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Alain de Benoist - Soldado, Trabalhador, Rebelde, Anarca: Uma Introdução a Ernst Jünger

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por Alain de Benoist

(1997)



Nos escritos de Ernst Jünger, quatro grandes figuras aparecem sucessivamente, cada uma correspondendo a um período bastante distinto da vida do autor. Eles são, cronologicamente, o Soldado do Front, o Trabalhador, o Rebelde e o Anarca. Através dessas figuras, pode-se adivinhar o interesse apaixonado que Jünger sempre manteve em relação ao mundo das formas. Formas, para ele, não podem resultar de ocorrências fortuitas no mundo sensível. Em vez disso, as formas guiam, em vários níveis, os modos pelos quais os seres sensíveis se expressam: a “história” do mundo é, acima de tudo, morfogênese. Ademais, como entomólogo, Jünger estava naturalmente inclinado a classificações. Para além do indivíduo, ele identifica a espécie ou o tipo. Pode-se ver aqui um tipo sutil de desafio ao individualismo: "O único e o típico excluem um ao outro", escreve ele. Assim, como Jünger vê, o universo é um em que as Figuras dão às épocas seu significado metafísico. Nesta breve exposição, gostaria de comparar e contrastar as grandes Figuras identificadas por Jünger.

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Eduardo Velasco - Heartland: o coração da Terra

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FONTE


ÍNDICE

PRIMEIRA PARTE
- INTRODUÇÃO
- AS BACIAS ENDORREICAS E A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS FLUVIAIS
- O QUE É O HEARTLAND?
- BREVE HISTÓRIA DO HEARTLAND
· Pré-história
· Antiguidade
· Idade Média: Pax Mongolica
· Antigo Regime: cossacos e czares
· O socialismo telúrico
· A Guerra Fria
· Globalização

SEGUNDA PARTE
- A BANANA VERMELHA
- A TEORIA DO HEARTLAND
· O mundo de acordo com Mackinder
· Extensão do Heartland e a importância do Leste Europeu
· Alemanha segundo Mackinder — Realpolitik, Kultur, Weltanschauung, Escola de Munique e Geopolitik de Haushofer
- A TEORIA DO HEARTLAND ESTÁ OBSOLETA?
- O HEARTLAND ÁRABE — NEJD E O CHIFRE DO DIABO
- O HEARTLAND AFRICANO
- O CERRADO — O BRASIL POSSUI O HEARTLAND DA AMÉRICA DO SUL
- A GRANDE BACIA E OUTROS HEARTLANDS DA AMÉRICA DO NORTE
- CASTELA-A-VELHA É O HEARTLAND DA ESPANHA

TERCEIRA PARTE
- A TEORIA DO MANPOWER― A GLOBALIZAÇÃO CONTRA A RAÇA BRANCA
· A luta pela mente humana ― o ser humano como campo de batalha
- A REBELIÃO DA TERRA — DESMEMBRAR OS TENTÁCULOS DO OCEANO MUNDIAL É FORTALECER O HEARTLAND
· O Grande Tempo contra o Grande Espaço
· Futuríveis para o Heartland ― Um novo mundo, ou o império da terra fechada
· A gênese do atlantismo
- O ESTADO COMERCIAL FECHADO ― AUTARQUIA VERSUS GLOBALIZAÇÃO
- A IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA E SOCIAL DAS FORÇAS ARMADAS E DAS FORÇAS E CORPOS DE SEGURANÇA DO ESTADO: O EXEMPLO COSSACO
- NOVOS VIKINGS E COSSACOS PARA A EURÁSIA: NECESSIDADE DE UMA BIOPOLÍTICA DEMOGRÁFICA-REPRODUTIVA E ÉTNICA PARA O HEARTLAND
· Espanha no contexto do Heartland ― de Ibéria à Sibéria


PRIMEIRA PARTE  

Os espaços dentro do Império Russo e da Mongólia são tão vastos, e suas potencialidades em termos de população, trigo, algodão, combustível e metais são tão incalculavelmente grandes, que é inevitável que um vasto mundo econômico, mais ou menos à parte, se desenvolva inacessível ao comércio oceânico. ― (Halford J. Mackinder).

INTRODUÇÃO

Se no Ocidente herdamos lendas sobre Atlântida — um rico Estado comercial marítimo que, por seus pecados, foi castigada pelos deuses a perecer sob o mar — no Oriente também abundam menções sobre terras perdidas. Nas grandes regiões budistas da Ásia Central existem inúmeros mitos sobre cidades subterrâneas e vales ocultos, como Shambhala, onde os antigos poderes tradicionais e espirituais do mundo estariam adormecidos, esperando para se manifestar na guerra final entre os espíritos do bem e os espíritos do mal. Os mongóis identificam Shambhala com vários vales do sul da Sibéria, enquanto no folclore altaico, o portão da cidade secreta está escondido no Monte Belukha, da cordilheira do Altai, onde segundo a lenda Genghis Khan foi enterrado. O Kalachakra, um escrito tântrico do budismo tibetano com fortes influências hindus, afirma que quando o mundo degenerar em um turbilhão de guerra e vicio, em Shambhala surgirá Kalki ("cavalo branco"), uma espécie de messias que formará um exército e lutará contra as forças demoníacas, matando em milhões aos "bárbaros" e "ladrões que usurparam o poder real". Reunindo todos os brâmanes do mundo, ele iria fundar uma nova raça para povoar a Idade de Ouro vindoura. Em seu passado xamânico, os povos turco-mongóis falavam de Ergenekon, um vale isolado supostamente situado no Altai, onde seus ancestrais foram aprisionados por quatro séculos até que um ferreiro conseguiu derreter a barreira que os aprisionava. O mito de Ergenekon seria então usado estrategicamente pelo nacionalismo turco em sua promoção do pan-turanismo.

