estados da União da Índia conformam o chamado "Cinturão Hindi" e onde o urdu é o idioma oficial do Paquistão. A diferença mais óbvia entre essas duas línguas consiste em que a primeira se serve da escrita devanagari, enquanto a segunda faz uso do árabe; sobre o plano léxico, o hindi recuperou uma certa quantidade de elementos sânscritos, enquanto o urdu incorporou muitos termos persas. Quanto ao hindi, se poderia dizer que desempenhou no subcontinente indiano uma função similar a do mandarim na China, posto que, formado sobre a base de um dialeto falado nas cercanias de Delhi (o khari boli), junto com o inglês, se converteu, entre as vinte e duas línguas mencionadas na Constituição da Índia, no idioma oficial da União.

O árabe, veículo da revelação corânica, com a expansão do Islã se difundiu muito mais além de seus limites originais: da Arábia até o norte da África, da Mesopotâmia à Espanha. Se caracteriza por uma notável riqueza de formas gramaticais e de uma finura de relações sintáticas, com tendência a enriquecer seu léxico aproveitando de vocábulos de dialetos e línguas estrangeiras, o árabe emprestou seu sistema alfabético para línguas pertencentes a outras famílias, como o persa, o turco, o urdu; codificado por gramáticos, se converteu na língua douta do dâr al-islâm, a qual substituiu o siríaco, o copta, os dialetos berberes; enriqueceu com inúmeros empréstimos o persa, o turco, as línguas indianas, o malaio, as línguas ibéricas; como instrumento de filosofia e ciência, influenciou as línguas europeias quando os califados de Bagdá e Córdoba constituíam os principais centros de cultura aos quais podia recorrer a Europa cristã. Hoje em dia, o árabe é de alguma maneira conhecido, estudado e usado, enquanto língua sacra e de prática ritual, no âmbito de uma comunidade que ultrapassa o bilhão de almas. Como língua materna, pertencem a esta aproximadamente duzentos e cinquenta milhões de pessoas, distribuídas sobre uma área politicamente fracionada desde Marrocos e Mauritânia e se estende até o Sudão e a Península Arábica. A tal denominador linguístico se referem os projetos de unidade da nação árabe formulados no século passado: "Árabe é aquele cuja língua materna é o árabe" se lê, por exemplo, no Estatuto do Baath.

A Língua do Imperialismo Estadounidense

Ao longo da primeira metade do século XX, a língua estrangeira mais conhecida na Europa continental foi o francês. No que concerne em particular a Itália, "só no ano de 1918 se estabeleceram cátedras universitárias de inglês e na mesma data se remonta a fundação do Instituto Britânico de Florença, que, com sua biblioteca e seus cursos de idiomas, logo se converteu no centro mais importante de difusão do idioma inglês a nível universitário". Na Conferência de Paz do ano seguinte, os EUA, que para então já se haviam introduzido no espaço europeu, impuseram pela primeira vez o inglês, junto com o francês, como língua diplomática. Mas para determinar a decisiva superação do idioma francês por parte do inglês, foi o êxito na Segunda Guerra Mundial que deu lugar à penetração da "cultura" anglo-americana em toda Europa Ocidental. Da importância assumida pelo fator linguístico em uma estratégia de dominação política, por outra parte, não era desconhecida pelo próprio Sir Winston Churchill, que declarou explicitamente em 6 de setembro de 1943: "O poder dominar a língua de um povo brinda ganhos que superam em abundância o despojar províncias e territórios ou o saque exploratório. Os impérios do futuro são aqueles da mente". Com a queda da URSS, na Europa Central e Oriental "liberadas", o inglês não só deslocou o russo, como também suplantou em grande parte o alemão, o francês e o italiano, que antes tinham ampla circulação. Por outro lado, a hegemonia do inglês nas comunicações internacionais se consolidou na fase mais intensa da globalização.

Dessa maneira, os teóricos anglo-americanos do mundo globalizado puderam elaborar, baseando-se no peso geopolítico exercido pelo idioma inglês, o conceito de "anglosfera", definida pelo jornalista Andrew Sullivan como "a ideia de um grupo de países em expansão que compartilham princípios fundamentais: o individualismo, a supremacia da lei, o respeito dos contratos e acordos, e o reconhecimento da liberdade como valor político e cultural primordial". Parece que quem introduziu o termo "anglosfera" no ano 2.000 foi um escritor estadounidense, James C. Bennett; em sua opinião "os países de fala inglesa guiarão o mundo no século XXI" (Por que as nações anglófonas liderarão o caminho no século XXI é o subtítulo de seu livro O Desafio da Anglosfera), já que o atual sistema de Estados está condenado a cair pelos golpes do ciberespaço anglófono e da ideologia liberal. O historiador Andrew Roberts, continuador da obra de historiografia de Churchill com Uma História dos Povos Anglófonos desde 1900, sustenta que o predomínio da Anglosfera se deve à luta dos países anglófonos contra as epifanias do fascismo (isto é, "a Alemanha guilhermina, o nazismo, o comunismo e o islamismo"), em defesa das instituições representativas e do livre-mercado.

Menos ideológica a tese do historiador John Laughland, segundo a qual "a importância geopolítica do idioma inglês (...) só é relevante em função da potência geopolítica dos países anglófonos. Poderia ser uma ferramenta por estes usada para reforçar sua influência, mas não é uma fonte independente dessa última, ao menos não da potência militar". A língua, conclui Laughland, pode refletir a potência política, mas não a pode criar.

Neste caso, a verdade está no meio. É certo que a importância de uma língua depende, muitas vezes, mas não sempre, da potência política, militar e econômica do país que a fala; é certo que as derrotas geopolíticas conduzem às linguísticas, é certo que "o inglês avança em detrimento do francês, já que os EUA na atualidade são mais poderosos que os países europeus, que aceitam que seja consagrada como língua internacional uma língua que não pertence a nenhum país da Europa continental". Não obstante, ainda existe uma verdade complementar: a difusão internacional de uma língua contribui para aumentar o prestígio do país em questão, aumenta a influência cultural e, eventualmente a política (um conceito, este, que poucos são capazes de expressar sem recorrer ao anglicismo soft power); com maior razão, o predomínio de uma língua na comunicação internacional dá um poder hegemônico ao mais potente entre os países que a falam como língua materna.

Em relação à difusão atual do inglês, "língua da rede, da diplomacia, da guerra, das transações financeiras e da inovação tecnológica, não há dúvida: esta situação proporciona aos povos de fala inglesa uma vantagem incomparável e a todos os demais uma desvantagem considerável". Como explica menos diplomaticamente o general von Lohausen, a vantagem que os EUA conseguiram da anglofonia "foi igual para seus comerciantes e para seus técnicos, seus cientistas e seus escritores, seus políticos e seus diplomatas. Enquanto inglês seja mais falado no mundo, os EUA mais poderão tirar vantagem da força criadora estrangeira, atraindo para si, sem encontrar obstáculos, ideias, escritos, invenções dos demais. Aqueles cuja língua materna é universal, possuem uma superioridade evidente. O empréstimo concedido à expansão dessa língua retorna centuplicado para sua fonte".

Que língua para a Europa?

Nos séculos XVI e XVII, depois do Tratado de Paz de Cateau-Cambrésis (1559) que havia sancionado a dominação espanhola na Itália, a língua castelhana, ademais de ser utilizada pelas Chancelarias de Milão e Nápoles, se difunde no mundo da política e das letras. O número de vozes italianas (e dialetais) nascidas nesse período por efeito do influxo do espanhol, é elevadíssimo. Entre todos estes hispanismos, não obstante, alguns foram utilizados só ocasionalmente e não podem ser considerados como de uso geral; ao contrário, tiveram uma vida efêmera e desapareceram sem deixar rastro; só uma minoria se converteu em parte permanente do vocabulário italiano. Depois da Paz de Utrecht (1713), que marcou o fim da hegemonia espanhola na península, a influência do castelhano sobre a língua italiana "foi muito menor que a de séculos anteriores".

É razoável supor que tampouco o colonialismo cultural de expressão anglo-americana colonial deva durar para toda eternidade; e de fato, alguns linguistcas já preveem que a atual fase de predomínio anglófono será seguida por uma fase de decadência. Ao estar vinculado à hegemonia imperialista estadounidense, o predomínio do inglês está destinado a sofrer de maneira decisiva pela transição da etapa unipolar à multipolar, pelo que o cenário que a geopolítica da língua pode prefigurar razoavelmente, é o de um mundo articulado segundo o multipolarismo das áreas linguísticas.

Em diferença ao continente americano, que apresenta uma clara repartição entre o bloco anglófono e aquele hispanófono e lusófono da parte central e sul do continente, a Eurásia é o continente da fragmentação linguística. Junto aos grandes espaços representados pela Rússia, China ou Índia, relativamente homogêneos sob o perfil linguístico, temos um espaço europeu caracterizado por uma situação de acentuado multilinguismo.

Portanto, teria sido lógico que os fundadores da Comunidade Econômica Europeia, se realmente queriam rechaçar uma solução monolinguística, deveriam adotar como línguas oficiais, entre aquelas dos países membros, as duas ou três mais faladas na área; talvez escolhendo, em previsão das sucessivas ampliações da CEE, uma trinca de línguas que representasse as três principais famílias europeias: a germânica, a românica e a eslava. Em seu lugar, o artigo 1 do regimento emitido em 1958, indica quatro línguas (francês, italiano, alemão e holandês) como as "línguas oficiais e línguas de trabalho das instituições da Comunidade", com o resultado de que as "línguas de trabalho são agora praticamente três: o francês, o alemão e...o inglês.

O fracasso da União Europeia impõe o submeter a uma revisão radical ao projeto europeísta e refundar sobre novas bases o edifício político europeu. A nova classe política que será chamada para afrontar essa tarefa histórica, não poderá evadir um problema fundamental como o da língua.

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Sebastian J. Lorenz - Indo-Europeus: Mitologia, Antropologia e Ideologia

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por Sebastian J. Lorenz



Os Mitos de "Sangue e Terra"


Desde a mais remota antiguidade, a origem nórdica tem fascinado à maioria dos povos de estirpe indo-europeia, que assinalaram ou usurparam o Norte como pátria ancestral em seu imaginário étnico coletivo. De fato, a etnografia clássica assinalava a Ilha de Scandia, por referência a um lugar indeterminado entre Escandinávia e o Mar Báltico, como "fábrica de nações e matriz engendradora de povos" (Vagina Gentium). Certamente, nas estruturas religiosas dos indo-germânicos ocupa um lugar comum a referência a uma terra mitológica situada no norte, na qual seus deuses e heróis se forjam em uma dura luta contra a noite e o gelo eternos, utilizando poderes da natureza como o sol, o trono ou o fogo: o mito ariano nasce, precisamente, da fenomenologia e simbologia solares como patrimônio da raça branca nórdica frente aos mitos da noite e das trevas das raças escuras.


E os germânicos não foram uma exceção. Mais que isso, as distintas formações étnicas surgidas, com certa simultaneidade, como reação perante a queda do Império Romano, como os godos, os suevos, os vândalos, os francos, os alamanos, os anglos, os saxões, os burgúndios ou os longobardos, assim como, posteriormente, os escandinavos (dinamarqueses, suecos, noruegueses), competiram entre si para demonstrar sua primazia, sua pureza racial, fazendo remontar suas linhagens a longas árvores genealógicas que se perdiam na tradição escandinava das lendas nórdicas. Precisamente, este orgulho genético da origem nórdica constituiu a base fundamental para a formação de unidades etnopolíticas em torno às elites germânicas que tomaram o relevo civilizador de Roma, espalhando-se por todos os rincões do Velho Continente e provocando o nascimento do estamento real e nobiliárquico que regiria os destinos da Europa durante a Idade Média como uma autêntica "aristocracia de sangue" (Geburtsadel).

Tácito, um escritor latino, ao que parece metade romano, metade gaulês, estava convicto de que "os germânicos são indígenas e de modo algum estão misturados com outros povos, seja por resultado de migrações ou por pactos de hospitalidade". Nesse sentido, aderia à opinião "de que os povos da Germânia, ao não estarem degenerados por matrimônios com nenhuma das outras nações, lograram manter uma raça peculiar, pura e semelhante somente a si mesma. Daí que sua constituição física, no que é possível em um grupo tão numeroso, seja a mesma para todos: olhos ferozes e azuis, cabelos loiros, corpos grandes e capazes somente para o esforço momentâneo, não aguentam da mesma forma a fadiga e o trabalho prolongado, e muito menos a sede e o calor, se estão acostumados ao frio e à fome pelo tipo de clima e de território nos quais se desenvolvem". Devemos ter presente que Tácito utilizava a comparação racial entre romanos e germânicos com um objetivo de propaganda moralizante: a decadência e corrupção do Império Romano frente à originalidade e naturalidade dos costumes dos povos germânicos, longe do estado de barbárie e selvageria - tão humilhante para o nacional-socialismo, ainda que o próprio Hitler reconhecesse a superioridade da cultura grecorromana frente à celtogermânica - descrito pelos autores clássicos.

Não obstante as alusões que faz Tácito aos judeus, que se constituirão na historiografia e na filosofia germânicas como antítese dos arianos nórdicos, são bastante menos prosaicas: "Os costumes judaicos são tristes, sujos, vis e abomináveis, e devem sua persistência a sua depravação... Para os judeus é desprezível tudo o que para nós é sagrado e para eles é lícito o que nos repugna... Os judeus, entre si, mantem uma enorme fidelidade, uma piedade manifesta; por sua vez, para todos os outros, tem um ódio mortal... Quando os macedônios tomaram o poder, o rei Antíoco procurou extirpar suas superstições e introduzir os hábitos gregos para transformar essa raça inferior!.

Muito tempo depois, o historiador Montanelli, também de origem itálica, narrando com sua particular ironia a invasão da Grécia pelos dóricos, povo indo-europeu considerado pelos pensadoresn azistas como o melhor exemplo das essências arianas, os descrevia como "altos, de crânio redondo e olhos azuis, de um valor e uma ignorância a toda prova. Tratava-se, certamente, de uma raça nórdica". E mais adiante continua sua crítica dizendo que "os dóricos tinham uma feia enfermidade: o racismo. E até nisso se confirma que se tratava de nórdicos, que o racismo sempre levaram e seguem levando no sangue: todos, até os que de palavra o negam. Por bem que fossem muito menos numerosos que os indígenas, ou talvez precisamente por isso, defenderam sua integridade biológica, não raro com autêntico heroísmo como em Esparta".

Comentários despectivos à margem, nas descrições anteriores, tão distantes no tempo, encontramos as bases que fundamentarão o mito racial do nacional-socialismo. Trata-se de povos de origem nórdica, cuja pátria originária se situaria na região europeia compreendida pela Alemanha setentrional, Escandinávia e os Países Bálticos. Sua constituição física não deixa lugar a dúvidas: altos, fortes, loiros e de olhos azuis, o clássico padrão nórdico. Por esta condição não se misturaram com outros povos, ou o fizeram com grupos da mesma família genética, celtas, eslavos, baltos, itálicos, conservando a pureza de sua raça, inclusive quando entram em contato bélico ou colonizador com outras civilizações em busca do espaço vital necessário para assegurar sua sobrevivência racial. Por último, o racismo inato aos povos nórdicos, que ao longo da história será especialmente virulento com os povos de cor, os leva a defender sua integridade biológica, inclusive recorrendo à violência e à guerra, único ofício honrado para uma "raça ariana de senhores e conquistadores".

Os mitos do sangue e do solo (blut und boden), de uma raça nórdica herdeira da raça ariana primigênia (urvolk), cuja pátria originária (urheimat) se situava precisamente no solar ancestral dos germânicos, em algum lugar ao norte da Europa, assim como a necessidade de conseguir terras suficientes que assegurassem um espaço vital (lebensraum) para a conservação, desenvolvimento e predomínio daquela raça nórdica sobre outros povos eurasiáticos, especialmente a custa dos eslavos (drang nach osten), constituem os dois axiomas fundamentais da ideologia racial nacional-socialista: raça e espaço (rasse und raum).

E, não obstante, os milhares de livros publicados sobre Hitler, nacional-socialismo, o Terceiro Reich, a Segunda Guerra Mundial e o holocausto, se limitam a estudar, desde distintas perspectivas políticas, econômicas, sociais ou militares, as consequências derivadas do mito racial nazista, sem nem mesmo entrar na análise da ideologia racial que as provocou. Fórmulas simples e concludentes como a ideia triunfante na Alemanha nazista, segundo a qual os germânicos eram os mais puros representantes de uma raça ariana superior e os judeus a escala inferior da hierarquia racial bastam, em princípio, para explicar a guerra de aniquilação e destruição mais cruel que já viu a história da humanidade. Mas por trás desse simplismo, como falamos, subjazia ma autêntica ideologia racial que pretendia aplicar aos homens as mesmas leis de seleção e sobrevivência que regem a Natureza. E para isso, se adotaram uma série de medidas enquadradas em uma política biológica global e totalitária, que iam desde a eugenia ativa à reprodução seletiva, da eliminação dos elementos raciais e sociais indesejáveis à formação de uma elite racial aristocrática encarnada na Ordem das SS.

O mito ariano não é, não obstante, uma invenção de Hitler e do nacional-socialismo, mas sim fruto da manipulação ideológica sobre um problema real da arqueologia e da linguística em relação com a existência das línguas e povos conhecidos como "indo-germânicos" ou "indo-europeus", dos quais os "arianos" não seriam mais que sua extrema ramificação oriental, mas aos quais se outorgou uma pureza e uma preeminência racial e atribuiu uma lendária origem nórdico-germânica. Mas o ideal racial não interessou somente aos cientistas, quase sempre próximos aos postulados ideológicos e raciais do nazismo, como Kossinna, Penka, Reche, Lenz, Fischer ou Wirth, mas também a grandes pensadores ou criadores alemães como Herder, Fichte, Hegel, Kant, Sombart, Weber, Schopenhauer, Nietzche, Wagner, Spengler, Jünger, Schmitt, Jung ou Heideger. Com estes precedentes ideológicos, de da mão de disciplinas auxiliares como a mitologia, a filologia, a arqueologia e a antropologia, os autores racistas, como Gobineau, Vacher de Lapouge, Woltmann, Chamberlain, Rosenberg, Günther, Clauss e Darré, construíram uma doutrina "ário-nórdica" que logo se identificou com a Alemanha nacional-socialista, mas que levava vários séculos fluindo pelas frágeis aberturas ideológicas do humanismo europeu.

O culto à raça ariana, em suas versões germânica ou nórdica, que se foi consolidando na Europa desde princípios do século XIX, não adquiriu em nenhum dos nacionalismos racistas do continente a orientação biologista e genetista que alcançou na Alemanha. Da ideia de uma missão de domínio mundial para a salvação da humanidade, à qual o povo alemão parecia estar predestinado, se passou, sem transição alguma, à preocupação pela pureza do sangue germânico, cuja futura hegemonia universal se encontrava em perigo pelos efeitos nocivos e contaminantes de sangues impuros como o judaico, o eslavo ou o latino, messianismo racial, sem dúvida, que não obstante não trazia sua causa de um ódio ou preconceito específico, mas de poderosas imagens coletivas que deformavam as características físicas e éticas daqueles, infra-humanizando-os e, inclusive, demonizando-os, em contraste com a beleza e honra germânicas, quando em realidade se tratava de uma manobra, muito trabalhada ideológica e filosoficamente, de proteção de determinados interesses econômicos, territoriais e militares que, finalmente, Hitler soube explorar adequadamente, se bem que com um fanatismo que, certamente, não teriam compartilhado seus principais inspiradores ideológicos.

Não obstante a distinção entre uma "raça superior" e outras "inferiores", o racismo alemão se fundamentava em uma hierarquização racial arbitrária e cruel em cuja cúspide se situavam os descendentes de sangue nórdico-germânico. Segundo Blank (o velho e novo fascismo), "os nazistas proclamaram que a raça germânica (nórdica ariana) é portadora das melhores qualidades das raças humanas: a lealdade ao dever e à honra, valor e audácia, capacidade organizativa e potencial de criação. Quanto mais puro é o povo no aspecto racial, mais claramente pode expressar essas qualidaes. Nenhuma raça na Terra está dotada das qualidades da raça germânica, que é a parte melhor, a superior, da raça nórdica ariana. Todas as outras raças são inferiores porque estão arruinadas pelas misturas com outras raças, que originaram nelas traços negativos. São inferiores aos alemães os escandinavos e os ingleses (estes últimos estão contaminados pelo espírito mercantilista e pela influência dos plutocratas); ainda mais inferiores são os franceses e os espanhóis; os seguem, em ordem decrescente, o povo italiano e o romeno, e mais abaixo, os eslavos. Entre os povos asiáticos, os japoneses são a raça eleita; abaixo deles estão os indianos e depois os coreanos e os chineses. Os negros são inferiores aos asiáticos. E nos cimentos da pirâmide racial estão os árabes, junto aos cimentos se encontram os ciganos e, por último, no fundo, à margem do conceito de raças aptas para a vida, estão os judeus, que segundo a terminologia hitlerista são "sub-humanos", "uma raça irremediavelmente viciada e que segue envenenando a outras raças viáveis".

Contudo, a definição de "ariano" na Alemanha nazista seguiu sendo tão imprecisa quanto premeditadamente vaga era também sua concepção na doutrina de Hitler, que utilizará o "arianismo" segundo as circunstâncias biopolíticas ou geopolíticas de cada momento em benefício de sua política racial e expansionista. Em princípio, a condição de "ariano" se predicava a qualquer alemão que não fosse judeu ou negro, nem de origem africana ou asiática, nem tivesse ascendentes de tais raças até a terceira geração. Mas esta circunstância pôde aplicar-se, em função dos acontecimentos da política internacional e da marcha da guerra, a todos os europeus que não tivessem tal ascendência, de tal forma que tão "ariano" podia ser um alto e loiro escandinavo, como um escuro e vivaz mediterrâneo.

Na prática quotidiana da Alemanha nazista, não obstante, a condição de "ariano" se media, não tanto atendendo a determinadas características antropológicas de origem, como ao grau em que uma pessoa podia demonstrar sua utilidade e serviço à comunidade racial alemã, de tal maneira que a pretendida pureza racial, deixando à margem o âmbito particular das SS, dependia exclusivamente do capricho da hierarquia nazista para decidir quem podia ser considerado como arianos puros ou não. Bastava que um alemão classificado como "racialmente ariano" se comportasse como um dissidente ou manifestasse qualquer dúvida perante o regime para que, imediatamente, fosse considerado como um "bastardo judaizado", ao menos de um ponto de vista espiritual e ideológico.

O antropólogo-raciólogo oficial do regime Hans F.K. Günther descrevia assim o que não sera senão um anseio: "A questão não radica em se nós somos agora mais ou menos nórdicos; a pergunta que devemos nos fazer é se temos ou não a valentia de legar às gerações futuras um mundo capaz de se purificar no sentido racial e eugênico". Tratava-se, nada mais e nada menos, que de um movimento orientado à "nordicização" (Aufnordung): "o movimento nórdico pretende voltar a despertar no povo alemão a força criadora que antes possuiu o germanismo, e isso se conseguirá por meio de um triunfo na natalidade dos elementos germânicos, isto é, de caráter nórdico". Os líderes nacional-socialistas, especialmente o próprio Hitler, eram perfeitamente conscientes de que o povo alemão não constituía uma raça pura e, muito menos, nórdica, pelo que essa foi adotada como um "modelo racial ideal" ao qual se devia chegar por todos os meios da ciência eugênica e da seleção racial. E a antropologia se converteu assim na ferramenta propagandística que clamava pela purificação da raça alemã. O ambicioso sonho nazista era transformar substancialmente a natureza biogenética do povo alemão.

Não obstante, o mito ariano não foi nunca abandonado. Ao fim e ao cabo, aqueles povos arianos, indo-germânicos ou indo-europeus, de origem nórdica, que com o contato com as culturas autóctones, provocaram, segundo o discurso nazista, o nascimento de grandes civilizações na Índia, Pérsia, Grécia, Roma e, inclusive, para os ideólogos afeitos ao nazismo, também no Egito pré-dinástico, China e as misteriosas culturas pré-colombianas, assim como a maioria dos Estados europeus medievais surgidos após as invasões germânicas, deviam se encontrar presentes, em maior ou menor medida, na composição biogenética de todos os povos europeus. E isso havia culminado na civilização europeia ocidental exportada a todos os continentes. Dessa forma, a "germanidade" se convertia no nexo comum que unia a todos os povos europeus e, em consequência, deviam ser os alemães, os mais puros representantes dos antigos germânicos, os chamados a cumprir a missão de unificar a Europa sob seu domínio racial e espiritual (Herrschertum).

Desde logo, as diversas ondas migratórias dos germânicos (Völkerwanderung) se estenderam desde os fiordes nórdicos até o mar mediterrâneo e as estepes russas. Eram germânicos os vândalos que passaram pela Península Ibérica e ocuparam efemeramente Cartago no norte da África, como também o eram os visigodos (ou talvez fossem baltos?) e os suevos instalados na Hispania, os francos e burgúndios que deram lugar ao Império Carolíngio, os ostrogodos e os lombardos na Itália, os anglos, saxões e jutos que invadiram a Grã-Bretanha e, é claro, os alamanos, os saxões, os turíngios, os bávaros e outros povos que provocaram o nascimento dos países de língua alemã (Áustria e Alemanha), ou como os frísio, os holandeses, os dinamarqueses, os suecos e os noruegueses que ficaram perto de seus lugares de origem. Em todos os casos, salvo no norte da Europa, nas regiões escandinava, alemã setentrional e báltica, onde formarão o contigente humano majoritário, os germânicos se encontrarão em franca minoria em relação às populações autóctones, inferioridade quantitativa que souberam compensar privilegiadamente mediante sua constituição como uma aristoracia de sangue, uma casta senhorial e nobiliárquica somente apta para a arte de governar e fazer a guerra.

Posteriormente, se produziram vários episódios de regermanização da Europa: germânicos eram os povos nórdicos, conhecidos como normandos ou vikings, que voltaram a invadir as Ilhas Britânicas, ocuparam o noroeste da França (Normandia) e colonizaram a Islândia e a Groenlândia até alcançar o continente americano; germânicos nórdicos eram também os "rus" que fundaram os primeiros principados russos, os que se apossaram da ilha da Sicília e os que formaram a guarda "varyag" em Bizâncio. Germânicos, se bem que agora exclusivamente alemães, os que sob o auspício do Império e o ímpeto expansionista da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos germanizaram extensas regiões da Hungria, Boêmia, Morávia, Eslovênia, Romênia, Polônia e os Países Bálticos; germânicos prolíficos, sem dúvida, que chegaram a constituir a República dos Alemães do Volga na extinta União Soviética. E, enfim, germânicos eram também (majoritariamente anglo-saxões, escandinavos, holandeses e alemães) os europeus que colonizaram a América do Norte, a África do Sul e a Austrália.

O denominador comum a todos eles é bem conhecido: o expansionismo militar ou colonizador, a conservação do patrimônio biogenético mediante uniões intrarraciais e o estabelecimento de uma hierarquia sócio-racial que convertia aos germânicos em uma autêntica aristocracia, nobreza de sangue, e aos "inferiores" povos coabitantes, fossem ameríndios, africanos, semitas ou aborígenes australianos, em vítimas propiciatórias dos deslocamentos, submissões, da exploração ou do extermínio.

Pois bem, voltando àqueles povos primitivos de uma suposta raça nórdica - arianos, tocharianos, dórios, jônios, aques, macedônios, trácios, dácios, frígios, ilírios, latinos, celtas, baltos, eslavos e germânicos - observamos retrospectivamente seu insistente constume de instalar-se, como uma aristocracia de senhores e guerreiros, nas culturas euromediterrâneas e indo-arianas, submetendo ou escravizando a seus povoadores, mas mantendo uma autêntica separação ou segregação racial a fim de preservar suas características étnicas (dórios espartanos, patrícios romanos, brâmanes hindus, nobres germânicos), até que as implacáveis leis da convivência humana impuseram a mestiçagem racial, a hibridização cultural e, por fim, a inevitável decadência racial e espiritual que, segundo Gobineau, acaba com todas as civilizações. Milhares de anos depois, o movimento nazista se propôs a recuperar a figura nórdica do ariano criador, conquistador, dominador e escravizador. E para cultminar essa obra, o povo escolhido não podia ser outro que o germânico, o mais puro dos antigos nórdicos.

O fato histórico transcendental, que provocou tal explosão ideológica, é que em torno ao 5º milênio a.C., começa a grande expansão, a Grosswanderung, desde o norte da Europa, de uns povos aparentados cultural, linguística, religiosa e, nos arriscamos a supôr, também antropologicamente. Invadirão, em sucessivas ondas migratórias, toda Europa, chegando ao Mediterrâneo e ao norte da África, assim como às atuais Turquia, Armênia, Curdistão, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia e a parte ocidental da China. Fundarão, em contato com as populações autóctones de origem euromediterrânea e afroasiática, as grandes civilizações que são fundamento do mundo que hoje conhecemos. São povos de guerreiros e conquistadores, que praticam um tipo de nomadismo depredador e que dominam a arte e o ofício da guerra, com suas armaduras, escudos, espadas e machados, a montaria de cavalo e a carruagem de combate. Se impõem com facilidade aos povos submetidos, pacíficos, sedentários e agrícolas que vivem, com escassa proteção, em vales, planícias, estepes e litorais, próximos aos mares, lagos e leitos de rio sobre os quais giram suas concepções domésticas da vida.

A chegada desses invasores implica em uma mudança notável: a sociedade se torna hierárquica, em cuja cúspide se situam os conquistadores, os quais, durante muito tempo, praticam uma separação radical, racial, social, cultural, confessional, com os indígenas, quando inauguram uma organização trifuncional (senhores, guerreiros e camponeses ou servos) e um tipo de assentamento em forma de cidades fortificadas que se situam nos altos promontórios naturais. Os testemunhos dos povos submetidos nos legaram numerosas descrições de seu aspecto físico: altos, fortes, loiros e de olhos azuis. Descrições que, saltando as distâncias, correspondem ao tipo nórdico atual e que, obviamente, devem ter surpreendido, por pouco comuns, aos povoadores periféricos do mundo civilizado de então, de pequena ou média estatura e traços escuros. Mas, realmente, de onde vinham estes conquistadores? Quem eram? Como eram?

Uma Língua, Um Povo, Uma Pátria


Gustav Kossinna, e posteriormente também Adriano Romualdi, pensava que "a raça nórdica dolicocéfala deve ter se desenvolvido a partir dessas duas raças do paleolítico superior, a Cro-Magnon e a de Aurignac-Chancelade, durante o primeiro neolítico ou o mesolítico que segue à glaciação e se considera o início da Idade da Pedra". De fato, a arqueologia documenta um deslocamento do elemento cro-magnoide da Europa ocidental na direção do Báltico. Outros, como Hans F.K. Günther, negavam que a raça nórdica fosse o resultado de uma evolução, ou mais tecnicamente, de uma adaptação, do Cro-Magnon, que podia dar lugar à raça fálida, sendo mais provável a mutação da de Aurignac no território livre de gelo da Europa central. Mas ambos aceitaram de forma acrítica que os falantes da língua indo-europeia original pertenciam a uma raça nórdica de homens altos e loiros, que viviam na antiga região alemã e que em sucessivas ondas, invasões e conquistas levariam o progresso cultural, unido à superioridade biológica, às civilizações clássicas.


No que estavam de acordo, de Otto Reche a Hans Günther passando por Kossinna, é que foi a Europa do último período glacial o berço da raça nórdica e, portanto, dos indo-europeus, sendo ademais na atualidade, algo que passam por alto muitos autores, a região do mundo em que, à margem de outras migrações mais recentes, se encontra em maior número e com maior fidelidade o tipo humano nórdico, enquanto que a área que vai da Ásia Menor até a Ásia Central foi, frequentemente, a tumba de numerosos povos indo-europeus (hititas, anatólios, armênios, frígios, tocharianos, arianos e indo-iranianos em geral), na qual foram fagocitados deixando, talvez, sistemas linguísticos, organizações hierárquicas ou certas tradições religiosas, mas não seus traços físicos e antropológicos.

Concluindo, podemos aventurar, sempre no terreno da especulação história e não no da constatação antropológica e arqueológica, que o tipo de "homo sapiens sapiens" desenvolvido na Europa, seja o de Cro-Magnon ou o de Aurignac, apareceu em algum lugar da região compreendida entre os mares Báltico e Negro, originando as primeiras povoações pré-indo-europeias: as que permaneceram em seus lugares de origem, dando lugar ao tipo europeu oriental "caucásico"; as que emigraram para o sl da Europa em busca de terras férteis, que seriam os ancestrais do tipo europeu ocidental "mediterrâneo"; e as que emigraram para o norte à caça de animais conforme o gelo ia retrocedendo e descobrindo novas terras inóspitas, que seriam os antepassados do tipo europeu "nórdico". Nessa pátria secundária de neves perpétuas e tênues luzes adquiririam os traços físicos que, segundo parece, caracterizaram os povos indo-europeus que, posteriormente, certamente coincidindo com outra época intermediária de clima glacial, emigrariam novamente para o sul, chegando ao Mediterrâneo, e para o leste, alcançando o Índico, misturando-se com as populações pré-indo-europeias que lhes precederam.

A seguinte exposição não deixa de constituir mais uma hipótese, mas cumpre perfeiamente o papel de ponto de partida para compreender o complexo processo de formação e posterior migração de determinados conjuntos étnicos que a linguística englobou em torno ao conceito de "indo-europeus". Pois bem, em torno ao ano 13.000 a.C. começa o grande degelo no norte da Europa. Até o ano 10.000 a.C. os gelos já haviam se retirado até a área norte da região de Hamburgo; no ano 9.000 a.C. o gelo libera a região de Copenhague e no 7.500 a.C. a área de Estocolmo, completando-se o degelo e formando-se o mar Báltico; posteriormente, por volta do 5.500 a.C., a terra livre do gelo se eleva e as águas liberadas ocupam as zonas baixas, originando o mar do Norte e separando as Ilhas Britânicas e Escandinávia do resto do continente.

Os protonórdicos (pônticos, caucásicos, danubianos?) seguem às manadas de animais que migram para o norte, assentando-se na Europa setentrional, caçando e pescando, até que surge a agricultura neolítica oriunda da Ásia Menor, que penetra pelos Bálcãs e através do Mediterrâneo, alcançando o Danúbio e posteriormente o Báltico meridional. Os povoadores da cultura dos "campos de urnas" (Urnenfelderkultur) não constituem todavia um povo indo-europeu definido, mas um conjunto ainda indiferenciado dos paleo-europeus que permaneceram em seus lugares de origem, mas que até o ano 1.400 a.C. vão adquirindo uma fisionomia própria: ilírica, céltica, itálica, germânica. Começa então a grande migração para o sul, a Grossewanderung, e posteriormente, no período 1.200-1.000 a.C., partindo do Cáucaso e passando por Irã e Afeganistão, os indo-iranianos, dos quais os arianos seriam apenas um grupo diferenciado, chegam à Índia. Seu caráter guerreiro, a simbologia solar da suástica, a lembrança de uma pátria nórdica ancestral e seu característico blondismo, os converterão em um útil instrumento para construir uma mítica identificação com os jovens povos germÂnicos. Quanto à pátria originária (urheimat), segundo Alain de Benoist (Indoeuropeus: Em Busca da Pátria de Origem) existem atualmente duas teses majoritárias. A primeira delas é a nórdica ou germânica. Assim entenderam Hermann Wirth e Karl Penka, a quem devemos a equação "indoeuropeu = dolicocéfalo loiro de olhos azuis", e para os quais a zona do Báltico não podia ser a pátria originária por estar habitada por "braquicéfalos racialmente inferiores", distintos dos autênticos arianos, "raça poderosa e enérgica como é a raça loira". Penka afirmará que "os arianos puros só estão representados por alemães do norte e pelos escandinavos, uma raça muito prolífica, de grande estatura, força muscular, energia e coragem, cujos esplêndidos atributos naturais lhes permitiram conquistar a raças mais frácas do leste, sul e oeste e impôr sua língua aos povos submetidos".

A segunda escola majoritária, que é também a mais corroborada pelas descobertas arqueológicas, defende a tese de uma pátria russo-meridional. A lituana Marija Gimbutas, seguindo este caminho, propôs as estepes do sul da Rússia, do Ponto ao Volga, como pátria original, utilizando o conceito da "cultura dos kurgans" (a primeira manifestação conhecida da cultura dos túmulos funerários) desenvolvida por volta do 5º milênio a.C. e que teve vários movimentos migratórios: 1) por volta do 5º milênio a.C. (ao redor do 4.400) a primeira onda alcançou a Europa balcânica e danubiana; 2) no milênio seguinte (entre o 3.500 e o 3.000 a.C.) se produz um deslocamento duplo, pelo Cáucaso rumo ao domínio indo-iraniano, por um lado, e rumo a Europa central, pelo outro; 3) no 3º milênio a.C. teve lugar uma penetração, que não seria a última, na direção do Mediterrâneo, alcançando a península anatólica e o noroeste africano.

Para Alain de Benoist, não obstante, as teorias sobre a localização de uma pátria original russo-meridional ou euro-setentrional não são irreconciliáveis. Para Ward Goodenoug, a cultura dos "kurgans" de Gimbutas não seria senão a extensão pastoril da cultura indo-europeia desenvolvida no norte da Europa; uma parte desse povo, depois de destruir a cultura paleolítica europeia, teria descido para o sul (o povo do machado de guerra) difundindo a cerâmica polida e a metalurgia do bronze. Os restos étnicos que permaneceram na Europa central formariam os contingentes das migrações posteriores. Essa teoria obteve a aprovação de um dos autores mais especializados na questão indo-europeia, James Mallory, que situa o lar ancestral em uma zona delimitada entre os rios Elba e Vístula, margeando ao norte com a península da Jutlândia e ao sul com os montes Cárpatos. Enquanto isso, a tese nórdico-europeia tem sido aceita, em datas recentes, por Harold Bender, Hans Seger, Schachermeyer, Gustav Neckel, Ernst Meyer, Julius Pokomy e, mais recentemente, por Nicolás Lahovary, Paul Thieme e Raim Chandra Jaim.

Em qualquer caso, ainda que a questão da pátria de origem dos povos indo-europeus siga sendo objeto de debates linguísticos e arqueológicos polêmicos e interessantes, a teoria sincrética que provoca menos rechaço entre os estudiosos situaria a urheimat na extensa zona compreendida entre o mar Netro e o Báltico, epicentro indo-europeu a partir do qual se deslocariam os vários povos em todas as direções, alguns deles avançando lentamente para o norte da Europa, consolidando uma série de povos nórdicos com o característico fenótipo claro e dando lugar a uma etnogênese que conformaria posteriormente os distintos conjuntos tribais proto e indo-germânicos. O outro grupo separado do tronco original, importanto também quantitativamente, se assentaria em todos os cantos do sul da Europa, adquirindo o fenótipo mais escuro típico dos povos mediterrâneos, matizado posteriormente pelas contribuições dos povos vindos do centro e norte da Europa.

O "problema indo-europeu" foi realmente uma questão de identidade estritamente europeia. Quando ainda se acreditava que a luz civilizadora vinha do Oriente, apareceram os "arianos" como povo originário e primigênio (ariervolk), cujas migrações posteriores para o Ocidente teriam colonizado toda Europa. Conforma ia se desprestigiando a crença em uma exótica origem asiática e se abria caminho para as teorias eurocêntricas mais realistas, na Alemanha, possuída por uma quase divina predestinação de sua missão universal para salvar a humanidade, se adotou o nome de "indo-germânicos", unindo as duas ramificações extremas daquele povo misterioso (indo-iranianos no leste, germânicos no oeste) que, posteriormente, fundamentando-se nas descrições físicas que os autores clássicos faziam dos indivíduos (altos, fortes, loiros e de olhos azuis), confirmadas pelas provas arqueológicas e antropológicas encontradas na Escandinávia, Alemanha setentrional e Báltico, então os nazistas cunharam a denominação exclusiva de "nórdicos", aproveitando que o Reno passa pela Germânia, como havia escrito um Tácito latino ofuscado pela decadência dos romanos frente à vitalidade dos bárbaros germânicos.

O "arianismo" teve em suas origens umas conotações românticas que pretendiam enviar uma mensagem moralizante sobre a decadência da cultura ocidental em comparação com o estado puro e virginal de uma civilização ariana anterior à história, mas não pré-histórica, senão para-histórica. O germanismo mais radical, não obstante, se apropriou da origem ariana para proclamar e reivindicar seus direitos ao domínio mundial, convertendo o povo originário, mediante uma transmutação biogenética, na raça nórdica de senhores e conquistadores, selecionados naturalmente para a "arte de governar e fazer guerra". Estamos irremediavelmente diante de um autêntico "mito europeu", que começou fragilmente sua caminhada das mãos do darwinismo social para legitimar, entre as classes políticas e intelectuais, o supremacismo branco cúmplice do colonialismo depredador e das políticas discriminatórias, que faziam do europeu, especialmente dos nórdicos, o "prometeu da humanidade" (para empregar a conhecida expressão hitlerista) frente aos "escravos de uma sub-humanidade" luciferiana despossuída da evolução divina.

Dessa forma, no extremo oriental ocupado pelos "indo-europeus", nos encontramos com um povo misterioso que se denomina com o termo endoétnico "aryas", com o sentido de "nobre", ainda que haja autores, como o indólogo Paul Thieme que embaralham um termo exoétnico com o significado de "estrangeiro". Em todo caso trata-se dos conquistadores da Pérsia (Irã), Afeganistão, Paquistão e Índia. O livro sagrado Rig Veda reflete que se designavam a si mesmos com esse nome popular. O Avesta fala do Airyanem Vaejah (pátria solar dos arianos). Durante o Império Aquemênida, séculos mais tarde, os habitantes do Irã (evolução de Aryan) ainda utilizavam denominação idêntica e de alguns personagens se dizia que eram "arya-cica" (de origem ariana) ou "arya-putra, arya-kanya" (como títulos senhoriais). O nome do bisavô de Dario era Ariyaramma e o próprio Dario se considerava "de estirpe ariana, rei dos arianos". O termo teria perdurado no nome moderno do Irã, também no da Irlanda (Eire) e no de Ironistão, nome que dão os ossetas caucásicos, descendentes dos alanos indo-iranianos, a sua pátria (em sua língua se chamam "iron"). No extremo ocidental, ademais, se conservou a denominação de "arianos" em alguns antropônimos como o celta "Ariomano", os germÂnicos "Ariovisto", "Ariomer" ou "Ariogais", o escandinavo "Ari", o celtibérico "Arial", o gótico "Ariarico", o latino "Ariolus" e, inclusive, os gregos "Ariel", "Arianna" e "Aris".

Um inciso. Em relação ao conceito de "indo-europeu", introduzido pelo britânico Thomas Young, tecnicamente impreciso, mas que teve a sorte de substituir ao de "indo-germânico", cuja utilização nacionalista e racista na Alemanha durante o Segundo e Terceiro Reich o condenou ao ostracismo, há que sublinhar que não deixa de ser uma construção artificiosa e imprecisa, sendo preferíveis, em qualquer caso, os de "alteuropeu" ou "paleoeuropeu", no sentido de "europeu antigo", para designar o grupo étnico originário, enquanto aquele ficaria reservado ao âmbito da linguística comparada.

Fundamental na construção do mito ariano foi o romântico alemão Friedrich Schlegel, que pode ser considerado como o fundador da "indo-germanística". Estudioso do sânscrito e, por extensão, de todas as línguas indo-europeias aparentadas, em uma época em que se acreditava que a origem da raça branca devia se situar no norte da Índia e que logo irradiou por todo Ocidente, parece que foi o criador do termo "ariano", fazendo-o derivar do sânscrito "arya", com suas notáveis correspondências no grego "aroi", relacionado com o de "aristós" (nobreza) e o de "areté" (virtude), o latino "herus" (senhor), o irlandês "air" (honrar) ou o alemão "ehre" (honra) ou "herr" (senhor). Durante todo o século XIX, os linguistas passaram da defesa da origem asiática desses povos para situá-lo em distintos lugares da Europa: a zona caucásica, as estepes russas, a região danubiana, os países bálticos, o setentrião alemão, a península escandinava, etc.

Posteriormente, o hindu Lokamanya Bal Gangadhar Tilak, baseando-se em uma série de tratados e rituais védicos (o Devayana e o Pitriyana), chegava a conclusões radicais sobre o lugar de origem dos arianos, que descreviam uma divisão do ano em duas partes, uma indeterminada e outra clara, como nas zonas polares onde se conhece um dia e uma noite de seis meses cada uma (seis meses de claridade e seis meses de escuridão, como nas regiões setentrionais). De fato, o Avesta informa igualmente que, na pátria originária dos arianos, o inverno contava com dez meses, enquanto que o verão só contava com dois. Para desenvolver sua tese, Tilak recorria também a inúmeros mitos gregos, romanos, germânicos, eslavos e indianos, que mencionavam uma região primitiva ártico-hiperbórea ou circumpolar, nas regiões próximas ao pólo ártico, caracterizada por uma noite interminável, na qual os estrangeiros conquistadores da Índia deviam ter tido seu primeiro lar.

Por sua parte, o Rig Veda descreve as lutas dos "aryas" (grandes, belos, de belo nariz) com os "dasa" (pequenos, negros, sem nariz). Distingue entre uma "aryavarna" (cor ariana) e uma "dasavarna" (cor inimiga) ou um "krishanavarna" (cor escura). Os arianos são loiros, "hari-kesha" (de cabeça loira) ou "hari-shmasharu" (de barba loira), ou simplesmente dos "hari" (os loiros). Também os deuses e os heróis homéricos são descritos como loiros ou de cabelos dourados como o sol, de pele branca como a neve e de olhos com a íris azul como o céu. E assim também os latinos romanos, cujas primeiras elites (os ascendentes dos patrícios) mostravam um acentuado blondismo no cabelo ("rutilus", loiro forte, ou "flavus", loiro suave), olhos azuis ("caesius") e estatura elevada ("longus") que, por outra parte, impregnaram o ideal estético romano.

