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Leonid Savin - Carl Schmitt, a Rússia e a Quarta Teoria Política

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por Leonid Savin



Carl Schmitt serve-se do conceito de Nomos para construir sua teoria acerca das diferentes ordens geopolíticas que se sucedem nas diferentes épocas. Reconhecendo o mérito do gênio alemão, no entanto, não podemos deixar de mencionar o fato de que ele estava naturalmente envolvido pelo paradigma científico europeu e, portanto, interpretava o conceito de Lei nestes termos. Assim, se nos dispusermos a criticar o eurocentrismo e suas raízes helênicas, seremos obrigados a iniciar uma minuciosa análise comparativa e uma revisão da teoria schmittiana. Por exemplo, do ponto de vista do eurasianismo clássico e dos filósofos russos que apelam à Ortodoxia, uma série de posicionamentos de Schmitt podem se revelar controversos. Não é por acaso que o publicista [публицист] russo, Vadim Kojinov, afirmava que tudo aquilo que é inerente ao Ocidente devesse ser definido pelo termo nomocracia (poder da lei), enquanto que as sociedades asiáticas seriam etocracias – do grego ethos (costume). Ao mesmo tempo, ele chamava Bizâncio de Estado ideocrático.

O modelo da ideocracia foi apresentado anteriormente por um dos fundadores do eurasianismo, o geógrafo Piotr Savitsky. Ele acreditava que tal sistema é caracterizado por uma cosmovisão geral e pela disposição das elites governantes de servirem a uma ideia de governo comum, que representa "o bem estar da totalidade dos povos que habitam este especial mundo autárquico."

Seguindo esta definição, a ideocracia pode parecer consoante com o Nomos de Schmitt, uma vez que invoca os grandes espaços. No entanto, seu conteúdo é diferente. Piotr Savitsky propôs uma ideocracia para a Rússia-Eurásia, onde a religião ortodoxa é dominante e onde há uma herança bizantina adaptada, principalmente por meio de um corpo teológico repleto de textos complexos e paradoxais.

Com relação a isso, gostaria de citar, por exemplo, o discurso do metropolita de Kiev Hilarion, "A Palavra da Graça", registrado em meados do século 11. Hilarion levanta a questão da igualdade de direitos dos povos, o que se opõe fortemente às teorias medievais de que um único povo teria sido eleito por Deus. Em outras palavras, é a teoria do Império universal, onde "cada um dos países, cidades e povos honram e glorificam o mestre que lhes ensinou a fé ortodoxa".

Os pontos de vista católicos de Schmitt são bastante conhecidos e, embora, em questões amplas, ele pudesse deixar de abordar o legado do Vaticano e de suas disposições legais correspondentes, é impossível negar uma influência geral da religião em seu pensamento. Assim como no caso da Rússia, apesar da antiguidade do texto citado e do conhecimento superficial da Ortodoxia que a maioria das pessoas tem atualmente, também é impossível negar a influência das estruturas do subconsciente coletivo, ou daquilo que costuma-se chamar de cultura estratégica, na agenda política.

Resumindo sucintamente, é possível estabelecer uma diferenciação. No conceito do Nomos schmittiano está expressa a ideia do território jurídico, enquanto que, no conceito de ideocracia, a filosofia russa evoca o território da bem-venturança.

Agora façamos um questionamento. Com que finalidade será desenvolvida a Quarta Teoria Política? Para justificar as Leis projetadas para uma área geográfica ou para consolidar os pólos da bem-aventurança?

Falando sobre a geopolítica multipolar e da formação de sua escola, devemos lembrar que “pólo” não é apenas um termo técnico, como supõem as atuais escolas de relações internacionais. Heidegger identificava o pólo com o polis. O pólo estabelece a essência em sua existência e aparece como o centro da manifestação desta essência em sua totalidade. Isso acontece na polis enquanto espaço político. A polis é o centro existencial de uma pessoa. Entre a polis e a "existência" reina uma correlação básica. Estamos em condições de entender as bases da Quarta teoria Política e que todas as colocações acima não consistem em um dogma ou em uma doutrina fechada, podendo ser questionadas. No entanto, espero que os pensamentos que foram expressados provoquem novas discussões e nos permitam olhar de uma forma nova para as coisas óbvias e avançar na direção da criação de um novo modelo político.