Na China, a tradição contava que Lao Tsé ("velho mestre", o fundador do taoísmo) deixou o país montado em um búfalo branco para o Oeste, isto é, para a Ásia Central, talvez para às cordilheiras Kunlun, onde se encontravam as fontes do Rio Amarelo, um lugar considerado santo pelos monges e eremitas, onde o ar era puro e energizante, onde cresciam ervas curativas e onde viviam peixes longevos. O folclore taoísta explicava que, naquele tipo de Éden espiritual, na "montanha do centro do mundo", os homens "régios" encontravam a bebida da imortalidade nos tempos antigos, e onde o Rei Mu (um milênio antes de Cristo) encontrou o palácio de jade do Imperador Amarelo, fundador da civilização chinesa. Mitologicamente falando, a cordilheira conectava a Terra com o Céu e em algum lugar de seu seio havia um palácio de jade onde vivia Xi Wangmu, a "rainha mãe do Ocidente". Como uma versão oriental do mito grego do jardim das Hespérides, ali crescia uma enorme árvore que dava pêssegos de imortalidade a cada três mil anos.

A cordilheira de Kunlun.

No Ocidente, o interior da Eurásia também era visto através de um prisma de lendas. Em "Histórias",  o Heródoto fala de um lugar "ao noreste", além do Mar de Hircânia (o Cáspio), onde muito ouro é guardado por grifos. Buran (um forte vento do norte, equivalente ao Bóreas grego) soprava duma caverna montanhosa chamada Passo de Alataw, que separa o Uiguristão (também chamado Turquestão chinês ou Xinjiang) do resto da Ásia Central. Mais além deste domínio se encontrava o "país dos hiperbóreos", cujo território chegava ao mar (provavelmente o Oceano Ártico). Nos mitos bizantinos, Alexandre, o Grande, não encontrou outra solução para as hordas de "Gogue e Magogue" (bárbaros do interior continental, às vezes assimilados aos citas) senão contê-las com uma parede de ferro ou adamantio. Provavelmente trata-se das Portas de Alexandre ou Portas Cáspias, localizada no sul da Rússia, onde séculos posteriores um exército de eslavos e vikings aniquilaria o reino cázaro, fundando o primeiro Estado russo. O conteúdo metafórico da construção das Portas Cáspias funcionou — especialmente tendo em mente que, no folclore centro-asiático, uma "porta de ferro em um lago" ou um "buraco negro em uma montanha" são considerados a origem dos ventos. Após as malfadadas campanhas dos macedônios no norte da Índia, uma história helenística que chegou ao Ocidente fez circular o boato de que na mais profunda Ásia Central havia um vale acarpetado de diamantes e protegido por aves de rapina e serpentes de "aparência mortal". Nos tempos do comércio de seda, Roma sabia da existência dos "seres", um povo alto, longevo e saudável (possivelmente os tocários), localizado em Serica, a "terra da seda", que corresponderia ao Uiguristão. Esses mitos e rumores incorporaram de alguma forma a vontade da Europa de não perder sua conexão com o Oriente.

Nos tempos medievais, em Roma, Bizâncio e nos Estados cruzados se falava do reino de Preste João, um monarca que mantinha a ordem nas terras de Gogue e Magogue governando sobre um país cristão isolado entre domínios muçulmanos e "pagãos" (leia-se budista, hinduísta e/ou religiões ancestrais xamânicas e animistas). As tradições gnósticas consideravam que os homens sábios procediam deste país, onde se encontraria, ligadamente com outras relíquias sagradas da cristandade, o Santo Graal, obtido por Parsifal no Monte Salvat e levado ao Grande Oriente em navios com velas brancas e cruzes vermelhas... "João" era provavelmente uma corruptela de "jan" ou khan: o título dos reis tártaros. O personagem em questão provavelmente era um khan-bispo nestoriano de origem mongol com vontade de fortalecer os laços com o Ocidente, mas a situação logo se envolveu em símbolos e arquétipos no imaginário coletivo europeu. Marco Polo, que não poderia faltar nesse artigo, situou Gogue e Magogue ao norte de Catai (China), ou seja, Mongólia ou Sibéria. Na China, as autoridades imperiais fizeram algo parecido com Alexandre, dando o Heartland como impossível e se conformando em levantar a Grande Muralha para proteger o reino das invasões bárbaras do Norte.

Em meados do século XIX, os colonos russos na Sibéria, homens de excelente qualidade humana em todos os sentidos, tinham a ideia de Belovodye (ou Reino de Opona), um lugar mítico de "água branca" situado na Sibéria Oriental, desempenhando o papel de Terra Prometida em seu imaginário religioso e que provavelmente influenciou de forma importante o fluxo de populações etnicamente europeias para o Oriente, estabelecendo colônias cada vez mais próximas do Mar do Japão e das fronteiras com a China e a Mongólia. Enquanto a Rússia estava conquistando a Ásia Central, Nikolai Fedorovich Fedorov, fundador da corrente filosófica russa do cosmismo, situou Shambala no Pamir, atual Tajiquistão. A Ásia Central se tornou popular no Ocidente graças ao Michael Strogoff de Júlio Verne, a Ferdinand Ossendowski, ao nascimento da geopolítica e ao surgimento de correntes ocultistas que idealizavam a Ásia Central como um santuário de tradição e sabedoria. Na década de 1920, o pintor, historiador e esoterista russo Nikolai Roerich também descreveu uma expedição extraordinária em toda a Ásia Central, incluindo suas visitas a mais de cinquenta mosteiros e seus encontros com lamas budistas.

Mongólia.

Dessarte, as áreas mais recônditas da Ásia Central foram vistas como uma fonte de mistério e fantasia pelas sociedades que estavam em sua influência. Todos os mitos que observamos coincidem em apresentar o coração da Eurásia como um lugar interessantíssimo e digno de ser visitado pelos valentes e nobres. Neste artigo se abordará sobre este vasto espaço habitado por incógnitas e infinitas possibilidades ainda indescobertas, um novo mundo em potencial, uma enorme fortaleza fechada, inacessível, inexpugnável e zelosamente tradicional, repleta de inúmeros vales, montanhas, planícies, florestas, estepes e desertos, que não pôde ser conquistada nem mesmo por Alexandre, Roma, Bizâncio, os imperadores chineses, a Comunidade Polaco-Lituana, os jesuítas portugueses, Napoleão, o Império Britânico, Hitler, Japão, os oligarcas mafiosos do espaço ex-soviético, as multinacionais e os bancos da globalização capitalista-neoliberal ― a longo prazo nem mesmo por khans asiáticos ou o bolchevismo soviético ― mas apenas por dois povos extraordinários: os vikings e os cossacos, que, como Alexandre, levaram a cultura grega (caracteres cirílicos, herança bizantina) ao coração da Ásia.