Dessa forma, o tipo físico predominante entre os antigos povos indo-europeus, dos arianos aos germânicos, se converteu logo em objeto dos comentários dos escritores clássicos, que eram coincidentes na notoriedade de seus corpos altos, ágeis e musculosos, pele branca rosada, cabelos loiros ou ruivos e olhos azuis, se bem isso deve ser posto em relação com a novidade que seria para os olhos dos observadores mediterrâneos, de pigmentação escura, a descoberta de traços físicos tão distintos aos seus ainda que, sem dúvida, eram também os que correspondiam ao cânone da beleza clássica, certamente imposto pelos conquistadores nórdicos anteriores como os helenos, os ilírios e os latinos. Em qualquer caso, essas descrições corresponderiam ao elemento mais visível desses conjuntos populares multitribais, isto é, aos nobres chefes e guerreiros, dadas suas práticas endogâmicas, mas não ao resto da população, que seria o resultado de um amálgama multiétnico muito distante já do Herrenvolk (raça de senhores) glorificado pelos antropólogos afeitos ao nazismo.

Mas o mito já estava servido: o debate sobre a pré-existência de uma humanidade "ário-nórdica" superior, aberto quiçá prematuramente e fechado abruptamente pelos interesses e objetivos de uma doutrinação secular dirigida às novas gerações, formadas em uma frágil consciência europeia e presas de uma suposta culpabilidade derivada da vitimização causada por um estigma racial que não se consegue compreender, nem interpretar, pelos parâmetros humanistas e racionalistas entre os que se desenvolve, e se revolve, a mal chamada civilização ocidental.

Mas realmente, existiu um nexo intra-histórico e ideológico comum entre Darwin, Schlegel, Gobineau, Chamberlain, Wagner e Hitler? A resposta deveria ser rotundamente negativa. Não obstante, a forma pela qual Hitler, que se considerava herdeiro da refinada cultura europeia de tradição grecorromana frente à rudeza dos costumes nórdico-germânicos, soube vulgarizar, sintetizar, popularizar, ideologizar e, finalmente, explorar as constantes vitais da "arianidade" em busca de seus objetivos "biogeopolíticos" de expansão territorial, colonização racial e dominação mundial, poderia nos fazer pensar na tangibilidade desse condutor inexorável a que chamamos destino. Algo em que no crê o autor, ainda que a história, em ocasiões, esteja condenada a se repetir.

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Daria Dugina - Ideologia Americana na Sociedade Francesa

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por Daria Dugina

Tradução por Lucas Novaes



INTRODUÇÃO:

As principais características da ideologia Americana são:

- Crença no progresso universal, o qual tem seu ápice na civilização capitalista ocidental (os Estados Unidos como seu líder indiscutível);
- Individualismo completo, negação de identidades coletivas (religiosa, nacional, étnica), destruição dos valores tradicionais: gênero (política de gênero), família tradicional;
- Engenharia e desenvolvimento técnico reconhecidos como o principal objetivo, o aspecto moral é insignificante e menor;
- Os Estados Unidos e o Ocidente possuem o direito moral de ditar o caminho que o resto das nações devem seguir e viver (hegemonia americana em escala global).

ESQUERDA-DIREITA (NA POLÍTICA E ECONOMIA)

Para que possamos ver como a ideologia americana é implementada no espaço europeu, é necessário considerar o esquema do sistema político das sociedades da Europa Ocidental; a divisão entre direita e esquerda (em política e economia). O modelo da divisão política partidária esquerda-direita apareceu na Assembleia Constituinte da França (em 1789) quando o lado direito da mesa da presidência foi ocupado pelos apoiadores da monarquia, os “Cavaliers”, os conservadores, e o lado esquerdo pelos revolucionários, anti-monarquistas e os democratas radicais.

As principais características da direita na política são a proteção dos valores tradicionais, conservadorismo, defesa de sucessos  do passado, identidade nacional, religiosa e étnica. Na esfera econômica, os representantes dos partidos de direita têm como objetivo proteger a propriedade privada (a declaração da propriedade privada e o princípio superior da posse privada da propriedade coletiva; estatal, nacional, comunal), construção de um mercado mundial livre sem fronteiras nacionais e estatais.

As principais características da esquerda são a negação da identidade (étnica, religiosa), a negação dos valores tradicionais, anti-conservadorismo e universalismo. Na esfera econômica, a esquerda favorece várias formas de domínio da propriedade coletiva acima da propriedade privada (nacionalização da propriedade privada).

A FRANÇA ATÉ 1968

Até 1968, a influência da ideologia americana na França era fraca, principalmente por meio dos esforços do presidente de Gaulle, o qual consistentemente aplicou políticas antiamericanas que tinha mcomo objetivo a construção de uma Europa continental e soberana do Atlântico até os Urais (Rimland).

- De Gaulle se opôs a entrada da Inglaterra na Comunidade Econômica Europeia; a União Europeia  seria construída sem a participação dos anglo-saxões;
- Ele removeu a base militar americana do território nacional francês;
- A liberação da França dos compromissos de defesa da OTAN (cancelamento das estruturas militares da Aliança em 1966), a retirada do Planejamento de Defesa e Grupo de Planejamento Nuclear do Comitê (França continua a participar das estruturas políticas da OTAN);
- Em 1965, De Gaulle anunciou a recusa do uso do dólar nos pagamentos internacionais e a transição para um único padrão de ouro;
- De Gaulle transformou a França em uma líder do movimento não-alinhado em face dos dois blocos da Guerra Fria, França escolhe a Terceira Via (Rimland como uma zona independente);
- Desobediência ao Império Americano (condenação das ações dos EUA contra os países da Indochina), apoio a Palestina em 1967 (a condenação das ações de Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967).

O QUE ACONTECEU EM MAIO DE 1968?

A ideologia americana chegou à França em maio de 1968; estudantes radicais de esquerda participaram em demonstrações e motins, com milhões de estudantes indo as ruas. Ironicamente, nessa época, a França encarou um crescimento econômico nunca antes visto (apogeu do milagre econômico francês, conhecido como “Trente Glorieuses”).

A estrutura do "Maio Vermelho" possui diversas áreas distintas: 1) Anarquista (slogans: “Il est interdit d’interdire”– “É proibido proibir”, “Ni Dieu ni maître!”– “Nem Deus nem Mestres”), 2) Esquerda, “gauchisme” (“Travailleur: Tu as 25 ans mais ton syndicat est de l'autre siècle.”– “Trabalhador: Você pode ter apenas 25 anos, mas seu sindicato é do século passado”) 3) Esquerda liberal, a qual tinha como objetivo desestabilizar o regime de de Gaulle e removê-lo da autoridade.

Se a primeira área quase não tinha programas positivos, a segunda e especialmente a terceira área do “Maio Vermelho” possuíam uma visão clara do futuro da França, no qual a figura de De Gaulle não tinha lugar. Na França, o regime antiamericano de De Gaulle foi derrubado pelos movimentos de esquerda antiamericanos (demonstrantes de esquerda criticaram a intervenção dos EUA no Vietnam: “Imagine:! C’est la guerre et persona n’y va”– “Imagine: houve guerra e ninguém apareceu! ”). A juventude protestou contra a guerra do Vietnam e a política militar americana por ter influência da cultura anglo-saxã.

A ideologia americana apareceu na arena política francesa através dos protestos antiamericanos.

A FRANÇA DEPOIS DO “MAIO VERMELHO”

Depois de Maio de 1968, a ideologia americana começou a entrar na política francesa. Aparecia uma nova sociedade e o libertarianismo liberal se tornou a nova ideologia dominante, a qual tinha, como principal objetivo, a destruição do: 1) modelo social de esquerda (que era protegido pelo Partido Comunista Frances), e 2) o modelo moral da direita (criado por De Gaulle).

Gradualmente, as diferenças entre a esquerda e a direita foram se misturando na política e economia. A direita passou a agir apenas em prol do liberalismo burguês, do capitalismo, ignorando o conservadorismo, a esquerda – em favor do progresso e da globalização, ignorando a esfera econômica (as demandas da proteção dos direitos dos trabalhadores, superioridade coletiva sobre a propriedade privada).

A FRANÇA SOB O DITADO IDEOLÓGICO AMERICANO

Hoje, a França está sob uma verdadeira ditadura ideológica, hegemonia do “pensée unique”, a ideologia americana. Qualquer um que é contra o liberalismo de esquerda (neste caso, não está agindo sob influência do liberalismo de direita), torna-se “intocável”, marginalizado, o inimigo do sistema, suicida (indicativo da crescente atenção ao Front National, bsucas recentes em seu principal escritório durando mais de 24 horas). A ideologia dominante na França (ideologia americana) está baseada em uma combinação do liberalismo de mercado da direita e do globalismo de esquerda.

A França se tornou um país sob o controle total da ideologia americana durante a presidente de Sarkozy:

- Março de 2009 – A entrada da França na OTAN, a traição da herança gaullista, a submissão oficial da França ao controle do comando americano;
- Associação com liberais de esquerda;
- Auxiliando os EUA na derrubada de regimes anti-americanos no Oriente Médio (Líbia, 2011).

Desde 2012, Hollande tem consistentemente continuado com a política de seu predecessor (apesar de ser um representante da esquerda, Hollande ignora os valores da esquerda na economia; a taxa de desempego cresceu 10% em seu regime).

- Apoio a sanções contra a Rússia, ruptura do contrato de Mistral;
- Legalização do casamento homossexual.

ALTERNATIVA A IDEOLOGIA AMERICANA NA FRANÇA

Será que existe, hoje, na arena política francesa, uma alternativa real ao domínio da ideologia americana? Não, mas a intensa busca por ela já ocorre. A força política que se opõe à ideologia do sistema americano na França e que está  desenvolvendo alternativas é o partido Front National. A crítica da política migratória da União Européia, euroceticismo, um foco no conservadorismo e na preservação das tradições (família, casamento, religião), e a crítica da elite dominante atlantista francesa se refletem no espaço político e na vontade do povo francês, e é uma alternativa ao governo liberal de esquerda.

O Front National é percebido pelas forças políticas dominantes como uma ameaça ao sistema, um partido anti-sistema que une em seu programa os valores anti-liberais da esquerda (igualdade social, justiça, anticapitalismo) e os valores não-liberais da direita (conservadorismo, Estado forte, política anti-migração).

Em 2015, após as eleições regionais, tornou-se claro que o Front National não era apenas legítimo, mas também um força política. Isso assustou fortemente a esquerda liberal (partido socialista) e direita (partido republicano) e alavancou a criação de uma coalizão unificada da esquerda e da direita para eliminar o Front National da luta política.

Eugene Montsalvat - A Direita Alternativa: Uma Autópsia

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por Eugene Montsalvat



Quando o amplo movimento agora chamado "direita alternativa" pareceu surgiu por volta de 2010, as esperanças eram bem elevadas. O então editor do Occidental Quarterly afirmou que ele esperava que isso introduziria jovens conservadores a coisas como a Nova Direita europeia, a Terceira Posição, a Revolução Conservadora, o Tradicionalismo, e o anticapitalismo de direita. O objetivo de ampliar suas mentes e afastar conservadores americanos das picuinhas partidárias usuais na direção de questões mais radicais e importantes não foi atingido. Ao invés, ela levou a uma solidificação dos piores elementos do conservadorismo americano, agora repaginado como algo vanguardista. Ao invés de se tornar ponta-de-lança para o pensamento de figuras conservadoras revolucionárias ou novo-direitistas como Oswald Spengler, Alain de Benoist ou Aleksandr Dugin entrar no discurso político americano, ela se tornou um foco de atração para aqueles que querem defender o capitalismo contra populações de QI baixo, todas as suas teorias estando embasadas na terminologia mais imatura retirada dos esgotos da internet. Ao invés de levar a um novo movimento revolucionário nos EUA, simplesmente recuperou algumas das ideias conservadoras americanas mais retrógradas do passado com uma estética mais "vanguarda" projetada para atrair os elementos mais juvenis da sociedade. A direita alternativa falhou em articular as críticas necessárias à ordem atual, deixando o campo da ideologia populista nacional vazio de uma alternativa real e desesperadamente necessária. A direita alternativa em seu estado atual não tem futuro. Ela deve ser reformada com o poder de olhar para além das barreiras artificiais de esquerda e direita, barreiras definidas pela elite hostil da política americana.

Talvez o traço mais unificador das várias correntes na direita alternativa americana é seu foco nas definições biológicas de raça. Certamente, a compreensão científica das diferenças humanas possui seu lugar. Porém, uma definição meramente materialista é na melhor das hipóteses insuficiente, na pior delas contraprodutiva. No melhor caso, é um passo no longo processo de tirar uma pessoa do paradigma do igualitarismo liberal na direção de uma concepção filosófica das diferenças humanas. Nesse sentido, uma compreensão biológica da desigualdade humana deve ser vista como uma fase transitória. Sim, humanos são realmente diferentes biologicamente, porém essa concepção biológica da diferença é apenas uma compreensão superficial das diferenças humanas essenciais. Para uma compreensão mais profunda da desigualdade humana, devemos avançar para além do materialismo biológico, que replica uma compreensão racionalista e iluminista do mundo, e adentrar na doutrina Tradicionalista sobre raça, como compreendida por Julius Evola. Há um aspecto biológico, realmente, porém nós devemos também transcender na direção de um entendimento da "raça da alma" e uma "raça do espírito".

Com "raça da alma", nós podemos falar sobre as várias características espirituais que definem um certo povo. Assim, se alguém segue uma moralidade judaica, essa pessoa pode ser membro da "raça judaica da alma" ao mesmo tempo sendo inteiramente gentia em sentido biológico. Quanto à "raça do espírito", ela define como diferentes pessoas em uma sociedade se relacionam com o divino. Nas civilizações antigas, diferentes sexos e classes sociais adoravam diferentes deuses. Os patrícios romanos representam uma "raça do espírito" diferente dos plebeus romanos, e os brâmanes hindus representam uma "raça do espírito" diferente dos ksatriyas. As mulheres representam uma "raça do espírito" diferente dos homens. Certamente, nessa concepção tripartite de raça, os três aspectos de biologia, alma e espírito estão entrelaçados. Porém, isso não pode ser simplesmente reduzido à biologia da qual todas as coisas fluem. Essa obsessão com distinções científicas entre raças e a necessidade de mensurar cada diferença biológica (e eu realmente me refiro a cada diferença) está muito longe de um entendimento profundo, filosófico, das distintas essências espirituais dos povos que caracterizavam as raízes antigas de nossa civilização. Ademais, isso é patentemente pouco inspirador, já que homem algum vai atacar uma metralhadora para defender um estudo sobre QI. Os homens morrem por visões superiores e transcendentes do ser. É melhor falar sobre o espírito da nação do que entediar pessoas comuns até as lágrimas com tabelas demonstrando diferentes medições cranianas.

Na pior das hipóteses, a concepção biológica de raça leva a uma reiteração de preconceitos iluministas liberais. Ela assume, tal como os neo-ateístas representados por tipos como Richard Dawkins fazem, que todas as questões podem ser reduzidas a meras explicações racionais, científicas. Isso pode levar ao que é geralmente chamado de "elitismo cognitivo". Ela assume que o QI é o árbitro final de valor humano. Isso é absolutamente desastroso para qualquer ideologia política que busque afirmar a identidade livre e única de povos. Se um certo povo possui um QI maior, por que deveríamos ver como imoral se ele conquistar os menos inteligentes? Se este é o caso, então Hong Kong deveria governar o mundo, e nenhuma outra nação deveria se impôr. Ao invés de afirmar diferenças, o elitismo cognitivo afirma a dominação de um povo em detrimento de outros. Ao invés de afirmar o direito de todos os povos de cultivarem sua identidade étnica e cultura tal como a ideologia etnopluralista defendida pela Nova Direita europeia faz, ela involui em um tipo de triunfalismo branco onde o fato de que brancos possuem um QI maior que alguns outros povos significa que eles são superiores, e estão assim justificados em destruir outras culturas. Isso é essencialmente similar ao darwinismo social vitoriano que foi usado para justificar o domínio do Império Britânico. Enquanto alguns possam olhar para essa era como o ponto alto da civilização europeia, ele deve ser visto pelo que é: um período de exploração, tanto dos povos colonizados, como dos trabalhadores pobres das próprias nações coloniais, que lideraram o caminho para a globalização da sociedade e para a emergência do capitalismo internacional como o paradigma econômico dominante, questões que continuam a nos afetar hoje. Este tipo de raciocínio vitoriano ainda encontra ressonância nas visões econômicas da direita alternativa americana.

Entre as grandes falhas da direita alternativa americana tem sido sua incapacidade de criticar o sistema capitalista. Ele é visto como um sistema justo, suas falhas e erros ou são ignorados ou a culpa é colocada em algum outro grupo racial. Eles citarão, de modo darwiniano, que pessoas com QI mais alto ganham mais, e que nações com QI médio alto são mais ricas, então os ricos merecem tudo o que tem, e qualqeur tentativa de redistribuir riqueza é "disgênica", ainda que a vasta maioria das pessoas patrióticas, trabalhadoras e medianas se beneficiasse com um retorno, mesmo que parcial, ao Estado de Bem-Estar da América de Eisenhower, um período para o qual eles ironicamente olham com nostalgia por causa de seus valores sociais sadios. Ainda assim, o período de dominação branca europeia pelo capitalismo é visto como uma marca de orgulho europeu e o zênite da civilização europeia. Eles consideram o sofrimento da vasta maioria dos brancos sob o capitalismo antes da emergência do Estado de Bem-Estar no século XX, como narrado por autores clássicos como Charles Dickens, Jack London, Upton Sinclair ou Louis-Ferdinand Céline, como ou merecido ou irrelevante, se é que eles dão alguma consideração.

Ademais, essa combinação de fetichismo com QI e ideologia de mercado leva a uma defesa contraditória e confusa das fronteiras nacionais. Direitistas alternativos americanos reconhecem que comunidades imigrantes de países com baixo QI médio tendem a votar em favor do Estado de Bem-Estar; portanto, nós devemos controlar nossas fronteiras para salvar o capitalismo. Essa análise é ruim em vários níveis. Primeiro e mais importante, são os capitalistas americanos que trazem os imigrantes, legalmente ou ilegalmente, para cortar os salários de trabalhadores nascidos nos EUA. A mais forte oposição a propostas de fechar a fronteira ou limitar a imigração vem da própria classe capitalista americana. A liderança de companhias famosas como eBay, Google, PayPayl e Yahoo liderou esforços para convencer o Congresso a aprovar leis ampliando a imigração. A direita alternativa não consegue compreender que a oposição à interferência no fluxo de trabalho e capital entre países tem sido uma faceta fundamental do capitalismo desde a época de Adam Smith e Bastiat, que se opunham ao protecionismo mercantilista. Como o importante pensador da Nova Direita europeia, Alain de Benoist, afirmou em seu clássico ensaio, "Imigração: O Exército de Reserva do Capital": "Quem criticar o capitalismo, ao mesmo tempo que aprova a imigração, sendo o proletariado sua primeira vítima, é melhor silenciar. Quem criticar a imigração, ao mesmo tempo que silencia sobre o capitalismo, deve fazer o mesmo". Capitalismo e imigração em massa são dois lados da mesma moeda. Eles não conseguem entender que o capitalismo não aceita fronteiras, seja fisicamente ou mentalmente, no que concerne a busca pelo lucro. Se o Estado-Nação, a família tradicional, ou a religião ficarem no caminho, eles devem ser descartados. Citando Alain de Benoist novamente, em "Essa Direita que não se importa com seu povo":

"Eles ainda não entendem que o capitalismo é intrinsecamente globalista, porque ele demanda a abolição de fronteiras ('laissez faire, laisser passer!'). Por razão de sua propensão à ilimitação, ele não pode existir sem revolucionar constantemente as relações nacionais, ou sem ver as identidades nacionais como estando entre tantos outros obstáculos para a expansão do mercado globalizado. O modelo antropológico que ele leva, que é o de um indivíduo que está sempre buscando a maximização de seu próprio interesse, está tanto em funcionamento no liberalismo econômico como no liberalismo social, e os axiomas do interesse e o maquinário do lucro são pilares da ditadura dos valores mercantis".


Foi sob o capitalismo, não sob o socialismo, que o feminismo, o multiculturalismo, a teoria de gênero, e a liberação sexual encontraram suas mais poderosas expressões. Porém, ao invés de reconhecer este fato, a direita alternativa recorre à teoria do "marxismo cultural".


"Marxismo cultural" pode significar muitas coisas. Em uma interpretação extrema, é uma perspectiva altamente conspiratória que propõe que os soviéticos infiltraram vários órgãos governamentais, acadêmicos e empresariais nos EUA com o objetivo de enfraquecer os valores morais da sociedade para torná-la mais adequada para uma revolução comunista guiada pelos soviéticos. Em outra, ela pode significar a influência dos pensadores da Escola de Frankfurt na sociedade. Nós podemos rapidamente descartar a primeira, considerando que coisas como homossexualidade eram punidas severamente na URSS, e que, após uma fase inicial de liberação sexual, Stálin reprimiu essa lassidão moral, limitando o divórcio e o aborto. No Bloco Oriental, o "movimento hippie", onde existisse, era visto com suspeitas e sujeito a repressão por suas raízes americanas. As origens dessa teoria da conspiração tendem a voltar ao testemunho do dissidente soviético Yuri Bezmenov, que se tornou uma figura popular em círculos anticomunistas americanos, onde ele frequentemente coletava taxas para repetir em palestras o que as pessoas já acreditavam. Curiosamente, a direita alternativa toma as afirmações de um imigrante preenchendo um nicho no mercado americano a sério. Em contraste, não foi a KGB, mas a CIA que apoiou a arte moderna como um desafio ao "realismo socialista" de inspiração clássica na URSS, e contratou a radical Gloria Steinem como agente para este fim. De fato, a CIA recebeu muitos comunistas anti-stalinistas em seu "Congresso para a Liberdade Cultural", que foi estabelecido em 1950 para atrair esquerdistas para uma posição anti-soviética. Ademais, nós devemos notar que muitas figuras da Escola de Frankfurt culpadas pelo "marxismo cultural" em versões menos conspiratórias encontraram um refúgio do nazismo não na URSS, mas nos EUA.

A Escola de Frankfurt é considerada como uma das principais bases para o desenvolvimento da ideologia freudo-marxista, particularmente por seu notável membro, Herbert Marcuse. Outro é o pensador judeu-alemão Wilhelm Reich, que também encontrou refúgio nos EUA após perseguição nazista. No livro de Marcuse Eros e Civilização, a liberação sexual está misturada com ideias sobre libertação da alienação econômica também. Porém, Marcuse modifica a base fundamental do marxismo. A história não é mais explicada pela luta de classes, mas como uma luta contra a repressão, com o capitalismo moderno sendo o tipo mais repressivo de sociedade. Esse desvio da teoria marxista clássica mostra o motivo pelo qual a Escola de Frankfurt não foi bem recebida na URSS. Ao invés de demandarem um socialismo no qual os desejos individuais estivessem sujeitos aos objetivos de um planejamento central pelo benefício da nação, ele defende uma plena liberalização dos desejos humanos. Essa crítica provou ser popular nos campi universitários americanos e influenciou os radicais da década de 60, que defendiam uma revolução através do "rock n' roll, drogas e sexo nas ruas", em uma frase notável de John Sinclair. Porém, a ideologia da gratificação sensorial total foi completamente assimilada pelo capitalismo. Depravação na música, nos filmes e na televisão alimentou os cofres das grandes corporações midiáticas, sem mencionar a ascensão simultânea da indústria pornográfica. Na verdade, essa ideologia se encaixa perfeitamente com o capitalismo: o cliente sempre tem razão, e os desejos hedonistas se tornam ainda mais escolhas de consumo para serem satisfeitas pelo mercado. Certamente, a ideologia da gratificação sensorial ilimitada criou novos campos vastos de exploração para o capitalismo.

Ademais, essa ideologia radical da nova esquerda demonstrou um efeito maligno sobre a centro-esquerda hegemônica, que, apesar de não ser marxista, trabalhava no domínio clássico da política classista, lutando por um Estado de Bem-Estar maior e pelos direitos do proletariado (deve-se notar a imensa ironia de alguns elementos da direita alternativa olharem com saudades para os "bons e velhos dias" da América pré-1968, quando o Estado de Bem-Estaro e o poder sindical estavam em seu ápice). Abandonando preocupações caras aos corações do trabalhador médio, a esquerda hegemônica gradualmente adotou ideologias como o feminismo, o pró-imigracionismo e a libertação homossexual. Enquanto a classe trabalhadora padece com dificuldades cada vez maiores, e valores tradicionais são apagados, o capitalismo é mais forte do que nunca. Porém, a direita alternativa permanece proximamente ligada ao capitalismo, apesar de críticas a várias facetas do capitalismo, tal como a usura, desde uma perspectiva europeia tradicional vindo desde Aristóteles e dos antigos gregos, dos Pais da Igreja, e Tomás de Aquino. De fato, a história do anticapitalismo conservador é muito mais longa e profunda, mesmo nos EUA quando olhamos para figuras como Ezra Pound e Padre Coughlin, do que a história da defesa conservadora do capitalismo. Essa contradição aparente passa desapercebida pela direita alternativa.

Essa falta de vontade de transitar além da perspectiva capitalista americana trouxe algumas consequências geopolíticas para a direita alternativa. Ainda que ela ocasionalmente demonstre uma postura menos belicista que o conservadorismo americano hegemônico, normalmente tendendo a um não-intervencionismo paleoconservador, ela ainda expressa uma certa paranoia da Guerra Fria em relação ao socialismo. Em uma nota positiva, a atitude tóxica em relação a Rússia foi razoavelmente moderada, ainda que por razões do aparente masculinismo de Putin mais do que por uma consideração séria de sua política externa. E ainda assim, essa russofobia não desapareceu. Há muitos no milieu que foram enganados pela propaganda do banderismo em se alinharem com a UE e a OTAN contra a Nova Rússia. Ademais, a atitude da direita alternativa em relação ao socialismo na América do Sul ainda é uma de hostilidade e neocolonialismo. Figuras como Hugo Chávez e Juan Perón são demonizadas, e a ideologia do socialismo, ao invés do capitalismo neocolonial americano, é culpada pelos sofrimentos da América Latina. Eles exaltam aquele lacaio da CIA, Augusto Pinochet, enquanto fantasiam sobre arremessar "comunistas" de helicópteros para salvar o capitalismo. É grosseiramente hipócrita para um movimento que afirma ser nacionalista elogiar um homem que derrubou o governo de seu próprio país com apoio estrangeiro e que então entregou bens públicos para corporações multinacionais sem qualquer lealdade para com qualquer nação.

Ademais, enquanto rejeitam as tentativas mas egrégias de neocolonialismo neoconservador no Oriente Médio, eles em sua maioria subscrevem às teses oferecidas por Samuel Huntington em O Choque de Civilizações, que reduz os problemas no Oriente Médio a um choque de civilizações entre Europa e Islã. Isso ignora completamente os papeis que o colonialismo europeu, e o neocolonialismo sionista e americano posterior, desempenharam em desestabilizar a região. A maioria dos muçulmanos não estão imigrando para a Europa em prol da jihad, mas porque eles foram desenraizados pelo capitalismo, pelo colonialismo e por guerras importadas do Ocidente, e são recebidos como uma fonte de mão-de-obra pelos capitalistas ocidentais. Isso, por sua vez, leva a direita alternativa a abraçar figuras como Geert Wilders ou movimentos como a Liga de Defesa Inglesa, que atacam o Islã sem dizer uma única palavra sobre o sionismo ou o capitalismo. Eles saboreiam perversamente relatos extravagantes de estupros e assassinatos por imigrantes. Eles confundem os sintomas do problema, fundamentalmente a imigração, com suas causas raízes: a interferência americana e sionista no Oriente Médio. Alguns, ainda que certamente não todos, na direita alternativa tem chegado ao ponto de afirmar que Israel é um Estado nacionalista étnico modelo e um bastião da civilização ocidental contra o Islã. Porém, eles nem consideram por um momento o que a civilização ocidental significa hoje. Eles se aliariam a feministas, homossexuais, liberais e sionistas contra o Islã meramente porque o Islã condena esses traços que se permitiu enraizar no Ocidente. Nesse caso, eu recomendaria que eles consultassem o pensador italiano radical Giorgio Freda, que disse aos nacionalistas que quisessem defender a "civilização europeia":

"Temos falado em termos de 'civilização europeia', sem nem mesmo arranhar a superfície dessa expressão e sem verificá-la, indo às profundezas do problema: se existe, em realidade, uma civilização europeia homogênea, e quais são os coeficientes autênticos de seu significado à luz de uma situação histórica global na qual a guerrilha latino-americana adere muito mais proximamente a nossa visão de mundo do que o espanhol vassalo de padres e dos EUA; onde o povo guerreiro do Vietnã do Norte, com um estilo heróico, sóbrio, espartano está muito mais perto de nossa concepção da existência do que o trato digestivo italiano, ou o francês ou alemão do Ocidente; onde o terrorista palestino está muito mais perto de nossos sonhos de vingança do que o inglês judaizado (europeu? eu duvido)".

Dançando ao som dos slogans neoconservadores e sionistas de "defender valores ocidentais", a direita alternativa se alinhou com os elementos mais tóxicos dentro da civilização ocidental, os elementos emblemáticos da própria decadência cultural que eles atacam. É absurdo que a direita alternativa subitamente passe de atacar essas coisas para defendê-las quando são atacados por outra cultura. Ao invés de atacarem as raízes do problema, eles atacam apenas seus sintomas, e preparam o palco para mais caos no Oriente Médio e Europa.

E para coroar isso tudo, todas essas posições da direita alternativa são articuladas das maneiras mais imaturas e cruas imagináveis. O influxo maciço de pessoas de fóruns virtuais, como o /pol/ do 4chan, no milieu da direita alternativa deu uma coloração de "calouro" a seu discurso. Ao invés de bons argumentos, memes e slogans abndam, muitas vezes de péssimo gosto. Eles ridicularizam negros usando os estereótipos mais banais, ao invés de tentarem instilar um senso de nacionalismo negro que ajudaria na revolta nacionalista contra o liberalismo. Eles se referem a políticos que eles consideram insuficientemente conservadores como "cornos" ou "cornoservadores", se referindo de maneira bastante freudiana a esse fenômeno sexual. A terminologia sexual grosseira continua com referências a esquerdistas como "consolos" e afirmando que pessoas que passaram para o lado liberal foram "carimbadas", se referindo à infecção por HIV por via anal. Isso, é claro, tem apelo com crianças rebeldes, e amplia sua base de apoio entre elas, já que ler livros sérios e desenvolver ideias plenamente articuladas tem apelo entre uma porção cada vez menor da população. Porém, nenhum intelectual sério pode entreter uma ideologia baseada em piadas internas subculturais virtuais, sem contar a vasta maioria da população em geral. Como pode um trabalhador desempregado que teve seu ganha-pão destruído pela globalização e pela imigração pensar que a ideologia dessa claque virtual tem algo a lhe oferecer? É risível que a direita alternativa afirme ser a voz do populismo nacionalista. Ao contrário, quando a direita alternativa consegue ser mencionada pela mídia hegemônica, ela é usada como uma vara curta por liberais para atacar as preocupações legítimas de trabalhadores, que obviamente não tem nada a ver com isso, em relação a imigração associando-os com uma subcultura tão quixotesca quanto essa. As preocupações há muito ignoradas dos trabalhadores e patriotas merecem supostos porta-vozes melhores do que capitalistas adolescentes pueris que estão preocupados com que a imigração ameace seu neoliberalismo.

A direita alternativa não conseguiu desenvolver ideias novas e revolucionárias. No pior dos cenários, ela ameaça macular a causa do populismo nacionalista e se tornar um bicho-papão usado por liberais apenas para deslegitimar preocupações com imigração, identidade nacional e globalização. Nós devemos nos perguntar como podemos melhorar a qualidade do discurso. Em um nível bastante básico nos EUA, nós podemos ampliar o conhecimento sobre a verdadeira herança populista nacional, aquela que desafiou tanto o liberalismo social quanto o liberalismo econômico. Nós podemos nos referir aos velhos líderes sindicais que se opunham à imigração tal como Denis Kearney, e o autor socialista clássico americano Jack London. Nós podemos olhar para figuras da década de 30 como Ezra Pound e o Padre Charles Coughlin, que se opunham à usura. Ademais, nós podemos ampliar nossas mentes lendo a obra de figuras nacionalistas anticapitalistas ao longo da história do planeta, que podem ser encontradas entre movimentos como a Revolução Conservadora e a Noda Direita europeia. Também, nós podemos ousar até fazer análises nacionalistas de movimentos tipicamente considerados de esquerda, desenvolvendo sínteses ideológicas e buscando bases comuns, assim ampliando nosso apelo para esquerdistas que similarmente sentem o chamado da identidade nacional.

Finalmente, nós devemos começar a construir movimentos sérios e desenvolver think-tanks que produzam ideias sérias ao invés de memes. Precisamos começar a olhar para fora do sistema e dos confis do conservadorismo simplista americano e da regurgitação de ideias defuntas. Precisamos ver que a restauração da soberania nacional implica a restauração do controle econômico para o povo, não para corporações globais ou grandes empresários que podem voar para algum paraíso fiscal. Precisamos nos tornar autenticamente, intransigentemente revolucionários. Precisamos desenvolver a coragem de atravessar barreiras ideológicas impostas pela classe governante, encontrar a coragem de cruzar o abismo e a vontade de encarar ideias verdadeiramente radicais. Libertar a nação não é uma tarefa fácil. É uma tarefá que demandará imenso sacrifício, uma disciplina espartana, e um desprezo pela política convencional. Certamente, haverá os negadores que estarão contentes em pular na última campanha eleitoral na esperança de poderem resolver todos os nossos problemas com legislação. Haverá as massas de ideólogos perplexos enfeitiçados nas falsas dicotomias do sistema que reagirão com ira incoerente quando fronteiras ideológicas forem apagadas. Ainda assim, nossa grande tarefa está aí, e nós não vamos ser abalados.

Eu gostaria de convidá-los para participarem de uma nova iniciativa: a formação do Instituto para Estudos Nacional-Revolucionários. Por todo o mundo, a ideologia de revolução nacional, onde uma sede por justiça econômica e um senso profundo de identidade nacional se encontram, tem assumido muitas formas, mas essa corrente permanece ignorada no mundo anglófono. É agora, neste momento, quando a sobrevivência de nosso povo está sob risco, que essa luta deve começar. O futuro será nosso, ou não teremos futuro. 

Eric Mader - Gnosticismo: Reconsiderando a Mãe de Todas as Heresias

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por Eric Mader

Tradução por M. Oltramari



Se alguém procura uma rápida definição de gnosticismo antigo, é provável que encontre algo assim:

Gnosticismo:

Um movimento religioso que floresceu no Império Romano entre os Séculos II e VI D.C.

Identificados como hereges tanto pelos Cristãos como pelos Judeus, os gnósticos ensinavam que o mundo não foi criado pelo verdadeiro Deus, mas por um ser menor, deficiente, chamado de O Demiurgo, que rege sob sua criação, o nosso mundo, com a ajuda de poderes administrativos chamados de Arcanos. Enquanto o local do verdadeiro Deus (O Pleroma, ou “Plenitude”) se encontra além dessa criação defeituosa, sendo o objetivo do gnóstico escapar da armadilha que é esse mundo e retornar para aquele.

De acordo com os gnósticos, os seres humanos possuem uma centelha divina não pertencente a essa criação menor, mas que continuaria reencarnando aqui a não ser que fosse redimida através da gnose (o conhecimento libertador acerca das nossas verdadeiras origens). Seres humanos estavam divididos em três tipos: os espirituais (aqueles predestinados à salvação), os psíquicos (aqueles que poderiam alcançar uma forma de salvação através da gnose e várias práticas de purificação) e os materiais (aqueles que por sua natureza estavam permanentemente atados ao domínio material). Portanto, a religião gnóstica era caracterizada por um desprezo radical pelo mundo (entendido como uma prisão) e pelo corpo (a cela individual de cada um). Fontes antigas demonstram que em certos grupos esse desprezo levou a um rigoroso ascetismo, e em outros a uma rigorosa libertinagem (uma vez que as leis morais eram simplesmente parte da armadilha criada pelo Demiurgo, alguns gnósticos ensinavam que os espiritualmente liberados deviam demonstrar sua liberação quebrando tantas leis quanto fosse possível).

Gnósticos cristãos consideraram Jesus como um mensageiro do verdadeiro Deus, enviado de Pleroma para trazer os ensinamentos libertadores da gnose. Eles rejeitaram a doutrina ortodoxa de que Jesus morreu para expiar pelos pecados dos homens. De acordo com os gnósticos, o mal no mundo não resultava do pecado humano, mas da criação defeituosa do Demiurgo, ou seja, o mundo era mal porque seu criador era mal. Enquanto cristãos ortodoxos aceitavam o Antigo Testamento como parte de suas escrituras sagradas, os gnósticos viam no Antigo Testamento uma representação do Demiurgo. Somente Jesus era enviado do “Pai”, isto é, o verdadeiro Deus.

Devido ao seu rigoroso desprezo pelo mundo e sua concomitante rejeição das normas sociais, a maioria dos escolásticos entenderam que o gnosticismo foi uma religião de revolta radical. Os bogomilos na Europa oriental e os cátaros do medievo no sul da França são considerados como encarnações tardias da religião gnóstica. Uma coleção de antigas escrituras gnósticas enterrada foi descoberta perto da cidade egípcia de Nag Hammadi em 1945.

Em poucos parágrafos temos aqui um exemplo de como o gnosticismo é tipicamente definido em aulas universitárias e enciclopédias. É uma apresentação clássica sustentada em estudos modernos do gnosticismo tal como vemos em The Gnostic Religion de Hans Jonas. Pelo hábito da repetição ela se tornou mais ou menos padrão. Mas essa definição é realmente apta para descrever as crenças e práticas dos gnósticos antigos? Quão apropriada ela é em relação ao que encontramos nos textos de Nag Hammadi? Afinal de contas, a maioria dos elementos dessa definição foram construídos antes da descoberta desses escritos. Através dos escritos gnósticos existentes e disponíveis agora, os escolásticos devem ser capazes de chegar a um entendimento mais detalhado do que era possível anteriormente. As leituras que eles realizaram dos textos de Nag Hammadi mudaram o nosso entendimento acerca desse antigo movimento religioso?

Em seu livro Rethinking “Gnosticism”: An Argument for Dismantling a Dubious Category Michael Allen Williams avalia a legitimidade dessas definições usuais e as considera seriamente incompletas. Ler o seu estudo é perceber o quanto essa coisa chamada “gnosticismo” é uma amálgama de caricaturas acadêmicas modernas e aceitação desprovida de senso crítico dos escritos de heresiólogos como Santo Ireneu e Epifânio de Salamina. Talvez essa confiança fosse algo inevitável dada a falta de fontes originais de outrora. Mas agora, com a riqueza dos evangelhos e tratados gnósticos descobertos no Egito as coisas mudaram. O trabalho de Williams se propõe a revelar a dimensão das mudanças necessárias.

A metodologia geral de Williams é simples: toma as atuais apresentações acadêmicas da religião gnóstica e as compara ponto por ponto com o que nós realmente encontramos nos escritos gnósticos. E ainda: toma as apresentações que os heresiólogos antigos fazem dos gnósticos e realiza uma comparação similar. As apresentações que os gnósticos fazem deles mesmos em seus escritos corresponde às doutrinas atribuídas a eles por Ireneu? Eles correspondem ao que nós escutamos da comunidade de acadêmicos modernos? Se a resposta é não, porque?


Se Williams estiver certo, a nossa ideia de gnosticismo como uma religião antiga não estaria de acordo, em aspectos importantes, com a ideia dos próprios gnósticos antigos. A nossa compreensão das doutrinas e comportamentos gnósticos (em relação ao corpo, à sociedade, à ética) frequentemente colocou ênfase nos pontos errados. E nossa apresentação das práticas gnósticas ainda está embasada nos heresiólogos, ainda que suas descrições tenham sido desmentidas pelos escritos de Nag Hammadi.

Em suma, o gnosticismo é normalmente apresentado como uma religião de revolta e negação do mundo: uma religião adotada por estrangeiros em um estado de rebelião contra as normas sociais. Acreditava-se que os gnósticos haviam construído uma barreira entre eles mesmos e o mundo que os cercava revertendo mecanicamente os valores sociais dominantes. Essa noção dos gnósticos empreendendo um tipo de negação sistemática de tudo que a sociedade sustentava como sagrado originou-se principalmente de observações selecionadas a partir das leituras que os gnósticos faziam das escrituras hebraicas (por exemplo, eles frequentemente entendiam a serpente no Jardim do Éden de uma maneira positiva, enquanto Yahweh, entendido como o Demiurgo, era visto negativamente). Porém, como Williams aponta, esses exemplos de interpretações das escrituras gnósticas não indicam necessariamente uma atitude rebelde em relação à sociedade como um todo. Utilizando modelos desenvolvidos em estudos sociológicos de movimentos  religiosos, Williams argumenta que em muitos casos o mais provável era o oposto: os gnósticos estavam interpretando as ideias judaico-cristãs do divino de maneiras mais harmônicas com as sociedades predominantemente pagãs nas quais eles viviam. O argumento de Williams aqui é convincente.  A nossa interpretação do comportamento gnóstico como uma postura de revolta contra a sociedade nos foi empurrada pelos heresiólogos, quem, por motivos óbvios, procuravam retratar os gnósticos como rebeldes contra a ortodoxia. Portanto, é anacrônico afirmar que os gnósticos eram pervertidos sociais.

Williams considera da mesma forma a questão do “determinismo gnóstico”: a afirmação moderna, repetida frequentemente, de que os gnósticos acreditavam que a humanidade estava dividida em tipos diferentes (os espirituais, os psíquicos, os materiais) ou raças diferentes (a raça de Seth, a raça de Cain), e o desfecho doutrinal dessas divisões de que o potencial de cada indivíduo para a salvação já estaria determinado pelo nascimento. Williams demonstra que essa noção moderna do determinismo gnóstico não é sustentada pelos textos originais. Uma leitura cuidadosa dessas fontes demonstra que um indivíduo não “nasce incluído” na raça de Seth: em realidade é um status que se pode alcançar ou receber. A raça de Seth é mais uma comunidade espiritual do que uma “raça” biológica no sentido moderno. O mesmo aplica-se à divisão em três tipos: o status de espiritual de um indivíduo é considerado tendo em vista seu comportamento: é possível perder esse status ao abandonar a verdade, portanto nascer como um espiritual não é garantia de salvação. A afirmação de que os gnósticos eram elitistas no sentido de acreditarem-se predestinados à salvação (salvos em essência) é errônea. Williams demonstra que havia no mínimo tanta flexibilidade nessas noções gnósticas quanto há em doutrinas protestantes recentes acerca do eleito.

Com essas observações eu apenas arranhei a superfície desse estudo extenso e detalhado. Williams oferece uma discussão importante acerca da hermenêutica gnóstica (a sua prática de interpretação bíblica) e reconsidera as noções gnósticas do corpo e como elas estão relacionadas a diferentes doutrinas de salvação. Uma preocupação constante do seu livro -e talvez eu tenha sido irresponsável ignorando-a até agora- é a validade do próprio termo “gnosticismo”. Com base nas inúmeras desvantagens que Williams vê nesse termo -a sua ambiguidade e a bagagem que carrega- ele sugere que os escolásticos refiram-se a “tradições bíblicas demiúrgicas” quando discutem muito do que tipicamente se chama de “gnosticismo”. Ele procura demonstrar que: 1º) os povos antigos que chamamos de “gnósticos” não utilizam esse termo, e 2º) escolásticos modernos tiveram dificuldade para estabelecer um conjunto estável de características para o gnosticismo: isto é, nós ainda não conseguimos definir com clareza o que é o gnosticismo. O argumento que Williams coloca ao final é que esse termo impediu a nossa compreensão dos antigos movimentos religiosos em questão. Ele fez com que gerações de acadêmicos se agarrassem a falsos problemas e construíssem argumentos com base em pressupostos não examinados. Essa é uma acusação muito séria. Se Williams está certo ou não nessas afirmações -algo que não estou em posição de julgar- parece óbvio que seu livro trouxe muitas novidades no campo de estudos “gnósticos”. É evidente que muitas de suas novas perspectivas à respeito dos “gnósticos” se originaram diretamente da tentativa de pensar além (no âmbito acadêmico e heresiológico) do “gnosticismo” enquanto categoria.

No entanto, o livro de Williams não é apenas para escolásticos. Até mesmo um leitor ligeiramente familiar com os escritos de Nag Hammadi pode ganhar muito com a leitura dessa obra. De maneira elucidativa, ele inicia o livro com um capítulo resumindo os mitos ou doutrinas de quatro importantes tradições gnósticas: o mito do Apócrifo de João; a doutrina do professor valentiniano Ptolomeu; o mito ensinado por Justino, o Gnóstico; e os ensinamentos de Marcião. Esses quatro exemplos diferentes são tratados repetidamente em todo o estudo com o objetivo de elucidar vários aspectos. Williams estruturou Rethinking Gnosticism de uma maneira que o permitiu escrever tanto para seus colegas escolásticos como para os leitores em geral. É uma estratégia de sucesso em todos as partes, que faz com que a leitura do livro seja fascinante para qualquer um interessado em “gnosticismo”, nos textos de Nag Hammadi ou na história do Cristianismo.

Jordi de la Fuente - Estado

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por Jordi de la Fuente



Introdução

"Está na natureza do Estado o apresentar-se tanto em relação a si mesmo como frente a seus súditos, como o objeto absoluto. Servir a sua prosperidade, a sua grandeza, a seu poder, essa é a virtude suprema do patriotismo. O Estado não reconhece outra, tudo o que lhe serve é bom, tudo o que é contrário a seus interesses é declarado criminoso; tal é a moral dos Estados". - Mikhail Bakunin

Muito se especula sobre os limites do Estado como instituição cuja função é a organização política da sociedade dentro de um marco legal. Se pensa sobre o marco legal, de sua origem: é obra do povo, de seus representantes? Ou é tudo isso um discurso que mantém atrás do cenário o Estado, o que cria a legalidade, e o que perpetua o estado de coisas atual?

Neste artigo a intenção é a de fazer as vezes de "advogado do diabo" aos olhos do politicamente correto, ou melhor dito, explicar praticamente como se fosse o escritor a própria boca do Estado; explicar a versão do Estado, como conceito puro, acerca das teorias e ideias expostas por vários dos autores de referência sobre a Teoria do Estado. O Estado entendido como se fosse um ente que toma consciência de si mesmo e que pretende sua sobrevivência a todo custo: para ele não há limites; suas armas são a violência que ele faz com que seus súditos acreditem que é legal e lícita, seu exército de funcionários de todo tipo que funcionam trabalhando em conjuntos como se fossem órgãos vivos, e seu próprio cérebro, isto é, algo imaterial, uma consciência intangível de perpetuidade do Estado. Esta consciência não é mais que as centenas de personagens que necessitam de um Estado vivo e que dite um caminho econômico e político a seguir, seja de livre comércio ou de intervencionismo estatal, seja tolerante com as opções políticas em seu interior ou seja totalmente proibitivo neste aspecto. Estes personagens tem seus próprios interesses, à margem inclusive da própria vida pública e da política na sociedade, mas que para o cumprimento deles se servem do Estado e se servem de sua influência sobre os indivíduos.