Robert Steuckers - A Perfeição da Técnica: Friedrich-Georg Jünger

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por Robert Steuckers



Nascido em 1 de setembro de 1989 em Hannover, irmão do famoso escritor alemão Ernst Jünger, Friedrich-Georg Jünger se interessou pela poesia desde uma idade muito jovem, despertando nele um forte interesse pelo classicismo alemão em um itinerário que atravessa Klopstock , Goethe e Hölderin. Graças a esta imersão precoce no trabalho de Hölderin, Friedrich-Georg Jünger é fascinado pela antiguidade clássica e percebe a essência da helenidade e da romanidade antigas como uma aproximação à natureza, como uma glorificação da elementalidade, ao mesmo tempo que é dotada de uma visão do homem que permanecerá imutável, sobrevivendo ao longo dos séculos na psique européia, às vezes visível à luz do dia, às vezes escondida. A era da técnica separou os homens dessa proximidade vivificante, elevando-o perigosamente acima do elemental. Toda a obra poética de Friedrich-Georg Jünger é um protesto veemente contra a pretensão mortífera que constitui esse distanciamento. Nosso autor permanecerá profundamente marcado pelas paisagens idílicas de sua infância, uma marca que se refletirá em seu amor incondicional pela Terra, pela flora e pela fauna (especialmente insetos: foi Friedrich-Georg quem apresentou seu irmão Ernst ao mundo da entomologia), pelos seres mais elementares da vida no planeta, pelas raízes culturais.

A Primeira Guerra Mundial acabará com essa imersão jovem na natureza. Friedrich-Georg se alistará em 1916 como aspirante a oficial. Severamente ferido no pulmão, na frente do Somme, em 1917, passa o resto do conflito em um hospital de campo. Depois de sua convalescença, se matricula em Direito, obtendo o título de doutor em 1924. Mas ele nunca seguirá a carreira de jurista, logo descobriu sua vocação como escritor político dentro do movimento nacionalista de esquerda, entre os nacional-revolucionários e o nacional-bolcheviques, unindo-se mais tarde à figura de Ernst Niekisch, editor da revista "Widerstand" (Resistência). A partir desta publicação, bem como de "Arminios" ou "Die Kommenden", os irmãos Jünger inauguraram um novo estilo que poderíamos definir como do "soldado nacionalista", expressado pelos jovens oficiais que chegaram recentemente do front e incapazes de se adaptar à vida civil . A experiência das trincheiras e o fragor dos ataques mostraram-lhes, através do suor e do sangue, que a vida não é um jogo inventado pelo cerebralismo, mas um rebuliço orgânico elemental onde, de fato, os instintos reinam. A política, em sua própria esfera, deve compreender a temperatura dessa agitação, ouvir essas pulsões, navegar em seus meandros para forjar uma força sempre jovem, nova e vivificante. Para Friedrich-Georg Jünger, a política deve ser apreendida de um ângulo cósmico, fora de todos os miasmas "burgueses, cerebrais e intelectualizantes". Paralelamente a esta tarefa de escritor político e profeta desse nacionalismo radicalmente anti-burguês, Friedrich-Georg Jünger mergulha na obra de Dostoiévski, Kant e dos grandes romancistas americanos. Junto com seu irmão Ernst, ele realiza uma série de viagens pelos países mediterrâneos: Dalmácia, Nápoles, Baleares, Sicília e as ilhas do Mar Egeu.

Quando Hitler sobe ao poder, o triunfante é um nacionalismo das massas, não aquele nacionalismo absoluto e cósmico que evocava a pequena falange (sic) "fortemente exaltada" que editou seus textos nas revistas nacional-revolucionárias. Em um poema, Der Mohn (A Papoula), Friedrich-Georg Jünger ironiza e descreve o nacional-socialismo como "a música infantil de uma embriaguez sem glória". Como resultado desses versículos sarcásticos, ele se vê envolto em uma série de problemas com a polícia, pelo que ele sai de Berlim e se instala, com Ernst, em Kirchhorst, na Baixa Saxônia.