Desde o alvorecer da história, quem possui o Heartland se move como um peixe na água, uma vez que é um oceano de terra, mas quem não o possui irá bater contra suas paredes.


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Free West Media - Entrevista com Alain de Benoist: A Europa é uma Colônia dos Mercados Financeiros

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Entrevista concedida à Free West Media

(2019)



Qual o impacto da ocupação sobre os ocupados? O liberalismo reconhece apenas uma forma de soberania: a do indivíduo. Assim, povos, nações e culturas são vistos apenas como agregados de indivíduos cujas relações essenciais são reduzidas a contratos legais e trocas no mercado. Os europeus se tornaram consumidores na esfera anglo-americana - eles não são mais cidadãos de seus respectivos países, acredita Benoist.

Sr. de Benoist, o embaixador dos EUA em Berlim, escreveu cartas de chantagem há algumas semanas para empresas alemãs envolvidas na construção do Nord Stream 2. Os americanos estão certos em se sentir em posição de força por sobre a Alemanha e a Europa?

Benoist: Os americanos se sentem fortes porque sabem que os europeus são fracos. As notícias provam todos os dias que a União Europeia não é uma potência europeia, mas apenas um mercado europeu. Neste mercado, no entanto, os americanos têm uma vantagem significativa. Um dos princípios mais importantes é a extraterritorialidade da lei americana. Isso permite que Washington se defenda de operações e influências financeiras ou comerciais. Por exemplo, vários bancos franceses foram multados em bilhões de euros por não levar em conta as sanções dos EUA contra este ou aquele país.

Pergunta curta: Seria a Alemanha, a Europa - ou melhor, a UE - um “território ocupado”?

Benoist: Sim, podemos falar em um "território ocupado", mas o termo "ocupação" é ambíguo. Nós não estamos em um tipo brutal de heteronomia, mas em um condicionamento progressivo pelo chamado “soft power”. Pode-se falar também de “colonização” - mas de uma colonização que começou com a colonização de atitudes e valores.

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Nicolas Gauthier – Entrevista com Alain de Benoist: Por que o Governo não entende a revolta dos Coletes Amarelos?

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por Nicolas Gauthier

(2019)



N.G.: Você acha que já podemos fazer uma revisão da ação dos Coletes Amarelos?

A.B.: A melhor revisão que podemos fazer sobre ela é notar que ainda é muito cedo para fazer uma, porque o movimento está em curso e parece ter encontrado um segundo fôlego. Por quase três meses, apesar do gelo e do frio, apesar das tréguas do Natal, apesar dos mortos e feridos, apesar das baixas causadas pela brutalidade policial (mandíbulas quebradas, mãos destroçadas, pés esmagados, olhos perfurados, hemorragias cerebrais), apesar das críticas que tentaram sucessivamente apresentá-los como beaufs alcoólatras[1], nazistas (a "praga marrom") e criminosos, culpados, além disso, de arruinar o comércio, de dissuadir os turistas de virem para a França e até mesmo do “escândalo” de terem sabotado a abertura de liquidações, apesar de tudo isso, os Coletes Amarelos ainda estão aqui. Eles resistiram bem, não se dispersaram e a maioria dos franceses continua a aprovar sua ação. Esta é a confirmação de que esse movimento é diferente de qualquer outro.

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José Alsina Calvés - A Quarta Teoria Política do Filósofo Russo Aleksandr Dugin

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por José Alsina Calvés

(2018)



No livro de Dugin, “A Quarta Teoria Política”, o filósofo russo insiste no caráter coletivo de sua criação, no sentido de que ela não é um sistema fechado, mas aberto às contribuições posteriores. No presente artigo tentaremos descrever e explicar, assim como avaliar, o mencionado livro de Dugin, o qual tomaremos como base de nosso trabalho. Segundo nossa compreensão, a QTP que Dugin expõe se fundamenta em um arcabouço teórico que consta de cinco elementos fundamentais:

1)Uma teoria da modernidade e de suas ideologias;
2)A pós-modernidade como mutação do liberalismo a neoliberalismo;
3)Uma teoria do tempo;
4)Uma fundamentação filosófica na ontologia de Heidegger;
5)A geopolítica dos grandes espaços.

Teoria da Modernidade

A QTP aparece como uma oposição radical à modernidade e a todas as suas manifestações, incluindo a atual implosão pós-moderna. A QTP se dirige a todas aquelas pessoas que sentem uma insatisfação radical diante da sociedade atual, suas mensagens e seus "valores”. Uma dissecação prévia da modernidade é o passo preparatório para a síntese e construção da QTP.

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Nicolas Bonnal - René Guénon e o Gênio Anônimo dos Coletes Amarelos

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por Nicolas Bonnal



Discutindo sobre os Coletes Amarelos com um leitor erudito e entendido do Islã, me recordei desse belo capítulo do livro “O Reino da Quantidade e o Sinal dos Tempos”, onde o mestre (Guénon, então) evoca o gênio do anonimato dos tempos medievais, por exemplo, quando da construção das catedrais ou no âmbito dos ofícios.

Mas se em nossa época nós gostamos de nos curvar diante dos nomes gloriosos de pessoas, das falsas dinastias, das dinastias endinheiradas (petróleo saudita ou carros nazistas), das Gaga, dos Johnny e dos Macron, para não falar nos jogadores de futebol e nos intelectuais tidos por luminares do pensamento humano (como também o monstruoso “pensador” israelense Harari), nós detestamos os desdentados, os anônimos, os plebeus e os coletes amarelos. E aqueles que contornaram o sistema com todo o gênio plástico do povo-receptáculo. Eles não têm representantes, além daqueles que o canal BFM nomeou depois de tê-los fantasiado com coletes, e eles não são nada. Isso deixa o sistema louco, porque tudo se apoia nos delírios mentais das celebridades. O problema, para o sistema, é que os Coletes Amarelos, sem querer, deram razão a Debord e Robespierre.
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Daniele Perra – Ernst Niekisch e o “Reino dos Demônios”

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por Daniele Perra

(2018)



Para muitos, o nome de Ernst Niekisch não dirá nada. Não obstante, junto a Karl Otto Paetel ele é considerado o pai de uma corrente política particular, a do nacional-bolchevismo, a qual, a partir dos anos 90 do século passado, graças aos seus intérpretes pelo menos um pouco hiperbólicos como o filósofo Aleksandr Dugin e o controverso escritor Eduard Limonov, conheceu um razoável sucesso na Rússia da deplorável Era Iéltsin. A Niekisch, ademais, o pensador francês Alain de Benoist dedicou toda uma seção do seu livro “Quatro Figuras da Revolução Conservadora Alemã”.