Não se trata da "palavra" do Estado totalitário, nem de um Estado leviatanesco imaginário: é a teoria do Estado em sua crueza mais extrema, sem concessões ou fissuras. Não se trata de aplaudir nenhuma concepção do Estado, nem nenhuma ideia por muito tolerante ou abominável que seja, simplesmente expôr a ideia que de si mesmo pode ter o Estado, como se fosse algo "vivo". Esta concepção passa inevitavelmente por uma ideia bastante metafísica do que é o Estado, mais além de ideologias, e que nos remete constantemente, como veremos mais adiante, à dicotomia entre o Moderno e o Tradicional. Realmente, o Estado se concebe como um organismo tolerante com seus servos, mas amplamente intolerante com seus inimigos, sejam interiores ou sejam exteriores, com o que toda ideia de legalidade democrática e de liberdade se encontra com os meios necessários para a eliminação do contrário e da repressão, direta ou indireta, para assegurar a esterilização da semente da dissidência.

O artigo se concentra em três aspectos fundamentais para a reflexão sobre a Teoria do Estado de uma forma "clássica" e sua projeção na atualidade: os elementos e legitimação do mesmo; a violência; e o papel do Estado na era da globalização.

O Estado: Elementos, Poder e Legitimação

"O Estado é, pois, a encarnação da liberdade racional, realizando-se e reconhecendo-se de uma forma objetiva... O Estado é a Ideia do Espírito na manifestação externa da vontade humana e sua liberdade". - Georg Wilhelm Friedrich Hegel

A chamada ciência política, que não é tal ciência, e as distintas disciplinas que tratam de estudar a natureza do Estado lhe conferem três elementos sem os quais não se pode conceber nenhuma organização estatal: território, população e governo. Sem embargo, o debate sobre em que consistem especificamente os três elementos é longo e intenso.

Os três elementos se interrelacionam e carecem de significado completo se são separados. Não podemos conceber um Estado sem território, nem sem população, nem sem governo. Mas ainda que pareçam conceitos evidentes, devem ser definidos, desde a ótica estritamente estatal:

Território: espaço geográfico sobre cuja população e terra o Estado exerce seu Poder exclusivo. Não vem definido tanto por sua população como por seu governo. O território pode abarcar amplas zonas geográficas cujos habitantes são muito diversos e muito distintos entre si, mas sobre os quais se exerce um Poder direto. Sua soberania é "sagrada" (1), convertendo a violação de suas fronteiras ou a segregação do território em uma afronta agressiva.

População: conjunto de indivíduos que vivem sob o Poder de um Estado. É o elemento mais dependente do resto por seu caráter material e moral, não é uma mera parcela, não é território, são vidas humanas, e por sua vulnerabilidade, não exerce o poder como o governo. Segundo o marco legal, à população pertence todo cidadão em situação regular no país.

Governo: aparato de Poder, exercido mediante o instrumento da Administração Pública, um tecido de instituições e de pessoal à disposição do governo para implementar políticas.

Nas três definições básicas aparece a palavra "Poder", com maiúscula. Seu significado é o que segue: o Poder, em maiúscula, é o direito legal ao uso da violência física e não-física perante todo indivíduo ou "adversário" do Estado. É o Estado, entendido como Governo e Administração, o único titular do Poder, indelegável por definição a outros sujeitos, tais como empresas com afã de lucro ou associações de indivíduos, não assim a outras forma de Governo superiores, tal como uma federação ou um Estado novo centralizado.

Qual é a justificativa desses três elementos, qual é sua legitimidade intrínseca? Toda e nenhuma. Esta resposta espúria tem sua lógica: os três elementos são estritamente necessários, mas sua legitimação é mais discutível. Existem duas grandes óticas que se enfrentaram de forma especialmente intensa desde as Revoluções Burguesas do século XVIII: a democrática e a aristocrática.

A democrática trata de justificar toda legitimação desde a vontade popular, a vontade dos indivíduos. Não está claramente delimitado o que se entende por maioria, a necessária para aprovar uma decisão democraticamente, porque pode ser uma maioria muito reduzida ou uma muito ampla; seja como for, sempre se exclui uma parte dos votantes (e tendo em conta que foram todos capazes e com direito a votar). Desde essa ótica, toda decisão aprovada pela maioria (distanciando-nos do debate de "quem"é o que propõe tal decisão, que não costuma ser o conjunto, mas um indivíduo) é sagrada. A contradição se estabelece quando a decisão democrática logo não é do agrado de uns quantos ou fruto de arrependimento e queixa, com o que se estabelece um conflito eterno em toda decisão, contentes contra detratores.

O Governo dos "mais".

A aristocrática defende a legitimação natural, ou seja, a baseada na hierarquia. Esta hierarquia pode derivar da Natureza, o que poderíamos chamar de "inspiração animalística", ou bem da Virtude, hierarquia segundo capacidade de direção, organização e desempenho de tarefas concretas. As decisões, pois, são tomadas por uma elite pretensamente "virtuosa" a qual é obedecida sem mais precisamente por esta distinção entre povo não-virtuoso e elite virtuosa. A aristocracia pode ouvir a demanda popular mediante mecanismos mais ou menos representativos, parlamentos limitados, câmaras corporativas, por exemplo, ainda que a decisão final recaia nela própria; detém um Poder total com a virtude inclusive de delegá-lo ao povo se o deseja de forma temporária (caso de um referendo livre em uma ditadura). O conflito aparece entre elites rivais, ou bem devido à perversão progressiva da aristocracia e da classe dirigente, exemplificada em casos de corrupção econômica, arbitrariedade, arrivismo, afã de protagonismo...e outros vícios humanos. Fichte a defendia expressando que "a nobreza não tem razão de ser se não é capaz de colocar chefes à disposição do povo".

O Governo dos "melhores".

Visto já o que é o Poder segundo o Estado e a legitimidade, se pode entrar na questão dos três elementos de novo, nos aprofundando.

A Revolução Francesa trouxe consigo o fortalecimento de uma ideia: a forja do Estado-Nação como via única sustentável para o desenvolvimento da nova política moderna e progressista. Nesse contexto, a palavra "nação" não era mais que o conjunto dos indivíduos que povoavam a França, postos sob o manto legal de uma Constituição.

Mas essencialmente o conceito de "nação"é novo, moderno, posterior ao Estado. O Estado não entende de nações, nem de construções modernas na medida em que ele é anterior como ideia e como ente. A definição do âmbito político democrático ocidental atual de "nação"é a de um conjunto de indivíduos com características culturais comuns que reivindicam sua condição como comunidade em um território concreto no qual sua comunidade vive e se desenvolve. Analisando os três elementos componentes do Estado, Território, População e Governo, com o conceito nacional nos encontramos com diversos pontos em relação à geopolítica, à plurinacionalidade e o governo nela.

O Território não o define tanto o grosso populacional ou a gente que se sente identificada com uma comunidade representada organizadamente como o próprio Estado, que traça as fronteiras que delimitam seu espaço de ação. As fronteiras são o fruto de séculos de disputas com outros Estados (que não tem necessariamente que ser vizinhos, como seria o caso dos EUA na Segunda Guerra Mundial com a Alemanha). Sua extensão dependerá do acordo violento ou não com os demais Estados, mas a vontade geral é a de se assegurar um espaço mínimo em que desenvolver sua atividade normal. Nesse aspecto de podem incluir juízos de valor, como que este espaço mínimo obedece ao espaço em que a População do Estado reside, ou bem o espaço que "necessita para sua População", definição do Lebensraum, espaço vital, próprio da política germânica do início do século e conceito que hoje segue tendo um valor muito pouco considerado pelas ciências sociais (e em especial pela "ciência" política).

O Estado, mais que buscar um espaço para si mesmo, busca um espaço de influência para si; entra em jogo a geopolítica. O Território pode se reconfigurar quantas vezes seja necessário para poder chegar a uma meta ideal política. Essa reconfiguração tende à expansão territorial de influência legal e não legal do Estado, entendendo por legal a ampliação física do Estado, por necessidade depende de que meta se fixe, e por não legal a influência política, econômica, militar, religiosa ou de qualquer índole sobre outro território. Neste sentido, o Estado passa de ser uma mera rede de instituições para passar a ser um Todo em busca de algo, e para isso busca todos os meios de que dispõe e dos que pode dispôr para levá-lo a cabo. O caso do messianismo norte-americano é muito claro: o ideal de "democracia para todo o Planeta" consiste em exportar um sistema de valores messiânico, protestante-calvinista, talassocrático (um "reino do mar" baseado no comércio e no individualismo como as duas facetas elevadoras da pessoa), profundamente moderno, progressista e antitradicional. Para isso se serve de uma economia de influência que se estende desde as finanças até as empresas multinacionais, abarcando o quanto é possível abarcar em um espaço ampliado a escala planetária. A área de influência é Ocidente, ainda que hoje já haja sido substituído pelo Planeta inteiro. Esta ideia de "democracia para todo o Planeta" tem uma mensagem intrínseca de liderança e de preparação do globo para o "paraíso na Terra" próprio da tradição judaico-cristã, mas reafirmado de forma laica nos valores do progresso indefinido e bem-estar material do Iluminismo.

Em relação a tudo isso os EUA seguiam muito claramente a ideia de Grossraum schmittiano, encarnado como o autor dizia na Doutrina Monroe: América para os americanos, ou o que vem a dizer de forma criptografada: América para os estadounidenses. O inimigo, o oponente, foram aqueles que contrapuseram à ideia da Modernidade ilustrada a da Tradição aristocrática pré-revolucionária: a Europa dos fascismos, a URSS mais stalinista e ortodoxa, os Islamismos Revolucionários, a China de Mao, o Japão Imperial, etc. O caso fascista é claro por sua vontade antimoderna, incompleta, por circunstâncias históricas talvez; a do islamismo por seu caráter antidemocrático e profundamente religioso, onde religião, cultura e tradição são um só; o caso dos comunismos totalitários foi o de uma nova elite hierárquica e totalmente organizada, uma nova aristocracia profundamente antidemocrática; o mesmo vale dizer para o Japão nostálgico que quis combinar como o fascismo tecnologia e Tradição. Como vimos, a contraposição mais básica é a "democracia". Obviamente, nem os EUA nem nenhum país é uma democracia perfeita, nem pretende sê-lo: o que pretendo explicar é que os EUA se abandeiraram com a ideia "democrática" ou de "Progresso", enquanto que os opositores abandeiraram a de "aristocracia" ou "Tradição". A dicotomia última é o "mais" ou o "melhor".

Extrapolando, é o Estado o que busca sua sobrevivência combinando seu desenvolvimento interior com a harmonia exterior, uma PAX que o leve à estabilidade dentro e fora de suas fronteiras.

Quanto à População, já vimos que não é o condicionante máximo do Território. Pode ser um motivo, mas não sempre. E a População se identifica com a Nação: existe hoje a igualdade Nação = Povo. Justamente na Europa uma consigna atual é a de "a Europa dos Povos", contraposta à dos Estados-Nações vigentes, de maneira que se propõe um novo modelo internacional baseado no princípio de autodeterminação dos povos, primeiro leninista, logo wilsoniano. Mas a realidade para o Estado é outra, porque desde o controle político da informação, a modo de filtro ou a modo de "doutrinação", se podem "criar" nações segundo seja conveniente. Este é o caso de muitos dos Estados-Nações atuais: da existência de várias nações (entendidas como povos), um poder político maior se apodera do controle dos poderes políticos menores encarnados nestes povos e erige um Poder único, o qual segundo convenha pode estabelecer a existência de um só demos, denominar ao conjunto como Nação e estabelecer um discurso oficial ao redor disso, um novo patriotismo. Portanto, a População para o Estado não tem por que ser homogênea em seu caráter identitário na maioria de seus níveis (econômico, cultural, social, étnico, etc), nem que tenha essa vontade inicial de sê-lo. Temos exemplos claros: o caso da Rússia, com população da mais variada origem asiática em seu interior; os EUA, melting pot por excelência; a própria França e seus cidadãos de origem colonial, assim como idêntico caso do Reino Unido, somados a identidades de origem celta, e assim uma longa lista. Poucas são as vozes em seu seio que proclmam a divisão "por identidades" nesses Estados, porque foi desde a política que se criaram novas nações. É, portanto, e para efeitos práticos, a capacidade dissuasória do Poder político a que determinará a coesão social ao redor de uma bandeira ou de um lema que determinará a existência de uma Nação. As teorias sobre o que é uma Nação seguirão de pé, mas a prática é sempre distinta. Poucos são os governos que aplicaram uma teoria da Nação ao pé da letra, o caso do nacional-socialismo no Terceiro Reich poderia se colocar como exemplo, e tendo em contra que muito provavelmente seja uma teoria da Nação exclusiva ou muito pessoal, característica do lugar, da Weltanschauung ou do folclore o exemplo anterior segue sendo o mais próximo e claro.

É assim como é perfeitamente possível estruturar um Estado plurinacional, democrático ou não. Se pode criar uma nova nação aglutinante, com a qual "desaparecem" as nações integrantes, a partir de vias democráticas ou não. Como disse Sieyés, "a França não há de ser uma nação-montagem de pequenas nações que se governam separadamente como democracias. Não é uma coleção de Estados. É um todo único composto de partes integrantes, partes que não podem ter uma existência própria em separado, porque não são todos, mas partes que formam um todo". Outra solução é a harmonização de duas realidades distintas, como é o caso belga: os antes independentistas flamencos, como é o caso dos identitários flamencos, cessam em seu discurso soberanista e se centram no diferencialismo com os valores e um europeísmo superador de fronteiras. Por outro lado neste mesmo Estado, a extrema-direita, que vê fugirem de suas bases os militantes identitários, segue com um discurso xenófobo e ocidentalista, mas vai em retrocesso em favor do "sangue novo" identitário, que não separatista e seguidor do modelo clássico e burguês da Revolução Francesa que muitos movimentos ditos identitários não conseguem retirar de cima de si em prol da busca erroneamente direcionada do mais "contracultural" ou pretensamente alternativo. A última solução visível até o momento é um sistema muito intervencionista na questão plurinacional, no qual a educação, a política e a própria vida diária estejam impregnadas de uma mensagem de solidarismo entre as nações que compõem um Estado, como foi o caso da antiga Iugoslávia, com mais ou menos êxito (pelo menos antes da morte de Tito e do impulso neonacionalista dos federados). Esta solução não é demasiado acessível em princípio para um Estado de Direito democrático ou que assim pretende sê-lo, mas sim com um governo autoritário ou totalitário. E é que, nas palavras do economista e membro do Clube de Roma Bertrand de Jouvenel, "não se pode passar da pequena sociedade à grande pelo mesmo processo. É necessário para isso um fator de coagulação que, na maioria dos casos, não é o instinto de associação, mas o instinto de dominação. Todo grande conjunto deve sua existência ao instinto de dominação". Uma resposta talvez transversal para tudo isso é a ideia romana de Imperium, na qual a existência de um centro político forte não pressupõe a extinção de outros entes políticos periféricos integrados sob uma unidade metapolítica (na medida em que Roma tinha uma "missão" para com o Mundo), comercial e militar (ambas puramente complementares da primeira). Não representou a imposição a todo território da forma de ser de Roma (talvez o caso mais claro de permanência da identidade regional era o dos povos semitas e circundantes sob controle romano), mas sim de compartilhar uma meta histórica em que Roma se via como preservadora. Ao fim e ao cabo, Vladimir Illich Ulyanov "Lênin" dá uma ferramenta quando diz "Fazer da causa do povo a causa da Nação, e da causa da Nação a causa do povo", que podemos parafrasear em "fazer da causa da População a causa do Estado, e da causa do Estado a causa da População", até chegar a Benito Mussolini quando diz "O povo é o corpo do Estado e o Estado é o espírito do povo. Na doutrina fascista, o povo é o Estado e o Estado é o povo".

Por último, o Governo é um elemento que pode tornar-se de discórdia para o Estado. É um corpo de políticos com intenções que podem conflitar com as tarefas administrativas normais, porque ainda que a maior parte das vezes os que ascendam aos palácios ministeriais pululam um espectro político parecido e consonante com o Sistema político liberal em que se desenvolve o Ocidente, pode dar-se o caso da chegada de políticos idealistas ou mesmo rupturistas. A tarefa do Estado é manter o estado de coisas imperante e uma ordem na sociedade sem desmedida aparente. Este conflito se resolverá ou com a vitória total de uma das duas partes, subjugando as obrigações ou desejos da outra parte, ou bem chegando a um consenso: que a mudança estrutural seja paulatina após uma negociação. De todo jeito, dificilmente o Estado estará disposto a mudar sua forma de ser pela influência dos recém-chegados, ainda que no caso de contar com suficientes partidaristas estrategicamente posicionados na rede administrativa os políticos podem moldar com maior margem a seu gosto as estruturas, caso ocorrido em todo governo rupturista, às vezes revolucionário, às vezes reacionário, mas em essência poderoso e ansioso por levar um projeto novo, ainda que tenda a posturas claramente antidemocráticas.

O Governo não é necessariamente o da Nação, porque pode ser o das nações, fundidas em uma a propósito, acidentalmente ou diferenciadas em prol de um objetivo macropolítico único.

O Estado, pois, apresenta múltiplos paradoxos, mas ineludivelmente ostenta uma força superior à mercê de sua classe dirigente do momento. Sejam quais forem as dúvidas e esforços de justificação de tal Poder, o certo é que não serviram de muito, porque esta situação de subordinação a um Poder se perpetua desde os anais da História. O Estado entende que ele próprio é um fato natural, inevitável, que o "estado de natureza" hobbesiano ou rousseauniano não existe como tal, porque sempre existiu "alguém por cima de outro". Ainda que também, à margem da hierarquia, pode se justificar como dizia José Ortega y Gasset: "O Estado começa quando os grupos separados por seu nascimento se veem obrigados a viver em comunidade. Esta obrigação não é precisamente violência: pressupõe um projeto que incita à colaboração, uma tarefa comum proposta a grupos dispersos. Antes de tudo o Estado é o projeto de uma ação e um programa de colaboração. Se faz uma chamada às pessoas para que façam algo juntos. O Estado não é consanguiniedade, nem unidade linguística, nem unidade territorial, nem continuidade de hábitos". O Estado nasce irremediavelmente, entendendo o Estado como comunidade de indivíduos organizados. O Estado é, a partir daqui, o que ele quiser ser, seduzindo ou doutrinando seus membros, para o contrário do que diz Ortega: consanguiniedade, unidade linguística ou hábitos definidos. O Estado, pois, nasce como agregado social e possivelmente seguindo a tônica que Carl Schmitt identifica para blocos geopolíticos ou grandes nações segundo sua teoria do Grossraum: o Estado segundo esta parafraseologia surgiria da própria existência de outro Estado oponente. O Estado nasce com uma ideia, a que encarna a comunidade que o compõe, que se contrapõe com a ideia do Estado-oponente. Extrapolando casos, esta visão é ainda mais clara no caso dos Estados formados como cisão de outros: o incipiente encontra em seu antigo "abrigo" um claro oponente. Sem embargo, e frente a tudo isso, segue sendo válido para o Estado o pensamento da formação natural não necessariamente por contrariedade a outra realidade já dada.

A Violência e o Estado


"A liberdade está na potência" - Thomas Hobbes


"...faça, pois, o príncipe o necessário para vencer e manter o estado, e os meios que utilize sempre serão considerados honrados e serão louvados por todos..." - Nicolau Maquiavel

É matéria e discussão desde que se questionou o Poder aquela potestade exclusiva estatal da violência legítima. Por violência legítima entendemos aquela que se realiza dentro das margens legais por instituições públicas e cuja responsabilidade assumem elas próprias e o Estado. Todo ato violento que seja exterior a estes marcos legais, e efetuado por pessoal alheio ao poder público, é motivo de penalização. E se entende que esta violência ilegal pode ir encaminhada ao questionamento, quando não à aniquilação, do sistema político e da ordem social imperante do momento. Se isto é assim, toda ameaça de ruptura das estruturas e movimentos que efetuam Governo e Estado deve ser destruída. As teorias políticas democráticas defendem a eliminação de tais ameaças a partir da legalidade e do respeito aos Direitos Humanos, ainda que seja sabido e comprovado que não é tão simples o respeito a tudo isso, nem tampouco existe este desejo realmente desde a definição do Estado; é este mesmo o que se perpetua e sobrevive graças a sua atividade e a tornar impossível a atividade de quantos pretendam perturbar a ordem. Segundo Karl Marx, o Estado é uma instituição violenta a serviço da classe dominante, com o que a violência é própria de tal classe; não se cumpre a previsão de Marx no sentido de que a violência é usada por todo indivíduo diante do perigo de não ver satisfeitas suas necessidades, e em segundo plano seus interesses. Ainda assim, mais adiante encontramos testemunhos que se guiam sob tais parâmetros, como Josef "Stalin": "O Estado é uma máquina posta nas mãos da classe dominante para esmagar a resistência de seus inimigos de classe. Neste sentido, a ditadura do proletariado realmente não se distingue em nada da ditadura de qualquer outra classe, pois o Estado proletário é uma máquina para esmagar a burguesia".

Desde uma ótia plenamente estatista e metafísica, a violência exercida pelo Poder nunca será "criminosa" porque busca a perpetuação deste Poder e do estado de coisas imperante, sem atender a interesses particulares nem benefícios; se torna "criminoso" no momento em que o Poder está manipulado por interesses e particularidades alheias ao fato de governar de uma sociedade e da manutenção de uma ordem social.

Em relação a tudo isso, Hannah Arendt em seu texto "Sobre a Violência", explica o que entende por tal e como se organiza. A violência (2) seria a técnica principal da Dominação, a qual é nada mais nada menos que o Governo. O quadro seguinte ilustra os âmbitos que Arend interrelacionava, ainda que permaneçam separados (3):



DominaçãoAutoridadePoder
Ordenar/ObedecerPropôr/SeguirResultado de atuação coletiva
Assimetria
Ordenante/Obedecedor
Governane/Governado
Assimetria
Mestre/Aluno
Simeria popular
ViolênciaSaber fazerSuporte, adesão
Técnica da Dominação: a violênciaTécnica da Autoridade: o conhecimento para atuarTécnica do Poder: o suporte popular
GOVERNOCIÊNCIAPOLÍTICA


A violência para Arendt é simplesmente uma manifestação do Governo, um elemento formador do Estado: assim como para Marx, a violência se manifesa em virtude de quem detém o governo do momento, que segundo o filósofo, é sempre a mesma classe social. Observamos como Arendt realiza dicotomias quase gnósticas que só existem no âmbito da Dominação e da Autoridade, quer dizer, do relacionado ao governo e ao conhecimento científico e social, à margem da base da sociedade, ou seja, de indivíduos e coletivos populares. Considera a autora que o Poder não é detido finalmente por nenhum grupo que detenha o monopólio da violência, nem ampouco por um grupo que tem a informação e o "saber", mas recai no povo, na População como elemento formal do Estado. Seu suporte é crucial para que o edifício governamental e científico se mantenha, evitando despotismos. A Autoridade pode se autolegitimar pelo fato mesmo de concenrar em si o conhecimento, o científico, o conceitual a partir do teórico e do empírico. A Dominação, diferentemente da Autoridade, deve estar legitimada em todo caso pelo Poder, isto é, a População legitimando sempre ao Governo. No momeno em que esta relação entra em crise, o Governo deixa de estar legitimado e o Poder busca novas vias de sentir a justiça e a ordem por e para o povo.

Estas relações não são entendidas assim pelo Estado. Mais além de ideias e de conceitos, o Estado entende basicamente, como produto da História e da Natureza humana, que o Poder fica concentrado não na População, mas em uma Elite que surge dela. Esta Elite cria a Autoridade, porque ela, ao ser a "iluminada" ou a "virtuosa"é a que detém o "saber fazer" e as ferramentas para o Governo, quer dizer, que ela ascende e alcança a Dominação para os fins que creia necessários, supondo, desde a perspectiva do Poder puro, a realização de uma ordem social para a População, e para alcançá-los, pode usar a violência. A violência fica legitimada então porque é exercida pela Elite governante, surgida entre a População que viu representada nela sua esperança ou interesse, que possui portanto a Autoridade como conhecimento, porque sem ele não pode governar, e que para exercer o Poder se necessita da violência, consentida já pela População. O Poder não reside em uma massa informe de comunidades (na forma do pensar continental) ou de indivíduos (na forma de pensar anglo-saxã), mas na Elite seleta. E se esta minoria se corrompe, ou não possui realmente o saber e assim a Autoridade, ou não é nem tão só uma verdadeira Elite entendida como uma Aristocracia, virtuosos do governar, será relegada por uma nova Elite à espera, tal  e como as teorias de Vilfredo Pareto da circulação das elites indicam, sendo a mudança cíclica, e não linear, tal como a História pode explicar-se de forma linear-progressista ou circular-tradicional. Portanto, o quadro seria assim modificado:


DominaçãoAutoridadePoder
Ordenar/ObedecerPropôr/SeguirSurgimento de uma Elite por cima de outras
Assimetria
Ordenante/Obedecedor
Governane/Governado
Assimetria
Mestre/Aluno
Assimetria
Aristoi/Plebe
Elite/Massa
ViolênciaSaber fazerLuta pelo Poder e ascensão
Técnica da Dominação: a violênciaTécnica da Autoridade: o conhecimento para atuarTécnica do Poder: a própria natureza da Elite, a "superioridade"
GOVERNOCIÊNCIAPOLÍTICA


A Elite uma vez ascendida pode impregnar, mediante a violência, à massa com seus valores e assim evitar sua substituição por outra Elite. O jogo da mudança reside na luta entre distintas elites, com visões às vezes contrapostas de como governar, e algumas com interesses particulares e materiais à margem e substituindo à vontade de governo.

Existem para Arendt uma vontade de poder e uma vontade de submissão interligadas (4). Esta relação é justamente a que justifica toda existência de diferenças para além de diferenças econômicas: as aptidões, capacidades de liderança e as "castas" familiares que transportam supostamente certos valores e características se transformam assim em elites. Estes são os homens "líderes", protetores e organizadores, em contraposição aos homens "servos", protegidos e incapazes de se organizarem por si mesmos de forma óptima. Quando a mesma autoria fala que as cidades-Estado gregas e na política romana clássica não se baseavam na ideia de submissão, de acaamento de uma realidade mandato-obediência, se encaminha equivocadamente em dar razão ao Iluminismo do século XVIII, que não se refletia nesa relação social de poder. Os ilustrados, pensando no progresso infinito, acrediavam que a soberania popular comportaria à extinção da exploração "do homem pelo homem" e com isso se chegaria a uma sociedade justa, o "Paraíso na Terra" messiânico e materialista. Nada mais longe que isso, as ideias clássicas de relações sociais de poder não acreditavam neste paraíso nem em nada parecido, na medida em que concebiam a vida como algo cíclico, derivado dos próprios credos pagãos da época, relacionados com o advento de uma nova era após a então presente, após um cataclismo, como o Ragnarök germânico ou o Kali Yuga hindu similares ao Apocalipse judaico-cristão, e que após a crise vinha a revolução, entendida como "re-evolução", significado etimológico real da expressão, quer dizer, voltar a fazer a evolução, ao contrário da tradição judaico-cristã do Apocalipse. Estas ideias clássicas eram anti-feudais, no sentido de carecer da perversão justificane da religiosidade, de carecer do conceito de "senhor-servos" territorial e independente de uma Comunidade, da vontade de construir um Todo sob um propósito ideal. Ademais disso, a Aristocracia representava o Poder baseado em leis imateriais, atemporais, as que a Tradição em letra maiúscula se refere em contraposição às criadas pela Modernidade progressista de forma metafísica, a qual ficava sujeita a elas e criava novas dentro dessas margens para a gestão diária da vida, ficando controlada tal elite e organizando o povo; por outro lado, a Plebe representava a Base que aceitava as leis imateriais como o fazia a Aristocracia porque lhes acarretava benefícios (como o não se preocupar com questões complexas de organização social ou de procurar alimento para a Comunidade). Porque segundo Edmund Burke "para permitir aos homens atuar com o valor e o caráter de um povo, devemos supôr que se encontram neste Estado de disciplina social no qual os mais sábios, mais espertos e mais afortunados guiam, e ao guiar instruem e protegem aos mais fracos, os mais ignorantes e os menos favorecidos pelos bens da sorte".

É dessa forma que nasce o Estado, e que dentro de si mesmo descansa intrinsecamente esta ideia de superposição de uns sobre outros, dos capacitados sobre os organizados. Finalmente, como escreveu o filósofo prussiano Treitschke, "A grandeza do Estado radica precisamente em seu poder de unir o passado com o presente e o futuro, e, portanto, nenhum indivíduo tem direito a considerar o Estado como servo de seus próprios objetivos, estando ao invés obrigado, por dever moral e necessidade física, a se subordinar a ele, enquano que o Estado está submetido à obrigação de se ocupar da vida de seus cidadãos, estendendo a eles sua ajuda e sua proteção".

A conclusão a que devemos chegar aqui é que o Estado como ideia pura se desliga de quem ganhe em simples eleições, por exemplo, sempre que seja ele o que siga regendo o sistema estrutural econômico e social. É por isso que quando o Estado vê em perigo essa supremacia reage para manter sua posição.

Globalização e Estado

"Mas a realidade histórica não conhece ideais, mas fatos. Não há verdades: há realidades. Não há razões, nem de justiça, nem de conciliação, nem de fim: só há fatos. O que não o compreenda que escreva livros sobre política, mas que renuncie a fazê-la". - Oswald Spengler

Antes de tudo, é imperativo definir o que se entende por um conceito tão ultimamente utilizado, mas tão pouco compreendido, e desde óticas distintas; ademais, faz fala conhecer o progresso dessa Globalização para entender o que pode "temer" dela o Estado.

Podemos encontrar duas definições contrapostas:

Globalização: interdependência econômica crescente do conjunto dos países do mundo, provocada pelo aumento do volume e pela variedade das transações transfronteiriças de bens e serviços, assim como pelos fluxos internacionais de capitais, simultaneamente com a difusão acelerada e generalizada da tecnologia.

Globalização: método de que se serve o capitalismo imperialista para subjugar povos e nações de todo o mundo, homogeneizar a cultura, a tradição, a vida e a sociedade, assim como a economia e o trabalho.

Lendo cada interpretação, se pode chegar a deduzir a fonte de cada uma: a primeira pertence ao FMI (Fundo Monetário Internacional), e a segunda poderia ser a visão de qualquer pessoa com ideias contrárias à globalização. Em termos mais neutros e objetivos, a Globalização se define como a revolução da comunicação entre seres humanos, que os tornou mais interdependentes entre si; um processo de natureza econômica, política e cultural pelo qual as políticas nacionais tem cada vez menos importância e as políticas internacionais, aquelas que se decidem em centros mais distantes da vida quotidiana dos cidadãos, cada vez mais.

A Globalização pode ser interpretada como uma fase a mais do capitalismo como sistema econômico imperante, um "imperialismo econômico" que a partir do domínio desse fator pode estender sua influência em todos os outros, desde pautas de conduta até identidades culturais e religiosas, e que esta fase vem em marcha ou desde o triunfo das Revoluções Americana e Francesa, ou desde a incipiente industrialização dos países chamados ocidenais.

Segundo outras fontes mais economicistas, podemos afirmar que existiram duas ondas de globalização, separadas pelas guerras mundiais: a primeira se iniciou na década dos anos 70 do século XIX (os anos da insurreição revolucionária da Comuna de Paris em 1870-1871) e se prolongou até 1914 ao começar a Primeira Guerra Mundial. Nessa etapa, o Norte geopolítico do mundo se industrializou e o contrário ocorreu no Sul, o que provocou uma terrível divergência da renda e da riqueza entre as zonas do mundo.

A segunda onda de globalização começou nos anos 60 do século XX e ainda continua hoje. Não se desenvolveu uma globalização linear nessas quatro décadas, no sentido que evolui marcando expansões e contrações continuamente; se reduzia o ímpeto planetário nas dificuldades (como sucedeu nas crises do petróleo dos anos 1973 e 1979) e se acelerava na parte alta do ciclo econômico. Se produz outra vez um crescimento da desigualdade entre distintas zonas do planeta e, como novidade, dentro de cada sociedade: o sul do Norte e o norte do Sul.

Dentro dessa segunda etapa, podemos distinguir uma subetapa que estamos vivendo atualmente, na qual a globalização acelera uma de suas principais tendências: a financeira. Se deve à revolução conservadora dos governos dos EUA e Reino Unido de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, respectivamente.

* Liberdade absoluta dos movimentos de capitais;

* Liberdade relativa dos movimentos de mercadorias e serviços, com as limitações que estabelecem os países ricos para que não entrem neles, sem alfândegas e barreiras, os produtos competitivos das zonas pobres do planeta;

* Limitações crescentes ao livre movimento de pessoas, que se multiplicam com as migrações massivas do Terceiro e Segundo ao Primeiro Mundo.

Justamente, como antes se citou, esta Globalização veio marcada por fases de expansão e contração, enquanto a economia, como aparente ou talvez real motor dela, foi evoluindo segundo os ciclos do capitalismo. Por outro lado, é possível comparar estas fases de Globalização com as teorias de Samuel Huntington acerca das "ondas de democratização", entendidas como "um conjunto de transições de um regime não democrático para outro democrático, que ocorrem em determinado período de tempo e que superam significativamente às transições em direção oposta durante este período. Uma onda também implica habitualmente a liberalização ou democratização parcial em sistemas que não se convertem por completo em democráticos".

Para o autor houve três ondas de democratização, seguidas de uma "contra-onda": subida após a Primeira Guerra Mundial, queda durante o período entre-guerras, subida após a Segunda Guerra Mundial e queda após a crise energética de 1973, e uma subida posterior na qual hoje seguimos "embarcados" e em relação a qual ainda não se produziu uma recessão, talvez o autor não haja levado em conta a tonalidade autoritária de certas democracias como Venezuela ou Israel e o cariz que estão tomando descaradamente antidemocrático outras, como a Federação Russa ou a Mongólia.

Ainda que o paralelismo comparativo não seja perfeito, se percebem certas coincidências com a aparição de regimes democráticos, tendentes a uma economia mais liberal e de mercado, com a expansão da Globalização. Justamente o Estado, buscando sua maior realização como potência com o desenvolvimento rápido da economia mediante a técnica capitalista, foi engendrando o suposto pior inimigo de toda sua existência.

Atualmente se discute que o papel do Estado, e mais em concreto o do Estado-Nação, está em declive. As razões para corroborar esta afirmação residem na natureza da Globalização: a transfroneirização, o cosmopolitismo universal e o governo supraestatal, quer dizer, a negação dos três elementos puros do Estado, Território, População e Governo. Neste sentido, cabe analisar os novos alter-elementos gerados:

Transfronteirização: a Globalização se caracteriza por uma relação física tão conhecida como a da velocidade igual a espaço sobre tempo (V = E/T). Significa que a um maior espaço que abarca a Globalização como fenômeno econômico, contra mais se expande o mercado mundial capitalista rumo a novos Estados e regiões, e a um menor tempo tudo isso facilitado pelo avanço impressionante das tecnologias e das telecomunicações, a velocidade aumenta de uma forma espetacular. Dessa forma afirmamos que a Globalização é cada vez mais célere, e que seu espaço é maior ante a eliminação de barreiras comerciais, a internacionalização dos mercados das finanças, o florescimento de grandes empresas multinacionais "apátridas" cuja sede social se encontra no Estado onde mais se vejam favorecidos segundo taxas e juros. Podemos afirmar que as fronteiras se reduzem ao estritamente político, e que se chocam com o discurso humanista e cosmopolita seguinte.

Cosmopolitismo universal: o que antes caracterizava ao Estado era o poder aglutinar em seu interior a um conjunto de comunidades e indivíduos de origem idêntica ou similar, quando não distinto, mas que o Estado mesmo se encarregou de "irmanar" de maneira que a identificação de seus possíveis distintos grupos sociais de identidades etnoculturais se identifiquem com este mesmo projeto político único. 

Governo supraestatal: aqui o Estado joga sua última carta política exclusivamente, a de manter sua soberania em certos âmbitos que definem sua independência e a salvaguarda dessa (o exemplo mais claro: a defesa). Já que a economia está transfronteirizada e as empresas nacionais tem tudo a perder com empresas mais competitivas já "apátridas", já que a População está em uma fase de "assimilação" com novos habitantes de origens diversas, o Estado tenta por todos os meios manter uma posição de força como ator internacional com voz e voto. O exemplo mais claro é a lentidão no avanço do Governo "mundial" das Nações Unidas, onde os Estados resistem em ceder mais competências para que possam seguir mantendo o papel de ator internacional e assim poder ser sujeito de negociação no âmbito que seja, sem necessidade de consultar nem "passar o filtro" de nenhuma organização internacional. Caso distinto neste último aspecto é o da União Europeia, onde o nível de integração estatal é muito elevado, mas que segue sendo insuficiente para se poder falar de um único ator internacional.

Este é o truque desesperado de que o Estado lança mão para manter o Poder, não já em seu interior, que o segue detendo, mas em relação aos demais Estados.

Segundo alguns autores, esta vontade de manutenção de soberanias fundamentais vem a concluir que a Globalização não faz mais que reforçar o papel dos Estados, mas observando os outros dois pontos anteriores, podemos constatar que é ao contrário, que este aparente "reforço"é só uma reação de sobrevivência do Poder para não ser absorvido por um maior e mais amorfo. Por isso, todo tratado, lei ou acordo internacional que não haja sido realizado por uma organização internacional, mas por Estados independentemente, tem todos os pontos para ser um texto de reforço individual do papel do Estado na esfera da política, da economia e do Poder.

Existem a partir daqui duas visões enfrentadas de como o Estado pode sobreviver à Globalização. A primeira consiste no fortalecimento dos atuais Estados nacionais, da reafirmação de sua soberania por cima de todo acordo, o que comporta a uma situação tensa entre Estados geograficamente próximos e recordando uma situação parecida às do século XIX e XX. Esta visão chauvinista do Estado resiste em abandonar o comportamento exclusivista e debilitante em relação a Estados-potência que tendem a engolir os pequenos em organizações, tratados e alianças antinaturais que acabam por converter os Estados exclusivistas em meras colônias de algum aspecto, ou de todos, da grande potência (militar, econômico, cultural).

Por outro lado está a concepção das "Grandes Pátrias", esta é, a da criação de blocos geopolíticos unidos sob uma forma de Estado único e descentralizado que propicie o aparecimento de uma competição "de igual para igual" desses blocos com os Estados-potência. Estes blocos poderiam corresponder à América central e do sul, ao subcontinente indiano, África subsaariana, a "nação islâmica" afro-asiática e a Europa unida à Rússia, outras teorias dentro desse bloco defendem a união da Eurásia por completo. Esta visão que esgrimem pensadores que assessoraram de Hugo Chávez a Vladimir Putin (como Norberto Ceresole e Aleksandr Dugin, respectivamente) tenta buscar um freio ao superdesenvolvimento dos EUA e da China como os dois grandes Estados-potência que, caso não surjam estas novas uniões continentais, marcariam à vontade o destino dos povos do mundo tal e como sucedeu na Guerra Fria entre os próprios EUA e URSS, em distintas condições. Seria uma união bastante inspirada na ideia de IMPERIVM romano mais que em uma união federal clássica ao estilo norte-americano. Se falaria pois de criar "supernações" com um Território, uma População e um Governo de grandiosas dimensões, mas justamente antiglobalizadores no sentido de respeito total frente a heterogeneidade identitária. Não seria uma simples união geográfica, mas estratégica, controlando as vias diretas de comunicação marítimas e terrestres entre zonas geográficas cuja População é mais ou menos "homogênea" (6).

Para concluir com este capítulo, cabe dizer que a Globalização se converteu no inimigo principal do Estado se busca sua sobrevivência atemporal, tendo sido este mesmo fenômeno mundial um filho "indesejado" do próprio Estado que se emparelhou com o sistema econômico capitalista. O capitalismo, irremediavelmente, por sua própria natureza que necessita expandir o mercado, sua oferta e sua demanda, cada vez a um maior número de ofertores e demandantes para poder sobreviver, engendrou o fenômeno da Globalização, na ideia subjacente de progresso infinito que vai ligada à de capitalismo. É assim como o Estado tropeçou no obstáculo que lhe fará redefinir sua própria natureza e decidir que caminho deve tomar para sua sobrevivência como organismo independente e soberano de si: se um percurso solitário e em competição plena com uma multidão de Estados similares, desembocando irremediavelmente em novos conflitos que não podem fazer mais que reforçar os grandes Estados-potência, ou a união de Estados seletos com necessidades similares ao redor de alguns nexos, sejam estes identitários ou sejam puramente geoestratégicos, em grandes blocos geopolíticos capazes de competir com os Estados-potência que imperarão amanhã.

Bibliografía

Livros consultados:

DE LA DEHESA, G. 2003 “Globalización, desigualdad y pobreza”, Alianza Editorial.
FRANCIA, S. 1994 “Il pensiero Tradizionale di Julius Evola”, Società Editrice Barbarossa, Italia.
JACOB, A. 2004 “NOBILITAS: ¿Aristocracia o Democracia?”, Ediciones Ojeda
RODAS, I. 2001 “El movimiento anticapitalista y el Estado”, Colección Hilo Rojo, Ediciones Curso
ROMA, P. 2001 “Jaque a la Globalización”, Grupo Editorial Random House Mondadori, Colección Debolsillo.
THIRIART, J. 1964 “Arriba Europa”, reedición por la Asociación Cultural Oppida en 2000.

Textos e revistas consultadas:

AGUILAR. J. A. 2005 “Dialéctica y sistema ( Reivindicando a Hegel )” en Nihil Obstat. Nº 5, ENR, Barcelona.
NEGRETTO, G. 2003 “El concepto de decisionismo en Carl Schmitt.
El poder negativo de la excepción” en Revista Sociedad, Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad de Buenos Aires, Argentina.
TERRACCIANO, C. “Rebelión contra el Mundialismo Moderno”, Cuadernos para la disidencia Nº 1, CELE, Madrid.
VVAA 1973 “Maoísmo y tradición” en Quaderni del Veltro, Bolonia.
VVAA 2002 “Estados Unidos: imperio o poder hegemónico” La Vanguardia Dossier nº 7, Barcelona.
VVAA 2006 “Teoria de l’Estat”, selección de textos, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona.
Semanal El País, número 1381

Internet:

“Ceresole y Chávez”, jorgeasisdigital.com
DUGUIN, A. “Metafísica del Nacional Bolchevismo”, redvértice.com
ILLICH ULLIANOV, V. “LENIN” 1919 “Sobre el Estado”, marxists.com


1 J. F. Mira, “Crítica de la nació pura”.

2 Se entende que a partir daqui se falará de violência legítima exclusivamente, no a “ilegal” que possam exercer grupos ou indivíduos à margem da do Estado.

3 Este quadro deve ser lido de cima para baixo

4 Arendt, Hanna, “Sobre la violencia”.

6 Samuel Huntington, Perspectivas de la democracia, FCPyS, México 1987, pág. 26.

5 Não é de todo correta esta expressão. Pode existir afinidade entre Populações, como é o caso europeu e da "Nação Europeia" por sua origem majoritariamente comum, indo-europeia, e sua raiz cultural e social baseada em estruturas muito parecidas e que realmente partiram de uma mesma forma tribal organizativa. Também é o caso da "Nação islâmica", fundamentalmente pela conservação do fator religioso e por sua capacidade aglutinante que ainda conserva, pese às tentativas dos EUA de desestabilizá-lo com alianças entre Estados como Marrocos, Egito ou Arábia Saudita e EUA. O caso centro-sulamericano tem a ver com seu passado colonial e a necessidade estratégica por cima de qualquer pauta cultural, que também existe, comum. O subcontinente indiano é bastante grande, homogêneo e contenedor da política chinesa e por isso mesmo é justificável. A África subsaariana é eminentemente de tradição muito particular e sua união estaria ligada a um critério de homogeneidade de grandes traços identitários e de necessidade total frente à agressão das demais potências, sendo esta área especialmente vulnerável em seus começos. De todas as formas, esta discussão teórica pode carecer de peso no momento que falamos de Realpolitik e jogos de diplomacias.

Gustave Le Bon - Introdução de "Psicologia das Multidões"

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por Gustave Le Bon

Tradução por A.J. Ellendersen



As grandes insurreições que precedem trocas de civilizações como a queda do Império Romano e a fundação do Império Árabe, parecem à primeira vista determinadas mais especialmente por transformações políticas, invasões estrangeiras, ou a derrubada de dinastias. Mas um estudo mais atento destes eventos demonstra que por trás de suas causas aparentes, a causa real é geralmente vista como sendo uma profunda modificação nas ideias dos povos. As verdadeiras agitações históricas não são aquelas que nos espantam por sua grandiosidade e violência. As únicas importantes mudanças das quais a renovação de civilizações resulta, afetam ideias, concepções, e crenças. Os memoráveis eventos da história são efeitos visíveis de alterações invisíveis do pensamento humano. A razão para esses grandes eventos serem tão raros é que não há nada tão estável em uma raça quanto a base hereditária de seus pensamentos.

A presente época é um desses momentos críticos em que o pensamento da humanidade está sofrendo um processo de transformação.

Dois fatores fundamentais estão na base de tal transformação. O primeiro é a destruição das crenças religiosas, políticas e sociais em que todos os elementos de nossa civilização estão enraizados. O segundo é a criação de condições inteiramente novas de existência e pensamento como resultado das descobertas científicas e industriais modernas.

As ideias do passado, embora semi-destruídas, sendo ainda bastante poderosas, e as ideias que devem substituí-las estando ainda em processo de formação, a era moderna representa um período de transição e anarquia.

