por Giovanni Sessa
(2020)
Cioran e Eliade, dois distintos representantes da cultura romena do século XX. O primeiro, escritor puro, refinado transcritor do nada, cético contemplativo do mundo e do seu destino, o segundo historiador das religiões e erudito, exegeta de mitos e contos fabulosos com os quais também aprendeu a técnica requintada de um romancista de qualidade. Suas relações são duradouras, eles "frequentam" um ao outro, pelo menos epistolarmente, por mais de cinquenta anos, passando por momentos dramáticos e trágicos da história do século XX. Isso é lembrado pela recente e digna publicação de sua correspondência, Uma Cumplicidade Secreta. Cartas 1933-1983, editada por Massimo Carloni e Horia Corneliu Cicortaş, aparecendo no catálogo da Adelphi (pp. 299, euro 22,00). O volume é encerrado no Apêndice por dois escritos: no primeiro, Cioran fala de Eliade, no segundo, ao contrário, Eliade se ocupa com Cioran. Seguem-se dois ensaios dos editores, permitindo ao leitor contextualizar historicamente o conteúdo do epistolário.
A antologia consiste de cento e quarenta e seis cartas, noventa e seis de Cioran e cinquenta de Eliade, mantidas em arquivos e bibliotecas americanas, francesas e romenas. As cartas do historiador das religiões são escritas em romeno, as de Cioran, depois de 1958, são em francês, a língua de "adoção" deste último. O primeiro encontro entre os dois aconteceu em Budapeste, no final de uma palestra dada por Eliade sobre Tagore, que também contou com a presença do muito jovem escritor. O conhecimento entre os dois foi propiciado, naquela noite distante, pelo filósofo Constantin Noica. Cioran tinha vinte e um anos, seu correspondente, recentemente retornado da Índia, e já bastante conhecido como ensaísta e jornalista, vinte e cinco. O escritor lembra que, desde o ensino médio, lia vorazmente todos os artigos do futuro acadêmico, considerado o mestre da "nova geração" de intelectuais transilvanos. Tais leituras o introduziram a civilizações e culturas distantes. Mesmo durante os anos da universidade, Cioran continuou com as leituras eliadianas, embora conduzidas em extrema solidão. Os dois estavam ligados por interesses comuns que, nos seus primeiros anos, eram também de natureza política, devido à sua proximidade mútua com o fascismo europeu e, em particular, com a Legião de Codreanu. Isto é confirmado em uma carta de Eliade datada de 24 de julho de 1936, escrita no seu retorno de Londres, onde ele havia sido enviado para saber sobre o Movimento do Grupo Oxford. Diz: "Eu fui lá e vi; é a coisa mais magnífica da Europa. Supera até mesmo Hitler" (p. 23).
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