O esquecimento a que o homem e seu pensamento foram relegados tanto em vida como post mortem possui uma razão bastante precisa. Niekisch e seu pensamento eram e são ainda perigosos. Este original pensador alemão, de fato, no curso da sua vida, conseguiu viver em primeira pessoa e se opôr vigorosamente a todas as três principais ideologias políticas do século XX: liberalismo, fascismo-nacional-socialismo e comunismo (ainda que, no último caso, a oposição surgiu de algumas divergências com o líder da República Democrática Alemã, Walter Ulbricht). E diferentemente do dissidente soviético bem mais famoso Aleksandr Solzhenitsyn (que dardejava contra a URSS e o Ocidente capitalista de sua casa norte-americana, lamentando que Hitler não tivesse matado o seu próprio povo), depois de ter passado alguns anos em um campo de prisioneiros nazista e reconhecendo o feitiço psicológico de que seu povo havia caído vítima, nunca chegou a desejar a destruição da sua pátria. 

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Maurizio Lattanzio - O Mundialismo

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por Maurizio Lattanzio

(1987)



“O mundo se divide em três categorias de pessoas: um minúsculo número que produz os eventos; um grupo um pouco mais numeroso que observa sua execução e segue seu cumprimento, e, finalmente, uma imensa maioria que nunca sabe o que se produz na realidade”. - Nicholas Murray Butler

O termo mundialismo se refere a uma concepção político-cultural de que se fazem portadores e difusores poderosos grupos tecnocrático-plutocráticos ocultos ou, no mínimo, discretos, não expostos às luzes dos refletores – ou seja, da mídia de massa sabiamente manobrada – que iluminam o grande palco político internacional. Estes operam através de instituições igualmente ocultas ou, se preferirmos, semipúblicas (Comissão Trilateral, Grupo Bilderberg, Conselho de Relações Exteriores, Sociedade dos Peregrinos, sistema bancário internacional, etc.), com o objetivo de alcançar a realização de um projeto que prevê a instauração de um único Governo Mundial, depositário do poder econômico, político, cultural e religioso. As articulações estruturais de um projeto do tipo – já em via de atuação, se pensarmos apenas na União Europeia – estão baseadas na integração dos grandes blocos (EUA – em posição preeminente – Europa Ocidental, Japão, Rússia e seus satélites, China Popular, Terceiro Mundo), que serão sujeitos ao domínio dos funcionários tecnocratas do aparato de poder plutocrático instalado nos conselhos administrativos da banca e das multinacionais. São as estruturas operacionais do comando oligárquico a partir das quais a Alta Finança internacional planeja e concretiza a servidão dos povos mediante os mecanismos diabólicos da Grande Usura. [1]

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François Duprat - Manifesto Nacionalista Revolucionário

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por François Duprat

(1978)



Nossa situação política impõe uma revisão drástica de nossos temas e de nossos métodos de ação, mas não basta, dessa vez, nos limitarmos a uma crítica, por mais fácil que seja, das experiências anteriores.

É impressionante constatar que nossas linhas de reflexão estão fundadas exclusivamente na história dos movimentos nacionalistas franceses, apesar de nossas profissões de fé anti-chauvinistas e “europeias”. Nós negligenciamos sistematicamente o aporte, passado mas também presente, de movimentos infinitamente mais importantes que os nossos, sob o pretexto de uma “especificidade nacional”.

É certo que cada país tem uma vocação particular e não podemos impor sobre um lugar os métodos de ação adaptados a outras estruturas. Mas não devemos exagerar essa dificuldade. É a incrível ignorância em relação à História e as atualidades dos chefes nacionalistas franceses que conduziu a esse estado de coisas. 

É, por isso, possível adentrar a escola de outras organizações nacionalistas, fazendo o esforço de adaptação assegurando a interpretação adequada da estratégia e da tática seguidas por estes movimentos.

O programa de ação nacionalista, que é apresentado aqui, é resultado direto dessa tomada de consciência: o nacionalismo revolucionário representa um valor universal que cada povo descobre com suas próprias modalidades, enquanto se apega a um fundo comum.

A nossa tarefa é a de definir esta “Via francesa para a Revolução Nacionalista”, a única possibilidade que existe para a nossa causa lutar pela vitória e não por novas derrotas!

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Manifesto da Nouvelle Résistance

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(1991)



“Fazei da causa do povo a causa da nação, e a causa da nação será a causa do povo”. – Lênin

Este texto é dedicado a:

Nanni de Angelis, assassinado pela polícia política italiana
Jacques Arthuys, morto em um campo de concentração alemão.
Nicola Bombacci, assassinado pelas milícias da “resistência” italiana.
Roger Coudroy, caído em combate na Palestina ocupada.
Rudolf Formis, assassinado pela Gestapo.
Manuel Hedilla, condenado a 30 anos de prisão pela Frente Popular Espanhola, condenado à morte pela reação franquista.
Francesco Mangiameli, assassinado pela polícia política italiana.
José Pérez de Cabo, assassinado pela reação franquista.
Haro Schultze-Boysen, condenado à morte e enforcado por ordem da reação hitlerista.
George Valois, morto em um campo de concentração.
Fritz Wolffheim, morto em um campo de concentração.
Francis Parker Yockey, assassinado pelo FBI.

E a todos aqueles que caíram pela causa do povo e da nação.

“Todas as forças revolucionárias dentro de um mesmo Estado estão ligadas invisivelmente, apesar de sua mútua oposição. A ordem é sua inimiga comum”. – Ernst Jünger

“Somos um pequeno grupo compacto, seguimos um caminho íngreme e difícil, segurando com força as mãos uns dos outros. Em todas as partes estamos cercados por inimigos, e temos que caminhar quase sempre sob fogo. Nos unimos em virtude de uma decisão tomada livremente, para combater o inimigo e não sucumbir ao lamaçal vizinho, cujos hóspedes, desde o começo, nos acusarem de ter formado um grupo separado e de termos preferido o caminho da luta ao caminho da reconciliação”. – Lênin

“É impossível justificar o nacionalismo no marco da sociedade capitalista. Hoje não pode haver nacionalismo, ou seja, consciência da continuidade viva da nação, que não seja simultaneamente revolucionário”. – Thierry Maulnier

“Não somos nem de direita, nem de esquerda, mas se precisamos ser situados em termos parlamentares, reiteramos que estamos a meio caminho entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, por trás do presidente, de costas para a Assembleia”. – Arnaud Dandieu

“Ser de esquerda ou de direita é escolher uma das inúmeras maneiras que o homem tem de ser um imbecil; ambas são formas de hemiplegia moral”. – José Ortega y Gasset

Introdução

Um projeto nacional-revolucionário para a Europa comporta uma análise global da situação do mundo, que deve constituir a base de nossa estratégia e orientar nossas perspectivas.