Não é fácil dizer, até agora, o que um dia será formado a partir deste período, de certa forma, necessariamente caótico. Quais serão as ideias fundamentais a partir das quais as sociedades que nos sucederão serão construídas? Não sabemos no presente momento. No entanto, está claro que sejam quais forem as direções em que as sociedades do futuro serão organizadas, elas terão que contar com um novo poder, com a última força soberana sobrevivente dos tempos modernos, o poder das multidões. Nas ruínas de tantas ideias previamente consideradas fora de discussão, e hoje decaídas ou decaindo, de tantas fontes de autoridade destruídas por sucessivas revoluções, este poder, que sozinho emergiu em seus lugares, parece logo destinado a absorver os demais. Enquanto todos as nossas antigas crenças estão cambaleando e desaparecendo, enquanto os velhos pilares da sociedade estão cedendo espaço um por um, o poder da multidão é a única força que nada ameaça, e cujo prestígio se encontra em contínua ascensão. A era que estamos prestes a adentrar será, em verdade, a Era das Multidões.

Há menos de um século, a política tradicional dos Estados europeus e as rivalidades de soberanos eram os principais fatores a modelar eventos. A opinião das massas dificilmente contava, e no mais das vezes de fato não contava em absoluto. Hoje são as tradições que costumavam obter na política, e as tendências individuais e rivalidades de governantes que não contam; enquanto, ao contrário, a voz das massas se tornou preponderante. É essa voz que dita sua conduta aos reis, cujo empenho é o de tomar notas de suas elocuções. Os destinos das nações são elaborados, no momento, no coração das massas, e não mais no conselho de príncipes.

A entrada das classes populares na vida política — isto é, na verdade, sua progressiva transformação em classes governantes — é uma das características mais notáveis de nossa época de transição. A introdução do sufrágio universal, que foi exercido por um bom tempo mas pouco influenciou, não é, como se poderia imaginar, o traço distintivo dessa transferência de poder político. O crescimento progressivo do poder das massas aconteceu primeiramente através da propagação de certas ideias, que implantaram-se lentamente nas mentes dos homens, e mais tarde por meio da gradual associação de indivíduos dispostos a acarretar a realização de concepções teóricas. É por associação que multidões vieram a procurar ideias relativas a seus interesses, muito claramente definidas, embora não particularmente justas, e que alcançaram uma consciência de sua força. As massas estão fundando sindicatos diante dos quais as autoridades capitulam, uma após a outra; estão também fundando associações trabalhistas, que apesar de todas as leis econômicas tendem a regular as condições de trabalho e salários. Eles retornam a assembleias em que o governo está empossado, representantes descaradamente sem iniciativa e independência, e reduzidos no mais das vezes a nada mais que porta-vozes dos comitês que os escolheram.

Hoje as reivindicações das massas estão se tornando mais e mais nitidamente definidas, e equivalem a nada menos do que uma determinação para destruir completamente a sociedade tal como ela existe hoje, com uma visão que a faz nos remeter àquele comunismo primitivo que foi a condição normal de todas os grupos humanos anteriores à alvorada da civilização. Limitações das horas de trabalho, a nacionalização das minas, estradas de ferro, fábricas, e o solo, a distribuição igual de todos os produtos, a eliminação de todas as classes superiores em benefício das classes populares, etc., tais são estas reivindicações.

Pouco adaptadas a raciocinar, multidões, ao contrário, são rápidas ao agir. Como resultado de sua presente organização, sua força tornou-se imensa. Os dogmas cujo nascimento estamos testemunhando terão em breve a força dos antigos dogmas; isto é, a força tirânica e soberana de estarem fora de discussão. O direito Divino das massas está prestes a tomar o lugar do direito Divino de reis.

Os escritores que se beneficiam da benevolência de nossas classes médias, aqueles que melhor representam suas ideias estreitas, suas visões algo prescritas, seu ceticismo um tanto superficial, e seu egoísmo às vezes um pouco excessivo, exibem profundo alarme frente a esse novo poder que eles vêem em ascensão; e para combater a desordem nas mentes dos homens eles estão enviando apelos desesperados àquelas forças morais da Igreja pelas quais eles professavam a princípio tanto desdém. Eles nos falam sobre a falência da ciência, retornam em penitência a Roma, e nos lembram dos ensinamentos de verdade revelada. Esses novos convertidos esquecem que é tarde demais. Tivessem eles de fato sido tocados pela graça, tal operação não poderia ter a mesma influência em mentes menos preocupadas com as inquietações que assediam esses recentes aderentes à religião. As massas repudiam hoje os deuses que seus admoestadores ontem repudiaram e ajudaram a destruir. Não há qualquer poder, Divino ou humano, que possa forçar uma corrente a retornar à sua fonte.

Não houve falência alguma da ciência, e a ciência não tem responsabilidade alguma pela presente anarquia intelectual, nem pela constituição do novo poder que está emergindo do interior desta anarquia. A ciência nos prometeu a verdade, ou no mínimo um conhecimento destas relações tal como nossa inteligência é capaz de apreender; ela nunca nos prometeu a paz ou a felicidade. Soberanamente indiferente aos nossos sentimentos, ela é surda para nossas lamentações. É necessário que nos esforcemos a conviver com a ciência, uma vez que nada pode trazer de volta as ilusões que ela destruiu. Sintomas universais, perceptíveis em todas as nações, nos mostram o rápido crescimento do poder das multidões, e não nos permitem supor que ele esteja destinado a cessar sua ascensão em uma data próxima. Seja qual for o destino que ele nos reserve, nós teremos que nos submeter a ele. Todo raciocínio contra ele é uma mera e vã guerra de palavras. Certamente é possível que o advento ao poder das massas marque um dos últimos estágios da civilização ocidental, um retorno completo àqueles períodos de anarquia confusa que parecem sempre destinados a preceder o nascimento de toda nova sociedade. Mas poderia esse resultado ser evitado?

Até agora estas conscienciosas destruições de uma civilização esgotada tem constituído a tarefa mais óbvia das massas. De fato, não é somente hoje que isto pode ser rastreado. A história nos conta, que do momento em que as forças morais em que uma civilização repousa perdem sua força, sua dissolução final é acarretada por aquelas multidões brutais e inconscientes, conhecidas, com razão suficiente, como bárbaros. Civilizações até hoje foram somente criadas e dirigidas por uma pequena aristocracia intelectual, jamais por multidões. Multidões são potentes somente para a destruição. Seu governo é sempre equivalente a uma fase de barbárie. Uma civilização envolve regras fixas, disciplina, uma passagem do estado instintivo ao racional, antecipação do futuro, um grau elevado de cultura — todas elas condições que multidões, deixadas por si mesmas, têm invariavelmente demostrado-se incapazes de realizar. Em consequência da natureza puramente destrutiva de seu poder, multidões agem como aqueles micróbios que aceleram a dissolução de corpos enfraquecidos ou mortos. Quando a estrutura de uma civilização está podre, são sempre as massas que acarretam a sua perdição. É em tal conjuntura que sua missão-chefe é plenamente visível, e em que por um tempo a filosofia do número parece ser a única filosofia da historia.

Estará o mesmo destino reservado para a nossa civilização? Há fundamento para temer que este seja o caso, mas não estamos ainda em uma posição para estarmos certos disso.

Seja como for, estamos fadados a nos resignar ao reino das massas, dado que a improvidência tem derrubado, em sequência, todas as barreiras que pudessem ter mantido a multidão em cheque.

Temos um conhecimento muito sutil destas multidões que estão começando a ser objeto de tanta discussão. Estudantes profissionais de psicologia, tendo vivido longe delas, sempre as ignoraram, e quando, afinal, eles voltaram sua atenção para esta direção foi apenas para considerar os crimes que multidões são capazes de cometer. Sem dúvida existem multidões criminosas, mas multidões virtuosas e heroicas, e multidões de diversos outros tipos, também devem ser consideradas. Os crimes de multidões constituem somente uma fase particular de sua psicologia. A construção mental de multidões não deve ser aprendida meramente por um estudo de seus crimes, assim como a de um indivíduo por uma mera descrição de seus vícios.

No entanto, com efeito, todos os mestres do mundo, todos os fundadores de religiões ou impérios, os apóstolos de todas as crenças, estadistas eminentes, e, em uma esfera mais modesta, os meros chefes de pequenos grupos de homens, foram sempre psicólogos inconscientes, possuidores de um conhecimento instintivo e frequentemente muito acertado sobre o caráter de multidões, e é seu conhecimento preciso deste caráter que os permitiu tão facilmente estabelecer sua maestria. Napoleão possuía uma intuição maravilhosa sobre a psicologia das massas do país em que reinava, mas ele, em certos momentos, equivocou-se completamente quanto à psicologia de multidões pertencentes a outras raças; e é por este equívoco que ele se envolveu, na Espanha e notavelmente na Rússia, em conflitos nos quais seu poder recebeu golpes que estavam destinados dentro de um curto espaço de tempo à ruína. Um conhecimento da psicologia das multidões é hoje o último recurso do estadista que deseja não governá-las — isto está se tornando uma questão difícil — mas a qualquer custo não ser governado demais por elas.

É apenas obtendo alguma espécie de compreensão acerca da psicologia das multidões que pode-se entender o quão sutil é a ação, sobre elas, de leis e instituições, o quão impotentes elas são para defender qualquer opinião que não seja sobre elas imposta, e que não é com regras baseadas em teorias de pura igualdade que elas devem ser conduzidas, mas sim através da busca pelo que produz uma impressão nelas e pelo que as seduz. Por exemplo, deveria um legislador, desejando impor um novo imposto, escolher aquele que teoricamente seria o mais justo? De maneira alguma. Na prática, o mais injusto talvez seja o melhor para as massas. Sendo ele ao mesmo tempo o menos óbvio, e aparentemente o menos oneroso, ele será facilmente tolerado pela maioria. É por esta razão que um imposto indireto, seja o quão exorbitante for, sempre será aceito pela multidão. Sendo pago diariamente em frações de um farthing[1] em objetos de consumo, ele não interfirirá nos hábitos da multidão, e passará despercebido.

Substitua-o por um imposto proporcional nos salários ou renda de qualquer outro tipo, a ser pago em montante fixo, e sendo esta nova imposição teoricamente dez vezes menos onerosa que a outra, ela acarretaria protesto unânime. Isso resulta do fato de que um montante relativamente alto, que parecerá imenso, e consequentemente golpeará a imaginação, foi substituído pelas imperceptíveis frações de um farthing. O novo imposto pareceria brando apenas se fosse economizado farthing por farthing, mas este procedimento econômico envolve um nível de previsibilidade de que as massas são incapazes.

O exemplo que precede é um dos mais simples. Sua pertinência será facilmente percebida. Ela não escapou à atenção de um psicólogo tal como Napoleão, mas nossos modernos legisladores, ignorantes como são a respeito das características da multidão, são incapazes de apreciá-la. A experiência não os ensinou até agora, em grau suficiente, que os homens nunca modelam sua conduta sob o ensinamento da razão pura.

Muitas outras aplicações práticas podem ser feitas a partir da psicologia das multidões. Um conhecimento desta ciência lança a mais vívida luz em um número enorme de fenômenos históricos e econômicos totalmente incompreensíveis sem ela. Devo ter a ocasião de demonstrar que a razão pela qual o mais notável dos historiadores modernos, Taine, compreendeu em alguns momentos tão imperfeitamente os eventos da grande Revolução Francesa, é que jamais ocorreu pra ele o estudo do gênio de multidões. Ele tomou como seu guia no estudo deste complicado período o método descritivo a que recorrem os naturalistas; mas as forças morais estão quase ausentes no caso dos fenômenos que os naturalistas estudam. No entanto, são precisamente estas forças que constituem as verdadeiras molas propulsoras da história. Por consequência, visto meramente por seu lado prático, o estudo da psicologia das multidões merece ser experimentado. É tão interessante decifrar os motivos das ações dos homens quanto determinar as características de um mineral ou uma planta. Nosso estudo do gênio das multidões pode apenas ser uma breve síntese, um simples resumo de nossas investigações. Nada mais deve ser exigido dele do que algumas visões sugestivas. Outros hão de trabalhar no terreno mais meticulosamente. Hoje nós tocamos somente a superfície de um solo quase virgem.

[1] Farthing, originário da palavra inglesa “fourthing”, foi uma unidade monetária britânica, produzida entre 1860 e 1956, que equivalia a um quarto (1/4) de centavo ou penny.

Retirado de "Psicologia das Multidões" (Psychologie des Foules, ou The Crowd: A Study of the Popular Mind), Gustave Le Bon, 1895

Claudio Mutti - A Geopolítica das Religiões

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por Claudio Mutti



A geopolítica como um método de investigação não se limita a trabalhar nas relações internacionais e nos fatos militares. Entre os fatores que se busca identificar e entender, há que incluir o fator religioso.

Se o século XIX e outra vez na primeira metade do século XX a intelectualidade secular do Ocidente havia profetizado o desaparecimento progressivo e inevitável da religião como um resultado final da modernização econômica e social, a segunda metade do século XX foi a encarregada de mostrar a falta de fundamento de tal expectativa. De fato, apesar de que a modernização alcançou dimensões mundiais, desde há várias décadas as diferentes áreas do planeta se veem afetadas por um fenômeno de renascimento religioso, enfaticamente definido por Gilles Kepel como "a vingança de Deus" (1), que levou a alguns observadores a falar inclusive de "dessecularização do mundo". (2)

As implicações geopolíticas desse fenômeno se fazem evidentes quando se considera que a afiliação religiosa em geral contribui decisivamente para fortalecer o senso de identidade de uma nação ou comunidade de nações, ou inclusive, em alguns casos, para voltar a configurar a identidade. No mundo muçulmano, por exemplo, não raro se manifesta a tendência "em tempos de emergência, a individuar a própria fonte principal de identidade e de lealdade na comunidade religiosa, quer dizer, em uma nova identidade não definida por critérios étnicos ou geográficos, mas pelo Islã" (3). Na Índia, "uma nova idenidade hindu se está estabelecendo como resposta às tensões criadas pela modernização e pela alienação" (4). Na Rússia, o renascimento da religião é o produto de um "ardente desejo de encontrar uma identidade que só pode ser proporcionada pela Igreja Ortodoxa, a única que ainda não rompeu relações com o passado antigo da nação" (5).

Assim que, há vinte anos, os estudiosos da geopolítica tinham que tomar nota do aumento de peso geopolítico das religiões, que de certo modo havia substituído às ideologias do mundo bipolar. As religiões, segundo escreveu o general Jean, "desempenham um papel em alguns casos de identificação unificadora e coletiva, no fortalecimento do nacional, como na Polônia, mas em outros de divisão, como na Bósnia ou na Tchecoslováquia, e como poderia ocorrer na Ucrânia e no próprio Ocidente entre os protestantes e os países católicos, entre os dois últimos e a ortodoxia, assim como entre o cristianismo e o islã, entre o islã e o hinduísmo, e assim sucessivamente" (6). No que concerne, em particular, aos países católicos como Itália, o general se referiu à importância da doutrina social da Igreja em relação a um fenômeno como a política de imigração e a própria posição política da Itália no Ocidente.

O fator religioso volta a confirmar seu aspecto de parâmetro básico da geopolítica, quando nos fixamos na "paisagem" confessional que corresponde às zonas de crise e conflito, como Ucrânia, Iraque e Palestina.

Ucrânia é parte de uma área pluriconfessional, habitada principalmente por pessoas de religião ortodoxa e católica; seu território é atravessado pelos mesmos limites que separam o catolicismo da ortodoxia, de modo que a parte ocidental de confissão católica grega ("uniatas") olha para a Europa, enquanto que a oriental, ortodoxa, se dirige à Rússia. Trata-se assim de um típico "país dividido", se queremos reestabelecer a categoria estabelecida pelo teórico do "choque de civilizações", que insistiu no "cisma profundo que divide a cultura da Ucrânia oriental ortodoxa e a Ucrânia ocidental uniata" (7) identifica a bipartição cultural da Ucrânia com sua divergência confessional. "A linha divisória entre a civilização ocidental e a civilização ortodoxa, escreve Huntington, de fato, atravessa o coração do país (...) Uma grande parte de sua população adere à Igreja uniata, que segue o rito ortodoxo mas reconhece a autoridade do Papa (...) A população no leste da Ucrânia, ao contrário, sempre teve um forte predomínio da religião ortodoxa e do idioma russo" (8).

Inclusive no Iraque, a situação de instabilidade política se relaciona com a distribuição da população em diferentes grupos étnico-religiosos. Depois da destruição do Estado ba'athista, a divisão em três entidades separadas (xiitas, sunitas e curdos) foi sancionada por uma Constituição que estabelece uma forma federal, o que debilita o governo central, reservando a ele somente as decisões relativas à defesa e política externa. Em uma situação desse tipo, não foi difícil para os bandos terroristas apoiados pelos EUA e seus aliados no Golfo estabelecer nos territórios sunitas do Iraque um suposto "califado". Mas inclusive este fenômeno grotesco e de caricatura é objeto da "geopolítica das religiões", porque o autoproclamado "califado" do autoproclamado "Estado Islâmico no Iraque e Síria" (ISIS) está inspirado em uma ideologia sectária que tem sua origem na matriz wahhabi-salafista, da qual já nos ocupamos em outro número da "Eurasia" (9).

No que concerne a Palestina, a verdadeira natureza do regime sionista não pode ser resolvida simplesmente nos termos de uma usurpação territorial inspirada em uma ideologia nacionalista, nem pode se reduzir a uma tentativa criminosa de cometer a limpeza étnica da Palestina através da destruição e expulsão da população nativa. Em realidade, quanto ao projeto sionista é o produto de um pensamento judaico laico e secular, não obstante suas raízes se encontrem em um messianismo desviado, de maneira que é lícito assumir "que o Estado judeu não é um Estado nacionalista 'que usa a religião' para lograr seus próprios desígnios, mas que, ao contrário, trata-se de um Estado aparentemente laico utilizado pela contrainiciação para a realização de seus planos: uma falsificação da teocracia judaica e uma restauração sacrílega da soberania espiritual e temporal do povo judeu (10)." Uma perspectiva tal sugere que a resistência palestina não esgota seu significado na dimensão de uma luta trágica e heróica pela subrevivência, mas que o povo palestino está desempenhando o papel de um verdadeiro katechon, sendo colocado na defesa da Terra Santa para impedir a destruição dos Santos Lugares que impedem a reconstrução do Templo projetado pelos "fanáticos do Apocalipse". 

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1. Gilles Kepel, La revanche de Dieu, Seuil, Paris 1991.
2. George Weigel, Religion and Peace: An Argument Complexified, “Washington Quarterly”, 14 (Primavera 1991), p. 27.
3. Bernard Lewis, Islamic Revolution, “New York Review of Books”, 21 gennaio 1988, p. 47.
4. Sudhir Kakar, The Colors of Violence: Cultural Identities, Religion, and Conflict, cit. in: Samuel P. Huntington, Lo scontro delle civiltà e il nuovo ordine
mondiale, Garzanti, Milano 2000, p. 135.
5. Suzanne Massie, Back to the Future, “Boston Globe”, 28 marzo 1993, p. 72.
6. Carlo Jean, Geopolitica, Editori Laterza, Roma-Bari 1995, p. 77.
7. Samuel P. Huntington, Lo scontro delle civiltà e il nuovo ordine mondiale, cit., pp. 38-39.
8. Samuel P. Huntington, Lo scontro delle civiltà e il nuovo ordine mondiale, cit., p. 239.
9. Claudio Mutti, L’islamismo contro l’Islam?, “Eurasia”, 4, 2012, pp. 5-11.
10. Abd ar-Razzâq Yahyâ (Charles-André Gilis), La profanation d’Israël selon le Droit sacré, Le Turban Noir, Paris s. d., p. 58.

Aleksandr Dugin - A Relevância do Marxismo para a Teoria do Mundo Multipolar

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por Aleksandr Dugin



(Trecho do livro Teoria do Mundo Multipolar)

O marxismo e o neo-marxismo nas Relações Internacionais (RI) são extremamente úteis à Teoria do Mundo Multipolar (TMM) como arsenal doutrinário crítico do universalismo da civilização ocidental e da sua pretensão a superioridade moral baseada nos fatores de sua superioridade financeira, material e tecnológica. A civilização ocidental da era moderna optou pela via capitalista e, assim, limitou seus horizontes. Não obstante, a encarnação material do sucesso em um alto nível de desenvolvimento e de eficácia econômica das ações dos mercados e, mais recentemente, na prioridade dada ao desenvolvimento do setor financeiro, podem ser decisivos somente se aceitarmos o padrão capitalista, não só a nível material, mas também no nível dos valores sociais, culturais e espirituais. Foi o que demonstrou perfeitamente Max Weber, que identificou o capitalismo como a expressão da ética protestante, a partir do qual a recompensa do homem no decorrer da vida, por meio do sucesso e da riqueza, é um reflexo direto de sua dignidade moral. A equiparação da riqueza à moral, característica da sociedade ocidental da era moderna, possui raízes religiosas e culturais. O Capital e o capitalismo tornaram-se não só o critério do poder, mas também o critério da verdade.

O marxismo desafia semelhante abordagem e, embora reconheça a influência do Capital, rejeita sua pretensa superioridade moral. A ética marxista organiza-se de modo oposto: o Bem se encontra na classe trabalhadora (proletariado) que, sob o capitalismo, encontra-se escravizada pela parasítica classe burguesa. No marxismo, rico é sinônimo de Mal. Consequentemente, o desenvolvimento material, e a concentração de Capital em determinado país, não querem dizer nada, podendo demonstrar até mesmo que um tal pais configura-se como uma das sociedades mais injustas, más, devendo, como tais, serem rejeitadas.

Na análise das RI, tal ética marxista leva à apreciação moral do “abastado Norte” e do sistema capitalista como uma expressão histórica, geográfica e social do mal mundial. O Ocidente não só não se manifesta como um modelo a seguir, nem na Terra Prometida – na qual se encontraria a solução para todos os problemas –, como também se torna a cidadela da exploração, do engano, da falsidade, da violência e da injustiça.

Sem concordarmos com todas as conclusões dogmáticas desta abordagem acerca da revolução mundial e do papel messiânico do proletariado, a TMM aceita a abordagem marxista no que diz respeito a sua apreciação da natureza e da origem do Ocidente capitalista, denunciando-o como um modelo de exploração assimétrica que impõe os seus critérios civilizacionais (capitalismo, livre mercado, demanda pelo lucro, materialismo, consumismo, etc.) a todos os povos e sociedades. O capitalismo é o aspecto econômico-material do universalismo e do colonialismo ocidental. Ao aceitarmos a lógica do Capital, mais cedo ou mais tarde seremos obrigados a aceitar e a reconhecer o Ocidente e a sua civilização como guias, pontos de orientação, modelos exemplares e horizontes de desenvolvimento: o que está em completa contradição com a ideia de uma ordem mundial multipolar e da valorização da pluralidade civilizacional. Algumas civilizações podem aceitar a prosperidade material e a forma capitalista de atividade econômica como aceitáveis e desejáveis, mas outras podem ser que não. O capitalismo não é obrigatório e não é também a única forma de organização econômica. Pode ser aceito ou rejeitado. A equiparação do bem-estar material à dignidade moral pode ser justificada por uns e rejeitada por outros. Portanto, para a TMM, o vetor anticapitalista do marxismo, e do neo-marxismo nas RI, bem como a denúncia característica do modelo de desenvolvimento dependente, são componentes que podem ser bem aplicados. O mesmo vale para a crítica do “abastado Norte” e ao apelo à oposição ao sistema mundial. Sem esta resistência e oposição será impossível o advento do mundo multipolar. 

A principal diferença entre a TMM e a teoria neo-marxista do sistema mundial (bem como em relação aos projetos de Negri, Hardt e de outros altermundialistas) consiste no fato da TMM não reconhecer, em absoluto, o fatalismo histórico das teorias marxistas, que insistem na premissa do capitalismo como uma fase generalizadamente obrigatória e universal do desenvolvimento histórico, a qual será seguida da fase igualmente fatal e irrevogável da revolução proletária. Para a TMM, o capitalismo é uma forma empiricamente fixa de desenvolvimento da civilização ocidental-européia, enraizada na cultura desta e difundida quase em escala planetária. Mas uma análise profunda do capitalismo nas sociedades não-ocidentais demonstra, com certa consistência, a sua natureza simuladora e superficial, dotada de propriedades semânticas muito distintas e representando sempre algo atípico e diferente da formatação socioeconômica que prevalece no Ocidente moderno. O capitalismo surgiu no Ocidente e pode tanto continuar a evoluir como perecer. Mas a sua expansão para além do mundo ocidental, embora condicionada pela tendência expansionista do Capital, não tem razão de ser nas sociedades não-ocidentais onde ele projeta-se. Cada civilização possui sua própria noção de tempo, história, economia e lógica de desenvolvimento material. O capitalismo invade as civilizações não-ocidentais como perpetuador das práticas coloniais e, como tal, pode e deve ser rejeitado, ser alvo de resistência, como se se tratasse de uma agressão por parte de uma cultura e de uma civilização alienígena. Assim, a TMM insiste na luta contra o “Norte rico”, que é travada atualmente em todos os pontos do mapa da humanidade e, principalmente, no “Segundo Mundo” (a semi-periferia, nas palavras de I. Wallerstein). O mundo multipolar não deve surgir depois do liberalismo (como acreditam os neo-marxistas), mas ao invés do liberalismo. Assim sendo, a luta contra o liberalismo não deve se dar em nome daquilo que irá substituí-lo depois que este se instalar em escala planetária, mas já, de modo a não permitir que ele alguma vez se estabeleça em escala mundial. Para as civilizações não-ocidentais é desnecessário passar pela fase do desenvolvimento capitalista. Tampouco é necessário mobilizar suas populações em prol da revolução proletária. As elites e as massas dos países da “semi-periferia”, a despeito dos neo-marxistas, não estão de todo obrigados a dividirem-se socialmente e a integrarem-se nas duas classes internacionais – a burguesia mundial e o proletariado mundial –, perdendo, assim, todas as suas características civilizacionais. Pelo contrário, as elites e as massas pertencentes a uma mesma civilização devem reconhecer a sua identidade comum, cujo significado deve pesar mais que o da identidade de classe. Se em relação à solidariedade internacional da burguesia e, em menor extensão, do proletariado, os marxistas possuem alguma razão (pois se tratam de Estados capitalistas e burgueses nos quais, de fato, domina a lógica do Capital), no caso das civilizações não-ocidentais as coisas não podem ser colocadas desta forma. O topo e a base no mundo islâmico, por exemplo, estão muito mais cientes da sua cultura islâmica do que seus equivalentes classistas em outras civilizações – em particular no Ocidente. E este sentimento de comunhão, de unidade, não deve ser corroído e nem abalado (seja pelo cosmopolitismo liberal, pelo neo-marxismo ou pelo anarquismo de tipo internacionalista), devendo, ao contrário, ser fortalecido, aprofundado e preservado.

O mundo multipolar, principalmente em seu estágio contra-hegemônico inicial, deve ter como base a solidariedade entre todas as civilizações na sua oposição às práticas colonialistas e globalistas do “Norte rico”. Tal luta deve unir as elites e as massas dentro das suas civilizações, pois o critério das classes (a elite como burguesia e as massas como o proletariado) é uma projeção do padrão ocidental. Nas civilizações não-ocidentais existem, de modo empírico e evidente, estratos sociais mais altos e mais baixos, mas a sua semântica sociológica e cultural difere do modelo redutor no qual o único critério decisivo é o da posse dos meios de produção. A TMM apela à solidariedade das elites e das massas na construção dos pólos do mundo multipolar e na organização dos grandes espaços, de acordo com os caracteres culturais e históricos de cada sociedade.

Marcelo Gullo - A Deterioração Estrutural do Poder Norte-Americano e seu Impacto no Sistema Internacional

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por Marcelo Gullo



A partir do fim da Guerra de Secessão (1865) existiu, nos Estados Unidos, uma perfeita harmonia entre os interesses do Estado norte-americano e os da alta burguesia industrial norte-americana. Uma aliança que, logo após a Guerra de Secessão, pôs em marcha um grande processo de industrialização impulsionado pelo Estado e protegido da competição externa por fortes restrições tarifárias, alfandegárias e subsídios, tanto encobertos como escancarados. Este processo de industrialização gerou uma enorme imigração europeia para os Estados Unidos, retroalimentando um mercado interno em criação e crescimento permanentes e gerando um verdadeiro "círculo virtuoso de crescimento", coisa que, por sua vez, consolidou ainda mais a união originária de interesses entre a alta burguesia e o próprio Estado norte-americano. Aquilo que era bom para a alta burguesia norte-americana era, também, bom para o próprio Estado norte-americano.

A análise histórica objetiva não deixa dúvida alguma de que, depois da finalização da Guerra Civil, os Estados Unidos adotaram decididamente como política de Estado o protecionismo econômico e que, graças a este sistema, protagonizaram um dos processos de industrialização, por sua rapidez e profundidade, mais assombrosos da história. Em 1875, as tarifas alfandegárias para produtos manufaturados oscilavam entre 35% e 45%. Logo em 1913, houve uma diminuição das tarifas, mas a medida foi revertida, apenas um ano depois, quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial. Em 1922, a porcentagem paga sobre bens manufaturados de importação, subiu 30%. Em 1925, a taxa alfandegária média sobre produtos manufaturados era de 37% e, em 1931, de 48%.

Os Estados Unidos foram, até depois da Segunda Guerra Mundial, o bastião mais poderoso das políticas protecionistas e seu lar intelectual. Convertido logo após a Segunda Guerra Mundial na maior potência industrial do mundo, na economia industrial de mais alta produtividade e, estando, tanto o aparato industrial europeu como o japonês, seriamente destruídos, os Estados Unidos, tal como havia previsto o presidente Ulisses Grant, depois de ter usufruído do protecionismo econômico, depois de ter obtido do regime protetor tudo o que este pôde dar, adotou o livre-comércio e se converteu no bastião intelectual do livre-comércio. (1)

Com a adoção do livre-comércio durante 30 anos, os Estados Unidos obtiveram enormes benefícios. Ainda que seja necessário esclarecer que, como havia feito a Grã-Bretanha em seu momento, os Estados Unidos atuaram, também, com duplicidade deliberada pois, enquanto pregavam o livre-comércio seguiam mantendo, para muitos produtos, uma enorme proteção alfandegária que tornava o mercado norte-americano uma fortaleza inacessível. Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se esmeraram, através de suas universidades mais prestigiadas, em sustentar para os outros países os princípios do livre-comércio e da livre atuação do mercado e seus grandes economistas condenaram como contraproducente qualquer intervenção do Estado na economia. Imprimindo a essa ideologia de preservação de sua hegemonia a aparência de um princípio científico universal da economia, tal como em seu momento havia feito a Grã-Bretanha, lograram, com êxito, persuadir de sua procedência a muitos outros Estados que, assim, se constituíram, passivamente, em mercado para os produtos industriais norte-americanos e permaneceram como simples produtores de matérias-primas.

Na década de 1970, a completa recuperação industrial da Alemanha e Japão, tolerada por Washington, durante a Guerra Fria, por uma necessidade geopolítica imperiosa, fez com que os Estados Unidos não pudessem obter do sistema de livre-comércio todos os benefícios que haviam planejado mas não representou um grave perigo para a economia norte-americana que seguia sendo altamente competitiva em numerosos itens.

O sistema econômico mundial, construído pelos Estados Unidos logo após a Segunda Guerra Mundial para seu inteiro benefício, só vai entrar em crise quando, na década de 70, se produza o grande aumento dos preços do petróleo. Se produziu, então, o fenômeno inédito da estagflação (inflação com recessão), o aparecimento dos chamados petrodólares e a proeminência, a partir de então e, até nossos dias, do capital financeiro e especulativo sobre o capital industrial. É também, em meados da década de 70, que começa a se produzir a integração ou dissolução da velha alta burguesia industrial norte-americana em uma nova elite mundial transnacionalizada e, a medida em que as empresas norte-americanas se convertiam aceleradamente em empresas transnacionais, se produzia uma mutação total de seus DNAs respectivos. A importância desse fenômeno nos obriga a nos determos na descrição do mesmo.

O Aparecimento de uma Nova Elite Mundial Transnacionalizada

É na década de 70 que irrompem no cenário internacional, com força inusitada, atores não-estatais como as ONGs (em inúmeras ocasiões instrumentos do poder suave dos Estados centrais), as internacionais dos grandes partidos políticos e as empresas transnacionais. Todos estes atores começam, sem dúvida alguma, a ter um protagonismo crescente no cenário internacional. Sem embargo, entre todos eles, produto do processo acelerado de globalização econômica que começa a se perfilar nesses anos, vão se destacar, por seu peso específico, as empresas transnacionais cuja expansão a nível mundial, como sublinha Henri Favre, que começam a provocar a partir da década de 70, que as velhas altas burguesias nacionais, a norte-americana, a alemã, a inglesa, a francesa, a italiana, etc., se fossem progressivamente integrando em uma nova elite mundial transnacionalizada que não só incluía, e inclui, aos acionistas das grandes empresas transnacionais (que, por definição, são apátridas qualquer que seja o país em que tenha sua sede social a empresa), mas também aos dirigentes dessas. Importa ressaltar que, como resultado da proeminência das grandes empresas transnacionais no sistema econômico internacional, acontece então, que um dirigente empresarial norte-americano, membro da nova elite mundial transnacionalizada, possa ter mais interesses em comum com um dirigente empresarial chinês ou europeu que com seu próprio governo, o que tende a complexificar as relações entre os Estados nacionais e as empresas transnacionais. Isso se agrega ao fato de que boa parte do capital das transnacionais (a maioria no caso do das europeias) começa a estar possuído por estrangeiros (se esta palavra ainda tem sentido quando se refere aos acionistas de uma companhia transnacional), quer dizer, por não residentes no país em que ditas transnacionais tinham, e tem, sua sede social.

Importa precisar, também, que as empresas transnacionais tendem a criar uma verdadeira cultura própria à empresa, de tal maneira que, por exemplo, um executivo da filial de Taiwan possa ser ascendido a diretor da filial do México e logo a presidente da empresa em Nova Iorque ou Paris. A criação de uma verdadeira cultura própria à empresa transnacional começa a provocar que os executivos da mesma tendam a se sentir membros de uma grande família transnacional, de tal maneira que as lealdades em relação à empresa transnacional tendem a se fortalecer às custas das lealdades pela cultura de origem. A lealdade pela empresa se fortalece, então, às custas das lealdades pela pátria. Dessa forma se foram criando as condições para que se pudesse produzir, em determinadas circunstâncias, uma contradição entre os interesses da empresa transnacional (e da elite que a conduz) e os do Estado no qual a empresa havia nascido e tem sua sede social.

Quando o caçador cai em sua própria armadilha

Com a chegada de Ronald Reagan à Casa Branca, que sela a aliança da elite político-militar norte-americana não já com a velha burguesia industrial norte-americana, mas com a burguesia financeira internacional, os Estados Unidos adotam como doutrina de Estado, o neoliberalismo (2). Para sair da crise econômica a elite política, intelectual e militar norte-americana crê que os Estados Unidos devem fomentar uma nova divisão do trabalho a nível internacional onde os Estados Unidos se reservariam para si próprios a produção da alta tecnologia, que exigia gastos em investigação gigantescos que só o grande Estado norte-americano podia subsidiar, e o controle de quatro grandes monopólios a saber:

1) Os monopólios que operam no campo do controle dos fluxos financeiros de envergadura mundial.

2) Os monopólios que operam no acesso aos recursos naturais do planeta, neste caso em aliança com o poder britânico.

3) Os monopólios que operam no campo das comunicações e dos meios de comunicação.

4) Os monopólios que operam no campo das armas de destruição em massa. (3)

Com o controle desses monopólios, a elite norte-americana pensava que os Estados Unidos poderiam anular as conquistas da industrialização da periferia, desvalorizando o trabalho produtivo incorporado a essas produções ao mesmo tempo que sobrevalorizavam o pretenso valor agregado incorporado às atividades levadas a cabo pelos novos monopólios. Se produziria então, uma nova hierarquia na repartição da renda em escala mundial, mais desigual que nunca, subjugando às indústrias da periferia e reduzindo-as ao status de atividades menores. (4)

Foi, então, no esquema dessa nova divisão internacional do trabalho concebida pela elite político-intelectual estado-unidense que, no início dessa década de 80, começa a se produzir, nos Estados Unidos da América do Norte, um lento processo de desindustrialização quando, as principais empresas, que tinham instalada tanto sua sede social como sua produção industrial para o mercado norte-americano no território dos Estados Unidos, em busca de uma maior mais-valia, começam a transferir a produção industrial dos Estados Unidos para os países da Ásia. Certo é que, este processo de traslado de empresas norte-americana fora de suas fronteiras, já que se havia produzido, com anterioridade, para a América Latina, por exemplo. Assim, durante as décadas de 1960 e de 1970, numerosas empresas norte-americanas haviam instalado fábricas para a produção de bens industriais, principalmente no Brasil, Argentina e México. Mas as empresas norte-americanas se transferiam para fabricar produtos destinados à venda nesses mesmos mercados. O giro que se produz a partir dos anos 80 é absolutamente diferente porque a partir da década de 80, as empresas originariamente norte-americanas, mas transformadas já em empresas transnacionais começam, principalmente na Ásia, a produzir para os Estados Unidos. Quer dizer que as empresas transnacionais, instaladas na Ásia, começam a fabricar, com trabalho estrangeiro barato, produtos que, logo, se venderiam no próprio mercado norte-americano.

Até a década de 1980 o que era bom para a alta burguesia industrial norte-americana era bom para os Estados Unidos mas, posteriormente a estes anos e até nossos dias, o que é bom para o capital industrial norte-americano, que instalado fora dos Estados Unidos está obtendo enormes lucros graças ao baixo custo da mão-de-obra, não é bom para o povo dos Estados Unidos que começou a sofrer os efeitos do desemprego endêmico e não é bom para os Estados Unidos que sofrem com um déficit comercial crônico.

A nosso entender, a crise que atravessam hoje os Estados Unidos, mais além de qualquer recuperação possível da economia norte-americana, é, mais que uma crise econômica, uma crise estrutural do poder norte-americana.

Desde nossa ótica, estamos perante uma crise estrutural do poder norte-americano porque, pela primeira vez desde 1865, há uma contradição entre os interesses da alta burguesia norte-americana e os interesses nacionais do Estado norte-americano. Isso não havia ocorrido nunca, até agora.

Um Erro na Concepção Estratégica

Paradoxalmente a elite política e militar norte-americana, influenciada fundamentalmente pelo pensamento estratégico de Alvin Toffler (5), fomentou e apoiou à alta burguesia, quando esta, em busca de uma maior mais-valia, começou a transferir a produção industrial dos Estados Unidos para os países da Ásia. A ideia substancial do pensamento estratégico de Toffler, aceito em grande medida pela elite política e militar norte-americana, se baseava em que o poder passava, agora, pela tecnologia de ponta. (6)

Esta ideia, que em princípio é certa, possui, não obstante, um erro. Desde o ponto de vista da construção do poder nacional, a constituição de um complexo aparato tecnológico não devia se realizar em prejuízo do aparato industrial. Adotar um não devia significar abandonar o outro. Sem embargo, partindo de que o poder consistia, exclusivamente, na posse da tecnologia de ponta, os Estados Unidos começaram a se especializar, através de um grande Impulso Estatal proveniente do complexo militar-espacial, exclusivamente nela, abandonando sua aplicação na indústria básica, perdendo assim, progressivamente, a liderança industrial. (7)

Convém recordar de passagem que o Estado norte-americano subsidiou este desenvolvimento tecnológico dado que as companhias privadas não teriam podido fazê-lo, nunca, por si mesmas (os computadores e a internet, para mencionar só alguns exemplos, foram desenvolvidos, em princípio, para o complexo aeroespacial-militar norte-americano). Se tratava de um subsídio "encoberto" que, através do sistema militar-espacial, receberam as companhias tecnológicas privadas norte-americanas. (8)

Se bem é certo que o poder passa pela dominação da alta tecnologia, o que não se contemplava nessa análise, realizada pela inteligência norte-americana, é que se estava convertendo aos Estados Unidos em uma sociedade exclusivamente dedicada aos serviços e que, estes serviços, naturalmente voláteis, deslocavam à mais estável e inelástica produção industrial, a qual por sua vez é a principal fonte de emprego permanente e muito mais ampla quanto a sua capacidade de absorver pessoal da mais ampla gama de capacitações. Então, a medida em que os Estados Unidos transferiam seu processo de industrialização para a Ásia, se desindustrializavam e perdiam um dos degraus de seu poder nacional. Desde esse momento, e a partir da supremacia de sua moeda, começaram a "viver de empréstimo".

Desde a chegada de Ronald Reagan, com uma balança comercial cada vez mais desfavorável, a economia dos Estados Unidos começa a viver de uma incessante emissão monetária, com a qual os Estados Unidos importam todos os produtos industriais que consomem. Dólares que terminam dinamizando a economia das potências rivais, enquanto que, nos Estados Unidos, cada vez mais trabalhadores perdem seus postos de trabalho. O desemprego não toma dimensões dramáticas de imediato, porque uma porcentagem dos desempregados industriais são absorvidos pelo setor de serviços mas, com o passar do tempo, os serviços, voláteis e de demanda fundamentalmente elástica por essência, também vão desaparecendo, fazendo com que o desemprego se torne crônico.

Esta é a origem profunda da crise do poder norte-americano. Os problemas financeiros que hoje vemos são, assim, uma consequência e não a causa. A verdadeira origem estrutural da crise está na transferência da produção industrial dos Estados Unidos à Ásia, porque a mais-valia que obtinha a alta burguesia norte-americana era enorme, em comparação à que podia obter nos Estados Unidos. Resulta evidente, então, que desde o ponto de vista político e econômico, os Estados Unidos já não é o que era ao finalizar a Segunda Guerra Mundial, nem o que imaginou que podia ser, logo do desaparecimento da União Soviética.

É possível um Estado pós-industrial realmente poderoso?

Desde fins da década de 50, os Estados Unidos, graças à reação desencadeada por um novo Impulso Estatal, conseguiram começar a construir um setor de alta tecnologia. Dessa forma, começaram a elevar, novamente, o umbral de resistência que as outras unidades políticas do sistema necessitavam alcançar para manter sua capacidade autonômica.

Sem embargo, é preciso esclarecer que a superestimação da Alta Tecnologia como fator de poder levou à elite política e militar dos Estados Unidos a cometer o erro de subestimar a importância do setor industrial como fator de poder. Se superestimamos a importância da Alta Tecnologia como fator de poder e descuidamos do aparato industrial, debilitamos a pirâmide do poder. Uma economia baseada exclusivamente na Alta Tecnologia exclui uma massa laboral enorme que tende, necessariamente, a se pauperizar.

Em efeito, a errônea concepção de que seria possível um Estado exclusivamente pós-industrial capaz de prescindir de seu anterior fator dinâmico, a indústria, é, possivelmente, o principal fator do notório debilitamento da economia norte-americana e, consequentemente, do poder nacional dos Estados Unidos da América do Norte. A crença de que só produzindo tecnologia e derivando setores crescentes da população à área de serviços para transferir o fator industrial a outros países mais atrasados que se foram convertendo, paulatinamente, em provedores de todo tipo de bens elaborados, gerou uma estrutura laboral e produtiva, notoriamente débil.

A Alta Tecnologia, por definição, é excludente de mão-de-obra, e a pouca que requer necessita de um grau de capacitação extremamente elevado, pouco factível de ser alcançado por um alto número de habitantes.

Assim, as grandes massas laborais vão perdendo seus empregos e passando a setores de serviços, notoriamente dependentes dos vaivéns econômicos, e baixando, consequentemente, a qualidade de seu emprego e sua capacidade de consumo e reinvestimento. Uma economia que não gera rendas genuínas em quantidades suficientes, como só a indústria e o mercado interno gigantesco que os Estados Unidos souberam criar em seu momento, termina sendo incapaz de sustentar o círculo virtuoso de crescimento. (9)

Hoje, os Estados Unidos, graças à reação desencadeada por um novo Impulso Estatal, se estão convertendo no primeiro Estado "pós-industrial" da História mas, ao mesmo tempo, a superestimação desse fator, paradoxalmente, está minando gravemente a base original do poder nacional norte-americano.

É que a derivação da indústria para outros países está fazendo com que os Estados Unidos se vejam submetidos a vaivéns indesejáveis em sua economia. Uma economia cada vez mais especulativa, e com pior qualidade de renda que tende a se manter só mediante um déficit crescente.

Em definitiva, se os Estados Unidos não recompuserem a tempo seu setor industrial, terão derrubado, por um erro na percepção do valor da Alta Tecnologia, uma das bases fundamentais de sua pirâmide de poder.

Em síntese, a interpretação de Toffler, poderia se ver superada pela realidade da incapacidade do novo fator para prover de rendas e energias suficientes à economia norte-americana. A crise das Ponto.Com nos primeiros anos do século e a das hipotecas de má qualidade em 2007/2008, estariam dando pauta da falta de uma base industrial, que assegure o que está acima.

Como hoje já não é possível conceber um Estado autônomo sem a incidência determinante do manejo tecnológico próprio, vai ficando demonstrado que tampouco é possível sustentar um Estado poderoso, prescindindo da estrutura industrial que não só o possibilitou, mas que através de uma produção e emprego genuínos tornam possível sustentar-se no mais alto nível tecnológico. Algo assim, como é impossível chegar ao degrau mais alto da escada se são retirados os degraus inferiores nos quais o mais alto se apoia.

Nossa tese fundamental, acreditamos corroborada pela realidade atual dos Estados Unidos, seria a de que o poder nacional se constroi mediante a acumulação de fatores e não mediante a substituição de uns por outros como pretende Toffler. Para a construção do poder nacional, a edificação da Alta Tecnologia é condição necessária, mas não suficiente.

O Abandono do Neoliberalismo no Berço do Neoliberalismo


A crise estrutural do poder norte-americano levou ao abandono, no plano fático, da doutrina econômica do neoliberalismo, que, por outro lado, era uma espécie de "ideologia oficial" do Estado norte-americano, que postulava como princípio científico que o Estado não devia, jamais, intervir no mercado. Sem embargo, apesar de que os Estados Unidos seguem sendo o porta-estandarte do neoliberalismo, foi graças à crise que, por exemplo, "naves insígnia" do poder norte-americano, como a General Motors, se converteram praticamente em empresas de propriedade do Estado norte-americano. Contrariando a doutrina neoliberal e o suposto princípio científico de que o Estado não deve intervir no mercado, a administração Obama procedeu a resgatar da falência a General Motors, da qual o Estado norte-americano passou a possuir nada menos que 70% das ações. Assim também, outro grande ícone dos Estados Unidos, o Citibank, foi também salvo da falência. E são só exemplos ressonantes.