Aposentado da política depois de ter publicado mais de uma centena de poemas na revista de Niekisch - que vê pouco a pouco o aumento das pressões da autoridade até que finalmente é preso em 1937 -, Friedrich-Georg Jünger consagra por inteiro à criação literária, publicando em 1936 um ensaio intitulado Über das Komische e terminando em 1939 a primeira versão de seu maior trabalho filosófico: Die Perfektion der Technik (A Perfeição da Técnica). Os primeiros rascunhos deste trabalho foram destruídos em 1942, durante um bombardeio aliado. Em 1944, uma primeira edição, feita a partir de uma série de novos ensaios, é novamente reduzida às cinzas devido a um ataque aéreo. Finalmente, o livro aparece em 1946, provocando um debate em torno da problemática da técnica e da natureza, prefigurando, apesar de sua orientação "conservadora", todas as reivindicações ambientais alemãs dos anos 60, 70 e 80. Durante a guerra, Friedrich-Georg Jünger publicou poemas e textos sobre a Grécia antiga e seus deuses. Com o surgimento de Die Perfektion der Technik, que verá várias edições sucessivas, os interesses de Friedrich-Georg se voltam aos temas da técnica, da natureza, do cálculo, da mecanização, da massificação e da propriedade. Recusando, em Die Perfektion der Technik, enunciar suas teses sob um esquema clássico, linear e sistemático; seus argumentos aparecem "em espiral", de maneira desordenada, esclarecendo volta após volta, capítulo aqui, capítulo lá, tal ou qual aspecto da tecnificação global. Como filigrana, percebe-se uma crítica às teses que seu irmão Ernst mantinha então em Der Arbeiter (O Trabalhador), que aceitou como inevitável a evolução da técnica moderna. Sua posição antitécnica aborda a tese de Ortega y Gasset em Meditações sobre a Técnica (1939) de Henry Miller e de Lewis Munford (que usa o termo "megamaquinismo"). Em 1949, Friedrich-Georg Jünger publicou uma obra de exegese sobre Nietzsche, onde es interrogava sobre o sentido da teoria cíclica do tempo enunciado pelo anacoreta de Sils-Maria. Friedrich-Georg Jünger contesta a utilidade de usar e problematizar uma concepção cíclica dos tempos, porque este uso e esta problematização acabarão por conferir ao tempo uma forma única e intangível que, para Nietzsche, é concebida como cíclica. O tempo cíclico, próprio da Grécia das origens e do pensamento pré-cristão, deve ser percebido a partir dos ângulos do imaginário e não da teoria, que obriga a conjugar a naturalidade a partir de um modelo único de eternidade e, assim, o instante e o fato desaparecem sob os cortes arbitrários estabelecidos pelo tempo mecânico, segmentarizados em visões lineares. A temporalidade cíclica de Nietzsche, por seus cortes em ciclos idênticos e repetitivos, preserva, pensou Friedrich-Georg Jünger, algo de mecânico, de newtoniano, pelo que, finalmente, não é uma temporalidade "grega". O tempo, para Nietzsche, é um tempo policial, sequestrado; carece de apoio, de suporte (Tragend und Haltend). Friedrich-Georg Jünger canta uma a-temporalidade que é identificada com a natureza mais elementar, o "Wildnis", a natureza de Pã, o fundo natural intacto do mundo, não manchado pela mão humana, que é, em última instância, um acesso ao divino, ao último segredo do mundo. O "Wildnis" - um conceito fundamental no poeta "pagão" que é Friedrich-Georg Jünger - é a matriz de toda a vida, o receptáculo aonde deve retornar toda vida.

Em 1970, Friedrich-Georg Jünger fundou, juntamente com Max Llimmelheber, a revista trimestral "Scheidwege", onde figuraram na lista de colaboradores os principais representantes de um pensamento ao mesmo tempo naturalista e conservador, céticos em relação a todas as formas de planificação técnico. Entre os pensadores desta inclinação conservadora-ecológica que apresentaram suas teses na publicação podemos lembrar os nomes de Jürgen Dahl, Hans Seldmayr, Friederich Wagner, Adolf Portmann, Erwin Chargaff, Walter Heiteler, Wolfgang Häedecke, etc.

Friedrich-Georg Jünger morreu em Überlingen, perto das margens do lago de Constança, em 20 de julho de 1977.