Avaliação Internacional

Durante a última década a evolução do mundo se produziu de uma maneira realmente inesperada. O colapso do bloco comunista europeu e a desintegração da URSS, ocasionaram o quase desaparecimento dos países revolucionários do Terceiro Mundo. A Nova Ordem Mundial imposta pelo sistema, protagonizada pelo governo ianque, parece ter triunfado para um longo período e soube esmagar seus poucos adversários legitimando este esmagamento em nome da moral (Panamá, Iraque).

O desaparecimento do bloco comunista europeu não faz senão pressagiar, ao que parece, a generalização de uma economia liberal ou paraliberal (com todas as suas consequências: exploração, pobreza, desemprego, etc.) na totalidade da Eurásia.

O panorama é extremamente escuro, mas não devemos perder a esperança. Em primeiro lugar, a queda do comunismo nos demonstrou que nenhuma situação política, por fossilizada que pareça, é inevitável. Dois fenômenos de idêntica reação ligados à terra e ao sangue (os verdes e os nacionalistas) conservaram – ou reencontraram – no conjunto da Europa (ainda que também em outras partes do globo) o apoio de uma parte importante da população. Isso tem uma grande importância, ainda quando essas reações tem uma tendência a se dirigir a becos sem saída (nacionalismo reacionário ou chauvinista, integrismo religioso, etc.), pois um percentual nada desprezível da população se ocupa de valores próximos aos nossos, podendo assim obstaculizar a dominação do sistema.

Quem somos? Pelo que lutamos?

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Archie Munro - O Mito do Homossexualismo na Grécia Antiga

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por Archie Munro

(2018)



A crença de que a sociedade grega antiga mantinha uma atitude indulgente em relação à homossexualidade – particularmente à pederastia – é amplamente sustentada, tanto dentro como fora de círculos nacionalistas. Greg Johnson, por exemplo, diz:

“A pederastia homossexual, que ainda permanece um tabu em nossa cultura, era amplamente praticada pelos antigos povos arianos do mundo mediterrâneo. Persas, gregos e romanos todos a praticava, incluindo alguns dos homens mais viris na história e na lenda, como Aquiles e Alexandre o Grande”.

“Não há dúvidas de que não apenas o comportamento homossexual era tolerado por antigos povos arianos, como de que ele era considerado normal, e até ideal em alguns casos. Ele é atribuído aos deuses (Zeus e Ganimedes) e elogiado por poetas, filósofos e historiadores. É difícil sustentar atitudes judaicas odiosas em relação à homossexualidade se compreendermos e apreciarmos a grandeza da civilização clássica pagã. [...] Homofóbicos estão nas mãos da Judiaria mesmo sem saber”.

Adonis Georgiades discorda. Ele é o atual vice-presidente do partido grego Nova Democracia e um homem de convicções socialmente conservadoras, ainda que economicamente liberais (por exemplo, ele votou a favor do notório ‘segundo memorando’ no Parlamento Grego). Seu livro de 2004, “Homossexualidade na Grécia Antiga: O Mito está Colapsando”, é uma revisão polêmica da evidência. Para Georgiades, a evidência demonstra que a homossexualidade não era considerada aceitável, muito menos “ideal”, na Grécia antiga. As fontes que ele examina incluem, mas não se limitam às seguintes.

Mitologia grega;
Obras de poetas cômicos atenienses, como Aristófanes;
Ilustrações cerâmicas;
Legislação de Atenas e Esparta como encontradas nas descrições de vários autores antigos dos costumes sexuais espartanos, como Plutarco;
O processo judicial mal sucedido de Timarco e Demóstenes contra Ésquines;
O processo judicial de Ésquines contra Timarco.

Crucialmente, Georgiades também considera a tradução de dois pares de palavras do grego antigo. O primeiro, examinado principalmente à luz das obras de Platão e Xenofonte, é erastes-eromenos. Este par é convencionalmente, mas segundo Georgiades, problematicamente traduzido no inglês como “amantes-amado”. O segundo é a distinção entre os termos pornos (“prostituto”) e hetairos (“acompanhante masculino”). Como o livro demonstra, essa segunda distinção é particularmente relevante para o processo Ésquines vs Timarco mencionado acima. O processo vencido por Ésquines indica que – pelo menos em Atenas – mesmo a conduta homossexual não-remunerada era suficiente para expor o praticante ao risco de perder seus direitos civis. Eu retornarei depois à análise que Georgiades faz das fontes primárias.

Minha impressão geral, como não-especialista, é que as conclusões de Georgiades são sensatas, originais e dignas de serem lidas por um público mais amplo. Talvez o principal problema do livro seja a baixa qualidade da tradução e da revisão. O meu propósito aqui, porém, não é revisar exaustivamente o livro. Ao invés disso, eu vou resumir seus principais argumentos e então tentar iluminar o seu tema mais interessante, ainda que não inteiramente explícito: relações “pederásticas” na Grécia antiga, longe de serem motivadas pelos impulsos sexuais de homens mais velhos por homens mais jovens, eram um aspecto do que Kevin MacDonald poderia chamar de estratégia evolutiva grupal da pólis grega. Os homens da Grécia antiga não viviam em uma névoa freudiana; eles estavam preocupados com a identificação de uma realidade transcendente e com sua aplicação em sua comunidade, em prol do bem comum. Eu explicarei adiante o que quero dizer com isso. Primeiro, porém, eu escrevo um pouco sobre minhas motivações ao escrever esse artigo.