Estes simples exemplos nos demonstram, por uma parte, que estamos diante da crise mais profunda da ideologia neoliberal, porque, ademais, esta crise se produz no próprio berço do neoliberalismo e, por outra parte, que nos encaminhamos para um momento no qual os Estados periféricos terão a possibilidade de rechaçar de forma absoluta, e diante de seu patente fracaso, o paradigma neoliberal.

Por que? Pela simples razão de que os defensores desse modelo neoliberal não encontrarão forma de defendê-lo para aplicá-lo na Periferia, dado que o mesmo fracassou no próprio Centro. Hoje, é o Estado norte-americano que desembolsa somas milionárias para resgatar a General Motors, o sistema bancário e tantas outras empresas. Tudo ao contrádo do que eles mesmos pregaram durante 30 anos. É o Estado que interfere decisivamente na economia para salvar uma indústria norte-americana, para salvar um banco norte-americano, e o que vai interferir, caso necessário, para salvar uma universidade norte-americana.

A Caducidade da Ordem Monetária Internacional


Desde que se iniciou "oficialmente" a crise econômica internacional, com o famoso colapso do mega banco de investimentos "Bear Stern" em setembro de 2008, se sucederam uma série de reuniões do chamado "G-20". Em todas elas, os Estados Unidos tiveram como objetivo o de deixar fora da discussão o grande problema de fundo: a caducidade da ordem monetária internacional instaurada ao terminar a Segunda Guerra Mundial, quer dizer a ordem monetária baseada no reinado indiscutível do dólar como moeda mundial de reserva e câmbio (10). Terminada a Segunda Guerra Mundial, a hegemonia do dólar foi a expressão natural do vitorioso poder norte-americano. Tal hegemonia monetária foi uma consequência lógica do poder estrutural dos Estados Unidos. Aniquilado o Japão, derrotada a Alemanha e completamente exausta a Grã-Bretanha, devido à calculadamente tardia entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, a hegemonia do dólar constituiu, simplesmente, a expressão superestrutural do poder estrutural dos Estados Unidos. Em 1945, era o poder político, econômico e militar norte-americano o que sustentava a hegemonia do dólar como moeda de reserva e de câmbio. A partir de 2009, se torna patente que agora é a hegemonia do dólar que sustenta o poder político, econômico e militar norte-americano. Hoje, a hegemonia norte-americana se sustenta graças ao dólar, que detém ainda, o provilégio de persistir como principal moeda mundial de intercâmbios.


A realidade atual indica que é o dólar que hoje sustenta ao poder norte-americano e não, aquilo que seria lógico, o poder norte-americano sustentar sua moeda. Este é um fato novo que, à luz dos acontecimentos, resulta uma mudança substancial, irreversível por razões estruturais, pois não assistimos, como já afirmamos, a uma mera crise conjuntural do poder norte-americano, mas a uma crise estrutural do mesmo.

Importa, por último, destacar que a proeminência do capital financeiro dentro da estrutura do poder estadunidense, fez com que, até agora, a dirigência política, em lugar de tratar de reconstruir as bases estruturais da economia norte-americana, só haja conseguido criar, mediante uma emissão monetária gigantesca, um "Muro de Dinheiro", a fim de tratar de conter a derrubada da economia norte-americana e, como lógica consequência, do próprio poder norte-americano. (11)

A Caducidade da Atual Ordem Política Internacional


Importa ressaltar que a crise estrutural do poder norte-americano se produz simultaneamente ao extraordinário desenvolvimento industrial e tecnológico do denominado grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e que este fato poderia levar, até o ano de 2025, no caso de esses países continuarem com suas atuais taxas de crescimento, fato que os converteria em Estados-Continentes plenamente industrializados, à incorporação plena dos membros do BRIC ao seio da estrutura hegemônica do poder mundial, que até agora havia estado integrada exclusivamente por Estados Unidos, os Estados mais industrializados da Europa e Japão, e à formação de um novo Sistema Internacional multicêntrico, quer dizer, à conformação de múltiplos centros de poder mundial e à conflagração, por consequência lógica, de novas periferias ao redor desses novos centros de poder.


Resulta então altamente provável que a crise estrutural do poder norte-americano conduza à formação de um Sistema Internacional Multipolar. Estes novos pólos de poder se constituirão, logicamente, no novo diretório, formal ou informal, do mundo. Este diretório, formal ou informal, do mundo estará conformado pelos Estados Unidos que foi o primeiro Estado em se constituir como um Estado continente industrial e que, apesar da crise, conservaram fatores de poder decisivos. A Rússia, um Estado continente em processo de recuperação, a partir de Putin. A China, um Estado continente em processo de industrialização acelerada. A Índia, que praticamente com a mesma quantidade de habitantes que a China é, também, um Estado continente em processo de industrialização. Finalmente, um candidato a integrar este diretório seria o núcleo duro da União Europeia, quer dizer Alemanha e em menor medida a França, (Estados que construíram a união monetária para seu total benefício, razão pela qual Espanha, Itália, Grécia, Portugal e os outros Estados que integram a união ficaram completamente subordinados aos ditados de Berlim e Paris) se conseguem coordenar uma política externa e de defesa comum. Por certo, o Brasil aspira a ocupar um lugar nessa mesa. É preciso remarcar que o Brasil, que se pensa, desde o começo de sua vida independente, como uma potência mundial (12), é hoje o único país da América do Sul que tem vocação de ator global, que quer ter um destino de potência mundial e que está construindo, passo a passo, o poder necessário para respaldar sua aspiração. Recordemos, de passagem, que a Argentina enterrou essa vocação de potência que hoje tem o Brasil, com a morte do presidente Juan Domingo Perón, em 1º de julho de 1974.

Os Estados que se sentem nessa mesa integrarão a nova estrutura hegemônica do poder mundial em processo de maturação. (13)

Uma leitura objetiva da história da Política Internacional permite afirmar com clareza que sempre foram, e seguirão sendo, as condições reais de poder que determinaram a localização e o papel dos Estados no Sistema Internacional, incluídas nessas condições a cultura de uma sociedade e sua psicologia coletiva. Portanto, uma avaliação realista dos elementos que compõem o poder nacional dos distintos Estados presentes no cenário internacional faz prever que o Sistema Internacional, em meados da próxima década, estará caracterizado pela existência de seis centros de poder e que estará marcado por uma forte assimetria, na qual provirão dos respectivos centros as diretrizes regulatórias das Relações Internacionais e para os novos centros se encaminharão os benefícios, enquanto as respectivas periferias serão as provedoras de serviços e bens de menor valor, ficando, desse modo, submetidas às normas regulatórias dos novos centros.

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1 - Ainda que, mesmo em 1960, os Estados Unidos mantinham uma tarifa alfandegária média de 13%.

2 - Importa destacar que essa nova aliança deu como resultado particular que a maioria dos chamados políticos federais (senadores, deputados, governadores, funcionários do governo federal) sejam milionários ou dependam da classe mais rica dos Estados Unidos para obter seu trabalho em Washington. Segundo o Center for Responsive Politics, entre 40 e 50 % dos legisladores federais são milionários (1% da população total o é); a riqueza pessoal média dos 100 senadores é de 13.6 milhões de dólares; a de um representante, de 3.4 milhões. Como resultado geral, essa aliança fez com que os Estados Unidos ocupe o posto 39 (de 136) entre os países mais desiguais quanto à distribuição de renda (o primeiro, Namíbia, o mais desigual, enquanto os países escandinavos são os mais iguais, México, por exemplo, ocupa o lugar 27); nessa lista, os Estados Unidos estão acompanhados de perto por países como Filipinas, Jamaica, Uganda, Costa do Marfim, Irã, Malásia e Nigéria, segundo cálculos do índice GINI compilados pela ONU.

3 - O esquema da nova divisão internacional do trabalho pensada pela elite norte-americana e a conceitualização dos quatro grandes monopólios nós tomamos do grande economista egípcio Samir Amin.

4 - Sobre isso ver: AMIN, Samir, O Hegemonismo dos Estados Unidos e o Desaparecimento do Projeto Europeu, Madri, Ed. El viejo Topo, pgs. 40 e 41.

5 - Alvin Toffler começou a influenciar de maneira notável à elite política e militar norte-americana no ano 1970 com a publicação de seu primeiro livro chamado "O Choque do Futuro" onde sustentava a tese de que a aceleração da História acarretava suas próprias consequências, com independência das orientações reais de mudança, e que a simples aceleração dos acontecimentos e dos tempos de reação produz seus próprios efeitos, tanto se as mudanças se percebem como boas ou como más. Logo, em sua obra "A Terceira Onda", publicada em 1979, Toffler divide a história da civilização em só três partes: uma fase agrícola de "primeira onda", uma fase industrial de "segunda onda" e uma fase tecnológica anti-industrial de "terceira onda", que recém estava começando. Para Toffler, o aparecimento da "terceira onda" se converte na chave para interpretar as mudanças dramáticas que se produzem em seu entorno. A premissa revolucionária que lhe permite interpretar e discernir o sentido dos acontecimentos. As mudanças que ele observa na família, na sociedade, no Estado, desde a quebra da família tradicional, a difusão de cultos, o incremento do horário flexível, o aparecimento dos movimentos separatistas, a crise do Estado-Nação, não são, para Toffler, mudanças isoladas entre si, frutos do azar, mas partes de um fenômeno muito mais amplo, "A morte do industrialismo e o nascimento de uma nova civilização". (TOFFLER, Alvin, A Terceira Onda, Barcelona, Plaza&Janes, 1981).

Anos mais tarde, Alvin Toffler, em seu livro "A Mudança de Poder", com o qual fecha uma trilogia dedicada a explorar o impacto do "futuro" na sociedade contemporânea, concebe o poder como um banco de três pés, conformado pela riqueza, pela violência e pelo conhecimento. Imagem que o leva a elaborar o conceito de "poder do equilíbrio". TOFFLER, Alvin, A Mudança do Poder, Barcelona, Sudamericana, 1999, p.41

6 - Toffler sustenta que: "A era industrial seccionou o mundo em uma civilização dominante e dominadora da segunda onda e uma infinidade de colônias rudes, mas subordinadas da primeira onda (Toffler entende por sociedades da primeira onda às sociedades agrícolas não industrializadas)... nesse mundo, dividido entre civilizações da primeira e da segunda onda resultava perfeitamente claro quem ostentava o poder".

Na atualidade, afirma Toffler, "...a humanidade se dirige cada vez mais rápido para uma estrutura de poder totalmente distinta que criará um mundo totalmente dividido não em duas, mas em três civilizações claramente separadas, em contraste e competição: a primeira, simbolizada pela enxada, a segunda pela cadeia de montagem e a terceira pelo computador". TOFFLER, Alvin, As Guerras do Futuro, Barcelona, Ed. Plaza&Janes, 1994, p.41.

7 - A cidade de Pittsburg é um exemplo paradigmático do processo de desindustrialização que viveu os Estados Unidos. Pittsburg era conhecida como o "Ruhr estadunidense". Quer dizer: "...o coração da região do aço e do carvão. Sua indústria entrou em colapso na década de 80 e se perderam a metade dos empregos industriais, que hoje representam 8% da força laboral. Trinta anos depois Pittsburg se converteu em um dos centros da indústria de alta tecnologia e da saúde norte-americanas, com 35 universidades e 100 centros de investigação. A indústria sobrevivente se concentra na robótica, na eletrônica e na nanotecnologia". CASTRO, Jorge. "O G20, em busca de retomar o controle das finanças mundiais. Clarin, Buenos Aires, 9 de setembro de 2009, p.15.

8 - As investigações da corrida espacial colocaram às empresas estadunidenses na vanguarda tecnológica, outorgando-lhes uma vantagem competitiva extraordinária, ao mesmo tempo que modificaram a vida quotidiana em todo o planeta Terra. O laser, a fibra ótica, as tomografias computadorizadas, o forno de microondas e até as comidas congeladas tiveram ali sua origem. As técnicas para desidratar e congelar alimentos foram desenvolvidas pela NASA para que os astronautas levassem sua comida em celas pequenas e pudessem prepará-las facilmente. Também foram frutos da investigação espacial os equipamentos de diálise para o rim que purificam o sangue, as técnicas que combinam a ressonância magnética e tomografias computadorizadas para fazer diagnósticos fidedignas, as câmaras de televisão em miniatura que os cirurgiãos colocam em suas cabeças para que seus alunos observem uma operação, as camas especiais para pacientes com queimaduras e até as toalhas térmicas que se usam nos hospitais. A ivnestigação da fibra ótica permite hoje escutar um CD com um leitor laser, que as centrais de celulares transmitam dados ou que se emita informação bancária e financeira, em tempo real, desde e para qualquer lugar do mundo. Como destaca Noam Chomsky: "Desde a Segunda Guerra Mundial, o sistema do Pentágono, incluindo à NASA e ao Departamento de Energia, foi usado como um mecanismo óptimo para canalizar subsídios públicos para os setores avançados da indústria...por meio dos gastos militares, o governo de Reagan aumentou a proporção estatal no PIB a mais de 35% até o ano de 1983, um incremento maior do que 30%, comparado com a década anterior. A guerra das galáxias (proposta por Reagan) foi assim um subsídio público (secreto) para o desenvolvimento da tecnologia avançada... O Pentágono, sob o governo de Reagan, apoiou também o desenvolvimento de computadores avançados, convertendo-se, nas palavras da revista 'Science', 'em uma força chave do mercado' e 'catapultando a computação paralela massiva do laboratório para o estado de uma indústria nascente, para ajudar, dessa maneira, à criação de muitas 'jovens companhias de supercomputação". CHOMSKY, Noam e DIETRICH, Heinz, A Sociedade Global, Buenos Aires, Editorial 21, 1999, p.36

9 - Uma das consequências mais notáveis do processo de desindustrialização norte-americano é o assombroso aumento da pobreza infantil. O Fundo de Defesa das Crianças em seu último informe anual chamado "O estado das crianças dos Estados Unidos 2011" revela que uma em cada cinco menores de idade nos Estados Unidos vive na pobreza. Isso significa que 15.5 milhões de crianças e adolescentes (menores de 18 anos) vivem na pobreza e que a cada 32 segundos nasce outro para se somar a essas condições. O informe enfatiza que os mais afetados são as crianças de cor, ou seja, de minorias raciais e étnicas que hoje representam 44% de todas as crianças estadunidenses, mas que serão maioria para o ano de 2019. "Os menores de idade negros enfrentam uma das piores crises desde a escravidão, e de muitas maneiras as crianças hispânicas e indígenas americanas não estão muito atrás", adverte Marion Wright Edelman, presidente do Fundo de Defesa das Crianças (CDF, por suas siglas em inglês).

10 - Nos primeiros dias de janeiro de 2011, o presidente chinês Hu Jintao, em uma entrevista concedida conjuntamente ao The Wall Street Journal e ao The Washington Post, qualificou sem eufemismos ao sistema monetário internacional baseado no dólar como um "produto do passado" e assegurou que "um processo moderadamente longo, levará a moeda chinesa a se afirmar no plano internacional". CLARIN, 17 de janeiro de 2011, p.19.

11 - Walter Moore, em um interessante artico chamado "Cai o Muro do Dinheiro norte-americano" afirma: "O PIB dos Estados Unidos que no ano 2008, segundo o Banco Mundial, era de 14.305.700 milhões de dólares, diminuiu durante o ano de 2009, em 1.9% (ou seja, 0,275 bilhões de dólares). O déficit fiscal chegou, no mesmo período, a 3 bilhões de dólares e o déficit comercial a 0,57 bilhões de dólares. Todas essas perdas foram pagas com emissão de dólares, graças ao que, desde o ano de 2007, a base monetária dos Estados Unidos se multiplicou em 250%. Segundo o Banco Mundial, no ano de 2008, seu déficit efetivo chegou a 10,2% de seu PIB, ou dito de outra maneira, os Estados Unidos estão emitindo dinheiro por 110% de seu PIB, para pagar seus provedores internos (déficit fiscal) e a seus provedores externos (déficit comercial), e isso não computa a enorme quantidade de dólares que outros países guardam em seus tesouros. Mas essa enorme massa de dinheiro não se destinou a mobilizar o sistema produtivo (a economia real), mas a impedir que entrem em colapso os grandes bancos e organizações financeiras. E o resultado está à vista, os bancos mostram balancetes com grandes lucros, enquanto que a quantidade de desempregados norte-americanos cresceu até quase 10% da população economicamente ativa... A bolha monetária criada pela Reserva Federal norte-americana é gigantesca... se estima que por cada dólar que circula nos Estados Unidos, haja 22 dólares dando voltas pelo mundo. O que implica que, a medida em que o prestígio do dólar se debilita, seus possuidores tentarão comprar bens nos Estados Unidos para preservar o valor de seus papeis com bens reais. E ainda que só a metade dessa enorme massa de dinheiro ingressasse ao circuito monetário dos Estados Unidos, multiplicaria mais de dez vezes a quantidade de dinheiro em circulação, o que geraria nos Estados Unidos um processo inflacionário de tipo similar à hiperinflação sofrida pela economia argentina durante a década de 1980". MOORE, Walter, Se derruba o Muro de Dinheiro norte-americano.

12 - O Brasil emergiu do regime colonial, "...como um Estado-Império que formou a nação, atribuindo-se um destino manifesto de potência, não através da dilatação das fronteiras físicas (do que já não necessitava mais, ainda que anexasse, no início do século XX, o território do Acre, com certa de 500.000 quilômetros quadrados), ainda que sim, com sua consolidação e, psoteriormente, com o esforço do desenvolvimento econômci, apontando para aproveitar e transformar as riquezas naturais dentro das existentes e a conquistar, de acordo com aquela percepção, um status de maior autonomia no sistema internacional de poderes. O fato de que, ao se separar de Portugal, mantivesse sem ruptura da ordem política a unidade de sua vasta extensão territorial e que desfrutasse de plena estabilidade política quase todo o tempo do Império durante o século XIX, cimentou em suas elites e em seu povo, uma consciência de grandeza, suficiência e superioridade diante dos demais países da América Latina". MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto, Argentina, Brasil e Estados Unidos, Da Tríplice Aliança ao MERCOSUL, Buenos Aires, Grupo Editorial Normal, 2004, pgs. 543 e 544.

13 - Sem embargo, é preciso esclarecer que a esse novo multicentrismo não se chegará, sem passar por um intenso período de confronto, dado que, para os Estados Unidos, aceitar uma redução de seu papel no cenário internacional ou, inclusive, uma "repartição" de responsabilidades com a Europa, Japão, Rússia, China, Índia e Brasil, entranharia uma reforma do sistema monetário internacional, a perda do privilégio do dólar e, portanto, longe de permitir uma recuperação sustentada e estrutural de sua economia, afogaria o fluxo que opera em seu favor levando-o ao colapso econômico abrupto que implicaria, por sua vez, no colapso estratégico militar por incapacidade de sustentar o gasto de sua maquinaria bélica.

Nossa principal hipótese é que, os Estados Unidos, devido, entre outros fatores, à crise estrutural que atravessam, vão passar, paulatinamente, de ser uma potência global, a ser uma potência regional. Sem embargo, é necessário remarcar que os Estados Unidos não se vão resignar, pelo menos facilmente, a passar, de potência global a potência regional. É razoável supôr que o poder norte-americano apresentará batalha, uma batalha possivelmente cada vez mais virulenta, em todas as frnetes possíveis. Em tal sentido é que acreditamos que o Sistema Internacional atravessará por um período de grande turbulência. Durante este período, os Estados Unidos da América do Norte usarão tanto seu poder suave, como seu poder duro, a fim de atrasar sua passagem de potência global a potência regional.

Em tal sentido é que, por exemplo, tentam expulsar a China da África Oriental. Esta operação já começou pelo Sudão, aproveitando a terrível violação sistemática dos direitos humanos, que durante anos cometeu o governo sudanês, aliado tradicional de Pequim, contra a população cristã do sul do Sudão, se patrociou a partição do Sudão em dois Estados independentes.

Quanto a Eurásia, os Estados Unidos vão tratar de evitar algo que, para a Europa é fundamental: a aliança com Rússia. A Europa precisa da Rússia e a Rússia precisa da Europa. Enquanto a Rússia encontraria na Europa a tecnologia e os capitais de que precisa para seu pleno desenvolvimento, a Europa encontraria no enorme território russo, a energia e as matérias primas de que necessita para seguir sobrevivendo em um mundo que se encaminha para uma "crise de passagem".

Uma "crise de passagem"é aquela em que, tanto o velho padrão energético, como o velho padrão de industrialização, não terminam de morrer e os novos padrões, chamados a substituí-los, não terminam de nascer. É um período de crise existencial, porque a disponibilidade de diversos minerais escassos e indispensáveis para o processo industrial dependerá a existência mesma das grandes potências. Esta "crise de passagem" só poderá ser superada pela Europa, em aliança com a Rússia. Este cenário representa, para os Estados Unidos, o perigo de perder seu tradicional vassalo europeu. 

Dez Fatos sobre a Conexão ONU-LGBT

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Fonte: Revista Katehon



1) Em julho de 2013, o Departamento do Alto Comissário para Direitos Humanos lançou uma campanha de informação pública de nome "Livres e Iguais", que foi projetada para combater a homofobia e a transfobia, e promover um respeito maior pelos direitos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).

2) Em abril de 2014, o Secretário-Geral Ban Ki-Moon, em Mumbai durante a última fase da campanha global da ONU "Livres e Iguais", lançou uma mensagem especial, que dizia: "Em todo lugar para onde vou, eu tenho clamado pela revogação imediata de todas as leis que criminalizem relações consensuais entre adultos de mesmo sexo. Essas leis violam direitos básicos à privacidade e à liberdade em relação a deiscriminação. Sejam executadas ou não, elas encorajam ativamente atitudes intolerantes, dando à homofobia um selo de aprovação estatal".

3) Em setembro de 2014, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adotou uma resolução histórica para os direitos LGBT durante sua 27ª sessão, a segunda moção do tipo em sua história. A resolução, que foi intensamente promovida pelos EUA, foi proposta por Uruguai, Colômbia, Brasil e Chile. Países de cada continente no mundo se uniram como apoiadores. 

4) Em setembro de 2015, 12 agências da ONU pediram pelo fim da violência e discriminação contra adultos, adolescentes e crianças lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI) e estabeleceram passos específicos para proteger estes indivíduos.

Além do Alto Comissariado de Direitos Humanos, a declaração conjunta foi endossada pelas seguintes entidades da ONU: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Programa Conjunto da ONU sobre HIV/AIDS (UNAIDS), Programa de Desenvolvimento da ONU (UNDP), Organização Educacional, Científica e Cultural da ONU (UNESCO), Alto Comissariado da ONU para Refugiados (UNHCR), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento de Mulheres (ONU Mulheres), Programa Mundial de Comida (WFP), Organização Mundial da Saúde (OMS).

5) Em 29 de setembro de 2015, a ONU organizou o evento do Grupo de Alto Nível LGBT "Sem deixar ninguém para trás: Igualdade & Inclusão na Agenda de Desenvolvimento Pós-2015". Ele representou uma tentativa de promover a agenda LGBT em um nível global dentro dos Estados membros.

6) Em 10 de dezembro de 2015, Mogens Lykketoft, presidente da 70ª sessão da Assembleia Geral, durante um discurso público chamado "O Custo Econômico da Exclusão LGBT", disse que "segundo uma pesquisa encomendada pelo Banco Mundial, o prejuízo econômico causado pela exclusão LGBT poderia representar bilhões de dólares em PIB perdido, enquanto promover uma maior inclusão LGBT promete trazer benefícios econômicos reais e substanciais".

7) O relatório do Secretário Geral "Uma Humanidade: Responsabilidade Partilhada", pedia que os governos incluíssem o direito ao aborto e direitos LGBT em seus esforços de lidar com os objetivos humanitários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um novo plano maciço de desenvolvimento da ONU de 15 anos adotado pela Assembleia Geral ano passado.

8) A cúpula humanitária da ONU que será realizada em maio de 2016 em Istambul poderá ser usada por Ban Ki-Moon para abrir caminho para obter aceitação tática de sua abordagem dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em um cenário no qual as nações que resistam ao aborto e aos direitos LGBT estarão em desvantagem. Essa cúpula foi convocada por Ban Ki-Moon e é controlada inteiramente por sua equipe, em particular pelo Departamento do Coordenador de Assistência Humanitária (OCHA) e pelo Secretariado da Cúpula Humanitária Mundial.

9) A ONU está pressionando ativamente os governos de países com valores familiares tradicionais, especialmente no Terceiro Mundo. Em 27 de dezembro de 2013, o Departamento de Direitos Humanos da ONU apelou ao presidente de Uganda para que ele não assine a Lei Anti-Homossexualismo, e pediu ao país que garanta a proteção de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) da violência e discriminação.

"Indivíduos LGBT na Uganda são uma minoria vulnerável e marginalizada, já se deparando com violência e discriminação. Se assinada pelo presidente, essa nova lei reforçaria o estigma e o preconceito, e institucionalizaria a discriminação", disse Ravina Shamdasani, representante do Departamento do Alto Comissário de Direitos Humanos.

10) Burocratas da ONU apresentaram em fevereiro de 2016 uma série de selos postais da ONU que representavam homossexualismo, transexualismo e "famílias" homossexuais no QG da ONU em uma grande fanfarra e a alto custo em uma cerimônia excêntrica incluindo um coral gay de 33 membros cantando canções de amor contra um fundo de dançarinos nus e deuses gregos.

Delegações de pelo menos 86 países tentaram impedir o lançamento dos selos no dia do evento. Cartas lançando objeções aos selos foram enviadas a Ban Ki-Moon em 3 de fevereiro e permaneceram sem respostas por duas semanas.

Previsivelmente o Secretário-Geral, um defensor radical da aceitação social do homossexualismo, rejeitou quaisquer acusações de transgressão ou exagero, e pediu a emissão dos selos "em linha com o mandato" da Administração Postal das Nações Unidas.

Aliás, nenhum tratado da ONU inclui direitos LGBT ou protege de forma explícita ou implícita os homossexuais. 76 países no mundo explicitamente proíbem a sodomia em suas leis.


Eduardo Velasco - Contaminação Magnética

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por Eduardo Velasco

Primeira parte – Bioeletricidade e magnetismo astral

A vida não é possível sem os campos eletromagnéticos e a boa saúde não é possível se os campos eletromagnéticos estão desequilibrados durante grandes períodos de tempo. A energia magnética é a energia da Natureza em equilíbrio.
(Doutor Richard Broeringmeyer, editor da “Bio-Energy Health Newsletter") 

Quando consideramos a vida orgânica a luz da biofísica, descobrimos que os fenômenos elétricos estão na raiz de toda a vida celular e chegamos à conclusão de que ao final de tudo há uma carga elétrica.
(Dr. J. Bellot)

Os tipos de contaminação que normalmente chamam mais atenção do público são as contaminações atmosférica, aquática e diversas formas de intoxicação por produtos químicos, comida inapropriada, produtos de limpeza e similares. No entanto, há uma forma de contaminação do qual quase ninguém é consciente, apesar de que seus efeitos são igualmente graves ou mais do que as formas mencionadas: a contaminação eletromagnética ou eletrosmog. Para compreender a gravidade do problema, na primeira parte, começaremos dando uma revisão na importância dos campos eletromagnéticos e da bioeletricidade humana, posteriormente, na segunda parte, iremos dissertar por completo os efeitos perniciosos dos campos eletromagnéticos artificiais. 

A IMPORTÂNCIA DOS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS NATURAIS NA ORDEM CÓSMICA

As forças universais de atração e repulsão entre dois polos são as que mantêm a matéria em ordem, ligando as partículas atômicas, movendo os elétrons, regendo as reações químicas e dando coesão ao sistema solar, as galáxias e toda estrutura material. Quando o Big Bang dividiu a unidade primordial, surgiram espontaneamente duas forças opostas, como o polo positivo e negativo dum imenso campo eletromagnético. Por conseguinte, a interação dentre esses dois polos moldou o Universo tal como conhecemos. 

Portanto, os campos eletromagnéticos são tão antigos como o próprio Cosmo e estão relacionados com essa interação entre dois extremos energéticos. O mundo material perceptível pelos cinco sentidos convencionais se caracteriza por ser uma encruzilhada entre estes dois mundos, um escuro e outro iluminado. As tradições antigas têm identificados esses extremos de diversas formas: os taoistas falavam sobre yin-yang, os antigos germânicos de gelo-fogo, os hinduístas de prakrití-purusha, os cristãos de inferno-céu, os maniqueístas de escuridão-luz, e outros fizeram contraposições igualmente validas, como caos-ordem, dionisíaco-apolíneo ou acontecer-ser. Em seres vivos mais evoluído, a polaridade essencial para a vida se manifesta na relação sexual entre macho e fêmea, enquanto que na química e nutrição, temos a contraposição alcalino-ácido. No microcosmo, a polaridade é representada por elétrons, prótons, íons e outras partículas. A informática se rege atualmente por um sistema polarizado chamado "binário", que emprega o “zero” (o nada) e o “um” (o ser absoluto). Do mesmo modo, que uma corrente elétrica necessita de dois polos para fluir (gradiente de potencial), a vida e qualquer sistema precisa de dois extremos para se desenvolver, sob um equilíbrio similar a uma balança. Sem tensão, não há vida.

Como no espectro eletromagnético se refere, falamos duma dimensão "infravermelha" e "infravioleta". No lugar donde se cruzam e se mesclam estas duas dimensões, surge a luz do espectro visível, isto é, as setes cores do arco-íris, donde o vermelho é o mais "baixo" e escuro, o violeta é mais "elevado" e claro e o verde ocupa uma posição intermediária. Os hinduístas e budistas consideram que a disposição dos plexos nervosos humanos, chamado por eles de chakras, reflete uma ordem de existência piramidal, em que o primeiro chakra é a raiz em contato com o mundo (infravermelho) da Mãe Terra, e o sétimo é o receptor do mundo (ultravioleta), do céu, do firmamento e o resto do Universo. Sob esse ponto de vista, o ser humano é literalmente um condutor entre ambos mundos, em que ambas as forças opostas fluem, se mesclam, coincidem e se conciliam, particularmente a altura do coração. 

O espectro de luz visível é somente uma pequena porção do espectro eletromagnético total e corresponde com uma minúscula zona intermédia (as linhas de frente, se preferir), donde se cruza a ultraviolenta com a infravermelha. O corpo humano, disposto verticalmente com seus setes principais plexos cavernosos, aparece como condutor de forças entre ambas as dimensões, absorvendo energias da atmosfera através da respiração, pele e olhos, passando-a para a Terra através dos pés. A cor verde, elemento central desse espectro, corresponde com a biosfera terrestre. Tudo o que há debaixo dela está relacionado à Terra e o que há em cima, com a atmosfera e espaço.


Como todo mundo sabe, nosso planeta é um enorme imã, com "positivo" no polo norte magnético, e "negativo" no polo sul magnético. Essa polaridade se manifesta, dentre outras coisas, na tendência da bússola a apontar ao norte, assim como em fenômenos atmosféricos como as auroras. Os acontecimentos sísmicos e eventos climatológicos também estão estritamente relacionados com o eletromagnetismo, uma vez que o ferro do núcleo terrestre, assim como o magma, é um material altamente condutor, e o vento solar excita as partículas da atmosfera tornando-as reativas e as colocando em movimento. Os polos têm mudado de lugar inúmeras vezes ao longo da história geológica da Terra. Acredita-se que a última mudança dos polos pode ter ocorrido há 12.500 anos, e que a deglaciação foi um efeito derivado. Alguns relacionam as mudanças do campo geomagnético com o aparecimento e desaparecimento de certos hominídeos.

As auroras polares (boreal e austral) são os fenômenos atmosférico mais representativo da condição magnética da Terra. Acontecem quando um vento solar carregado eletricamente é captado pela ionosfera e guiado em direção aos polos. Quando as partículas do vento solar chocam contra os átomos e moléculas de ar terrestre, os tornam reativos e liberam energia em forma de luz As auroras têm maior atividade quando as temperaturas estão baixas, de modo que durante a última era do gelo deviam ser mais intensas e provavelmente ocorreram em latitudes mais remotas dos polos.


Mas a polaridade da Terra não somente se manifesta na oposição norte-sul. O solo em si é um polo negativo no que diz respeito à atmosfera. Um relatório duma empresa que fabricava ionizadores para a NASA dizia que: 

Foi determinado com plena certeza que existe um campo elétrico entre a Terra e a atmosfera. Esse campo elétrico natural é normalmente positivo em relação à Terra e sua força geralmente é de ordem de várias centenas de volts por metro.

Daniel Reid disse, em "O Tao da saúde, sexo e longevidade":

O gradiente de potencial é maior em lugares como montanhas, praias, parques e outros espaços abertos, donde os íons negativos fluem livremente desde o polo yang positivo da atmosfera ao polo yin negativo da Terra. Todos os organismos vivos situados entre ambos os polos atuam como condutores desta energia.

Victor F. Hess ganhou o prêmio Nobel em 1912 por ter descoberto que a origem dos raios cósmicos, responsáveis pela ionização da atmosfera, não estava exclusivamente no sol, mas sim em toda a galáxia, notavelmente devido à supernovas e o vento estelar galáctico.  Na década de oitenta, a missão espacial MAGSTA, confirmou que a Terra recebe influências magnéticas do sol e do resto do mundo sideral. O biólogo russo Aleksandr Petrovich Dubrov realizou 1228 experimentos baseando-se nos efeitos do magnetismo sobre os seres humanos, animais, aves, insetos e plantas. Ele viu claramente que existia uma correlação direta entre o bombardeio de raios cósmicos procedentes de protuberâncias solares e os ataques cardíacos, acidentes industriais e de estradas, e episódios de esquizofrenia aguda. Ele concluiu que toda a matéria, incluindo a não orgânica, parecia fortemente influenciada pelos raios cósmicos, e que os seres vivos se viam afetados de tal modo que haviam mudado a substância reprodutiva, o material hereditário e a estrutura do ADN. Em "The Geomagnetic Field and Life: Geomagnetolog”, Dubrov concluiu que as forças geomagnéticas e cósmicas são um importantíssimo fator evolutivo, e que as formas de vida se encontram sintonizadas com os ritmos magnéticos da Terra e do céu. Dubrov propôs aprofundar em um ramo científico que chamou de "astrobiologia" (não confundir com o mesmo termo cunhado pela NASA que se refere ao estudo de possível vida extraterrestre). Dubrov tem livros muito interessantes e segue ativo em conferências e investigações. Por sua vez, o Dr. Robert Becker (1923-2008) autor de "Electromagnetism and life", "Cross currents" e "The body electric”, comprovou que as tempestades magnéticas coincidem sempre num aumento do ingresso de pacientes em hospitais psiquiátricos, e em surtos psicóticos inexplicáveis por parte de pacientes hospitalizados.

Atualmente, conhecemos bem o efeito que têm os campos magnéticos, não somente sobre a Terra (velocidade em que gira, atividade sísmica, gravidade, órbita, climatologia, etc.) mas também sobre o comportamento e saúde do ser humano. Sabemos, por exemplo, que certos ventos (como o Levante em Cádiz)  provocam estresse. Que alguns acontecimentos astrais (como eclipses) são seguidos dum aumento de crimes e ingressos psiquiátricos. Que o ciclo lunar (além de reger as marés) está relacionado com o ciclo reprodutivo da mulher, ou que quando a Lua está cheia, o pelo facial e corporal cresce mais do que o habitual. A influência dos campos magnéticos astrais, rege em certa medida, os biorritmos ou biociclos (como o sono-vigília), a conduta e a orientação, uma vez que em nosso corpo há elétrons, íons e metais que são sensíveis a essas forças.

Mas a influência dos astros não se limita a isso. As tempestades solares podem causar interrupções totais em todos os sistemas terrestres que utilizam um campo eletromagnético. Isso aconteceu em 1859 e 1921, anos em que foram registrados graves apagões e interrupções de telegrafia (a tempestade magnética de 1859 atacou os fios telegráficos com tal força que ateou fogo no papel telegráfico e eletrocutou os trabalhadores) Atualmente, num mundo muito mais dependente da tecnologia, os efeitos duma tempestade solar forte seriam bastante dramáticos. O apagão em Quebec de 1989, causado por uma tempestade solar, deixou mais de seis milhões de pessoas sem eletricidade.

A magnetosfera terrestre, causada pelo ferro do núcleo, ajuda a amortecer, em conjunção com a atmosfera, os efeitos do constante bombardeio cósmico, "selecionando" os raios e os modificando para obter-se condições ideias para a vida. É um fato bem conhecido que as tempestades, erupções, ventos e manchas solares têm um forte efeito sobre o campo eletromagnético da Terra (chegando a causar tempestades magnéticas, apagões elétricos, interrupção de telecomunicações, etc.) e no comportamento humano. No entanto, o Sol e a Terra não são os únicos corpos astrais cuja influência está sujeita ao ser humano. A Lua, Marte, Vênus, todos os corpos do sistema solar, os cometas e as estrelas do espaço exterior, têm também, em maior ou menor grau, efeitos eletromagnéticos sobre nosso planeta e sobre nós mesmos. 

Nossos antepassados já eram plenamente conscientes de todos esses assuntos durante o Paleolítico, e da necessidade de interpretá-los e explica-los, nasceu a astrologia e a astronomia. Os homens antigos sabiam que os primeiros dias e meses duma criança o marcariam pelo resto de sua vida e que uma criança nascida sob a influência de Marte, com Lua cheia, em plena primavera e com a neve derretendo, não seria igual a uma criança que havia nascido sob a influência de Vênus, com Lua nova e outra época do ano abundante em neve ― mesmo que ambas as crianças partilhassem a mesma carga genética. Este é o significado original do zodíaco, assim como da simbologia astral presente na alquimia, que com o passar do tempo e o desenvolvimento da civilização humana, tem sido distorcido em caricaturas sensacionalistas do que foram outrora. 

O reconhecimento instintivo da influência astral procede dos rituais tradicionais, com seus calendários, festas, eventos programados e a divisão do firmamento em doze "parcelas": os signos do zodíaco. A melhor época para casar, para iniciar uma guerra ou um torneio, para promulgar uma lei, para construir um tempo, para cortar a madeira, para conceber um filho, para caçar, para semear, para a colheita e etc., vinham determinados pela configuração astral e a influência da Terra. Os chineses elevaram isso à categoria de ciência com o Feng shui. Pode-se dizer que a dança das estrelas no firmamento e o estado da Terra regiam o "tempo" das sociedades tradicionais. Para confirmar isso, os deuses e planetas partilham nomes em Roma e atualmente vários povos nomeiam os dias da semana a partir do nome de deuses pagãos. 


Planetas com nomes de deuses, ou deuses com nomes de planetas. A Terra não é o único corpo do sistema solar que tem auroras boreais. Os gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) têm campos magnéticos muitíssimo mais poderosos que o terrestre, enormes cinturões de energia e atmosfera gasosas altamente reativas, frequentemente infestadas por ventos e tempestades (como o famoso "olho de Júpiter"). Mercúrio também tem campo magnético, e as auroras têm sido observadas igualmente em Marte. Acima, vemos a aurora boreal de Júpiter. O telescópio Chandra captou os raios-X e os coloriu de magenta (um tom de vermelho mais levado para o violeta), e o telescópio Hubble captou os ultravioletas, colorindo-os de azul. Na imagem do centro é mostrada a aurora austral no polo sul magnético de Saturno, fotografada pelo telescópio Hubble em 28 de janeiro de 2004. Abaixo, aurora magnética em Urano, captada pela NICMOS (astronomia infravermelha) desde o Hubble, em 1998 

POR QUE O SOL É A VIDA

Os chineses denominavam yang a energia positiva e atribuem sua origem ao sol e as estrelas, a energia negativa é denominada de yin, e atribuem sua origem a Terra. 
(Soulié de Morant, diplomata francês em Xangai de 1919)

O sol emite a nossa atmosfera radiações ultravioleta e ventos solares consistentes em partículas carregadas eletricamente (prótons, elétrons, ferro e outros íons), que alcançam velocidades de 400 a 500 km por segundo. A interação do homem com o sol procede desde a aurora de nossa espécie e tem modelado enormemente nossa evolução. Há uma relação comprovada cientificamente entre a luz solar que penetra o nervo óptico e as secreções químicas do cérebro. Os fatores chave que estão nesse processo são os raios ultravioletas (UVA) e a retina, cujas células epiteliais se tornam altamente neuroativas em presença dos raios ultravioletas, transmitindo as radiações através do nervo óptico com um poderoso impulso nervoso até às glândulas pituitárias e pineal, que por sua vez, secretam uma série de substâncias químicas. Isso é chamado de "sistema ocular-endócrino” que tem dado lugar a um ramo científico chamado fotobiologia. 

Daí se presume que a quantidade e qualidade de luz que chega aos olhos e à pele é tão importante quanto as características do ar que se respira, da água que se bebe, dos alimentos que se come e das substâncias químicas dos quais estamos expostos. Do mesmo modo que o homem não pode esperar manter uma saúde excelente comendo alimentos adulterados e carentes de nutrientes, nem respirando ar contaminado, tampouco pode sustentar-se à base de luz desprovida de seus "nutrientes" ultravioletas.
É difícil encontrar uma tradição ancestral que não reproduz, de alguma forma, o culto ao sol como fonte de vida, saúde e energia. Os rituais de morte e ressurreição do Sol Invictus têm passado a praticamente todas as religiões e têm marcado o imaginário coletivo de civilização inteiras. Agora sabemos que as radiações e os ventos solares, literalmente regem a maior parte dos fenômenos de nosso planeta, desde terremotos e a climatologia, até o comportamento, mutações genéticas, a aparições de novas raças, espécies e formas de vida.

Nos tempos paleolíticos, as raças humanas nórdicas tiveram menor exposição ao sol devido a sua necessidade de se abrigar do frio, de modo que o compensaram reduzindo drasticamente a pigmentação de sua pele e de seus olhos para que fosse possível receber os benéficos raios cósmicos para seus corpos e cérebros. Graças a isso e à sua alimentação rica em gordura saturada animal, nossos antepassados não somente puderam seguir sintetizado com êxito a vitamina D necessária para sobreviver aos rigores da última era do gelo, mas também para construir corpos maiores e esqueletos mais sólidos (Neandertal e Cro-Magnon) de todo o registro fóssil humano.

Quando, como resultado de mudanças na atividade solar, advindo da mudança climática há uns 12.000 anos, houve enormes transtornos metabólicos no corpo humano, não somente devido ao calor, mas também a agricultura, que teve um impacto catastrófico nos hábitos alimentícios humanos. A síntese de vitamina D caiu demasiadamente devido à substituição de gordura saturada animal por hidratos de carbono complexos, e essa deficiência de vitamina D não compensou, aumentando assim a exposição do corpo ao sol. Começou a degeneração, lenta mas inexorável, da qualidade biológica humana nas sociedades civilizadas.

Com ascensão da civilização industrial, o problema do contato com a luz do sol se agravou. A densa camada de poluição que agora rodeia o planeta tem reduzido a intensidade solar, tendendo a eliminar concretamente a faixa ultravioleta do espectro. No observatório de Mount Wilson (Califórnia) os astrônomos têm constatado uma redução de 10% na intensidade média da luz ao longo da segunda metade do século XX, e uma espetacular redução de 26% (!) na chegada de radiações ultravioleta. No entanto, assim como tem diminuído a quantidade raios UVA devido a camada de sujeira atmosférica, a deterioração da camada de ozônio tem aumentado a quantidade de raios UVB, danosos para a vida. Esse transtorno na composição das radiações solares tem tido consequências imediatas sobre a biosfera, por exemplo na agricultura, reduzindo as plantações e a resistência das plantas às pragas ao ponto em que muitos agricultores chegam a cobrir o solo de seus cultivos com papel de alumínio, afim de aumentar a radiação.  Porém, se a decadência da luz solar tem produzido estes efeitos na agricultura, deveríamos questionar seriamente que efeitos estaria exercendo sobre o sistema óculo-endócrino humano, e o que poderíamos fazer para lutar contra eles.

Infelizmente, o problema da deficiência de raios ultravioleta não se limita à contaminação atmosférica, nem ao hábito de se abrigar em excesso devido a hábitos sedentários, má alimentação e um metabolismo lento. As janelas de vidro, para-brisas de carro, as garrafas (transparentes ou escuras) e as lentes de contato, eliminam boa parte da porção ultravioleta do espectro solar.  Do mesmo modo, a iluminação artificial que utilizamos em nossas casas, locais de trabalho, hospitais, escolas e etc, carece totalmente da faixa ultravioleta. As pessoas costumam passar a maior parte de seu tempo em ambientes fechados, entre cristais e paredes, e quando saem é com óculos de sol. O lazer tem deixado de consistir em atividades desportivas ou viagens ao campo, e foi-se substituído pelas compras, pela televisão, pelos videogames e reuniões em lugares fechados e isolados da atmosfera e da Terra. O sistema de vida atual está nos sujeitando, portanto, a um regime de exposição de luz totalmente diferente do que nosso corpo realmente precisa para estar saudável.

Imagem do Sol no espectro ultravioleta.

Os soviéticos estavam muito adiantados no estudo da fotobiologia e da helioterapia (utilização do sol com fins curativos, atualmente existem práticas similares como o Sun Gazing ou o Yoga Solar). Em 1967, em uma reunião do Comitê Internacional de Iluminação em Washington, três cientistas russos apresentaram o resultado de suas investigações:

Se a pele humana não permanece exposta as radiações solares (direta ou dispersas) durante longos períodos de tempo, ocorrem alterações no equilíbrio fisiológico do organismo humano. Os resultados são distúrbios funcionais do sistema nervoso e deficiência de vitamina D, com um enfraquecimento das defesas do corpo e uma agravação de doenças crônicas. 

Por sua parte, o Dr. Michael Gitlin (Instituto Neuropsiquiátrico da Universidade de Califórnia), comprovou que quando faltava luz solar, o cérebro começava a secretar melatonina, uma hormona que em condições normais somente se reservada para as horas de pouca luz, e que produz sonolência, letargia, apatia e depressão ("melancolia invernal”). 70% de seus pacientes responderam positivamente a um tratamento a base de luz artificial de espectro completo (incluindo ultravioleta). Com luz solar os resultados teriam sido, sem dúvida, muito melhores. Também experimentou-se em alguns institutos: a instalação de luzes de espectro completo demonstrava resultados imediatos, como o declínio de dores de cabeça, tonturas, fadiga, irritabilidade, depressão e inclusive, melhora dos resultados acadêmicos.