O germanista norte-americano Anton H. Richter, em seu trabalho sobre o pensamento de Friedrich-Georg Jünger, ressalta quatro temas essenciais em nosso autor: a antiguidade clássica, a essência cíclica da existência, a técnica e o poder de o irracional. Em seus escritos sobre antiguidade grega, Friedrich-Georg Jünger reflete sobre a dicotomia dionisíaca/titânica. Como dionisismo, abrange o apolíneo e o pânico, numa frente unida de forças organizacionais intactas contra as distorções, a fragmentação e a unidimensionalidade do titanismo e do mecanicismo de nossos tempos. A atenção de Friedrich-Georg Jünger centra-se essencialmente nos elementos ctônicos e orgânicos da antiguidade clássica. Desta perspectiva, os motivos recorrentes de seus poemas são a luz, o fogo e a água, forças elementares às quais ele homenageia profundamente. Friedrich-Georg Jünger zomba da razão calculadora, da sua ineficiência fundamental exaltando, em contraste, o poder do vinho, da exuberância do festivo, do sublime que se aninha na dança e nas forças carnavalescas. A verdadeira compreensão da realidade é alcançada pela intuição das forças, dos poderes da natureza, do ctônico, do biológico, do somático e do sangue, que são armas muito mais efetivas do que a razão, que o verbo plano e unidimensional, desmembrado, purgado, decapitado, despojado: de tudo o que torna o homem moderno um ser de esquemas incompletos. Apolo traz a ordem clara e a serenidade imutável; Dionísio traz as forças lúdicas do vinho e das frutas, entendidos como uma dádiva, um êxtase, uma embriaguez reveladora, mas nunca uma inconsciência; Pan, guardião da natureza, traz a fertilidade. Diante desses doadores generosos e desinteressados, os titãs são usurpadores, acumuladores de riqueza, guerreiros cruéis e antiéticos que enfrentam os deuses da profusão e da abundância que às vezes conseguem matá-los, lacerando seus corpos, devorando-os.

Pan é a figura central do panteão pessoal de Friedrich-Georg Jünger; Pan é o governante da "Wildnis", da natureza primordial que os titãs desejam arrasar. Friedrich-Georg Jünger se remete a Empédocles, que ensinava que ele forma um "contiuum epistemológico" com a natureza: toda a natureza está no homem e pode ser descoberta através do amor.

Simbolizado por rios e cobras, o princípio da recorrência, do retorno incessante, pelo qual todas as coisas alcançam a "Wildnis" original, é também o caminho para retornar a esse mesmo Wildnis. Friedrich-Georg Jünger canta o tempo cíclico, diferente do tempo linear-unidirecional judaico-cristão, segmentado em momentos únicos, irrepetíveeis, sobre um caminho também único que leva à Redenção. O homem moderno ocidental, alérgico aos esconderijos imponderáveis ​​onde a "Wildnis" se manifesta, optou pelo tempo contínuo e vetorial, tornando assim a sua existência um segmento entre duas eternidades atemporais (o antes do nascer e o depois da morte). Aqui se enfrentam dois tipos humanos: o homem moderno, impregnado com a visão judaico-cristã e linear do tempo, e o homem orgânico, que se reconhece inextricavelmente ligado ao cosmos e aos ritmos cósmicos.

A Perfeição da Técnica

Denúncia do titanismo mecanicista ocidental, este trabalho é a pedreira onde todos os pensadores ecológicos contemporâneos se nutriram para afinar suas críticas. Dividida em duas grandes partes e uma digressão, composta por uma multiplicidade de pequenos capítulos concisos, a obra começa com uma observação fundamental: a literatura utópica, responsável pela introdução do idealismo técnico no campo político, só provocou um desencanto da própria veia utópica. A técnica não resolve nenhum problema existencial do homem, não aumenta o gozo do tempo, não reduz o trabalho: ela tão somente desloca o manual em proveito do "organizativo". A técnica não cria novas riquezas; pelo contrário: condena a classe trabalhadora ao pauperismo físico e moral permanente. O desdobramento desenfreado da técnica é causado por uma falta geral da condição humana que a razão se esforça para sanar. Mas essa falta não desaparece com a invasão da técnica, que não é senão uma camuflagem grosseira, um remendo triste. A máquina é devoradora, aniquiladora da "substância": sua racionalidade é pura ilusão. O economista acredita, a partir de sua apreensão particular da realidade, que a técnica é uma fonte de riquezas, mas não parece observar que sua racionalidade quantitativista não é senão aparência pura e simples, que a técnica, em sua vontade de ser aperfeiçoada até o infinito, não segue senão sua própria lógica, uma lógica que não é econômica.