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Nikolai Smirnov - Eurasianismo de Esquerda e Teoria Pós-Colonial

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por Nikolai Smirnov

(2019)



Neste artigo, argumento que devemos considerar o eurasianismo como uma experiência inicial no pós-colonialismo. A principal preocupação de ambas as ideologias é a relação entre o relativismo cultural e o universalismo. Eu examino o projeto eurasianista de esquerda como uma ideologia que enfatiza o papel crucial da Rússia na construção do socialismo internacional e como um exemplo do radicalismo filosófico russo que tentou casar o universal com o particular através do messiânico.

O eurasianismo foi uma corrente filosófica e política que emergiu na década de 1920 entre a diáspora russa na Europa. Criticando radicalmente a hegemonia cultural européia, o eurasianismo posteriormente tentou elaborar uma teoria da identidade russo-eurasiana e uma missão universal, alcançando seu auge nas décadas de 1920 e 1930.

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Ramiro Ledesma Ramos - O Indivíduo Está Morto

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por Ramiro Ledesma Ramos

(1931)



Distingue cada época uma concepção de mundo peculiar, que é a chave de todas as valorações que nela se façam. O homem exalta hoje o que ontem desprezaram seus avós, e vice-versa. Isso, que se poderia atribuir à frívola caducidade dos valores, a relativismo ético e político, é, não obstante, a própria raiz da história, onde se denuncia e aparece a objetividade e continuidade da história. 

Com grande frequência se ouvem hoje longos lamentos em honra do indivíduo, categoria política que se escapa sem remédio. Uma rápida análise da nova política surgida no pós-guerra assinala o fato notório de que o indivíduo foi despojado da significação e importância política de que antes dispunha. O fenômeno é de tal nível, que guarda o segredo das novas rotas políticas, e quem não consiga compreendê-lo com integridade, está condenado a ser um espectador cego das façanhas dessa época. Acontece que um dia o mundo descobriu que todas as suas instituições políticas padeciam de um vício radical de ineficácia. Provocavam um divórcio entre a suprema entidade pública – o Estado – e os imperativos sociais e econômicos do povo. O Estado havia ficado para trás, fiel a vigências anacrônicas, recebendo seus poderes de fontes desvitalizadas e alheias aos tempos. O Estado liberal era um sortilégio concebido para realizar fins particulares, do indivíduo. Sua aspiração mais elevada era não servir de estorvo, deixar que o indivíduo, o burguês, capturasse a felicidade egoísta de sua pessoa. 

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Alexander Wolfheze - O Vermelho e o Negro: Uma Introdução ao Eurasianismo

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por Alexander Wolfheze

(2017)



Prólogo: Três Cores

Sur Bruxelles, au pied de l’archange,
Ton saint drapeau pour jamais est planté
[Sobre Bruxelas, aos pés do arcanjo,
Teu sagrado estandarte foi plantado por toda a eternidade][1]
- La Brabançonne

Uma tempestade de magnitude sem precedentes está lentamente tomando forma no horizonte histórico-cultural do Ocidente pós-moderno: com o clímax que se aproxima da Crise do Ocidente Moderno - mais precisamente descrito por Jason Jorjani como o iminente 'Estado Mundial de Emergência' - a perspectiva de uma "Revolução Arqueofuturista" também paira no horizonte.[2] O movimento patriótico-identitário que atualmente está apresentando rápido crescimento em todo o mundo ocidental pode ser visto como o precursor da "ave-da-tempestade" desta Revolução Arqueofuturista. [3]É importante que este movimento formule estratégias metapolíticas efetivas em preparação para a iminente falência sociopolítica da atual ordem mundial globalista (duplo neoliberal/cultural-marxista). O mais antigo discurso meta-histórico disponível para esse movimento é o tradicionalismo. A única visão geopolítica global que atualmente incorpora um elemento substancial do tradicionalismo é o eurasianismo. Este ensaio tem como objetivo fornecer uma introdução ao neo-eurasianismo de inspiração tradicionalista que é mais sucintamente expresso no trabalho do filósofo e editor russo Aleksandr Dugin. Além disso, no entanto, este ensaio tem como objetivo apontar que o pensamento e a escrita tradicionalistas autênticos também estão se produzindo nos Países Baixos, mesmo que ele seja obscurecido pela (auto) censura politicamente correta do mecanismo de revisão acadêmica e pela mídia do sistema. Este ensaio é dedicado ao escritor mais eminente - e com mais tempo de serviço - do tradicionalismo tipicamente autônomo que prospera nos Países Baixos: Robert Steuckers. Recentemente, ele publicou um trabalho enciclopédico sobre as origens, a história e o estado atual da civilização européia: seu tríptico Europa constitui um tour de force intelectual de profundidade e largura que será impossível sufocar no “encobertamento” politicamente correto que é a arma preferida dos publicistas (auto)censores do sistema. Europa está escrito em francês e até agora não foi traduzido para o inglês; o lamentável declínio do ensino da língua francesa em todo o Ocidente torna-o, portanto, inacessível a grande parte de seu principal público-alvo: a vanguarda intelectual, patriota e identitária da jovem Europa. Ao longo de todo o mundo ocidental, esta geração identitária está se preparando para a batalha definitiva por sua herança altamente ameaçada: sua terra natal ocidental - e a própria civilização ocidental. Este ensaio visa (de certa forma) mitigar essa inacessibilidade, transmitindo a um público não francófono, pelo menos, alguns dos conhecimentos que Steuckers apresenta em Europa. Na avaliação do revisor supramencionado, a Europa de Steuckers é uma jóia - um pequeno reflexo da Aurora Dourada ao qual o Tradicionalismo e o Eurasianismo apelam. Assim, a Bélgica - e Bruxelas - tem mais a oferecer do que a falsificada "Europa" da UE: ela também oferece a visão Arqueofuturista da Europa de Robert Steuckers. Portanto, este ensaio não é dedicado apenas ao próprio Steuckers, mas também ao seu país: a Bélgica.