Imagens do Sol capturadas em diferentes comprimentos de onda. Os tipos de radiação estão dispostos em sentido horário, começando pela imagem superior esquerda estão: radio, micro-ondas (o ponto negro é Vênus) raio-X e infravermelho. O Sol envia radiações de todo o espectro eletromagnético. Do mesmo modo que o útero da mulher exerce um trabalho seletivo sobre o sêmen do homem, a magnetosfera e atmosfera terrestres também "filtram" a luz e o vento solar de seus elementos perniciosos para a vida (raios gama, raios-x, raios ultravioleta C e B, micro-ondas).

O CAMPO ELETROMAGNÉTICO DOS SERES VIVOS

Dado que nossos corpos são feitos de material condutor e estamos dentro do campo magnético da Terra, é óbvio supor que nossos corpos são como imãs. Um imã tem dois polos que devem estar situados numa linha central do imã, do qual se pode deduzir facilmente qual dos polos de nosso corpo devem estar em algum lugar da cabeça e na base do abdômen. 
(Dr. Yang Jwing-Min)

A ciência não tem feito mais do que confirmar aquilo que as tradições mais avançadas souberam desde sempre: que nos seres vivos há uma força vital invisível que se manifesta em todo um sistema bioeletromagnético. Os chineses chamam essa força de Qi ou Chi, os japoneses de Ki, os coreanos de Gi, os egípcios de Ka, os hinduístas de Prana, os polinésios de Mana, Aristóteles de "éter", os maniqueístas de "luz" e os judeus-cabalista de "luz astral". Os pitagóricos gregos falaram duma energia que permeia tudo, os hipnotizadores Van Helmont e Franz Anton Mesmer reconheceram o "magnetismo animal", o Dr. Reichenbach falou sobre uma "força ódica", Wilhelm Reich de "energia orgônica", Von Liebenfels de "eléktron dos deuses", os nazistas de "vril" e os cientístas soviéticos de "energia bioplámastica". A lista é extensa, evidenciando que a bioenergia (como sou a favor de chamá-la) se trata duma noção universal perfeitamente explicável pela ciência, não um delírio de quatro místicos isolados. Na Índia e na China, a arte de absorver energia da atmosfera mediante exercícios respiratórios (Pranayama e Chi kung) é considerado uma ciência, em contrapartida, não existe nenhuma disciplina comparável atualmente no Ocidente.

Como o planeta, o corpo humano possui um campo eletromagnético e precisa, portanto, de dois polos magnéticos para ter um equilíbrio. Nosso polo positivo se encontra no centro do cérebro, na altura das sobrancelhas (pleno cavernoso) e nosso polo negativo, no centro da parte inferior do abdômen (plexo prostático), coincidindo com o centro de gravidade do nosso corpo. Ambos os "polos" coincidem com zonas anatômicas de estrutura labiríntica e um enorme gasto metabólico. Na verdade, no artigo sobre a revolução carnívora vimos como o cérebro somente pôde crescer e se desenvolver quando diminuímos o gasto metabólico do sistema digestivo graças ao consumo de carne cozida. Ambos os sistemas, portanto, formam parte duma balança metabólica e magnética, e determinam o equilíbrio de nossa saúde.

O campo eletromagnético humano como uma bateria com seus dois polos. A antropologia evolutiva demonstra que, no corpo humano, o desenvolver do "labirinto superior" (cérebro) se levou a cabo reduzindo o gasto metabólico e simplificando a estrutura do "labirinto inferior" (os intestinos) graças a revolução carnívora e outros efeitos evolutivos do frio.

O campo eletromagnético mais forte do corpo humano é o coração, órgão que em diversas tradições tem concedido uma importância enorme como o centro do ser do individuo. Foi determinado que o coração emite um campo que é 100 vezes mais poderoso do que os elétricos e 5.000 vezes mais poderoso que o magnético, que o campo magnético do cérebro. Esse campo cardíaco está em continua interação com o cérebro e se acopla a (além de influenciar em) diversos biorritmos, batidas, humor, etc, tanto nosso quanto de pessoas que nos rodeiam.

Campo eletromagnético do coração. O coração vem a ser o intermediário que concilia os poderes do cérebro e da barriga.

Muitos animais fazem uso extensivo do magnetismo e\ou da eletricidade. Por exemplo, os pombos mensageiros se orientam sintonizando os cristais de magnetita de seu córtex cerebral com o campo magnético da Terra. Graças a isso, são capazes de encontrar seu caminho em meio à neblina ou em noites escuras, sem absolutamente nenhum ponto de referência visual. No entanto, quando eles estão ligados com imãs na cabeça, perdem sua capacidade magnética e seu senso de direção é anulado. Também têm se encontrado diminutas partículas superparamagnéticas nas vilosidades do abdômen das abelhas, e a acredita-se que são responsáveis por sua capacidade para encontrar suas fontes de alimentação, inclusive em dias de nevoeiro intenso. Tubarões, raias e outros animais marinhos, possuem as chamadas ampolas de Lorenzini, órgãos sensoriais com os quais se detectam campos magnéticos. Na verdade, os mergulhadores e surfistas costumam utilizar dispositivos eletromagnéticos, para atordoar esses órgãos e prevenir ataques violentos. Enguias elétricas, capazes de produzir cargas de 600 volts, são outro bom exemplo de bioeletricidade. Sabemos que a suscetibilidade dos animais em geral, frequentemente se adiantam instintivamente a certas catástrofes naturais como terremotos, inundações ou erupções vulcânicas, relacionados com a atividade do subsolo ― que por sua vez, é influenciada pelos metais do núcleo terrestre, o magma, a magnetosfera e a atividade solar. Os bebês, que nascem em grande medida intactos dos estragos causados pela vida civilizada e que tem um crânio mais fino, assim como muitas crianças, muitas vezes mantem também uma alta sensibilidade magnética. Isso dura geralmente até que os ossos se fortaleçam, as suturas cranianas se soldem, o sistema endócrino vá mudando e a vida moderna vá corroendo o organismo a todos os níveis.

Hoje sabemos que o ser humano tem um órgão bioeletromagnético sensorial comparável, que se relaciona com duas importantes glândulas do centro do cérebro (a pituitária e pineal), e que, antes do advento da sociedade tecnológica, os humanos tinham, seguramente mais que os animais, certas faculdades relacionadas a isso. O britânico Dr. Richard Baker descobriu (ver aqui) que existia uma massa de cristais de magnetita ligeiramente por acima e abaixo da passagem nasal, justo na frente da glândula pituitária. Isso foi definitivamente comprovado em 1992 por Joe L. Kirschvink, em seu estudo "Magnetite biomineralization in the human brain". No entanto, esse fato já era bem conhecido na prática há muito tempo. No Oriente, donde floresceu as tradições (hinduísmo, taoísmo, budismo, etc.) que melhor conhecem o corpo humano, essa zona era chamada de "campo do elixir superior", "olho celestial", "o saber (ajna), pérola da sabedoria", urna, “olho de Shiva”, “olho de fogo da percepção transcendental”, “ponto brilhante,” dentre muitos outros nomes de conotação claramente metafísica.  Considerava-se que aqui residia um centro energético importante que, ao ser ativado, proporcionava ao adepto mais percepções do que os cinco sentidos convencionais. Enquanto isso, os hipnotizadores têm intuído desde sua origem que acima do nariz há um poderoso campo magnético a que sempre dirigiram sua atenção e concentração. 

A glândula pineal produz neuro-hormônios como a melatonina e serotonina, duas substâncias que regem praticamente nosso estado de ânimo, influenciando nossas funções vitais (apetite, sono-vigília, libido, etc.). É sabido que a glândula pineal é altamente sensível até as mais leves oscilações do campo magnético da Terra, e que estas influenciam suas secreções. Portanto, não há motivo para não pensar que é igualmente sensível aos campos eletro magnéticos astrais e os novos campos artificiais ― muitos dos quais são infinitamente mais potentes que os naturais.

As correntes diretas que circulam pelo cérebro humano e o sistema nervoso graças à atividade cerebral, também causam um campo magnético: se trata da aura representada em torno das cabeças do santos, deuses e anjos, tanto no Ocidente como no Oriente. Existem seres particularmente perceptivos (como as crianças, muitos animais e pessoas que tem cultivado essa faculdade ou que a tem conservado), aos campos magnéticos; alguns, todavia, chegam a vê-los a olho nu.



Como na Terra, o corpo humano está atravessado por uma infinidade de canais de energias que não necessariamente coincidem com os nervos ou com os vasos sanguíneos. As correntes elétricas naturais do corpo humano estão tão reconhecidas que se utilizam de eletrocardiogramas, encefalogramas, detectores de mentira que medem o potencial elétrico da pele, e é sabido que um choque elétrico aplicado a tempo pode resolver uma parada cardíaca. Também sabemos (Dr. Dimier e Dr E. Biancini) que em pessoas de boa saúde, a carga elétrica ronda em média de 8 microamperes, e em pessoas fadigadas, 1 ou 2, enquanto que em pessoas sobrexcitadas ou hiperativas se encontram em um estado de "curto-circuito", a 15 microamperes. Todo o sistema nervoso vem a ser uma árvore bioeletrica que rege nosso organismo desde seu "quartel general" cerebral. A acupuntura chinesa conhece em detalhes esses canais (que são chamados de "meridiano") boa parte dos quais terminam na planta dos pés e na palma das mãos, e eles tem fundindo esse conhecimento com a ciência ocidental para produzir a eletroacupuntura, método eficaz de terapia de lesões e outros males. O Hospital Geral dos Veteranos de Taipei (Taiwan), tem levado a cabo com muito êxito diagnósticos precoces (antes da manifestação sintomática) de enfermidades com 80% de sucesso, sem utilizar nenhum método (analise de sangue, raio-X, estetoscópios, etc.) associados a medicina moderna ocidental, totalmente baseada numa perspectiva química e mecânica (para não mencionar econômica) do homem, e ignorando a mudança da física do corpo, ou a biofísica. Na Coreia do Sul, China, Taiwan e Japão, os métodos combinam o tradicional e o moderno, estão em ordem no dia, e seus especialistas tem grande êxito quando se mudam para o Ocidente.

Se o corpo humano é como um circuito atravessado por correntes elétricas, onde e como se armazena a energia absorvida da atmosfera através da respiração, os olhos e pele? Como em uma bateria, a bioenergia se guarda nos eletrólitos de fluidos vitais, associados ao baixo-ventre, nosso "polo sul" negativo. Os eletrólitos (condutores elétricos em que a corrente se transmite por íons no lugar de elétrons) se armazenam nesses fluidos até que são liberados em forma de impulsos nervosos, à instância do cérebro. Isso explica a importância que dão as religiões orientais ao cultivo e conservação de "essências" do organismo, especialmente o sêmen. 

A serpente do céu. O relâmpago é a manifestação mais óbvia e pontual da interação eletromagnética natural entre a Terra e o céu. Também se dá quando as erupções vulcânicas ou incêndios florestais lançam grandes quantidades de partículas ionizadas no ar. Os povos indo-europeus o relacionam com deuses masculinos da atmosfera, como Thor, Zeus, Júpiter, Perun ou Indra. Alguns consideram que as primeiras formas de vida surgiram quando caíram raios sobre o mar, ionizando a água, transmitindo energia e separando o ácido do alcalino. 

As investigações de Carl Reichenbach e Wilhelm Reich

Em meados do século XIX, o barão alemão Dr. Kael Ludwing von Reichenbach dedicou três décadas de sua vida à investigação dos campos magnéticos. Von Reichenbach, um verdadeiro gênio realmente talentoso de seu tempo, respeitado químico, geólogo, metalurgo, naturalista, filósofo e membro da Academia de Ciências da Prússia, havia descoberto vários produtos químicos derivados do alcatrão e economicamente importantes, contribuindo enormemente na indústria química de seu país, que tanto influenciou o impressionante boom alemão. No entanto, suas contribuições notáveis provinham de seus interesses em aprofundar uma teoria de Galileu, segundo o qual a Terra estava magneticamente conectada a uma força central universal no espaço exterior. Reichenbach, metalurgo experiente, considerava que isso se devia ao ferro do núcleo terrestre. 

Em 1839, ele se aposentou do mundo industrial e começou uma investigação das patologias do sistema nervoso humano, concluindo que estavam, em boa medida, influenciadas pela Lua. Influenciado pela obra de Mesmer, donde defendia que o sistema nervoso humano era suscetível aos entornos magnéticos, mas suas investigações acabaram levando-o muito mais longe. Em todo imã detectou, após passar tempo na escuridão para sensibilizar os olhos, um brilho vermelho no seu polo sue negativo, e um brilho azul em seu polo norte positivo, e acabou dando com a existência duma força universal que influía entre esses dois polos, que impregnava todos os seres vivos e que se manifestava como uma combinação de eletricidade, magnetismo, calor e finalmente luz. Essa energia é chamada de "força ódica" ou Od (curiosamente, esse é o nome que davam os antigos escandinavos a energia que inspirava os berserkers). Von Reichenbach explicou com detalhe sua teoria em um extenso artigo intitulado: "Investigações sobre magnetismo, eletricidade, calor e luz em relação as forças vitais", que apareceu numa edição especial do jornal científico "Annalen der Physik". Dentre outras coisas, disse que a "força ódica" tinha um fluxo negativo e positivo, um lado "escuro" e outro "claro", e que os indivíduos podiam emaná-los voluntariamente pelas mãos, bocas e testa. 

Barão Karl Ludwig von Reichenbach (1788-1869).

Outro caso que confirmou a mesma ideia, provém do próximo século, com a ajuda dum judeu austríaco (embora ele não tenha sido educado no judaísmo e também não se considerar judeu) o Dr. Wilhelm Reich. Como Freud e Karl Jung no começo, Reich pertenceu ao círculo de psicanalise freudianas de Viena. Eventualmente rompeu com o círculo, mas nunca chegou a se desprender de sua obsessão freudiana com sexualidade como causa subjacente de todos os transtornos psicológicos. Depois de ter flertado com o marxismo, ser rejeitado pelos freudianos, ele também seria rejeitado pelos nazistas. As teorias extravagantes de Reich (que em sua ânsia de "disparar a energia sexual" considerava que todo o mundo estava "sexualmente reprimido" e advogava coisas como a sexualidade adolescente, propagação de anticoncepcionais, emancipação da mulher e aborto) não obteve resultado na sociedade nazista, que defendia a família a todo custo e que atacou seu artigo: "A luta sexual da juventude". Em Osolo também seria rejeitado, e nos Estados Unidos foi condenado a dois anos de prisão Muitas de suas publicações foram queimadas por ordem da FDA (Food and Drug Administration, poderoso órgão que domina a indústria alimentícia e salubre) em 1956, num inédito ato de censura, talvez o mais notável de toda a história americana.

Reich afirmava ter descoberto o "orgônio", uma força que ele descrevia como onipresente, azul e responsável pelo clima, a gravidade, a formação das galáxias e a expressão biológica das emoções e da sexualidade, especialmente do orgamo. Segundo sua teoria, exposta em "A biopatia do câncer", o corpo humano recebia o orgônio do Sol e da atmosfera. Sua invenção de acumuladores de orgônio atmosférico na década de quarenta e suas declarações do poder de cura do câncer com eles, supostamente foram a causa de a indústria sanitária  americana o censurou. Reich morreria na prisão em 1957, poucos dias antes de pedir liberdade condicional. 

O efeito Kirlian

A fotografia de Kirlian ganhou esse nome por conta de um casal de russos, Semyon Davidovich Kirlian e sua esposa Valentina, que a inventaram acidentalmente em 1939, enquanto experimentavam no laboratório Hospital de Alma-Ata (Cazaquistão) com campos eletromagnéticos de alta voltagem. De forma parecida com o Dr. William Kilner em 1911, descobriram que aplicando um campo eletromagnético entre o objetivo a ser fotografado e o papel fotossensível, era capturada uma espécie de auréola de energia. O regime soviético (que apesar de seu materialismo cientificista sempre concedeu importância aos assuntos "paranormais", medicinas tradicionais e a cura de doenças através de jejuns e nutrição) se interessou por essa descoberta e financiou suas investigações.

Duranta a década de sessenta, juntamente com o Dr. Inyushin (Universidade do Cazaquistão) e o Dr. Grishchenko (Universidade de Moscou), o casal Kirlian ajudou a moldar a teoria de uma substância biologica sútil ao que os soviéticos chamaram de "energia bioplásmica", bioplasmática, plasma biológico ou plasma cósmico. Chegaram à conclusão de que essa "auréola" de energia era uma espécie de fluxo radiante e em movimento, composto de elétrons, prótons e íons livres, e que podia ser considerado um "quinto estado da matéria" (acima do sólido, liquido, gasoso e plasmático), dentro do qual o equilíbrio entre as partículas da carga positiva e negativa é relativamente estável. Quando o equilíbrio se desfaz aparecem as doenças tanto psicológicas como física. 

Esquerda: cogumelo orgânico. Direita: cogumelo transgênico. A efluviografia kirlian não é uma mistificação pseudocientífica, tampouco um fenômeno paranormal, mas sim um sistema eletrográfico comprovadamente real, capaz de traduzir o que se conhece na física como descarga de corona (também chamado de descarga de corona) tanto de objetos vivos como inanimados. Na foto, podemos ver a contraposição entre a "aura" de um cogumelo cultivado por métodos orgânicos e um cultivado por métodos comerciais de produção em massa. As raízes são visíveis mesmo que se tenha arrancado, o mesmo acontece em membros humanos que foram mutilados: a aura da perna, dedo, mãos, permanecem após a amputação. As investigações estão atualmente a cargo do Dr. Konstantin Korotkov, da Universidade de São Petersburgo.

Que o método Kirlian "funciona"é algo aceito. A polêmica está na natureza do campo energético fotografado, assim como nas diversas aplicações que essa fotografia poderia ter. Seus defensores afirmam que se pode utilizar para conhecer o estado de animo duma pessoa, para diagnosticar e até antecipar doenças, para saber se alguém está mentindo, etc. Os julgamentos certeiros das pessoas com sua sensibilidade "psíquica" supostamente viriam dado sua capacidade de ver a aura humana, e portanto, para compreender diretamente a essência dum individuo, já que até agora é fácil atuar, fingir e mentir, mas nosso campo eletromagnético é infalsificável. 

Atualmente as investigações a respeito estão encarregadas ao físico Dr. Konstantin Korotkov da Universidade de San Petersburgo. Korotkov possui patentes de 12 invenções do campo da biofísica, tem publicado mais de 70 estudos em publicações científicas importantes, suas conferências o têm levado a 24 países e por conseguinte, é um alpinista experiente com décadas de prática. Korotkov tem aperfeiçoado a técnica Kirlian com uma invenção sua o GDV (Gas Discharge Visualization - Visualização da Descarga de Gás) outra câmera de bioeletrografia com o qual se pode analisar e monitorar os campos eletromagnéticos vivos para conhecer a saúde dos órgãos, características psicológicas de um individuo, estado anímico e outros fatores. Na Rússia essa técnica está totalmente aceita pelo Ministério da Saúde e o GDV é catalogado como um instrumento médico. No mundo mais ocidentalizado, em mudança, a saúde está em mãos de poderosas megacorporações privadas pelo qual as doenças são um grande negócio, com o qual a população uma população totalmente saudável seria ruim para eles. Enquanto dão palestras e começam timidamente a introduzir esse novo ramo científico, o programa no Ocidente é mais lento, e continuará sendo até que o sistema econômico obsoleto cleptocrático, usureiro e supra-estatal tenha mudado. 

O neandertal e o campo magnético da Terra

O geofísico Jean Pierre Valet falava sobre a possível relação entre o desaparecimento do neandertal com um fenômeno que afeta (ou afetou) o campo magnético da Terra. 

Temos proposto diversas teorias para explicar o desaparecimento dos neandertais e nenhuma delas chega a ser convincente. Há algo que ninguém tem notado e que é o momento do desaparecimento do homem neandertal que ocorreu entre 40 a 35 mil anos antes de nossa era, o campo magnética da Terra tem tido uma característica muito peculiar, sua intensidade era muito débil e sua direção tem mudado consideravelmente. Deixe-me explicar do que se trata. Quando se segura uma bússola atualmente, ela apontará para o polo norte magnético, que está muito próximo do polo norte geográfico, mas há 40 mil anos o polo norte magnético se encontrava próximo do polo sul geográfico. Se produziu o que chamamos de uma inversão. É provavelmente o que ocorreu durante o “evento Laschamp", que é quando, há 35 mil anos, o campo magnético se tornou muito fraco e deu lugar a uma inversão.
São fenômenos que ocorrem com frequência ao longo da história da Terra, a última inversão ocorreu há 780.000 anos, mas também teve eventos muito mais rápidos durante os quais o campo se desestabilizou durante um curto período para depois voltar à sua polaridade inicial. Foi justamente isso que aconteceu há 40 mil anos. Durante esse período, o campo se debilitou e permitiu a entrada de radiação cósmica já que proteção magnética do planeta estava alterada. Por conta disso, muitas partículas provenientes do espaço alcançam as camadas inferiores da atmosfera e desencadeiam uma avalanche de reações químicas muito concentradas que atacam a camada de ozônio, destruindo-a parcialmente, em especial na área perto dos polos. Agora temos apenas dois polos magnéticos, mas durante o evento Laschamp sabemos que poderia ter muito mais. Devido a essa multipolaridade, os ataques à camada de ozônio foram mais significativos.

A camada de ozônio nos protege dos raios ultravioletas, especialmente os B (UV-B), que são os que danificam a pele, e quando a camada de ozônio é afetada, penetram mais raios ultravioletas. Atualmente vemos isso no sul do Chile. Na cidade de Punta Arenas, onde se têm feito diversos experimentos, vimos que se tem produzido um aumento alarmante do câncer de pele e do número de melanomas malignos. 

O homem neandertal tinha uma morfologia que não era tão longe da nossa e diferente do que pensamos por muito tempo não estava coberto de pelos. Tem-se demonstrado mediante analises genéticas que os indivíduos eram de pele clara e potencialmente com olhos azuis claros. O neandertal era um caçador e precisava de faculdades visuais muito importantes como para mirar melhor suas presas e caçar corretamente. 

Sabemos que na Europa houve um buraco na camada de ozônio entre os anos 35 e 40 mil graças aos dados obtidos de cálculos e analises sobre rochas locais, em particular as rochas vulcânicas, em que se acumulam diminutas partículas magnéticas depois de que a lava esfria sobre elas. 

Não sabemos se em outros lugares houve mais extinções, temos calculado que, seja como for o campo magnético, bipolar ou multipolar, a diminuição da camada de ozônio será em latitudes elevadas, entre 45 e 90 graus norte ou sul. 

O homem neandertal começou a desaparecer há uns 40 mil anos, sua população diminuiu e suponhamos que houve reagrupamentos no sul da Espanha, nos arredores de Gibraltar e haviam desaparecidos há 32 mil anos. Suponhamos que o desaparecimento se deu em duas etapas: primeiro na Europa ocidental e finalmente em Gibraltar. O campo magnético teve essas características especiais durante todos esses anos.

Cremos que o homem moderno coexistiu com o neandertal nas mesmas épocas geográficas que esse, mas foi mais resistente ao campo magnético e nem toda a população foi afetada. 

Não conseguimos encontrar uma correlação direta entre o desaparecimento dos insetos e a inversão do campo magnético. Dito isso, existem extinções massivas que ocorrerão nos próximos dias, a dúvida que segue em curso e muitos investigadores estudam sobre esse problema. 

Quanto aos hominídeos, eles se encontraram principalmente na África, em uma latitude demasiadamente baixa e os grandes primatas não foram afetados, já que estavam cobertos por pelos. 

Segunda parte – Electrosmog: o nascimento da contaminação eletromagnética

Pela primeira vez em nossa história evolutiva, temos gerado um ambiente completamente secundário, virtual e densamente complexo – uma sopa eletromagnética – que se sobrepõe essencialmente ao sistema nervoso humano. 
(Dr. Michael Persinger, neurocientista da Laurentian University que tem estudado os efeitos de ondas magnéticas em células cancerosas)

Como foi vista na primeira parte deste artigo a forma como o sistema bioelétrico humano necessita de influências da Terra e da atmosfera para estar saudável, na segunda parte veremos um exemplo perfeito dos horrores que se desencadeiam quando o homem deixa de ser o centro do mundo e de sua própria obra, assim abrindo a caixa de Pandora e entregando o protagonismo à matéria inerte e ao benefício econômico. Atualmente tendemos a pensar que tudo que fazemos está bem, que existe um progesso linear e indefinido e que somos “civilizados”, quando na realidade o corpo humano nunca foi tratado com tanto desprezo e selvageria quanto nos dias de hoje.

Possivelmente para um caçador-coletor do Paleolítico, os bárbaros seríamos nós, que estamos atacando sem descanso a biologia humana, desperdiçando a herança genética de inumeráveis milênios e queimando os recursos finitos do planeta, isso sem desconsiderarmos o ápice da evolução.
Antes de Thomas Edison e Nikola Tesla descobrirem como utilizar a eletricidade, os únicos campos eletromagnéticos nos quais o homem estava exposto eram:

O campo geomagnético da Terra, com uma força de 0,5 miligauss e frequências entre 1 e 30 Hz  (em ciclos) por segundo (variando em zonas e épocas). A maior potência e amplitude do campo se produz entre os 7 e 10 Hz. Curiosamente, as ondas cerebrais humanas também vão de 1 a 30 Hz, sendo que as de 10 Hz é chamada de ondas alfa e representam um bom estado de saúde. 
As radiações eletromagnéticas naturais e campos gravitacionais procedentes do Sol, de outros corpos astrais e do espaço exterior.
Os campos eletromagnéticos naturais procedentes de outros seres humanos, animais, plantas, minerais, ventos e condições atmosféricas, que são basicamente um produto da interação entre a Terra e o espaço.

Durante milhões de anos, o cérebro, o corpo e o código genético de nossos antepassados evoluíram em plena sintonia com o campo geomagnético da Terra, do céu e doutras fontes naturais menores. Não obstante, desde que a industrialização favoreceu a construção e o emprego de aparelhos elétricos, estamos cada vez mais expostos a campos eletromagnéticos artificiais. Esses campos estão cada vez mais poderosos, e extremamente prejudiciais, já que funcionam em potências e frequências artificiais as quais nossa biologia não está adaptada.

O fato de não podermos ver os raios infravermelhos e ultravioletas a olho nu não significa que eles não existam ou que não nos afetem. Como vimos na primeira parte, as glândulas pituitária e pineal são sensíveis a essas oscilações, e hoje em dia o espaço aéreo de todo o planeta está totalmente infestado de ondas eletromagnéticas de todo tipo: rádio, telecomunicações, sinais de satélite, microondas, radares e etc; temos criado uma diabólica rede de milhões e milhões de campos eletromagnéticos cujas frequências e potências não existem na Natureza, que atravessam o ar e que anulam o suave pulso natural do campo terrestre.

Antes de desbravarmos completamente o tema, veremos como se divide o espectro eletromagnético.

TIPOS DE RADIAÇÕES ELTROMAGNÉTICAS

A potencia dum campo magnético (a chamada “densidade de fluxo magnético” ou “indução magnética”) se mede por graus (G) e miligauss (mG), em homenagem ao gênio alemão Carl Gauss. Para se ter uma ideia, o campo geomagnético da Terra ronda em torno de 0,5 miligauss. As áreas urbanas tendem a ser de 3 mG, as suburbanas entre 1 e 3 mG e o campo dum barbeador elétrico pode chegar a 400 mG (!).

A frequência de uma radiação eletromagnética se refere ao "pulso" da vibração, ou seja, sua longitude de onda. "Baixa frequência" significa que a onda é longa, que o sinal é "lento" e que a radiação é mais intensa quanto mais baixa a temperatura do objeto afetado. "Alta frequência" significa que a onda é curta, que o sinal é "rápido" e que a radiação é mais intensa quanto mais alta é a temperatura do objetivo afetado. A frequência se mede em hertz (Hz, em homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz), megahertz, (MHZ, um milhão), gigahertz (GHz, mil milhões), ou terahertz (THz, um bilhão) e que se referem a uma quantidade de "ciclos" ou repetições do sinal em um segundo. Um hertz significa um "piscar" (parpadean) ou oscilação por segundo. O campo geomagnético da Terra ronda entre 1 e 30 Hz e o do ser humano saudável entre 7 e 10, como vimos antes.

Em resposta a frequência, o espectro eletromagnético está dividido em bandas ou em "setores", cada um com suas características determinadas. Veremos as diversas bandas, de menor a maior frequência. 

As bandas do espectro eletromagnético.

• ELF (Extremely low-frequency - frequência extremamente baixa). Entre 0 e 30 Hz. Longitude das ondas de mais de dez mil km. Considerada frequentemente como "sub-rádio". Torres e linhas elétricas, cabos domésticos, computadores, etc. Podem causar correntes elétricas através do corpo. Alguns programas militares utilizam essa frequência para manipular a ionosfera, encontrar hidrocarbonetos, depósito de armas, instalações subterrâneas inimigas, etc. Um dos principais problemas levantados pela ELF é que suas frequências incluem aquelas a que funciona o cérebro humano e a Terra. Isso explica que a presença de instalações de ELF se relacione com uma série de males cerebrais como a leucemia (especialmente infantil), demência, dores de cabeça, interrupções de sono, tontura ou mal de Alzheimer, assim como que existem armas baseadas em radiações CEM, capazes de manipular até certo ponto o comportamento humano e a crosta terrestre. 

Artefatos do ELF do programa HAARP.

• ONDAS DE RÁDIO.  Entre 30 Hz e 300 Mhz de onda entre 10.000 km e um metro. Muito utilizadas pela civilização moderna em emissões de rádio, televisão, telefones e outras comunicações sem fio, antenas, navegações, etc. A seguir contém uma tabela com diversas frequências eletromagnéticas, alguns dos quais serão reconhecidas por qualquer um que as tenha visto em aparatos elétricos. A exposição destas ondas se associa com o "mal de rádio", a Hiper Sensibilidade Eletromagnética (HSE) e perturbações nas interações celulares do corpo.

ELF
3 – 30 Hz
Comunicações submarinhas, cabos elétricos
SLF
30 – 300 Hz
Linhas de corrente alternada, computadores, televisores
ULF
300 Hz – 3 kHz
Terremotos, comunicações militares de segurança
VLF
3 – 30 KhZ
Navegação, investigações geofísicas
LF
30 – KHz
Transmissões AM, sinais de aviação, LORAN
MF
300 – 3000 KHz
Idem
HF
3 – 30 MHz
Radioamadorismo, diplomacia, militar, marinha, aviação
VHF
30 – 300 MHz
Transmissões FM, televisão, navegação aérea
UHF
300 – 3000 MHz
TV, micro-ondas, celulares, GPS, Wi-Fi, Bluetooth
SHF
3 – 30 GHz
Micro-ondas, TV via satélite, Wi-Fi, radares
EHF
30 – 300 GHz
Micro-ondas, satélites, ADS, detectores de aeroporto
As frequências mais utilizadas pela tecnologia moderna.
LF: Low Frequency (frequência baixa). MF: Medium Frequency (frequência média). HF: High Frequency (frequência alta). 
E: extremely. S: super. U: ultra. V: very.

• MICRO-ONDAS. Entre 300 MHz e 300 GHz. Longitudes de onde entre um metro e um milímetro. Os micro-ondas estão incluídos nas ondas de radiofrequência mais altas (UHF, SHF, EHF). Se utilizavam em televisões (para transmitir sinais desde um lugar remoto a uma emissora), televisão por cabo, aparelhos LAN (Bluetooth, WiF), Internet via cabo coaxial, telefone móvel, satélites, torres de comunicações, radares (incluindo os de tráfico), fornos, etc. A exposição dos micro-ondas está associada ao câncer de cérebro, demência, Alzheimer e os ataques cardíacos.

• RAIOS T. Também chamado de ondas tera-hertz, radiação submilimetrica ou simplesmente "micro-ondas de alta frequência". Entre 300 e 3000 GHz. Partilha com o micro-ondas a capacidade de penetrar grandes variedades de materiais não-condutores, incluindo o papel, roupa, cartão, madeira, pedras, plástico, cerâmicas, nevoeiros enuvens. No entanto, não é capaz de atravessar os metais ou a água. As únicas fontes de raios-T são alguns tipos de laser, o girotron e outros artefatos artificiais.

• RAIOS INFRAVERMELHOS. De 1 a 430 THz. A frequência dos raios infravermelhos se encontra pouco acima do rádio e, como seu nome indica, abaixo do vermelho, que é a frequência eletromagnética mais baixa do espectro visível. Los raios infravermelhos são os que transmitem o calor de fontes como o Sol, o fogo, os radiadores, etc. Sem raios infravermelhos, a vida não seria possível. Ele é utilizado em controles remotos, assim como em equipamento fotográfico e de vídeo para detectar o calor. Existem alguns animais que tem sistema biológicos receptivos das radiações infravermelhas, como certas víboras, pítons, jiboias, mariposas de pigmentação escura, uma variedade de escaravelhos, morcegos-vampiros e outros. Os raios infravermelhos tem extensas aplicações militares como a aquisição de alvos, a visão noturna ou o rastreamento. Podem danar a vista se a exposição for forte e concentrada.

Imagens do espectro infravermelho. Acima: um cachorro. Abaixo: a estrela Beta Pictoris. 

• LUZ VISÍVEL. De 400 a 790 THz. O único campo eletromagnético visível a olho nu. O espectro eletromagnético próximo que se encontra entre o infravermelho e o ultravioleta, que somos capazes de perceber com os olhos e que não constituem mais que uma pequena fração do espectro eletromagnético total. Um olho humano saudável tem sua sensibilidade máxima cerca de 540 THz, na zona verde da escala de cores, bem no meio de todo o espectro eletromagnético. As sete cores do arco-íris não contém todas as cores visíveis para o olho humano. Por exemplo, o resto ou magenta são visíveis ao olho humano, mas não se encontram representados no arco-íris, dado que são cores insaturadas que se obtém mesclando distintas longitudes de onda. O mesmo se aplica para as cores neutras como o branco, preto e cinza. Do mesmo modo que as distintas frequências eletromagnéticas tem efeitos no corpo humano, também o distinto das cores tem seus efeitos dado que cada qual estimula a retina duma maneira diferente, e esta por sua vez envia um sinal diferente as glândulas cerebrais. Todos sabemos que o vermelho é uma cor estimulante, que o verde ou o azul claro são cores relaxantes, ou que o violeta, a cor de maior frequência, era associado em outros tempos ao poder imperial. Chama-se cromoterapia a utilização das cores para influir nos estados de ânimo.

• RAIOS ULTRAVIOLETA. Se encontram um pouco acima do espectro visível, além do violeta. De menor a maior frequência, se dividem em A, B e C. Cerca de 98,7% dos raios ultravioletas que chegam a superfície da Terra são A (raios UVA), muito necessários para a vida e para o equilíbrio endócrino humano, como vimos na primeira parte desse artigo. A pequena porção restante são os raios UVB, que são danosos, produzem queimaduras e são filtrados em sua maior parte pela camada de ozônio. Os raios UVC são diretamente perniciosos para a vida e são filtrados para a magnetosfera e a atmosfera da nosso planeta. Devido a crescente poluição da atmosfera e da degradação da camada de ozônio, a proporção de raios UVA está diminuindo e a da raios UVB aumentando. Existem maiores frequências de raios ultravioletas, denominadas em siglas inglesas FUV, VUV, LUV, SUV, EUV. Os raios ultravioleta em geral são considerados mutagênicos, isto é, podem produzir mutações genéticas, tanto vantajosas como desvantajosas ou neutras. Alguns cientistas relacionam as condições da excentricidade da órbita terrestre, mudanças do campo geomagnético e a disposição do eixo de rotação, com variações em quantidade e raios UV que alcançam a superfície, influindo na revolução das espécies.  


• RAIO-X:  De 3 X 1016 (um 1 seguido de 16 zeros) a 3 x 1019 Hz. Ocorrem quando alguns gases se aquecem a milhões de graus, por reações nucleares (como no caso das estrelas), ou por uma voltagem elétrica (como no casa das placas radiográficas médicas). São emitido por elétrons e são capazes de penetrar a maior parte de materiais sólidos, exceto os mais densos (como o chumbo). Os raios-x são considerados cancerígenos (produzem câncer) e danam os tecidos celulares, rompendo as ligações. Os pais expostos a raios-x tem mais possibilidade de ter filhos com leucemia, especialmente se a área exposta foi debaixo do abdômen.

Risco em dobro: raios X e radiações do celular.
• RAIOS GAMA: Acima de 1.019 Hz. Procedem de ventos cósmicos violentos e destrutivos (como as supernovas o as tempestades solares) ou reações atómicas artificiais (plantas e bombas nucleares, resíduos radioativos). A diferença dos raios-x – que provém de elétrons de distância do núcleo atômico –, os raios gama são emitidos pelo núcleo em si. Dependendo do tempo de exposição e a potência da fonte, os sintomas podem variar desde mudança de composição sanguínea, náuseas, queda de cabelo, hemorragia, câncer, mutações genéticas e a morte. Os efeitos a longo prazo das detonações nucleares de Hiroshima e Nagasaki dão uma ideia das consequências. A níveis muito elevados, os raios gama resultam na criação de pares de partículas e antipartículas. Apesar de serem cancerígenos, os raios gamas são usados para tratar tumores, assim como para esterilizar material médico e até comida. O cientista russo Krill Zybin, do Instituto Lebedev (Moscou) associa as intensidades de radiação gama cósmica com o desenvolvimento da vida na Terra e a aceleração de mutações, assim, a evolução.

Projetos militares envolvendo manipulação eletromagnética

Em tempos de enorme avanço tecnologia como o que vivemos, uma força que domina o núcleo terrestre, movimentos da crosta, do clima, do cérebro humano, etc. não poderia passar desapercebido para os complexos militares-industriais dos Estados mais poderosos. Tanto Estados Unidos (com o HAARP) como Rússia (SURA, Scalar) tem emissões de ondas eletromagnéticas que utilizam a ionosfera para mudar o clima duma zona para ressaltar as ondas até o solo e produzir uma série de efeitos, como a desestabilização da crosta (tanto o magma como o ferro do núcleo terrestre são materiais condutores) o até da mente dos habitantes de uma região. As possibilidades desse tipo de guerra são vastas: terremotos, tsunamis, secas, inundações, furacões, incêndios, maremotos, atividade vulcânica, manipulação psicológica, etc. 

Não se trata de ficção-científica nem de conspiranóia.  Numa resolução de 28 de janeiro de 1999 (A4-0005/1999), o Parlamento Europeu declarou que a HAARP manipulava o meio para fins militares, e solicitava que fosse avaliado por parte do STOA (organismo encarregado de mensurar opiniões científicas e tecnológicas) enquanto suas repercussões ambientais e sanitárias. Na mesma resolução, se pedia a proibição do desenvolvimento de armas que transportavam a manipulação de seres humanos, piscadela ao desenvolvimento de projetos de ELF, que operam na mesma frequência do cérebro e que podem afetar claramente a conduta humana. Em agosto de 2002, a Duma (Parlamento Russo), sacou um comunicado de imprensa sobre o HAARP, elaborado pelo comitê de defesa e assuntos internacionais, e representado por 90 representantes do presidente Vladimir Putin. O informe estabelecia que as instalações de HAARP podiam ser utilizadas como armamento e especificava que:

Os Estados Unidos estão criando novas armas integrais de caráter geofísico que podem influir na troposfera com ondas de radio de baixa frequência... A importância desse salto qualitativo é comparável com a transição de armas brancas a armas de fogo, ou de armas convencionais a armas nucleares. Esse novo tipo de arma difere de qualquer outro tipo conhecido em que troposfera e seus componentes se converte em objetos sobre os quais pode se influir (ou controlar).

Tanto os EUA como a Rússia tem cruzado mutuamente acusações de guerra climática. Havia suspeitas de intenção russa na seca sem precedentes da Califórnia em 1998-1992. Em janeiro de 2011, um informe da Frota Russa do Norte apontou para um programa de guerra sísmica do Pentágono como causador intencionado do terremoto do Haiti, uma ilha que Washington queria ocupar militarmente por motivos geoestratégicos. O presidente da Venezuela Hugo Chávez acusou claramente o ao governo dos Estados Unidos de empregar armas sísmicas para causar o terremoto. Sete meses depois, alguns cientistas russos fizeram acusações similares durante os incêndios na Rússia e inundações na China e Paquistão. Em novembro de 2011, o tenente general russo Nikolai Rodionov acusou a HAARP de provocar o fracasso da missão sino-russa "Fobos-Grunt", que projetava através do envio de um navio para a Fobos, uma das luas de Marte. Os médias russos denunciam esporadicamente os programas de guerra climatológico e sísmico do Pentágono.

Instalações do projeto HAARP em Gakona (Alasca)

Existem outros sistema ofensivos baseados no eletromagnetismo, como o EMP (Electromagnetic Pulse - Pulso Eletromagnético), capaz de destruir todos os sistemas elétricos e eletrônicos de um território determinado, mandando-o praticamente a Idade Média. A Força Aérea dos Estados unidos tem desenvolvido uma arma de controle de massa chamada ADS, baseada na irradiação de micro-ondas de espectro EHF (Extremely High Frequency - Frequência Extremamente Alta) para excitar as moléculas de água e gordura subcutâneas do corpo, que se aquecem até produzir uma dor intensa.

O Active Denial System ou "Pain Ray" (raio da dor) foi implantado pela primeira vez no Afeganistão no verão de 2010. 

Sobre as transientes ou eletricidade suja

As transientes são um tipo pouco conhecido de campos eletromagnéticos que desempenham um papel incrivelmente prejudicial na saúde humana e que merecem ser levadas muito a sério. Elas são criadas quando a corrente elétrica é interrompida continuamente como um em um rápido piscar, a fim de economizar energia. As transientes se encontram em computadores, geladeiras, TV's de plasma, lâmpadas CFL, ar-condicionado, lâmpadas fluorescentes, motores (por exemplo, elevadores) e em aparelhos de regulamentação de "volume de luz" (potenciômetro). Uma lâmpada CLF (CLF é fluorescente? se for, nesse caso vou mudar nos anteriores), por exemplo, é acendida e apagada umas cem mil vezes por segundo (!). As transientes normalmente se enquadram na banda ELF (frequência extremamente baixa), do espectro eletromagnético, mas como seus sinais se acumulam e fortalecem, podem passar facilmente as bandas de radiofrequência mais elevadas.

Os efeitos biológicos desta biológica invenção são devastadores. Pense num imã: as cargas semelhantes se repelem e as cargas opostas se atraem. Portanto, quando um transiente está em estado "positivo", os elétrons de nosso corpo (de carga negativa) se movem até essa positiva. Quanto o transiente passa a "negativo", todos os elétrons do corpo se repelem no sentido oposto. Essa flutuante manipulação eletromagnética (milhões de vezes por segundo) implica que todos os elétrons de nosso organismo estão bailando ao som do transiente e que todo nosso corpo é se carrega e torna-se instável porque está totalmente "acoplado" no ritmo da máquina.

Alguns países querem impor o uso obrigatório do uso de lâmpadas fluorescentes.

Abruptamente, as transientes estão suplantando, em nosso sistema nervoso, o pulso suave e constante da Terra, manipulando descontroladamente nossas células e ondas cerebrais com frequências para os quais não estão evolutivamente projetadas, destruindo o funcionamento do nosso importantíssimo sistema endócrino, sabotando nossa imunidade e contaminando todo nosso sistema bioelétrico com pavorosos efeitos para nossa saúde. A Dra. Magda Havas da Universidade de Trent (Canadá) tem publicado diversos estudos que demonstram como a exposição aos transientes aumenta os níveis de açúcar no sangue em diabéticos e pré-diabéticos, e que as pessoas com esclerose múltipla melhoram seu equilíbrio e tem menos tremores simplesmente ao passar alguns dias em ambientes livres de eletricidade suja. Também foi demonstrado que todas as escolas donde se instalaram filtros para limpar os efeitos dos transientes, os professores imediatamente experimentaram uma diminuição de sintomas desagradáveis como dores de cabeça, irritações na pele, olhos secos, asma e depressão.

SERÁ QUE OS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS ARTIFICIAIS AFETAM A SAÚDE? 

A primeira coisa que temos que ter em mente é que o corpo humano, sendo feito de matéria e portanto de átomos, tem elétrons e partículas subatômicas suscetíveis de ser perturbadas por uma influência eletromagnética externa. Todas as células do corpo, quer sejam células pancreáticas esperando um sinal para fabricar insulina, ou leucócitos em movimento à área de lesão, utilizar eletricidade (ou "carga do elétron") para comunicar-se entre elas. Se os transientes e outras fontes de campo eletromagnéticas artificiais suplantam os mecanismos de sinais nervosos do organismo, não poderia interferir com a secreção de hormônios, bloquear o sistema de chamada e resposta do sistema imunológico e causar muitíssimo outros transtornos físicos?

Segundo, se o ser humano tem provavelmente um campo magnético sensível aos campos naturais, não seria lógico pensar que os campos artificiais produzidos por cabos elétricos, rádios, micro-ondas, antenas, satélites, etc. também pode influir sobre ele? É possível que a civilização tecnológica tenha anulado nossa capacidade magnética, e nós somos, tal como vimos na primeira parte do artigo, como pombos mensageiros desorientados que passam a vida inteira com imãs artificias ligado a cabeça, sem encontrar nunca o caminho de casa?

Nesta seção brindarei uma pormenorizada cronologia de investigações sobre campos eletromagnéticos e saúde, investigações que são somente a ponta do iceberg, dado que se trata duma tema relativamente recente e que não se tem aprofundado bastante por culpa dos enormes interesses econômicos que estão em jogo.

