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Alain de Benoist - A Terceira Era do Capitalismo

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por Alain de Benoist

(2000)



Em um livro recente, Luc Boltanski e Eve Chiapello examinaram o modo pelo qual o capitalismo continuou a mobilizar milhões de indivíduos ao redor de uma causa que, porém, não tem qualquer finalidade fora de si mesma: a acumulação de capital. Tentando identificar as "crenças que contribuem para justificar a ordem capitalista e para apoiar, legitimando-as, os modos de ação e as disposições que são consistentes com ela", eles observam que em todas as épocas o capitalismo envolve uma figura básica, um elemento de excitação individual e um discurso de justificação em termos de bem geral. O que os leva a distinguir três períodos diferentes.

O primeiro capitalismo, que domina todo o século XIX, é encarnado pela "burguesia" tão bem descrita por Werner Sombart e pelo empreendedor ou capitão de indústria, que manifesta antes de tudo o gosto pelo risco e pela inovação. É um capitalismo patrimonial e familiar, em grande parte ligado às classes burguesas que exercem o poder. O elemento de excitação é representado pela vontade de descobrir e empreender. O discurso da legitimação se confunde com o culto ao progresso.

O Advento do Turbocapitalismo

O segundo capitalismo se desenvolve a partir dos anos trinta. É o das grandes empresas e do compromisso fordista, em que o proletariado renuncia progressivamente às críticas sociais em troca da garantia de ter acesso à classe média. O aumento dos salários favorece o consumo, o que reduz os conflitos. A figura emblemática desse segundo capitalismo é a do presidente do conselho de administração ou do diretor da empresa, juntamente com a do gerente superior. A excitação está na disposição da empresa de se desenvolver o máximo possível. O discurso de legitimação acentua o aumento do poder de compra, bem como a valorização do "mérito" e da competência. Esse período, que corresponde à era da redistribuição por parte do Estado assistencial, do keynesianismo e da expansão regular da classe média, termina ao mesmo tempo que os trinta anos de outro do pós-guerra, após a crise do petróleo de 1973.

A partir de então, entramos na "terceira era" do capitalismo, que corresponde à transição de um capitalismo ainda enquadrado para o capitalismo desenfreado do mundo atual, o "turbocapitalismo" de que fala Edward N. Luttwak. Sua figura essencial é a do chefe de planejamento (coach) ou do criador de redes (networker), que se limita a coordenar a atividade de unidades de duração limitada. Seus principais valores são autonomia, criatividade, mobilidade, iniciativa, convívio, desenvolvimento. O novo capitalismo envolve o princípio da hierarquia com um novo dispositivo de gestão de pessoas. Há cada vez menos "chefes" e mais e mais gerentes trabalhando em equipes. O gerente atento aos recursos humanos, adaptável, flexível, "comunicativo", substitui o dirigente rígido e planificador. O funcionário é móvel, com muito pouca lealdade à empresa que lhe dá trabalho. Devido à intensificação da concorrência, a empresa trabalha cada vez menos "em ambientes fechados". Transfere serviços para fora, alimentado pela precariedade. A empresa taylorista ou fordista gradualmente dá lugar à empresa de rede, um fenômeno que anda de mãos dadas com o surgimento de um mundo pós-moderno, essencialmente "conexionista". O elemento de excitação é o desenvolvimento de novas tecnologias. O discurso legitimador é o de uma "nova economia" que traria a humanidade a uma nova era de crescimento duradouro.

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