Embora a orientação (franco-revolucionária) e as cores (heráldico-tradicionais) da bandeira belga sejam historicamente previsíveis para qualquer pessoa familiarizada com a gênese única do Estado belga, ela ainda é muito incomum em um aspecto. Talvez suas proporções estranhas - quase quadradas (13:15) - reflitam a particularidade histórica da configuração geopolítica da Bélgica: efetivamente, a Bélgica representa uma restgebied ou “sobra” histórico-cultural, que foi legalmente estabelecida como uma "zona tampão" soberana em nome do compromisso de "equilíbrio de poder" do início do século XIX entre a Grã-Bretanha, a França e a Prússia. Somente em termos de cores, a bandeira belga pode reivindicar um pedigree autenticamente tradicional (ou seja, duplamente histórico e simbólico). Entre a cor vermelho-sangue das províncias continentais de Luxemburgo, Hainaut e Limburg e a cor negra da poderosa província costeira da Flandres, ela mostra o amarelo-ouro da próspera província de Brabant, com a sua capital Bruxelas, que tem sido a sede administrativa do poder pan-europeu do pré-moderno estado da Borgonha até a União Européia pós-moderna. O vermelho e o negro belgas têm a mesma carga heráldico-simbólica que o vermelho e negro eurasianos: em ambos, vermelho é a cor do poder mundano (Nobreza, Exército) e negro é a cor do poder do outro mundo (Igreja, Clero). Na visão holística do eurasianismo tradicionalista, essas cores necessariamente se complementam: juntas, elas representam a combinação intimidante da tempestade (Dilúvio divinamente ordenado) e da guerra (Guerra Santa divinamente ordenada) que se aproximam. Até hoje, todo mundo sabe que a bandeira vermelha e negra representa a revolução, mesmo que os ideólogos “justiceiros sociais” não reconheçam a direção verdadeira e reversa de cada re-volução autêntica (em suma: a Revolução Arqueofuturista). Entre o vermelho-sangue e o negro-sable belgas encontra-se a cor que pode ser considerada como estando em virtual "ocultação" no eurasianismo: o amarelo-ouro que tem a carga heráldico-simbólica da luz celestial e da Aurora Dourada - e assim do próprio tradicionalismo. Um pequeno raio dessa luz nos vem de Brabant, na Europa de Steuckers.

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Carlos Javier Blanco Martin - O Espelho Russo: Europa e a Alma do Oriente

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por Carlos Javier Blanco Martin

(2018)



Finalmente contamos novamente, em nossa língua espanhola, com o trabalho de Walter Schubart (1897-1942), Europa e a Alma do Oriente.

Este pensador, filósofo, eslavista, teólogo, é muito pouco conhecido em nosso país. Ele era um alemão báltico, um "ocidental no Oriente", e isso é um fato em si mesmo: é preciso levar em conta que os teutões se expandiram em direção ao leste, em direção ao que hoje é a Rússia e os países bálticos, desde os tempos medievais, contribuindo grandemente para a cultura dessas nações e deixando bolsões de população germânica, bolsões que as tragédias da guerra e os inevitáveis reajustamentos de fronteiras na Europa modificaram notavelmente. Schubart, de origem teutônica, no entanto, era muito próximo, geograficamente e psiquicamente, da grande Rússia.

Schubart é um filósofo, parece, destinado a ser uma ponte. A ponte entre o Ocidente, que está imerso na ruína e na decadência, e um Oriente que vê como promessa e salvação do europeu. O Ocidente e sua terra natal, a Alemanha, estão condenados. Não apenas o hitlerismo, mas também as forças liberais e "democráticas" que irão combatê-lo na Segunda Guerra Mundial são sintomas de uma perda da alma.

O europeu medieval era "o homem gótico". Em sua versão degenerada, o homem gótico tornou-se por volta do século XVI em "homem prometéico". O homem prometéico que desafia os deuses, querendo roubar seu fogo, que é basicamente o pecado de hybris, de insolência, falando como grego. O olhar esperançoso de Schubart, eslavista por formação, filósofo das culturas e religiões, se põe sobre a Rússia, a Grande Mãe dos povos eslavos que pode ser um dia, uma vez superado o episódio do bolchevismo, a salvação desse “homem prometeico", que é um tipo de homem degenerado e seduzido pelo dinheiro e pela técnica. A mãe Rússia vai resgatar o potro desenfreado da Europa Ocidental, prestes a despencar por pura loucura. Mas o germano-balto que foge de um nazismo que se expande para o leste, casado com uma judia, cairá cara a cara com o bolchevismo, cujas garras causarão sua morte. Um campo de prisioneiros no Cazaquistão será o lugar onde Walter e sua esposa Vera desaparecerão.

A partir dessas linhas animamos à leitura do livro que a Ediciones Fides volta a apresentar para o público que lê na língua de Cervantes. Animamos também a que se empreendam investigações em espanhol sobre um filósofo tão pouco conhecido, pelo menos em nossa língua.

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Carlo Giuliano Manfredi - O Mito Solsticial

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por Carlo Giuliano Manfredi

(2018)



Deixe-me ir
Do Não-Ser ao Ser
Das Trevas à Luz
Da Morte à Imortalidade
(Brihad Aranyaka Upanishad)

Quando o ano chega ao término, vive-se um momento de passagem dos mais dramáticos, e paradoxais, de todo o ciclo natural das estações (como manifestações das leis que regulam aquela realidade física estruturada pelo nascimento, crescimento, amadurecimento e morte).

Que a escuridão reina soberana, as noites se alongam e a luz parece vencida, todavia no momento em que esta última parece extinguir-se totalmente e o mundo das trevas festeja o próprio triunfo, enquanto tudo parece perdido, na manhã de 21 de dezembro ocorre uma reviravolta da situação, é o evento do Solstício de Inverno (do latim, solstitium “sol” e “que não se mexe”).

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Aleksandr Dugin – O Advento do Robô (História e Decisão)

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por Aleksandr Dugin

(2018)



Eu conversei mais ou menos recentemente com Francis Fukuyama, e chegamos à conclusão de que a definição da democracia como o poder da maioria é obsoleta, velha e pouco funcional. A nova definição da democracia, segundo Fukuyama, é o poder das minorias dirigido contra a maioria. Porque a maioria pode ser populista – portanto, a maioria é perigosa.

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Gregor Strasser - Trabalho e Pão!

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por Gregor Strasser

(1932)



Decretos de Emergência são o único recurso do sistema atual!