• Os soviéticos se deram conta durante a Segunda Guerra Mundial de que os operadores de radares muitas vezes sofriam de sintomas (fadiga, irritação facial, zumbidos ou apitos nos ouvidos, tontura, transtornos digestivos e de sono, etc.) agora atribuídos a síndrome de hipersensibilidade elétrica. Os especialistas dizem agora que 3% da população pode ser clinicamente hipersensível e dentre 30% pode ter sensibilidade alta.
• Desde a década de cinquenta, o Dr. Kyoshi Nakagawa esteve investigando no Hospital Isuzu de Tóquio sobre os efeitos do magnetismo no corpo. Em 1976 publicou no Jornal Médico Japonês um extenso estudo em que demonstra os beneficiosos efeitos da magnetoterapia sobre o organismo humano. Os campos magnéticos de frequência e potencia adequada exercem um benéfico efeito sobre as glândulas centrais do cérebro, estimulando a secreção de benéficos neuro-hormonais. O Dr. Robert Becker confirmou isso quando descobriu que certas estimulações magnéticas podem curar totalmente fraturas ósseas consideradas definitivas (aqui ele tá falando de fraturas ósseas que não tem cura, né?) e inclusive regenerar membros amputados em animais que não tenha essa faculdade, como sapos.
• Quando se introduziu a televisão na Austrália em 1956, os pesquisadores documentaram um rápido aumento de casos de câncer entre pessoas que viviam cercadas de torres de transmissão.
• Na década de sessenta, em plena Guerra Fria, os soviéticos bombardearam clandestinamente a embaixada dos EUA em Moscou com radiação de micro-ondas (uma radiofrequência da mais alta frequência, utilizada para transmitir sinais sem fios).
• Na década de setenta, a Dra. Nancy Wertheimer, uma epidemiologista de Denver (EUA), detectou um aumento de leucemia infantil (uma doença muito rara) entre crianças que viviam cercada de linhas elétricas de alta tensão, começando toda uma série de estudos que chegaram a conclusão semelhantes.
• Na Suécia e Reino Unido foram realizados estudos que notaram um importante aumento de suicídios em jovens que viviam e estudavam perto de linhas de alta tensão e estações de rádio. Entre 1950 e 1977, os casos de suicídios de jovens entre 15 a 19 anos foram multiplicados para quatro no caso de meninos e para dois no caso de meninas. O transtorno bipolar e as tendências suicidas frequentemente estão relacionada com baixos níveis de serotonina, uma substâncias neuroquímica fabricada pela glândula pituitária.

Complexidade tecnológica: o orgulho da civilização moderna e a perdição da biologia humana.

•Na década de oitenta, os pesquisadores concluíram que os trabalhadores de escritório com alta exposição a campos eletromagnéticos tinham maior índice de melanoma (câncer de pele, uma doença geralmente associada a exposição solar) que os trabalhadores que trabalham ao ar livre. Entre 1973 e 1980, os casos de melanoma nos EUA aumentaram exponencialmente para 80%. No Laboratório Nacional de Lawrence Livermore (Califórnia), a incidência de melanoma é quatro vezes superior a média nacional americana. Esses laboratório está envolvido em assuntos de seguridade nacional dos EUA e a produção de armas ultramodernas que envolvem campos eletromagnéticos e micro-ondas de alta intensidade.

• Na década de oitenta, a Comissão de Serviço Público do Estado de Nova Iorque encarregou ao Dr. David Savitz que estudasse os efeitos produzidos pelos campos eletromagnéticos de cabos normais. Cinco anos e meio milhão de dólares mais tarde, o Dr. Savitz concluiu que "pelo menos" uns 20% de câncer em crianças das áreas estudadas, se devia a exposição aos campos (de "somente" 3 miligauss!) dos cabos eletrônicos. Seu estudou demonstrou também que esses campos não só favorecem o câncer, mas também que inibem a produção de importantes neuro-hormonais no cérebro, transtornado o comportamento e minando a capacidade de aprendizagem. Dentro de um raio de 15 metros ao redor dos fios elétricos padrão dos EUA, o campo magnético tem uma potência de 100 miligauss – mais de 30 vezes a magnitude dos cabos que o Dr. Savitz associou com o câncer infantil. A Comissão de Serviço Público não gostou dos resultados do estudo; declarando "seguro" um campo magnético de até 100 miligauss e alegaram que o público que havia "aceitado" o risco para a saúde. Obviamente, o público nunca foi informado disto, pois dificilmente iriam aceitar. 

• Vernon, uma cidade com uma população de 25.00 habitantes de Nova Jersei, ocupa o quinto lugar dos EUA em número de transmissões de micro-ondas. O número de casos de síndrome de Down é dez vezes superior a média nacional do país. A síndrome de Down é um defeito de nascimento, causado por um dano genético no feto e\ou nos país. Outros estudos tem encontrado altas incidências deste mal em crianças cujos pais são operadores de radar ou trabalhem em importantes bases áreas. 

• Em 1988, a Dra. Marjorie Speers informou os resultados dum estudo de tumores em pessoas que, por motivos de trabalho, eram regularmente expostos a um campo eletromagnéticos de 50 Hz de frequência. A conclusão foi clara: esses desafortunados trabalhadores tinham 13 vezes mais casos de tumores cerebrais que os indivíduos do grupo de controle, formado por pessoas não expostos a campos de semelhante frequência. Segundo o Dr. Becker, em "Cross Currents":

Atualmente as provas científicas são absolutamente conclusivas: os campos magnéticos de 60 Hz induzem as células cancerígenas humanas a aumentar permanentemente e sua velocidade de crescimento numa taxa de 1600% e a desenvolver características malignas.

Em suma, esse tipo de campo eletromagnético afeta particularmente dois tipos de tecidos: os do cérebro e os de crescimento rápido (fetos, crianças pequenas, tumores).

• Também em 1988, o Dr. Daniel Lyle, sob a direção de Ross Adey, realizou um cultivo de células T (um tipo de linfócitos ou glóbulos brancos com um importante papel imunológico) e durante 48 horas expostos a um campo eletromagnético de 60 Hz, similar ao que desprende nos EUA os cabos elétricos públicos. Constatou enfraquecimento da capacidade das células para se reproduzir e se defender de corpos estranhos (micróbios, vírus, miogênicos, etc.) até o ponto de que a citotoxicidade das células foi inibida em 40%. A conclusão final do estudo foi que os campos eletromagnéticos artificia são perigosamente imunossupressores, e debilitam a capacidade das células T para diferenciar os agentes invasores e tecidos "amigo".

Alguma cidade chinesa em pleno boom econômico. Atualmente, esse conjunto de contaminação, massificação, desumanização e interferências eletromagnéticas recebe o nome de civilização.

• Em junho de 1989, a revista "New Yorker" publicou um artigo de Paul Brodeur, baseado em vários estudos científicos sobre os riscos para a saúde que supunha expor-se a cabos elétricos e terminais de computador. Aqui se revelou que a leucemia infantil e outros tipos de câncer em crianças, estava diretamente relacionada com a exposição a campos elétricos. Também se foi relatado que as mulheres grávidas que trabalhavam com computadores tinham um índice de abortos espontâneos mais elevados. Esse artigo desencadeou uma onda de preocupações e investigações por parte doutros especialistas. Paul Brodeur publicou "Currents of death, the attempt to cover up the threat to your health", e Cyril Smith e Simon Best escreveram "Electromagnetic man health & hazard in the electrical environment".

•Novamente em 1989, a Dra. Cornelia O’Leary, do Instituto Real de Cirurgiões de Londres, relatou oito casos de morte súbita de bebês durante um fim de semana. "Coincidentemente", todos esses casos se encontravam em um raio de 11 km duma base militar de alta segurança, donde, justo nesse fim de semana, se estava testando um novo sistema de radar. A morte súbita em bebês foi relacionada com níveis baixos de melatonina e outras substâncias neuroquímicas fabricadas pela glândula pineal. Estas são extremamente sensíveis a oscilações eletromagnéticos, e no caso dos bebês, a sensibilidade dispara. Nesse mesmo ano, o Departamento de Energia reconheceu que "agora é aceito geralmente que existem, certamente, efeitos biológicos devido a exposição a campos eletromagnéticos".

• Em 1990, havia sido levado a cabo mais de cem estudos em todo mundo. Graças a jornalistas como Ted Koppel e Dan Ratherm, apareceram relatórios alarmantes na revista "Time", "The Wall Street Journal", "Business Week" e outras publicações. Em resposta as pressões públicas, a EPA (Agência de Proteção Ambiental), elaborou um informe em março desse ano, recomendando que os campos eletromagnéticos se classificassem como cancerígenos de casse B (como o DDT, as dioxinas e os PCBs). No entanto, quando foi publicado o informe, a EPA foi duramente pressionada por grupos das industrias elétricas, informática e militar. Depois de ser dobrada por interesses políticos e econômicos, a EPA voltou atrás em sua declaração. Robert Becker e Jeremy Tarcher publicaram "Cross currents, the perils of electropollution". 

• No Vale do Silício (Califórnia), a Meca da investigação informática, se apercebeu que os trabalhadores tem altíssimos índices de cansaço crônico, depressão crônica, hipersensibilidade, alergia variadas, dores de cabeça e "sintomas de gripe".

•Em 1998, os investigadores, trabalhando com o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, informaram que os riscos de leucemia infantil eram "significativamente elevados" em crianças cujas mães haviam usado cobertores elétricos durante a gravidez, e crianças que usavam secadores elétricos e videogames conectados a TV.

•Na década de noventa, foi investigado a fundo os casos de câncer em Cabo Cod, que teve uma imensa base de radar da Força Áreas chamada PAVE PAWS, e em Nantucket, que alberga um poderoso transmissor LORAN-C (um sistema de navegação que está começando a cair em desuso devido ao aumento do GPS). Os condados de ambas as áreas tem as maiores incidências de todos os cânceres no Estado de Massachusetts.

• Em julho de 2001 houveram violentos protestos em Chipre, quando os ingleses decidiram construir novas antenas em suas importantes enclaves estratégicos de Akrotiri e Dhekelia. A população local disse, com razão, que estas instalações colocaria em perigo a vida dos habitantes locais e que prejudicaria o ecossistema. 

• Em 2007, o Bioinitiative Working Group (um conglomerado de cientistas e especialistas em política de saúde publica dos Estados Unidos, Suécia, Dinamarca, Áustria e China), publicou um informe de 650 páginas no qual citava minuciosamente mais de 2.000 estudos (muitos muito recente) que detalhavam o efeito tóxico dos campos eletromagnéticos. Segundo as conclusões derivadas da comissão, expor-se mesmo a radicação de baixo nível (como as dos telefones móveis), podia causar uma grande variedade de cânceres, sabotar o sistema imunológico e contribuir para a demência, a doença cardíaca, o Alzheimer e muitos outros males.


Nem todos os campos eletromagnéticos artificiais são negativos. Os efeitos benéficos sobre a saúde dos campos artificias de frequência determinada se utilizado frequentemente para promover a curação de feridas e fraturas ósseas. Os estudos experimentais com campos bem controlados e de certas frequências inclusive mostram bons resultados em tratamento contra a dor e a depressão. Recentemente, o Dr. Michael Persinger, um neurocientista da Universidade Laurentian (Canadá), tem encontrado que certos campos magnéticos pulsados detenham o crescimento de células de melanoma em ratos. Isto vem a continuar a obra de eminências que vimos anteriormente, como os doutores Kyoshi Nakagawa e Robert Becker, e confirma que os campos eletromagnéticos artificiais são uma faca de dois gumes, que pode ser usada tanto para adoecer profundamente como para curar.

O efeito Gaiola de Faraday

Ser submetido a campos eletromagnéticos artificiais por si é bastante prejudicial, mas há outro fato igualmente perniciosos: não estar submetido a campo algum. Todo mundo terá notado que em elevadores, carros, submarinas, tanques de guerra, aviões, trens e áreas geralmente fechadas e\ou com móveis de plástico, as pessoas ficam cansadas com grande rapidez, recuperando a energia somente quando lhes dão ar e se possível o Sol e alguma água, Isso sucede porque as estruturas contém material condutor (como metal) que se polarizam na presença de um campo externo e que são carregados negativamente no sentido oposto, repelindo todos seus elétrons e íons negativos ao exterior, deixando o interior "vazio" energeticamente. Dentro de uma Jaula de Faraday não há eletrosmog, não há cobertura móvel, o GPS não dá sinal e não se pode escutar o rádio. Mas, tampouco entram as forças da Terra e do Céu, e por tanto não se dá esse "gradiente de potencial", polaridade ou tensão vital absolutamente necessárias para a vida e o fluxo de bioeletricidade.

O efeito Faraday começou a ser levado a sério durante a corrida espacial. Tanto a NASA americana como o diversificado programa espacial russo, se deram conta em seguida de que nem sequer um rato poderia permanecer no espaço mais de 24 horas sem perder o juízo, e que seus astronautas começavam a manifestar cansaço, apatia e falta de energia quando levavam tempo nas cápsulas. Glenn e Carpenter mostraram uma pronunciada e prematura fadiga, e no caso do cosmonauta russo Titov, os transtornos psicofísicos foram tão pronunciados que ele ficou totalmente exausto e com tonturas depois de seis órbitas em torno da Terra. Nota-se em conta que estamos falando de homens com uma preparação mental e física extraordinária, e que esses efeitos se davam dentro da cápsula, tanto em órbita como durante os treinamentos em terra. A situação desconcertou os cientistas durante anos, embora a solução estivesse diante deles e teriam se deparado com ela se tivessem tido a modéstia de consultar um adepto taoista, um yoga hindu ou um lama budista.

Um relatório duma empresa que fabricava geradores de íons negativos para o programa espacial americano ― citado por André van Lysebeth em "Pranayama" (obra altamente recomendada), citado também por Daniel Reid em "O Tao da saúde, sexo e longevidade" (idem) ―, acabou explicando a causa: "Ao ser completamente metálica, a cápsula especial comporta como uma perfeita jaula de Faraday em que até o melhor piloto treinando não tarda em mostrar sinais de perturbações fisiológicas, especialmente cansaço e esgotamento prematuro". O informe conclui impecavelmente.

A corrente elétrica causada pela presença de um campo elétrico recorre todas as células e órgãos e todo o sistema nervoso, estimulando, por conseguinte, o metabolismo e todas as funções fisiológicas dos organismos vivos... se o campo é demasiadamente fraco (acho que aqui ele se refere a ser inexistente, né? Fraco não é a palavra ideal então...), se manifestam cansaço, preguiça e falta de vitalidade. Esta é a causa principal da fadiga e a dormência que é sentido em automóveis, aviões, tanques, submarinas e trens, e agora em cápsulas espaciais.

O melhor ar do mundo se encontra em zonas de alta montanha do planeta, donde a incidência dos raios cósmicos e forças magnéticas telúricas é maior, onde o frio faz com que a sujeira se pegue ao solo e onde a atmosfera está fortemente ionizada. Mas de acordo com os materiais com os quais nos vestimos e calçamos, podemos estar nos isolando deste fabuloso campo elétrico natural.
Finalmente os cientistas se aperceberam de que, mesmo que o ar das cápsulas tivessem a composição ideal (nitrogênio, oxigênio, etc.), necessitava ser ionizado: não era uma questão química, mas sim física. Quando foram instalados geradores e o ar da cápsula se ionizou fortemente, todos os sintomas de exaustação e lentidão desapareceram duma vez, e desde então os astronautas podem permanecer no espaço por dias, semanas, meses e anos. Se fizer o mesmo em aviões, o "jet-lag" (uma fadiga de viagem) e o cansaço se reduziriam enormemente. 

O efeito Faraday não se limita a cápsulas, veículos e ambientes fechados. A roupa pode exercer uma função exatamente igual, dado que é cientificamente sabido desde 1964 ― embora os sufis persas e os hindus brâmanes, dentre outros, o conhecimento empiricamente desde sempre. A revista "Aerospace Medicine" explicou num artigo que "certos tecidos sintéticos produzem cargas suficientes eletrostáticas negativas como para repelir os íons negativos da pessoa que vista essas roupas". Não importa que não encontremos o cume de uma enorme montanha, rodeados de uma atmosfera privilegiada, um poderoso campo elétrico natural e respirando os melhores ares do planeta: se estamos vestido com vestes orlon, nylon, poliéster e semelhantes, e utilizando calçado com sola de borracha, estamos isolando o fabuloso campo elétrico natural que nos rodeia, do mesmo modo que os revestimentos de borracha isolam o cobre condutos dos cabos elétricos. O mesmo acontece em salas com janelas fechadas e lugares com muito material de plástico. A revista "Product Engineering", fala sobre isso em seu número 13 de fevereiro de 1967, quando o tema era novidade:

Determinados ambientes formados de plástico, como as carrocerias dos automóveis, podem inclusive produzir campos eletromagnéticos negativos (campos que repelem os íons negativos e atraem os positivos). Os móveis de plástico, como tapeçarias e revestimento de parede de plástico, aceleram a fadiga mental nos ocupantes da habitação ou do veículo. Os objetos e revestimento de polietileno, por exemplo, produzem campos elétricos negativos de entre 5.000 e 10.000 volts/metro. Num recinto completamente rodeado de polietileno, o campo negativo pode alcançar os 100.000 volts/metro.

O relatório não informa doutro problema das tapeçarias e móveis de plástico, e é que espelem vapores e odores tóxicos. É claro, em todo caso, que o mundo moderno não só está cheio de campos eletromagnéticos "farsante" que suplantam a interação terra-céu que se dá através de nossos corpos, mas também de elementos que diretamente nos arrancam e marginalizam o concerto universal, isolando-nos de todo campo, roubando-nos a bioeletricidade e deixando-nos literalmente, com as pilhas "descarregadas" e sem substância vital para acometer nenhuma empresa. Dificilmente pode negar que em muitos sentidos, a civilização tecnológica ― uma entidade abstrata e sem vida ― se alimenta vampiricamente das substâncias vitais ― muito reais e vivas ― do homem e do planeta.

ASSASSINO RESPEITADO


Nos artigos "Venenos Cotidianos" e "A maldição oriental", vimos que existem envenenadores que estão começando a ser desmascarados, como os disruptores endócrinos, plásticos, leite, junk food, televisão, aditivos, cosméticos, amidos, produtos de limpeza, etc. Deveríamos acrescentar uma série de coisas que produzem campos eletromagnéticos (alguns extremamente fortes), e eletricidade suja, e que deveríamos evitar a todo custo. Depois de ver essa lista fatídica, poucos se perguntam donde vem a epidemia de infertilidade que está assolando a Civilização Ocidental, assim como o câncer que tem superado os acidentes como principal causa de mortalidade de crianças menores de 15 anos. Mesmo que tenha inúmeros fatores relacionados com isso, não há dúvida que os campos eletromagnéticos tem a reputação macabra de ter um papel muito importante.

LÂMPADAS FLUORESCENTES. Esse tipo de iluminação usa a ionização de vapor de mercúrio, altamente tóxico para desprender luz, com um consumo menor que as incandescentes, e foi comercializado na década de trinta pela poderosa multinacional General Electric. Mas um tubo fluorescente de somente 10 watts produz um campo eletromagnéticos de 20 vezes mais forte que de uma lâmpada convencional (incandescente) de 60 watts, e a 2,5 cm a potencial do campo eletromagnético ronda os 160-200 mG (miligauss). As luzes fluorescentes são uma verdadeira praga da eletricidade suja, especialmente em banheiros, cozinhas, creches, escolas, institutos, faculdades e locais de trabalho. Em muitos lugares públicos (escolas, hospitais, oficinas, centros desportivos) existem baterias inteiras de tubos fluorescentes no teto, que estão irradiando lixo elétrico sobre países inteiros.

LÂMPADAS FLUORESCENTES COMPACTAS (CLF). A primeira lâmpada fluorescente CLF em espiral foi inventada em 1976 em resposta a crise petroleira de 1973, que havia deixado claro que a energia barata era coisa do passado. As luzes CLF poupa energia acendendo e apagando umas cem mil vezes por segundo, e são por tanto uma fabulosa fonte de eletricidade suja. A frequência do campo eletromagnético que produzem essas lâmpadas supera os 25.000 Hz ― cem vezes de uma lâmpada LED ― e afetam a todo mundo, especialmente as crianças.

As luzes CFL são uma grave ameaça para a saúde humana. Mas, por que eles a promovem tanto? Porque consomem menos que as lâmpadas convencionais. No entanto, por acaso atacar a saúde dum povo não supõe a longo prazo perdas econômicas? Na realidade, isso é muito relativo. Primeiro, o que importa para o sistema é o beneficio econômico imediato e a curto prazo de poucos indivíduos. Segundo, as enfermidades do povo são o motor da indústria de saúde, que é um dos maiores negócios do planeta junto com os bancos, as drogas e os hidrocarbonetos. Para aqueles que não querem cair na rede, as lâmpadas LED consomem menos que as lâmpadas CLF e sua radiação são menores, embora sua iluminação seja mais fraca.
• TELEVISÃO. Além do campo eletromagnético convencional, a TV emite raios X capazes de penetrar de 5 a 8 cm no corpo humano, causando esterilidade e outros males. As radiações prejudiciais da TV se expandem em todas direções e atravessam paredes. É preciso ter cuidado de não instalar camas ou escritórios contra uma parada do outro lado do qual tenha um televisor. Além disso, muitas telas de TV piscam de forma irregular, produzindo uma estimulação irregular e antinatural da retina. Essas estimulações se transmitem ao longo do nervo ocular e irritam o hipotálamo. Em alguns experimentos científicos realizados nos Estados Unidos e silenciados pela indústria midiática, eles descobriram que as ratas (ou ratazanas?) expostas a tela de TV colorida durante seis horas por dia se tornavam hiperativas e violentas durante uma semana. Depois dessa semana, se tornavam letárgicas e apáticas, e deixavam de criar: seu sistema endócrino havia ressecado. Os resultados deste experimento são tanto mais agravos por quanto a tela de TV foi coberto por papel escuro. O efeito pernicioso do aparelho, por tanto, se devia as ondas invisíveis. Num artigo publicado em 24 de abril de 1970, por Ben Frank, da Associated Press, foi citado as seguintes palavras do De H. D. Youmans, da Departamento de Saúde Radiológica:

Comprovamos que os raios emitidos pelos tubos catódicos eram mais duros (difíceis, concentrado) e com maior energia media do que o que tínhamos imaginado. Esses raios penetravam várias polegadas no corpo, tão profundamente como a radiação duma tela de raio X de 100 quilowatts. A pessoa sentada na máquina recebe uma dose uniforme nos olhos, testículos e na medula óssea.

Esse mesmo artigo estipula que o Dr. Robert Elder, diretor do Departamento de Saúde Radiológica, declarou ao congresso dos Estados Unidos que mesmo pequenas doses de radiação, muito abaixo dos limites legais, penetram profundamente nos tecidos humanos, e que os danos que causam são acumulativos. Entre esses danos há de citar as lesões genética que podem afetar a fertilidade e transmitir às futuras gerações.


COMPUTADORES E VÍDEOS. Eles tem sido relacionados com uma duplicação do índice de abortos espontâneos, assim como uma elevação enorme de defeitos de nascimento em mulheres que usavam frequentemente esses aparelhos estando grávidas. As mulheres não-grávidas tem acusado (??) cansaço, depressão, irregularidades menstruais e dores de cabeça. A norma de segurança da Suécia (711/90) especifica no máximo de 0,25 mG a 50 mc da tela. Muitos PCs fabricados nos Estados Unidos tem tranquilamente 5-100 mG a essa distância. Tenha em mente que as radiações eletromagnéticas irradiam desde o PC em todas as direções que as telas filtradoras NÃO bloqueiam (nem mesmo um escudo de chumbo poderia bloquear as radiações da banda EMF e VLF dum computador). E uma vez que adição dum filtro modesto iria aumentar os custos de produção de um computador em 5 centavos de dólares, a maioria das empresas não se dão o trabalho.

WIFI, BLUETOOTH, WLAN E SEMELHANTES. Esses dispositivos operam na frequência de micro-ondas, que estão mais relacionado com graves problemas de saúde. Claro que os efeitos do WiFi (que tem algumas centenas de metro por raio) empalidece ante o novo WiMAX, cujo raio de alcance chega à bagatela de 48 km.


• TELEFONES MÓVEIS. O problema com as investigações sobre os efeitos da telefonia móvel e sem fio sobre a geralmente é o mesmo que com qualquer problema em que as corporações multinacionais adentram: pelo menos 87% das investigações a respeito foram patrocinadas por empresas de telecomunicações a que não os interessa que se conclua que a telefonia móvel é uma grave ameaça para a saúde. Desenvolve rum câncer pode ser coisa de 25 anos, mais ou menos o temp. o que leva os telefones móveis em circulação. Os campos eletromagnéticos dos móveis, que geralmente funcionam em frequências de micro-ondas, penetram diretamente no cérebro quando o telefone é posto no ouvido. Se colocar um forno de micro-ondas na cabeça te parece um mal negócio, passar-te a vida com a orelha pressionada a um tampouco é uma boa invenção do futuro. A Dr. Elisabeth Cardis levou a cabo um estudo em 13 países e concluiu que o uso de telefones móveis, especialmente durante mais de 10 anos, estava associado a um grande aumento das probabilidades de contrair um tumor cerebral. O problema, infelizmente, não estava limitado aos aparelhos móveis em si, mas sim as torres de telefonia móvel. Previsivelmente, se as pessoas soubessem desse tipo de coisa, reduziriam tanto o uso de telefones que uma companhia telefônica quebraria, e o resto sofreria perdas enormes. 

A ignorância é ousada e assassina. Antes de se informar, essa mulher inconsciente poderia alegar desconhecimento (coisa que não justificaria seu desinteresse na hora de se informar sobre como proteger seu bebê), mas depois de ler esse artigo, sem desculpa. Por culpa de "mães" como essa, existe a leucemia infantil.

MÁQUINAS DE CORTAR CABELO. Seu campo eletromagnético pode chegar a potencia de 200-400 mh, uma verdadeira e autêntica burrada. No entanto, embora possa parecer alarmante (e o é), não sabemos se uma exposição breve a essa potência é pior que uma exposição mais prolongada a um campo de ― por exemplo ― 2 a 4 mg.

SECADORES DE CABELO. Produzem um campo de 50 mg a 15 mg de distância, mas que são suficiente para aumentar o risco de tumores e danos genéticos, tanto em que os usa como no feto no caso de mulheres grávidas. Faz tempo que se tem observado um índice anormalmente alto de incidência de câncer de mama em cabelereiros. Isso se deve ao uso frequente e prolongado de secadores próximo do peito.

AUTOMÓVEIS. O carro, embora é presenteado na publicidade fetichista como uma ninfa virginal e intocada, é realmente uma grande jaula de Faraday móvel, além de uma máquina de matar. Nos isola do solo, e impede transmitirmos a Terra a eletricidade que absorvemos da atmosfera. Além disso, o motor e a bateria produzem um campo eletromagnético próprio. Para pior, os materiais do para-brisas não permitem a entrada do espectro solar ultravioleta, e os materiais de estofamento, painel de instrumentos, etc. facilmente produzem eletricidade estática e emitem aromas fortemente estrogenizantes tóxicos (estresse, cansaço, fadiga visual, perda da atenção, sono, diminuição do tempo de reação), diretamente derivados da porcaria eletromagnética que é o automóvel.

FORNOS DE MICROONDAS E RADARES. Esses dispositivos produzem dois tipos de radiações, as micro-ondas e as ELF. As micro-ondas se medem em miliwatts por centímetro quadrado, e o limite de seguridade na Rússia, donde as investigações estão mais avançada, estão em 0,1 mW/Cm². Nos EUA, estão em 1mW/cm² (antes era de 10). Todos os fornos de micro-ondas excedem com cresces o limite russo. Antes já havíamos visto a quantidade de males associados a pessoa e regiões expostas a radiações ondas de radar. Além disso, estudo recentes na Rússia tem demonstrado que as radiações de fornos de micro-ondas convertem as moléculas da proteínas da comida em substâncias cancerígenas como nitrosaminas. O mesmo acontece com os açúcares das frutas ou os minerais e alcalóides vegetais.

COBERTORES ELÉTRICOS. Os doutores Ed Leeper e Nancy Wertheimer da Universidade do Colorado, estudaram a fundo os efeitos dos cobertores elétricos num estudo ("Possible effects of electric blankets and heated waterbeds on fetal development", Bioelectromagnetics. Vol. 7) de 1986. Eles concluíram que o uso de cobertores elétricos por parte de mulheres estava relacionado com uma maior incidência de defeitos genéticos em seus filhos, problemas de gravidez e leucemia infantil. Os campos eletromagnéticos produzidos por cobertores elétricos penetram entre 14 e 18 cm no corpo humano, e os aparelhos seguem produzindo campos mesmo quando estão desligados.

RELÓGIOS ELÉTRICOS. Esses aparelhos, quando estão conectados a uma tomada de corrente regular, tem um campo eletromagnético de uma potência muito alta, entre 5 e 10 mg a 60-90 cm. Dado que muitos deles permanecem muito perto de nossas cabeças 8 horas a cada noite, é importante usar um modelo a pilhas ou, melhor ainda, a corda.

CONCLUSÃO

Na década de vinte, pouco tempo depois que foi inventado os aparelhos de radiografia, os médicos podiam entreter seus convidados fazendo-os raios-x em festas de jardim. Na década de trinta, os cientistas frequentemente guardavam rádio (um material altissimamente radioativo) em bandeiras sobre seus escritórios. Inclusive era vendido jarros radiadores de água para crianças, que continham urânio que combinava a água transformando-a em radioativa. Na década de quarenta, as sapatarias utilizavam máquinas de raio-x para caber os sapos nos pés das crianças, e na década de cinquenta foi onde colocaram em moda os relógios de pulso com indicadores brilhantes graças a substâncias radioativas. A estupidez e a ignorância durou mais de trinta anos. Durante esses trinta anos, houve gente brincando inocentemente com perigosíssimos materiais radioativos, até que alguém se preocupou e se demonstrou duma forma consiste que seus efeitos poderiam ser mortais. Assim como os perigos de certas áreas do espectro eletromagnético, considero que acabaram dando-se conta dos perigos de outras ondas distintas. Ou um ou dois: ou se acabam tomando medidas para terminar os perniciosos efeitos de certos inventos, ou as sociedades que os utilizavam enfrentarão a degradação de sua substância reprodutiva, a esterilidade e finalmente, sua extinção.

Nenhum invento é rentável torna-se o fim da sociedade. Enquanto o crescimento financeiro e o benefício econômico imediato e em tempo útil de alguns poucos gananciosos continuando acima da saúde do povo e na escala de valores de nossa civilização, não há nada o que fazer. Enquanto os pressupostos para investigação de saúde se dilapidarem buscando maneiras de tratar doenças, em lugar de buscar o que as lhe causa e como preveni-las, os avanços serão muito lentos. Embora existam alguns sinais e alguns países (como Suécia) que tem reconhecido oficialmente o problema, não é suficiente para enfrentarmos a praga que nos rodeia, mesmo que a maior parte dos governos estão comprados pela corporações multinacionais e se negam a tomar medidas. O indivíduo, por tanto, deve-se elevar para tomar cartas em sua própria segurança, sua própria saúde e nas de seu povo, e espalhar a palavra o quanto puder.

SOLUÇÕES COTIDIANAS PARA PROTEGER O SISTEMA BIOELÉTRICO HUMANO


Você não pode fazer nada com a sopa eletromagnética que flutua no espaço aéreo do mundo inteiro 24 horas por dia em forma de ondas de rádio, telecomunicações, micro-ondas de satélites, etc. No entanto, é possível se proteger na vida cotidiana para minimizar os perniciosos efeitos das fontes mais imediatas do eletrosmog.

Telefonia

- Quando você não precisa do celular, mantenha o desligado. 

- Utilize uma capa de eletrosmog para o celular.

- Não utilize o celular por prazer ou diversão, mas somente quando for necessário. Muitas pessoas praticamente usam o telefone por passatempo. 

- O melhor lugar para um celular é o bolso externo duma mochila, bolso, carteira, etc. Se você não tem escolha, tente levar uma bolsa na cintura, guardar o celular com o teclado para seu corpo e a bateria para o exterior, em uma bolsa isolante e se possível, o mais longe dos genitais possível.

- Utilize as mensagens de SMS somente quando não há mais escolha para chamar.

 - Durante as chamadas de celular, utilize o viva-vos ou fone de ouvido. Não utilize bluetooth sem fio, já que combinado com o celular pode exceder os limites de radiação habituais. Para os fones de ouvido, é uma boa ideia que utilize um cabo adequado (material isolante e "tubo de ar" ou oco para absorver a radiação). Verifique em seu estabelecimento habitual ou busque na Internet. 

- Jamais permita que as crianças utilizem telefones sem fio ou celulares, exceto em emergências. Se quer que seu filho converse com alguém por telefone ou o que seja, que seja num telefone com fio normal.


A maior sensibilidade das crianças as radiações eletromagnéticas se deve à largura estreita dos ossos cranianos, quatro vezes mais vezes mais finos que de um adulto.
- Quando notar que o sinal do celular está ruim, desligue imediatamente o aparelho até que esteja seguro de que a cobertura esteja boa. A razão é que quando o celular detecta um sinal fraco, ele "compensa" aumentando sua potência ao máximo e por tanto incrementando a radiação sobre você e aqueles que o rodeiam.

- Alternar o lado da cabeça que utiliza para falar pelo celular. Isso evitará concentrar danos em uma área localizada do cérebro e reduzirá as probabilidades dum tumor.

- Não permita que seu filho durma com o celular debaixo da almofada sob hipótese alguma.

- Em casa, utilize telefones com fio. Os telefones sem fio podem emitir tanta radiações como os celulares, mas apenas durante sua utilização. Evite os potentes telefones de telecomunicação sem fio digitais por satélite com estação-base.


Computadores e Internet

- O PC portátil é muito mais perigoso quando está conectado a uma tomada elétrica. Use sempre no modo bateria. Basta liga-lo para recarregar a bateria e ficar longe dele durante a recarga.

- Compre um filtro para a tela do seu computador. Você pode cobrir tanto a tela como o teclado, monitor, CPU, etc. do computador com um material adequado, e conectar o material protetor ao solo com um cabo condutor, para descarregar a radiação. Isso é particularmente recomendado se é um profissional que trabalha com computadores, ou se os usa com muita frequência.

- Não utilize o computador portátil sobre seu colo. A radiação se projeta diretamente sobre os genitais e provocam a degradação das gametas e da substância reprodutiva, quando não causam esterilidade ou câncer. Inclusive prejudica a qualidade do sêmen e por tanto a fertilidade.

- Não use WiFi. Se por algum motivo desafortunado continua tendo que usá-lo, tente usá-lo somente quando está utilizando. Mantendo desligado o resto do tempo, especialmente enquanto dorme e manter o roteador o mais longe possível. Diga o mesmo à seus vizinhos, já que seus WiFi também lhe afetam. 

Iluminação

- Evite qualquer tipo de luzes fluorescentes sempre que puder, seja em casa, no trabalho, centro de formação, seu centro desportivo, etc.

 - Jogue fora as lixosas novas lâmpadas fluorescentes compactas. 

- A eletricidade suja viaja facilmente. Convença seus vizinhos para que tirem as lâmpadas fluorescentes compactas.


- Use lâmpadas LED ou, em alternativa, lâmpadas incandescentes convencionais. Convença seus vizinhos a fazerem o mesmo.  

- Não utilize reostatos (interruptores difusores de luz que permitem ajustar manualmente a intensidade do brilho, normalmente com uma roda de volume).
- Não tenha luzes acendidas desnecessariamente. 

- Considere adquirir lâmpadas de espectro completo (incluindo ultravioleta).

Televisão

- Não deixe a televisão ligada constantemente. Muitas pessoas a mantém ligada mesmo quando não estão prestando atenção, como durante quando vão comer. Limite drasticamente a quantidade de tempo que assiste TV dia após dia.

- Uma tela de LCD é melhor que uma de plasma ou CRT. As telas LCD emitem muito menos radiação, enquanto as de plasma produzem eletricidade suja e as convencionais eletricidade estática.

- Considere seriamente abandonar a TV. Se você está em busca de informação atual, na Internet há páginas de notícias mais confiáveis que as agências televisivas, e se o que busca é entretenimento pré-fabricado, seria melhor para você encontrar entretenimento autentico. O efeito de deixar a TV pode ser tão benéfico para seu corpo como seria deixar o cigarro ou qualquer outro vicio pernicioso. 

- Não permita que seus filhos tenham televisores em seus quartos nem assistam à televisão frequentemente.   

Domícilio

- Tenha plantas verdes e frondosas. Quanto mais, melhor. Talvez tenha sorte que sua casa esteja rodeada por árvores e vegetação, não a apare. Aqui tem um link para as melhores plantas para limpar o ar da casa.

- Não construa uma casa cercada duma torre de WiFi, torre elétrica, antena de telecomunicação ou torres, transformadores e\ou cabos de alta tensão e semelhantes. Descubra a infraestrutura de eletricidade de sua área.

- Não viva em uma cidade cercada de uma base área ou aeroporto, ou uma estação de radar, militar ou civil. 

- Esteja ciente que os edifícios com abundantes partes metálicas (especialmente aço e alumínio) e artificiais, tendem a drenar o corpo de sua bioeletricidade. Os melhores materiais para uma casa e os móveis são a madeira e a pedra natural. 

- Não tenha a cabeceira da cama virada para a parede se do outro lado há algum aparelho elétrico (televisor, micro-ondas, geladeira, etc.).

- Se uma árvore perto de sua casa cujos ramos tocar uma linha de energia, faça o podadas para que você tende a conduzir o electrosmog para sua casa e também ser uma fonte de desconforto para a árvore.

- Não use fornos de microondas. 

- Use gás de cozinhas no lugar de eletricidade. 

- Os paneis elétricos (a "caixa de ligação" de cada casa) irradiam intensos campos eletromagnéticos dentre 0,9 e 1,2 metros. Fique longe deles e saibam que seus campos atravessam paredes, tetos e pisos. 

- Os aparelhos elétricos, mesmo que desligados, continuam produzindo um campo eletromagnético enquanto estão conectados. Desconecte qualquer coisa que não esteja utilizando: torradeiras, liquidificadores, batedeiras, máquinas de lavar roupa, relógios, secadores de cabelo, radiadores elétricos, máquinas de barbear, máquinas de cortar cabelo, DVDs, rádios, televisões, lâmpadas, modens, carregadores de dispositivos móveis, videogames, etc.

- Considere a utilização de cabos especiais ou materiais isolantes para cabos, plugs, tomadas de correntes, etc. Os mais eficazes são os que incorporam um tubo oco com "câmara de ar". 

- Não use barbeador elétrico. 

- Não use secador de cabelo. 

- Móveis de plástico (também tapeçarias, revestimentos de murais de plástico) são sumamente perniciosos, já que formam campos eletromagnéticos negativos, disparam substâncias tóxicas e potenciam o efeito da jaula de Faraday. Os móveis de metal também são excessivamente condutores. Utilize móveis de madeira. 

- Os tapetes e carpetes agem como esponjas que retém bolhas de ar quente e viciado, íons positivos, bactérias, poeira, ácaros, produtos químicos de limpeza, eletricidade estática e outros agentes indesejáveis. São uma casa de peso em muitas doenças, especialmente as respiratórias e alérgicas. Descarte todos os tapetes em sua casa. Um piso duro e liso pode ser varrido e esfregado a consciência e facilmente.

- Cuidado com os radiadores elétricos. 

- Não use uma cama feita de materiais metálicos (elas captam a eletricidade dos aparelhos elétricos) nem de plástico, mas sim de madeira. Evite colchões de molas. As camas tal e como conhecimentos hoje nasceram para isolar as pessoas de insetos, ratos e outros bichos. Se você é uma pessoa limpa, considere dormir de costas para o chão sobre um casaco ou jaqueta esteira e coberta. No Japão se dormia assim até não muito pouco, isso é natural, e sua coluna agradecerá.

- Os relógios elétricos e alarmes produzem um importante campo eletromagnético. Além disso, são geralmente colocados perto da cabeceira da cama. Para despertar, use um relógio de corda, ou coloque o despertador o mais longe da sua cama que puder. Considere consolidar seu próprio relógio biológico. 

- Você pode fazer que uma empresa faça medições em tua casa pra detectar fontes de contaminação eletromagnética. É possível que haja alguma fonte importante que você não tenha percebido e que está arruinando a saúde física e mental de sua família. 

- Instale ionizadores (geradores de íons negativos) nos lugares onde você passa mais tempo.

Roupas e calçados

- Caminhar descalço ajuda a descarregar voltagem na Terra. Quando caminhamos descalços, a Terra absorve a voltagem atmosférica utilizando nosso corpo como condutor. A energia atmosférica entra por nossa auréola e sai por nossos pés. As pessoas altas tem um maior gradiente de potencial (diferença de polos) e por tanto são melhores condutores. Por exemplo, numa zona natural particularmente limpa e plena de energia tanto atmosférica como telúrica, o gradiente de potencial pode ser de vários centenas de volts por metro: uma pessoa de dois metros de estatura estaria submetida a um gradiente de 400-500 volts entre a cabeça e os pés, o qual favorece enormemente a livre circulação da bioeletricidade, energia vital ou como se queira chamar. Esse efeito condutor do corpo é mais forte pela madrugada, em torno do amanhecer, e especialmente quando se trata dum solo de grama coberto de orvalho, já que nessa situação o solo tem um fortíssimo efeito condutor como polo negativo. Em contrapartida, quando nos encontramos isolados do solo, acumulamos eletricidade estática, o que se traduz em estresse, insônia, cólicas, fadiga, diminuição dos reflexos, irritabilidade, dores de cabeça, tonturas, perturbações de sono, diminuição da memória e da capacidade de concentração, etc. Portanto, caminhe descalço sempre que puder. A rua não é um bom lugar, mas a casa ou as saídas de campo são ideais.

- Se passa tempo os sapatos, toca o solo, de preferência natural, com ambos os pés para descarregar.

- Não use calçado de sola de borracha. Use calçado de sola de couro.
- Procure utilizar calçados abertos (sandálias, chinelos) todos os meses do ano excet no inverno. 

- O acrílico e outros tecidos produzem eletricidade estática ao friccionar nosso corpo, chegando a soltar faísca e produzir campos elétricos negativos detectáveis ao tato. Esses campos repelem os beneficiosos íons negativos de nosso corpo e atraem pelos de animais e pessoas, fibras, poeira, fumaça, pólen, teias de aranha e sujeira em geral, que podem produzir alergias e reações, além de sujar nossas roupas. Além disso, os materiais sintéticos nos isolam das forças da Terra e da atmosfera. Utilize materiais naturais como o algodão, o corpo, a lã virgem, linho ou as peles naturais. Evite materiais artificiais como o náilon, o orlon, o poliéster e os acrílicos em geral.

- Não use chapéu, boinas, gorros, bonés, e similares, exceto em condições de insolação ou frio que requerem proteger a cabeça. Em todo o resto de situações, este tipo de acessório, por imprescindíveis que possam ser para estar na moda num dado momento, não o são para sua sobrevivência nem saúde. Para além disso, aceleram a calvície em pessoas pré-dispostas.  

- Não utilize vestuários de cabeça provindo de materiais sintéticos. Se você usa um vestuário de cabeça leve, do tipo chambergo, para se proteger da insolação, molhe-o na água; terá um efeito condutor, além de ser refrescante. 

- Quando colocar a roupa na máquina de lavar, você pode adicionar esferas iônicas para o lavar de roupa. É mais saudável que os produtos químicos que impregnam a roupa e que logo se permeiam em nossa pele, e além de ajudar a prevenir a formação de campos elétricos negativos ao nosso redor.

Luz solar e outra radiação cósmica

- Não olhe para o Sol diretamente e sem proteção, salvo durante o amanhecer e o entardecer, quando os raios chegam muito mitigados.

- Seja consciente da reação da sua pele perante a luz solar. Se és uma pessoa muito avermelhada ou muito pálida, que reage fortemente diante da exposição solar, descendes de indivíduos que tinham que se proteger do frio se agasalhando. Para seguir absorvendo sol, maximizaram a perda de eumelanina na pele. Com uma exposição solar mínima a cada dia, já se pode ter mais que suficiente. Tua melhor opção pode ser cobrir-se com roupas leves para não se queimar.

- Maximize a superfície de tua pele exposta à luz solar. Use roupas leves sempre que possível e considere praticar nudismo, já que existem zonas da pele em que raramente chega a luz solar.

- Há um termo médio entre a insolação do praieiro perpétuo e a deficiência solar crônica do emo ou gótico. Portanto, evite se divertindo passando tempo sob exposição solar.

- Os cremes solares não são uma opção, por muito que favoreçam o bronzeamento. Atuam como uma tela e impedem que seu corpo absorva raios ultravioleta. É melhor tomar sol meia hora sem creme e logo se cobrir para não se queimar, do que tomar o sol com creme durante horas e horas, ainda que te bronzeies melhore.

- Não use óculos de sol a não ser que seja necessário (esportes de neve, condução, luminosidade forte, exposição prolongada, etc.), já que filtram os raios ultravioleta e impedem a carga do hipotálamo ao cérebro através dos nervos ópticos. Quem usa óculos de sol constantemente por moda está maltratando seu corpo e incorrendo em consumismo. As megacorporações multinacionais te bendizem na medida em que tua saúde e tua espécie de maldizem.

- Se usas óculos ou lentes de contato, carregue-os com um vidro ou plástico que deixe passar a radiação ultravioleta. Do contrário, pode estar seguro de que a radiação UV nunca vai chegar a seus nervos ópticos.

- Se passas muito tempo entre quatro paredes e sob luz artificial, tome descansos para sair ao ar livre e permitir que teus olhos recebam luz solar (se olhar diretamente para o Sol).

- Considere a instalação de lâmpadas de espectro completo em casa e no lugar de trabalho.

- Nos recintos em que passe mais tempo, considere substituir os vidros convencionais por lâminas de plástico transparente que permitam a passagem da radiação ultravioleta.

- Leve um ritmo diário circadiano (sono nas horas escuras, vigília em horas luminosas). Pestanejar com o olho nu para o céu luminoso te ajudará a despertar, ao favorecer a segregação de certas substâncias endócrinas. Se dormes de dia e atuas de noite, semearás o caos em teu sistema endócrino e tua saúde se deteriorará rapidamente.

- Existem exercícios de banhos de sol oculares, pestanejos seletivos e helioterapias para absorver energia solar de forma eficaz e segura. A internet é uma mina de ouro, informe-se.

- As palmas das mãos tem alta sensibilidade à luz solar e são zonas tanto de proteção como de absorção de bioeletricidade. Assegure-se de lhes dar um banho solar ou sideral de vez em quando. “Saudar o Sol”, ou aos astros, não faz mal a ninguém.

- Evite passar a vida olhando para o chão. Acostume-se a olhar para o céu. Com o simples fato de olhar para o céu com os olhos nus, tanto de dia como de noite, teu nervo ocular absorve raios cósmicos e os envia diretamente para teu cérebro e sistema endócrino.

CARRO

Não se pode fazer nada para remediar os perniciosos efeitos eletromagnéticos do motor ou dos materiais plásticos da tapeçaria, do painel, etc., mas há medidas que podem ajudar a amortecer o impacto que produzem em nossa saúde e na de nossos acompanhantes.

- Instale um ionizador (gerador de íons negativos) em teu carro. Os ionizadores de automóvel são aparatos baratos que se encaixam no oco do acendedor de cigarros e que, ao solucionar o “cansaço de direção”, poderiam prevenir muitos acidentes.

- Muitas vezes você terá saído do carro depois de dirigir por muitas horas e, ao tocar nele te dá uma câimbra ou você sente uma faísca (descarga eletrostática). Isso se deve a que o carro foi acumulando voltagem (roçadura com o ar a altas velocidades, freios, correias de transmissão) sem poder descarrega-la, devido a que os pneumáticos, como nossas solas de borracha, o isolam do solo. Em dias de chuva ou umidade isso não ocorre, já que a água é condutora. Instale uma fita anti-estática na parte de trás do veículo, roçando o solo. A maioria dos caminhoneiros tem uma ou várias. Se te preocupa que ela seja também anti-estética, coloque-a no centro da parte de baixo do carro e ninguém a verá.

- “Ar condicionado” é um eufemismo politicamente correto para “ar enlatado, plastificado e desnaturalizado”. É preferível abrir a janela.

- Não abuse da calefação se você puder se agasalhar.

- Não use GPS a menos que seja necessário.
- Desligue qualquer aparato elétrico que não esteja utilizando.

- As tapeçarias de couro são mais benéficas que as de materiais sintéticos.

- A fricção dos discos de freio produz eletricidade estática. Use mais o freio motor.

OUTROS

- Qualquer lugar a partir do qual você possa ligar com o celular, usar o GPS, escutar rádio, conectar-se à internet, ver TV, etc., é um lugar submetido a radiações eletromagnéticas perniciosas para a saúde humana. Tenha isso sempre em mente.

- Evite fazer raio X, salvo em extrema necessidade. O melhor meio de não necessitar mais de radiografias é ter uma saúde de aço.

- Se és soldador, maquinista, eletricista, trabalhador de linhas elétricas, cabelereira, operador de radar ou similar, ou te encontras exposto aos mesmos fatores de risco que os profissionais mencionados, planeje mudar de profissão ou adotar medidas de proteção na forma de materiais especiais isolantes.

- Não te exponhas desnecessariamente a artefatos elétricos potentes. Desconfie de qualquer trambolho cheio de antenas, cabos, transformadores, geradores, transmissores, eletrodos, vibrações, luzes artificiais e demais estruturas elétricas.

- O campo eletromagnético de um relógio de mão não é muito forte. Ainda assim, não há nenhuma necessidade de leva-lo consigo 24 horas por dia, e menos ainda na hora de dormir.

- Lembra dessa colina que gostas de subir habitualmente para desfrutar da vista e respirar ar puro? Pense outra vez. Provavelmente dita colina tenha uma ou várias antenas de telefonia, telecomunicação ou o que seja, e o local seja menos sadio do que supunhas.

- A água é condutora de eletricidade e ajuda a descarregar a estática acumulada em nosso corpo. O efeito relaxante dos banhos e das duchas (especialmente de água fria) se deve a isso, entre outras coisas. Também é a causa de que quando temos muita voltagem acumula nos dá mais vontade de jogar água por cima do que bebê-la. Considere tomar banho com água fria e se possível, mais de uma vez por dia, preferencialmente depois de trabalhar e antes de dormir.

- Lave o rosto com água fria várias vezes por dia, especialmente ao despertar e depois de trabalhar.

- Pôr seus pés em contato com uma prancha metálica (por exemplo, um radiador) também tem um efeito descarregador de estática e pode aliviar muito os sintomas da acumulação de voltagem.

- Quando te sentas, procure manter teus dois pés em contato com o solo. Não cruze as pernas.

- Pratique alguma forma de disciplina respiratória. O bom ar está totalmente repleto de eletromagnetismo benéfico, que passa ao sangue através da “esponja” dos pulmões. O chi-kung (ou qigong), o pranayama, o hatha-yoga e outros, tem, entre muitos benefícios, o de equilibrar as correntes eletromagnéticas do corpo. Fique longe de sensacionalismos New Age e concentre-se no que funciona.

- Quando estamos expostos a telas (PC, TV, videogames), a vista tende a se fixar e pestanejamos menos, expondo perigosamente a retina e todo o nervo óptico até as glândulas pituitária e pineal a radiações erráticas e perniciosas. Assegure-se de piscar regularmente para lubrificar os olhos e mitigar estes efeitos, e distancie a vista da tela com frequência.

- Considere aprender alguns pontos de acupuntura nas mãos e pés. Pressionar certas zonas envia impulsos elétricos benéficos para o cérebro, que podem ajudar a reestabelecer o equilíbrio do biocampo humano.

- Nunca esqueça que a final de conttas somos feitos de átomos, eletricidade e partículas subatômicas, e que estes elementos em nossos corpos sempre serão suscetíveis a forças exteriores de tipo similar, quer sejam radiações astrais, outras pessoas ou artefatos artificiais.

- Compre um ionizador de água e use-o.

- Informe-se. Aqui há uma excelente biblioteca com estudos e material de investigação sobre campos eletromagnéticos e saúde, e aqui uma página de notícias. Estaé uma página em espanhol.

- O corpo humano não é uma máquina defeituosa que deva ser consertada, tunada e remendada por toda uma indústria sanitária. O corpo humano é o resultado de dezenas, centenas de milênios de seleção natural e sabedoria reprodutiva. Atendendo a este fato, deverias considerar cuidadosamente a possibilidade de que grande parte dos males “comuns” que possas estar sofrendo, aceitando e dando como garantidos (dores de cabeça, tonturas, falta de concentração, letargia, melancolia, depressão, apatia, irritabilidade, perda de cabelo, fadiga, mau humor, halitose, diminuição da memória, conduta errática, insônia, retenção de líquidos, apitos nos ouvidos, transtornos digestivos, desorientação, irritações cutâneas, pessimismo, impotência, cáries, alergias, miopia, frigidez, sinusite, dificuldades para respirar, visão borrada, desmaios, câimbras, mau equilíbrio, asma, diabete, dores nas costas, ateísmo, enfermidades sazonais como a gripe, resfriados, irregularidades menstruais, tiques nervosos, abortos espontâneos, etc.) possam em grande parte não ser defeitos “de fábrica” de teu corpo, mas o resultado de condições ambientais (dieta, exercício, ar, luz, água, substâncias químicas, campos eletromagnéticos, doutrinação, isolamento, etc.) às que se tem sido exposto desde pequeno, e que tem a ver invariavelmente com o estilo de vida civilizado. Do mesmo modo, temos que ponderar que certamente o enorme declive da saúde humana não se deva necessariamente ao “stress” da vida moderna (mais stress tinham os antigos caçadores e guerreiros), mas às condições perniciosas às quais a vida moderna submete a biologia humana. Que o corpo esteja sempre te incomodando não é natural. O que sim é natural é que se você maltrata teu corpo, teu corpo maltrata de você.

Atendendo a sua relação com as forças da vida e do mundo, existem dois tipos humanos. O primeiro está agradecido à vida e sente que deve algo ao mundo. O segundo está ressentido com a vida e querer tirar coisas do mundo, saquear seus recursos, construir uma monstruosa e herética Torre de Babel tecnológica e excluir à Natureza de sua sinistra equação. As megacorporações multinacionais capitalistas representam essa segunda vontade, para a qual o mundo é um negócio, um conjunto matemático de números, rotas, matérias primas, capital, mão-de-obra e meios de produção. Se permite-se que a vontade comercial, banqueira, usurária, fria, calculista, mecânica, robótica e desumanizante da humanidade continue exercendo o vampirismo sobre a substância vital da Terra e do homem, o resultado inevitável será uma grande destruição que reestabelecerá dolorosamente o equilíbrio da ordem natural eterna.


Imad Fawzi Shueibi - A Ordem Mundial Vacilante e seus Impactos

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por Imad Fawzi Shueibi



No intervalo entre duas ordens mundiais, há uma guerra mundial e um período de transição seguido por um controle internacional cada vez mais rígido.

O Ocidente formou uma Ordem Mundial em 1648 após o Tratado de Vestfália e a Guerra de Trinta Anos. O Tratado de Vestfália estabeleceu quatro princípios fundamentais:

* 1. A soberania absoluta do Estado-Nação, e o direito fundamental à autodeterminação política.

* 2. A igualdade legal entre Estados-Nações. O menor Estado é, portanto, igual ao maior, independentemente de sua fraqueza ou força, riqueza ou pobreza.

* 3. A obediência internacional a tratados, e a emergência do "Direito Internacional Vinculante".

* 4. A não-intervenção nas questões internas de outros Estados.

Posteriormente, uma nova ordem mundial foi estabelecida. Ela foi chamada de "Paz dos Cem Anos" de 1813 a 1914, e moldou as Regras Internacionais do Jogo; Jogo da Guerra, Jogo da Paz e as Regras de Conflito.

O início da Primeira Guerra Mundial foi uma indicação do fim da Ordem Internacional prévia e o início de uma nova, e com o fim da Segunda Guerra Mundial e o fim da Liga das Nações, uma nova Ordem Mundial foi estabelecida.

Com o colapso da União Soviética, a Ordem do Pós-SGM findou e um período de transição se iniciou. Durante este período, os Estados Unidos da América considerava tudo relacionado ao Pós-SGM como parte do passado; i.e., o Princípio de Soberania de Vestfália. Assim, o Tratado de Vestfália foi abolido, bem como o direito de resistir, como o que conheceu a França em sua resistência à ocupação alemã. Tudo isso se transformou no sentido de que o princípio de soberania foi substituído pelo Direito de Intervenção Humanitária e a resistência foi substituída por negociações, e até mesmo considerada terrorismo.

Isso foi intensificado ainda mais com a derrubada das torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, quando os neocons moldaram a teoria de seus mestres Leo Strauss e Alan Bloom para formar uma nova ordem mundial unipolar. Essa orientação precisava de uma arena de operações, que veio a ser o Oriente Médio. Eles começaram com o Iraque, e prosseguiram para o Líbano, e então o efeito dominó começou a rolar. Porém, sua principal preocupação era pôr as mãos na Síria.

Com essa mudança, a fase de não-polaridade se iniciou.

O século XX começou multipolar, mas logo se tornou bipolar, e com o fim da Guerra Fria a ordem mundial se tornou unipolar; i.e., uma ordem mundial na qual apenas uma única super-potência domina. O momento de unipolaridade que o mundo tem conhecido desde a queda do Muro de Berlim e o colapso da URSS foi bastante breve; foi apenas um "momento" na história. As coisas continuaram até que chegamos a um mundo de não-polaridade, no qual o poder está distribuído entre algumas potências.

Se a ordem for multipolar, ela pode ser cooperativa, e ela pode gerar harmonia entre as potências, que apesar de serem poucas, estarão trabalhando segundo regras estáveis, cujo violador estará sujeito a penalidades. Essa ordem pode ser também competitiva e girar ao redor de uma balança de poder. Ela pode estar mais predisposta ao conflito quando essa balança se abalar. Porém, o caso da não-polaridade não deixa espaço para cooperação; ao invés, ele leva ao caos.

Há mais potências hoje do que Estados, mas apenas alguns poucos pólos entre esses não são Estados nacionais. Em tal tipo de ordem, os Estados nacionais perdem seu monopólio de poder. Os Estados se deparam com o desafio vindo do topo e apresentado por organizações internacionais e regionais, além do desafio vindo de baixo e apresentado por milícias, corporações e ONGs.

O mundo de hoje não possui polaridade, como resultado inevitável da globalização. Esta aumento a quantidade, a velocidade e a relevância dos fluxos através das fronteiras em relação a quase tudo.

Com a presença de muitos partidos com poder óbvio tentando exercer sua influência, seria difícil adotar respostas massivas, porque o mundo estará flutuando em um caos onipresente.

Quanto mais não-polaridade existir, mais não-polaridade se gerará. Deixando o mundo hoje neste estado de não-polaridade por conta própria tornará até mesmo mais complicado com o tempo. A difusão de desordem fará com que os sistemas consistindo de mais de um partido sigam avançando mais arbitrariamente.

Riscos do Caos Internacional

A mensuração da eficiência e da eficácia de qualquer liderança internacional que se manifesta na habilidade de grandes países determinarem as regras da Ordem Internacional assume, primeiro, então o papel de regular os conflitos internacionais e controlar ou mesmo impedir seu acontecimento com o maior nível de eficiência e o menor custo. Porém, tomando a experiência de duas décadas e meia revela o verdadeiro fiasco na efetividade da liderança internacional, ou seja, a ausência de "ordem"; pelo contrário, uma situação internacional caótica. Assim, não há lugar para um único polo dominar realmente e não há nem mesmo um sistema que permita que o mundo seja dividido entre duas potências, nem a experiência ou possibilidade de se aceitar um mundo multipolar.

Essa situação internacional caótica significa a manutenção da severidade de conflitos nos lugares que costumavam ser áreas para testes de balões de influência, como o Oriente Médio, ou que tenham conflitos através de um terceiro, que transforma a região em uma arena de combate.

Esse conflito não terminará a não ser que as potências internacionais cheguem a um acordo. A emergência do ISIS (Daesh), porém, demanda uma emenda às regras de conflito, que atualmente não são claras.

A Dimensão Científica do Caos


A ideia começa com o termo "caos" em si, cuja estranheza não faz diferença, desde que ele seja o segredo por trás de todos os desastres e catástrofes que afetaram todo o mundo e os que ainda vem por aí.


Este conceito está relacionado ao conceito do "efeito borboleta" no qual um minúsculo evento pode mudar toda a história. É isso que o caos está fazendo; ele começou um processo de modificação da face da história e de criação de algo com que o mundo jamais esteve familiarizado desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Os teóricos dos Estados Unidos hoje não escolheram arbitrariamente a palavra "caos" para significar a anarquia onipresente e avassaladora. Eles até acrescentaram a palavra "criativo" a ele, para lhe dar uma conotação ainda maior, criando assim um novo efeito borboleta que pode ser a causa de um grande desastre que aflige toda a humanidade.

"Caos" não significa "desordem" desde que esta signifique algo que pode ser posto de novo em ordem. Com o "caos" não há qualquer possibilidade de se organizar ou colocar em ordem. É o "estado de existência primeva" mencionado na Bíblia a partir do qual todo o universo emergiu. Sem a mão de Deus, este mundo não teria sido ordenado, ou quase ordenado. Isso foi afirmado no Gênese como segue: "E a Terra era sem forma, e vazia; "E a Terra estava informe e vazia; e as trevas cobriam o abismo".

Era caos real antes da Mão do Criador ou Demiurgo colocar tudo em ordem.

Simplesmente, a questão toda se centra ao redor de transformar o mundo em algo caótico sem poder organizativo com exceção do dos Estados Unidos.

Uma teoria estranha, não é?

Ela de fato o é.

Alguns americanos querem que o mundo fique desordenado, com os EUA como o único organizador, sem levar em consideração as ameaças que esta situação representa para o mundo todo, incluindo os próprios EUA.

Eles dizem que essa é a natureza do mundo, e que a ideia vem do próprio cosmo e da própria existência.

Mas não se iniciou o mundo desde um ponto organizado que levou ao Big Bang, que levou à criação de galáxias até o tempo presente; i.e, uma nova galáxia nascendo a cada minuto? Na macrofísica, nós sabemos que ele é extremamente organizado, mas na microfísica nós o encontramos completamente disperso e em total caos. Este é um dos paradoxos científicos modernos, especialmente na física quântica.

Para colocar de forma diferente e falar de forma mais precisa, segundo os teóricos supramencionados, a existência é originalmente caótica porque ela começa desde um ponto considerado o pico da organização a partir de onde o Big Bang se inicial, e então ela se transforma em caos avassalador. Para se identificar com este universo, a Terra deve se tornar inteiramente desorganizada. Apenas os EUA estarão desfrutando de uma grande ordem, como o Big Bang, enquanto toda a existência terrena estará hierarquizada no caos; i.e, alguns lugares razoavelmente caóticos, outros menos caóticos e alguns muito caóticos.

Para alguns americanos, o aspecto biológico da Teoria do Caos está na própria vida.

Não é verdade que uma criança nasce fisicamente e fisiologicamente bem, e com o passar do tempo ela cresce, e os sinais de senilidade começam a se manifesta? Então, o seu corpo desenvolve câncer, que é um tipo de caos interno controlado pelo cérebro, mas quando o cérebro perde o controle, essas células cancerígenas se tornam destrutivas. Elas destroem o cérebro ou invadem todo o corpo, que acaba na more ou por uma doença que não tinha efeito no passado ou por um ataque do coração que não teria ocorrido se o corpo estivessem em perfeita ordem. Este é o caos letal. A AIDS, por exemplo, é uma doença fatal que indica falta de imunidade. É uma indicação flagrante de que a imunidade pode entrar em colapso e não pode ser tomada como dada, tal como a ordem.

Entropia


Os criadores da Teoria do Caos e os que defendem a sua difusão por todo o mundo veem um aspecto físico da teoria, que é a entropia.


A ideia vem da segunda lei da Teoria de Termodinâmica, que afirma que qualquer mudança que ocorra em um sistema físico automaticamente estará acompanhada de uma elevação em sua entropia; i.e., um aumento nos níveis e caos que ocorrem nele. Assim, modificar significa sofrer com falta de ordem, ou com o acontecimento de caos.

A pergunta que se deve fazer aqui é: e quanto aos humanos, e a humanidade?

Teóricos americanos dizem que eles não dão atenção a isso desde que as pessoas não sejam mais que ferramentas, e que é assim que as coisas naturalmente acontecem.

Se você disser que pessoas morrerão, eles responderão que elas morrem mais cedo ou mais tarde, então por que não caoticamente?! Não morreram já milhões de pessoas desde o início da existência? Não morreram elas por doenças, pelo que se diz que foi a natureza o instrmento de sua morte?

Não houve uma terrível carnificina durante a Segunda Guerra Mundial que resultou na morte de 80 milhões de pessoas e em 128 milhões de feridos e aleijados? Por que vocês estão surpresos com o caos?

O que é estranho em relação a isso é o estabelecimento das Nações Unidas, que tenta colocar o mundo em ordem e reduzir sua natureza caótica.

Se você, assustado, perguntar sobre essa indeterminação, dirão que ninguém conta quantos morrem em guerras. A mortalidade é só uma estimativa. Morre-se na guerra porque se está destinado a isso, tal como se morre naturalmente. É a física quem diz.

Isso não é só sangue frio, mas frieza mental.

Os americanos diriam que a física diz que o caos é a norma, enquanto a estabilidade e a ordem são a exceção, e eles forneceriam evidência da termodinâmica.

Qualquer sistema fechado tende a mudar ou se transformar automaticamente com a elevação de sua entropia ou caos até que ele atinge o estado de igual distribuição de caos em todos os seus pontos, tal como a temperatura, densidade e outros aspectos iguais que a água tem quando água fria e quente são misturadas. Alcançar um equilíbrio na difusão do caso, provavelmente, levará tempo.

Assim, os americanos criam caos e outros o adotam e aplicam. Os outros o recebem apenas para refleti-lo, colocando o mundo em um círculo vicioso para o qual nenhum início ou fim é reconhecido, e não se sabe quem começou.

Não-Polaridade

A não-polaridade é a exceção que bem pode se tornar a norma. Mas ela tem perigos reais:

Ela pode levar a conflitos armados regionais que estarão longe de serem controlados; duráveis, viáveis e se espalhando rapidamente de um lugar para o outro sem regras. Assim, eles poderiam ser governados pelas regras das realidades inesperadas, pelo efeito borboleta, pelo efeito dominó e pelo caos.

A não-polaridade poderia ser um estímulo para empurrar uma super-potência a assumir um risco militar em um lugar geograficamente diferente do seu com a esperança de decisivamente transformar o estado de não-polaridade em um estado de multipolaridade ou unipolaridade "mesmo que por um tempo". Ela também poderia empurrar na direção de uma guerra mundial ou uma coexistência com o terrorismo como uma realidade inevitável. O exemplo disso é a coexistência com o Talibã e abrir embaixadas para ele. Assim como pode vir a haver coexistência com o Daesh.

Na não-polaridade, há um tipo de fluidez internacional que pode abrir o caminho para a coexistência com o que costumava ser terrorismo para considerá-lo status quo.

O estado de incerteza é máximo agora em nossas expectativas do que ainda está por vir.

Fragmentação ao invés de desintegração

O que acontece agora no Oriente Médio é fragmentação, não desintegração, levando em consideração a grande diferença entre os dois conceitos. O que ocorre na região é "fragmentação" na medida em que não há unidade coesiva entre os constituentes de alguns países graças ao conflito. Não há nem mesmo entendimento internacional ou uma vontade de impedir isso. Ainda assim, há algumas superpotências que se recusam a modificar a geopolítica e não concordaram com uma nova Yalta. Portanto, nenhuma nova divisão ou países aparecerão a curto prazo a não ser que o cenário internacional mude. Essas novas entidades podem aparecer na ausência de uma vontade local ou regional de impedi-las, o se houver um estado de fluidez internacional que seja incapaz de impôr uma decisão ou alcançar m entendimento básico sobre uma nova geopolítica.

O caldeirão básico que faz eclodir o caos contemporâneo é o Oriente Médio. Comparar o que acontece na região agora com o que aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial ou a Guerra Fria não é exato, porque a situação se assemelha à Guerra dos Trinta Anos quando aquele conflito resultou na destruição de grandes partes da Europa na primeira metade do século XVII.

Se considerarmos a situação na Europa à época, saberemos que nos anos vindouros, provavelmente haverá vários Estados fracos incapazes de controlar vastas áreas de seus territórios, e também haverá várias milícias e grupos terroristas trabalhando em ampliar sua influência, sem mencionar guerras civis e guerras entre países. Identidades sectárias e sociais encontrarão lugar e até ultrapassarão as identidades nacionais. Jogadores locais continuarão a interferir nas questões internas de seus países vizinhos, impulsionados por imensas reservas de recrsos naturais. Jogadores estrangeiros, porém, serão incapazes ou desinteressados em permitir que a região se estabilize.

Assim, o ruim pode facilmente ficar pior caso os EUA sejam relutantes ou incapazes de serem mais sábios ou de recorrerem a opções mais frutíferas. Não há nem mesmo uma única solução para os problemas porque a natureza dos desafios diferem de uma região para a outra e de uma questão para a outra.

Na verdade, soluções de qualquer tipo podem, na melhor das hipóteses, ser gerenciadas, mas não alcançadas.

O Oriente Médio ruma para a desintegração e fragmentação, e o Califado pode se tornar realidade, assim, negociações e reconhecimentos podem seguir. Isso pode também resultar em outros Califados Islâmicos invocando o Arquétipo, e você poderá descobrir que os Estados ricos são o ponto de foco e o desejo há muito perseguido desse califado que se multiplica cada vez mais.

Arquétipo

O arquétipo são todas as representações inconscientes nos seres humanos; i.e., é tudo que indivíduos ou grupos recebem inconscientemente, sejam símbolos míticos ou semi-míticos de indivíduos ou comunidades antigos. Tudo isso é caracterizado como sendo moral e prazeroso, longe de ser danoso ou materialista. Essa concepção do arquétipo é o que se busca restaurar hoje, ainda que ele pertença ao passado e não haja como testar sua validade.

Aqueles que representam o arquétipo inconscientemente e buscam invocá-lo e refleti-lo em sua realidade presente não leem a história. Se eles a leem, eles só leem o que fortalece as imagens arquetípicas para revivê-las, mas não para destrui-las. Essas pessoas vivem o passado em se dia presente e apenas concebem suas imagens mais encantadoras.

Com o arquétipo, prazer e equilibrio psicológico são atingidos no inconsciente. Com ele, indivíduos ou grupos atingem equilíbrio no mundo terreno e o transformam em um mundo angélico. Assim, há uma fuga do que é real para o que é desejado, "por meio de sua representação mítica".

O arquétipo constitui o substrato ao qual se unem todos os humanos e sobre o qual os indivíduos "dentro e sob esta construção" podem construir suas experiências futuras. É a paixão que transforma a ideia em realidade. É por isso que há insistência em aplicá-la para ligá-la ao mundo físico.

Neste sentido, o Estado Islâmico se torna o arquétipo a partir do qual a anarquia cega e ilimitada inventada pelos EUA entra em erupção. O jogo de procurar por um lugar para o Estado Islâmico custará à região longos anos de sofrimento, caos e insurreição, e afetará muitas partes do mundo. Ele será acompanhado por uma reputação cada vez pior para o Islã e os árabes, e as consequências serão terríveis.

Este mundo é realmente perigoso, na medida em que ele representa uma ameaça às nações. Suas consequências atingirão cada lugar no planeta a não ser que essa insanidade pare. Isso demanda o estabelecimento de uma ordem internacional que possa controlar os impactos da não-polaridade e detê-la nas fronteiras da teoria niilista que considera o caos como ordem. 

Jafe Arnoldski - Tragédia & Farsa: Reconsiderando a Análise Superestrutural Marxiana de Movimentos Sociais Heterodoxos (Parte II)

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por Jafe Arnoldski



Uma Reconsideração Heurística do Marxismo e da Modernidade na Eurásia


Na introdução a esta série, nós apresentamos e fornecemos algumas afirmações cursórias sobre o tópico geral de nossa investigação. Nós chamamos atenção para a aplicação problemática da tese de Marx sobre a "poesia do passado" (como apresentada no Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte) e a confusão dominante sobre a relação entre a superestrutura (ideologia, a "poesia") e a base (forças classistas objetivas) que se manifesta quando marxistas analisam e tentam identificar a trajetória de movimentos sociopolíticos, particularmente dos que são sincréticos na era moderna e pós-moderna, que geralmente desafiam estereótipos estéticos normativos, apresentando "pistas" superestruturais aparentemente "heterodoxas" e talvez "contraditórias", estas por causa do precedente falho disposto por Marx em contradição a seu próprio esquema, confunde marxistas em suas análises e não raro os leva a categorizações errôneas de movimentos ou Estados "progressistas" como "reacionários".


Nesta fase, nós nos aprofundaremos nos sustentáculos teóricos do marxismo enquanto ideologia da modernidade, com o objetivo de descobrir os paradoxos que subjazem o precedente estabelecido por Marx no Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte. Nós vamos prosseguir, então, apresentando os contornos gerais junto aos quais nosso estudo se desdobrará conforme examinamos o marxismo através de suas próprias lentes, reconsideraremos sua percepção de movimentos sociopolíticos heterodoxos e as implicações práticas e teóricas aí, e traçar a trajetória da hermenêutica paradoxal do marxismo na direção de uma ideologia política sincrética.

Marxismo, o Século XX e a Quarta Teoria Política


Há muito tempo já se tornou claro que a Primeira Teoria Política (1TP), o liberalismo, emergiu do século XX como a ideologia vitoriosa da modernidade. Este fato inevitável e suas implicações práticas tem sido analisados por um número de estudiosos em uma ampla variedade de campos. As outras duas principais teorias sociopolíticas, marxismo (com seus vários derivados) e fascismo (com suas várias correntes), foram postas uma contra a outra, demonizadas a partir de todas as direções, e sofreram derrotas decisivas em esferas cruciais em diferentes épocas pelo massivo complexo militar, ideológico e político-econômico da 1TP, que desde os anos 90 se tornou a norma aterradora para amplas faixas da população mundial. Agora, porém, conforme este "Fim da História" vai se revelando cada vez mais insustentável, intolerável e indesejável, atenção crescente vai se dando para as várias ideologias antiliberais da modernidade, com um olho para resgatar e analisar criticamente seus elementos nominais, bem como os antiliberais e antimodernos paradoxais.




Esta, por exemplo, é parte da obra em desenvolvimento da Quarta Teoria Política, que busca dissecar a 2TP e a 3TP, remover seus núcleos hermenêuticos derivados da modernidade, e assim absorver criticamente aquelas entre suas teses que possam ser mensuradas contra as realidades de criticar o liberalismo e a pós-modernidade sem arrastar a bagagem de seus preconceitos modernistas. Esta também é parte do po projeto de sincretismo político que busca reconsiderar os ritmos de coincidência entre as três teorias sociopolíticas da modernidade, sintetizar um novo entendimento dessas ideologias políticas, e empregar criticamente análises antiliberais para o fim de informar a nascente 4TP.



De particular interesse para nós no contexto e esquema de tal projeto é o marxismo. O marxismo foi a única das três ideologias políticas primárias da modernidade que desenvolve uma estrutura ideológica ampla e sistemática que se prestou para analisar de forma habilidosa uma gama bastante ampla de fenômenos. Em comparação com o obscurantismo dos jingoísmos do liberalismo e com alguns dos apelos emocionais fascistas a certos arquétipos finalmente canalizados em um projeto fundamentalmente modernista, o marxismo ofereceu a mais "científica" de todas as filosofias políticas "cientificistas" da modernidade. Ademais, um estudo da evolução do marxismo ao longo dos séculos XIX e XX, e mesmo de seus vários remanescentes "dogmáticos" hoje, revela que ele provou ser o esquema analítico mais dinamicamente autocrítico de todas as ideologias antiliberais. Em termos de movimentos sociopolíticos e projetos analíticos, o marxismo se provou mais duradouro que outras ideologias. Suas análises da lógica e trajetória do capitalismo, sua crítica do imperialismo moderno, e outras teses já foram até transplantadas para os arsenais de outras teorias e projetos políticos aparentemente contraditórios. Ademais, o liberalismo e os próprios liberais, reconhecendo, ou, mais precisamente, temendo a presciência de certas projeções marxistas, fizeram uso da própria estrutura marxista para melhor entender como fortificar suas posições e neutralizar qualquer oposição antiliberal.

Onde o marxismo falha, porém, e isso pode responder por boa parte das inadequações dos experimentos socialistas do século XX, é na compreensão e reconsideração dele próprio. Conquanto Marx e seus seguidores expuseram e formularam de forma brilhante teses contra aspectos cruciais do liberalismo, do capitalismo e do imperialismo capitalista, e até conseguiram liderar algumas revoluções com base na estrutura analítica autocrítica e dinamicamente aplicável, o marxismo, sem falar nos marxistas, comumente falharam em apreender as dimensões mais profundas de suas experiências revolucionárias. Ao invés, as premissas inerentemente modernistas do marxismo foram levadas à sua conclusão lógica e as grandes revoluções socialistas do século XX ou falharam em resistir ou reexaminaram criticamente seus preconceitos em relação aos paradigmas fundamentais da modernidade. O produto final, que assola a maior parte da esquerda do século XXI, foi uma série de "revisões" que, ao invés de escavar o "marxismo real", castrou e prendeu o marxismo ainda mais nas garras do liberalismo, finalmente colocando algumas de suas encarnações políticas em linha com a burguesia, com a política liberal e com a confusão e desilusão da pós-modernidade.

Marxismo e Modernidade - Contornos Introdutórios


É de supremo interesse que quando Vladimir Lênin se gabou de que "a doutrina marxista é onipotente porque ela é verdadeira", [2] seu ângulo para tal perspectiva pouco tinha a ver com o ângulo a partir do qual intelectuais e líderes revolucionários marxistas posteriores procederiam quando se engajando em exercício ideológico ou mobilização insurrecional. Para Lênin, o marxismo era "onipotente" e "verdadeiro" não porque era a motivação ideológica última para "servir o povo", "construir o Exército Vermelho" ou "reunir o povo ao redor do Partido e do Líder", mas porque ele era um "sucessor legítimo" para e representava a conclusão lógica e ampla do "melhor que o homem produziu no século XIX, como representado pela filosofia alemã, pela economia política inglesa e pelo socialismo francês".


Na percepção de Lênin, o valor do marxismo enquanto ideologia não era seu apelo idealista, apaixonado aos instintos rebeldes dos trabalhadores explorados, das "nacionalidades oprimidas", ou dos inconformistas alienados e incansáveis da intelligentsia, mas sua conformidade com, continuação da, e aplicação revolucionária (interpretar o mundo com o objetivo de mudá-lo) das ciências mais desenvolvidas produzidas pela modernidade. Que o caráter moderno do marxismo era a joia mais valorizada, incansavelmente defendida, para o maior e mais vitorioso líder comunista revolucionário do século XX deve imediatamente chamar a atenção de qualquer um que busque entender as origens, trajetória e natureza do marxismo enquanto ideologia revolucionária. Afinal, um dos argumentos mais amplamente vocalizados por seus defensores é precisamente que o marxismo é uma "ciência" que, com base em absorver e sintetizar criticamente todas as "descobertas" até então, tanto na escola analítica, como na escola continental, de filosofia europeia, representa um arsenal autocrítico de pensamento e práxis revolucionárias capazes de explicar e guiar a humanidade a uma nova fase na evolução histórica.

A dialética se desdobra diante de nós. O marxismo, ao digerir os produtos mais "progressistas" do pensamento moderno, simultaneamente os leva até sua conclusão lógica, finalmente revelando as contradições em suas manifestações abstratas (ideológicas), bem como concretas (socioeconômicas e políticas). A partir daí, o marxismo aponta para a irreversibilidade, inevitabilidade e desejabilidade de uma derrubada revolucionária do modo existente de produção (capitalismo) e sua ideologia (liberalismo), abrindo assim uma nova fase no desenvolvimento humano, que é aguardada para resolver essas contradições através de um novo modo de produção (socialismo -> comunismo).

Ao chamar pela reconstituição revolucionária da sociedade humana contemporânea, não apenas como uma inevitabilidade lógica, historicamente sancionada, mas também como um imperativo revolucionário, o marxismo pode ser considerado uma ideologia que é "contra o mundo moderno". Porém, é normalmente tomada como dada a medida em que isso é limitado, e os paradoxos que se tornam evidentes aí, sem mencionar as consequências dessa realidade para os experimentos socialistas do século passado. Na medida em que o mundo moderno é predominantemente capitalista, o marxismo, com sua proposta de uma substituição revolucionária do capitalismo pelo socialismo, é indubitavelmente uma ideologia de oposição. Porém, como Lênin esclarece bem profundamente, o marxismo em si é um produto da própria transição de paradigma filosófico e histórico, a modernidade, que estabeleceu as bases teóricas, epistemológicas e antropológicas para todas as três teorias políticas da modernidade: liberalismo, marxismo e fascismo. Enquanto o marxismo critica e analisa a lógica e trajetória da manifestação socioeconômica do liberalismo, o capitalismo, ele simultaneamente, enquanto ideologia da modernidade, partilha de alguns dos postulados fundamentais do liberalismo, sem mencionar o fato de que elogia e absorve os "avanços científicos" que acompanharam a derrubada dos resquícios da sociedade pre-moderna pelo liberalismo.

Essa realidade torna o marxismo apenas circunstancialmente, ou parcialmente, antagônico à trajetória da modernidade. Ademais, isso significa que, apesar de sua reivindicação partilhada com o liberalismo de ser uma ideologia universalmente aplicável, o marxismo foi um produto das experiências europeias da Renascença, da Reforma, da Revolução Científica e do Iluminismo, cuja soma total produziu a modernidade e as revoluções derivadas no pensamento e na organização da sociedade humana. Para elaborar este ponto e colocá-lo no âmbito específico de nossa discussão, vamos revisar brevemente exatamente o que significa "modernidade".

Modernidade pode ser compreendida tanto como uma era histórica, bem como um paradigma filosófico. De fato, foi precisamente a transição em paradigma filosófico na Europa Ocidental que assinalou o início de uma nova fase histórica como resultado das transformações ideológicas, tecnológicas, políticas e socioeconômicas dialeticamente conectadas com (no sentido de engendrando, bem como sendo refletido por) mudanças dramáticas no âmbito do pensamento. As proposições revolucionárias por modificarem a compreensão que os humanos tinham do mundo ao seu redor, como produzidas pelos movimentos acima mencionados e seus pensadores, justificavam e refletiam transformações na base das sociedades europeias. Suas teses, que primeiro e mais importantemente incluíam humanismo, secularismo, materialismo, progressismo e universalismo, bem como um eurocentrismo conjurado a partir de uma Tradição Ocidental falsificada, finalmente estabeleceram as fundações para todas as três das "grandes ideais" da modernidade. O marxismo está saturado com e foi elaborado com base nesses postulados.



O marxismo acabou sendo a tendência antiliberal mais duradoura e a mais comparativamente bem sucedida do século XX. Revoluções de centenas de milhões de pessoas foram realizadas sob seu estandarte e lideradas por seus pensadores; ele ofereceu um caminho não-capitalista de desenvolvimento socioeconômico para várias sociedades, e demandou enormes concessões e reações por parte do liberalismo e do capitalismo. Mesmo hoje, os movimentos e analistas que se mantiveram fieis a seus princípios continuam a exercer enorme influência e projetam poder considerável em partes seletas do mundo.

Não obstante, permanece um fato que o liberalismo e o capitalismo venceram a batalha pelo século XX. Apesar de todos os sucessos desse ou daquele país socialista ou movimento político marxista, foi o liberalismo que reivindicou o "Fim da História" e prosseguiu para construir uma nova ordem mundial em seus termos.

Em Busca do "Marxismo real"

Hoje, uma reconsideração e "revolucionização", em oposição a uma "revisão" pró-liberal, pró-capitalista ou pró-modernista, é necessária não apenas para retificar os erros dessa formidável tendência antiliberal do século XX, mas também para incorporá-la no impulso crescente de uma nova luta filosófica, ideológica, política e socioeconômica contra todas as bases e manifestações do mundo moderno que o marxismo previamente reduzia ao capitalismo.

À primeira vista, isso pode de fato parecer ser uma "revisão" do marxismo. Após uma análise mais profunda, porém, nós descobrimos que isso não significa descartar ou sair da estrutura analítica marxiana, mas usá-la para alcançar o que grandes marxistas do século XX foram incapazes de fazer: explorar os núcleos profundos e paradoxais do marxismo, que o situam enquanto uma ideologia condicionalmente e parcialmente antimoderna e ressuscitar certos elementos que jazem enterrados ou disfarçados sob o marxismo puramente "materialista" que vê a história do homem através de lentes liberais.

Isso envolve um número de ângulos. Isso significa invocar e analisar o marxismo "mitológico", "escatológico" ou "esotérico" que o marxismo nominal e o Marx do século XIX afirmaram ter superado e "posto de pernas para o ar". Isso significa dar um novo olhar para as razões pelas quais as revoluções "marxistas" e historicamente socialistas aconteceram em sociedades subdesenvolvidas, "pré-modernas". Isso similarmente demanda uma justaposição do marxismo com vários movimentos nominalmente não-marxistas que, apesar de usualmente identificados com a "direita" política, na verdade partilham de certas trajetórias e perspectivas complementares que reforçam ou, paradoxalmente, se interseccionam e confirmam uma à outra e sugerem a possibilidade de um sincretismo político capaz de reconciliar a foice e martelo industriais do comunismo com os antigos e esotéricos símbolos da Tradição. Isso necessariamente inclui um reconhecimento da coincidência entre a luta entre Capital e Trabalho e outras forças historicamente antagônicas, como fundar a luta do Trabalho na terra, em um marxismo continental contra o mar do liberalismo atlantista.

Em certa medida, isso não só significa ler Marx "a partir da direita" ou ler pensadores direitistas antiburgueses e antimodernos "a partir da esquerda", mas também buscar pelo embutimento dessas ideologias e projetos na carne dos "inimigos da sociedade aberta" i.e., os inimigos não só do capitalismo e da burguesia, mas da própria modernidade. Em geral, isso significa um exame dos erros qualitativos do marxismo desde a perspectiva de trabalhar através de seu próprio pensamento qualitativo e do revolucionamento subsequente de sua visão da história do mundo, o que colocaria Marx não apenas em linha com sua própria ciência proposta, mas na verdade exorcizaria a "ciência" fundamentalmente liberal de Marx e revelaria o marxismo oculto, o marxismo que toca os arquétipos profundos da consciência, da história e da escatologia até então não descobertos dentro do próprio marxismo. Só com base em tal retificação ideológica podemos então prosseguir para estudos de caso como previamente proposto pela série.

O produto final de tal marxismo revitalizado seria um "socialismo eterno", i.e., um socialismo livre dos preconceitos e limitações modernistas que finalmente o estrangularam, desacreditaram e o confundiram na teoria e na prática no século XX.

Alguns pensadores e movimentos já tentaram realizar este projeto. Nas décadas de 20 e 30, os nacional-bolcheviques da Alemanha e da Rússia e alguns eurasianistas tentaram transformar não apenas as concepções do marxismo enquanto ideologia, mas também diluir seus elementos modernistas para chegar a uma nova ideologia política.

Na década de 90, Gennady Zyuganov, como líder do Partido Comunista da Federação Russa em colaboração com tais intelectuais como Aleksandr Dugin, buscou reconceitualizar o socialismo soviético sobre uma nova base que permitisse a importância dos fatores "civilizacionais" e "espirituais" russos e mais profundos. Os movimentos "vermelho-marrons" na Rússia no início do século XXI também contribuíram para este processo. Dugin explorou e propôs orientações e perspectivas para escavar o que ele chama de "marxismo real" que, apesar de ignorado por marxistas "ortodoxos" ou "nominais", na verdade teve a maior influência sobre os socialismos do século XX. O próprio Centro para Estudos Sincréticos também buscou embarcar em uma "ressurreição" desse "marxismo das formas para além das imagens e coisas". 



Tal marxismo não remove as teses e análises cruciais de seu contexto histórico, seu embasamento, mas na verdade leva suas raízes ainda mais fundo no solo para atingir o centro encoberto dos verdadeiros significados de "revolução", "o povo", o "proletariado", "Terceira Internacional", o "ópio do povo", o "espectro rondando a Europa", e o slogan "Marx não está morto". Só uma abordagem assim pode resgatar o marxismo das garras da "política de identidade", determinar movimentos políticos genuinamente positivos (em oposição ao termo modernista de "progressista", e oferecer a teoria revolucionária para um movimento revolucionário, um "socialismo do século XXI" contra o mundo moderno em todos os seus aspectos. Tal produto inevitavelmente formaria parte de uma Quarta Teoria Política objetivando decifrar o paradigma, as contradições, os elos fracos, e a reconstituição revolucionária da ordem mundial existente que afirmou a morte de Marx e o Fim da História na década de 90.

Assim, nós propomos iniciar este trabalho teórico e integrá-lo em nossa critica das percepções marxianas de movimentos sociopolíticos nominalmente não-marxistas e nossa escavação das possibilidades no próprio marxismo "morto". 


Francisco Albanese - O Perigo Subjacente na Islamofobia

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por Francisco Albanese



Certo setor do identitarismo europeu mais próximo ao liberalismo clássico se esforça em demonstrar constantemente que não é islamófobo (em resposta às acusações dos setores muçulmanos, progressitas e outros derivados de esquerda), luta inútil, entendendo que, desde seu olhar, o ser humano é livre para pensar o que quiser. Não obstante, sua islamofobia é sim evidente, o que aumenta o perigo da autodestruição cultural. Não há que se desculpar, mas sim ficar consciente dos perigos que existem em se deixar levar pelas reações alérgicas.

Pessoalmente, não poderia me considerar um islamófobo. Islamófobo seria se eu desejasse que se realizasse uma cruzada global contra o Islã para fazê-lo desaparecer, como alguns sonham e até exigem. Eu sou algo muito mais discreto: para mim, não é nenhum inconveniente que o Islã prolifere, junto a suas regras arcaicas, em países fora da órbita europeia e das zonas brancas da América. Como não creio que a civilização ocidental seja algo global, comum e de qualquer um (porque não sou nem universalista, nem igualitarista), tampouco aspiro a que todos os seres humanos neste planeta se amparem em nosso modo de ver o mundo. Se outros países decidem adotar o Islã, realmente não é meu problema, nem de nenhum dos que aqui se congregam. Se outros creem que um sistema medieval lhes cai bem para ordenar seus assuntos, suponho que estejam em seu direito de fazer sua vontade, mesmo que isso signifique esconder o rosto de suas mulheres e não poder consumir certos alimentos.

Nutro antipatia pelo Islã, considero desagradável sua presença dentro de nossas fronteiras, da mesma maneira que nutro antipatia por outros credos e religiões estrangeiras, que não foram pensadas nem por europeus, nem para europeus. Não obstante, não poderia manifestar minha antipatia por uma religião ao mesmo tempo que faço vista grossa a outros fatores negativos que são mais importantes e significativos que a presença ou ausência do Islã.

A islamofobia é reacionária e, de modo geral, a reação nunca ataca o problema, mas as suas consequências. Neste caso, o problema real seria o influxo de credos não-europeus no solo europeu e também ua adoção por parte de europeus (sem esquecer aos europeus com confissões não-europeias no interior das fronteiras da Europa), onde a entrada e presença do Islã seria a consequência do anterior. O problema do influxo está intimamente relacionado com um fator altamente perigoso, o qual é invisibilizado pela islamofobia, que ataca somente à manifestação visível e cultural: pensar que o Islã é o problema e que retirando o Islã da equação se acaba o conflito, é ignorar o fato de que o Islã não surgiu por geração espontânea, mas que é fruto de uma evolução de séculos de um grupo em particular. Na medicina, isso seria m erro (falso negativo), já que, logo após um diagnóstico, ao não se detectar a presença do Islã, se presume que o problema já se acabou.

O Islã não se originou ao azar, mas em um determinado ponto do globo, das mãos de um povo específico. Esta manifestação cultural é semelhante à relação do fenótipo com o genótipo: o primeiro é uma manifestação do segundo, posto que do total de genes que porta um organismo, alguns desses se expressam no que podemos ver (a aparência). Compreendendo isso, devemos compreender também que o mesmo material genético-étnico que produziu o Islã (e todos os seus derivados) pode produzir algo semelhante.

Um partidário da política de portas abertas pode perfeitamente ser islamofóbico pois, para ele, só é prioritário que o ser humano mude seu código de conduta e se adapte aos cânones europeus. Se o indivíduo deixa o Islã para trás, é recebido com os braços abertos pelos partidários dessas políticas, sendo ativistas e promotores, então, da Grande Substituição: sendo igualitaristas, não lhes importa se o povo que deu origem a tais cânones desaparece enquanto ditos cânones se mantenham, algo ainda mais perigoso que a entrada de "refugiados" com odiosas condutas não-europeias. Um "refugiado" que não abandone suas condutas originais provocará rechaço dentro da população europeia nativa, desincentivando assim a mistura com essas populações imigrantes. Não obstante, se estes "refugiados" abandonam suas condutas e adotam valores europeus, ocidentais e primeiro-mundistas, as massas inconscientes dos danos derivados do suicídio étnico e da substituição da população nativa ficam desprotegidas devido a que não se consegue detectar nenhum indicador que torne evidente as diferenças entre as populações imigrantes e as populações nativas.

Tal como uma alergia, deve-se atacar o influxo de agentes alérgenos, pois ainda que se acalmem estes agentes, não existe a garantia de que as brotoejas vão desaparecer pra sempre. 
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