A última vez que falei aqui, em outubro de 1930, ajustei nossas contas com o Sistema e, com base em minha vitória eleitoral de setembro de 1930, anunciei os princípios básicos da política interna e externa do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Desde então, nada mudou, absolutamente nada. A única coisa nova que experimentamos desde então é a arma dos decretos de emergência, os quais por um lado revelam a emergência e pelo outro decretam a emergência. Mas, de resto, nenhuma ideia nova e, sobretudo, redentora emergiu de todo o desenvolvimento político desde aquela época. Vejo a razão disso no fato de os homens que governam a Alemanha terem se limitado a concentrar todo o seu esforço político na supressão e exclusão das forças sociais e nacionais presentes no nacional-socialismo; também no fato de que o governo, como os debates no Reichstag alemão nos poucos dias em que se reuniu, sempre reconheceu apenas um único tema: a luta contra nós, e não mais a luta pelos interesses do povo alemão.

Toda a energia do governo durante a última campanha eleitoral, toda a sua propaganda com todos os seus recursos para influenciar o povo, se devotou a nos difamar perante o povo e o mundo. Nenhuma menção foi feita sobre o que o governo havia conseguido nesse ínterim.

A recente declaração do Chanceler do Reich de que uma tomada nacional-socialista do governo levaria automaticamente ao caos, à inflação e à guerra civil é, do ponto de vista político, a mais perigosa, porque aqui no Reichstag certamente não há ninguém que duvida de que a solução para os grandes problemas alemães possa ser encontrada contra nossa oposição ou sem nossa ajuda.

A Ascensão do Nacional-Socialismo

Apesar da resistência sem precedentes de todas as pessoas envolvidas no sistema Brüning e de todos os homens no governo, as últimas eleições provocaram a ascensão incessante e irresistível do movimento. Acho que é hora de a burocracia alemã tirar os óculos festivos e ver de perto de onde vem essa ascensão.

Quando as pessoas hoje dizem teimosamente que a ascensão dos nacional-socialistas é apenas o resultado de uma insatisfação generalizada entre o povo alemão, então devo perguntar de onde vêm todas essas pessoas insatisfeitas, por que estão insatisfeitas? Deve ser a culpa e o fracasso dos partidos do governo e do governo apoiado por eles.

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ARPLAN - Peregrinos no Vazio: O Partido Comunista Alemão, o Nacional-Bolchevismo e a “Linha Schlageter”

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por ARPLAN

(2018)



A Ocupação do Ruhr

Em 11 de janeiro de 1923, várias fileiras de tropas francesas e belgas marcharam pela Renânia desmilitarizada rumo ao Vale do Ruhr. "Estamos buscando carvão", anunciou o primeiro-ministro francês Poincaré, e isso, pelo menos na superfície, fornecia a justificativa oficial para a ocupação agressiva do Ruhr. A Alemanha havia repetidamente falhado nos pagamentos de reparações exigidos pelo Tratado de Versalhes;  devia à França 200 mil metros de postes telegráficos e vários milhões de marcos de ouro em carvão; e assim 70 mil soldados estrangeiros entraram no coração industrial da Alemanha.

O povo alemão, no entanto, suspeitava que motivos mais cínicos estavam levando os engenheiros e administradores gauleses que estavam agora, sob proteção militar, a confiscar recursos alemães para exportação forçada para o Ocidente. A aversão de Poincaré pela nação alemã era infame, assim como as ambições territoriais francesas na Renânia; aos olhos de muitos alemães, o verdadeiro propósito da ação franco-belga não era “buscar carvão”, mas aleijar permanentemente e desmembrar o corpo ferido da nação alemã.

Ironicamente, a tentativa da França e da Bélgica de enfraquecer a nascente República Alemã criou uma frente unida de resistência, alimentando as chamas do nacionalismo alemão. Não há meios mais eficazes de inflamar uma onda de patriotismo do que uma invasão estrangeira, particularmente em uma nação que já sofre com as humilhantes feridas da rendição, da dívida de guerra, da instabilidade política e de uma crescente hiperinflação. A conseqüência imediata da ocupação foi o reagrupamento dos segmentos da sociedade alemã que, até o barulho das botas francesas e belgas vagando pelas estradas renanas chegarem aos seus ouvidos, estavam na garganta uns dos outros.

O Chanceler Wilhelm Cuno, da centro-direita, declarou seu apoio a uma campanha de resistência passiva local. Os industriais alemães recusaram-se a entregar as remessas exigidas de carvão. Os social-democratas organizaram greves e manifestações. Os sindicatos se uniram às associações de empregadores para levantar fundos para trabalhadores engajados em ações industriais. E os nacionalistas radicais – veteranos dos Freikorps, ativistas völkisch e Verbänden patrióticos, muitas vezes apoiados clandestinamente pelo exército – se envolveram em atos de represália violenta, retaliando contra massacres, prisões e buscas domiciliares conduzidas pelas forças de ocupação francesas com seus próprios atos de sabotagem, assassinato e terrorismo.

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Alberto Buela – Uma Leitura da Carta sobre o Humanismo de Martin Heidegger

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por Alberto Buela

(2019)



Com Silvio Maresca temos feito, por televisão, um programa chamado “Disenso”, sobre metapolítica e filosofia, desde 2012, o qual pode ser consultado por youtube. E depois de ter entrevistado a quase todos que tentam fazer filosofia na Argentina (se sobrou alguém, o convidamos a participar), passamos a nos ocupar de temas filosóficos e este comentário é um deles.

A Carta, escrita em 1946 e publicada em 1947, é uma resposta a três perguntas realizadas pelo professor Jean Beaufret quando terminava a Segunda Guerra Mundial.

A primeira é: Como dar sentido outra vez à palavra humanismo? A resposta a esta pergunta ocupa a maior parte da Carta, que chega em minha edição até a página 54. A segunda é: É possível a relação entre a ontologia e a ética, que chega à página 66 e a terceira é: Como salvar o elemento de “aventura” que pressupõe toda investigação sem fazer da filosofia um simples “aventureirismo”?, que ocupa as duas últimas páginas do opúsculo.

Vemos como as respostas às perguntas não estão em proporção uma com a outra e é a dimensão da primeira resposta que dá título à Carta.

Heidegger começa a Carta como se fosse Aristóteles: a essência do obrar é o levar a cabo. Levar a cabo quer dizer: desdobrar algo na plenitude de sua essência, conduzir este algo a sua plenitude, producere.

Heidegger começa como termina, quando fala do pensar e afirma que sua trindade é: “o rigor da reflexão, a cuidadosa solicitude do dizer e a sobriedade da palavra”. A clareza com que começa e termina envolve um texto livre onde Heidegger “heideggereia” de uma maneira que lhe é bastante própria.

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