Uma das características do mundo moderno é o conflito tático entre o economista e o técnico: o último aspira a determinar processos de produção a favor da lucratividade, um fator que é puramente subjetivo. A técnica, quando atinge seu grau mais alto, leva a uma economia disfuncional. Essa oposição entre técnica e economia pode produzir estupor em mais de um crítico da unidimensionalidade contemporânea, acostumada a colocar hipertrofias técnicas e econômicas na mesma caixa de alfaiate. Mas Friedrich-Georg Jünger concebe a economia a partir de sua definição etimológica: como medida e norma dos "oikos", da habitação humana, bem circunscrita no tempo e no espaço. A forma atual adotada pelos "oikos" vem de uma mobilização exagerada dos recursos, assimilável ​​à economia da pilhagem e da rapina (Raubbau), de uma concepção mesquinha do lugar que se ocupa sobre a Terra, sem consideração pelas gerações passadas e futuras.

A idéia central de Friedrich-Georg Jünger sobre a técnica é a de um automatismo dominado por sua própria lógica. A partir do momento em que essa lógica se põe em marcha, ela escapa aos seus criadores. O automatismo da técnica, então, se multiplica em função exponencial: as máquinas, por si só, impõem a criação de outras máquinas, até atingir o automatismo completo, mecanizado e dinâmico, em um tempo segmentado, um tempo que não é senão um tempo morto. Este tempo morto penetra no tecido orgânico do ser humano e sujeita o homem à sua lógica letal particular. O homem é, portanto, despojado do "seu" tempo interno e biológico, mergulhado em uma adaptação ao tempo inorgânico e morto da máquina. A vida é então imersa em um grande automatismo governado pela soberania absoluta da técnica, convertida senhora e dona de seus ciclos e ritmos, de sua percepção de si e do mundo exterior. O automatismo generalizado é "a perfeição da técnica", à qual Friedrich-Georg, um pensador organicista, opõe a "maturação" (die Reife) que só pode ser alcançada por seres naturais, sem coerção ou violência. A principal característica da gigantesca organização titânica da técnica, dominante na era contemporânea, é a dominação exclusiva exercida por determinações e deduções causais, características da mentalidade e da lógica técnica. O Estado, como entidade política, pode adquirir, pelo caminho da técnica, um poder ilimitado. Mas isso não é, para o Estado, senão uma espécie de pacto com o diabo, porque os princípios inerentes à técnica acabarão por remover sua substância orgânica, substituindo-a por puro e rígido automatismo técnico.

Quem diz automatização total diz organização total, no sentido de gestão. O trabalho, na era da multiplicação exponencial de autômatos, é organizado para a perfeição, isto é, para a rentabilidade total e imediata, deixando de lado ou sem considerar a mão-de-obra ou o útil. A técnica só é capaz de avaliar a si mesma, o que implica uma automação a todo custo, o que, por sua vez, implica troca a todo custo, o que leva à normalização a todo custo, cuja conseqüência é a padronização a todo custo. Friedrich-Georg Jünger acrescenta o conceito de "partição" (Stückelung), onde "partes" não são mais "partes", mas "peças" (Stücke), reduzidas a uma função de mero aparato, uma função inorgânica.

Friedrich-Georg Jünger cita Marx para denunciar a alienação desse processo, mas se distancia dele ao ver que este considera o processo técnico como um "fatum" necessário no processo de emancipação da classe proletária. O trabalhador (Arbeiter) é precisamente "trabalhador" porque está conectado, "volens nolens", ao aparato de produção técnica. A condição proletária não depende da modéstia econômica ou do rendimento, mas dessa conexão, independentemente do salário recebido. Esta conexão despersonaliza e faz desaparecer a condição de pessoa. O trabalhador é aquele que perdeu o benefício interno que o ligava à sua atividade, um benefício que evitava sua intercambiabilidade. A alienação não é um problema induzido pela economia, como Marx pensou, mas pela técnica. A progressão geral do automatismo desvaloriza todo o trabalho que possa ser interno e espontâneo no trabalhador, ao mesmo tempo que favorece inevitavelmente o processo de destruição da natureza, o processo de "devoração" (Verzehr) dos substratos (dos recursos oferecidos pela Mãe-Natureza, generosa e esbanjadora "donatrix"). Por causa dessa alienação técnica, o trabalhador é precipitado em um mundo de exploração onde ele não possui proteção. Para beneficiar-se de uma aparência de proteção, ela deve criar organizações - sindicatos - mas com o erro de que essas organizações também estejam conectadas ao aparato técnico. A organização protetora não emancipa, enjaula. O trabalhador se defende contra a alienação e a sua transformação em peça, mas, paradoxalmente, aceita o sistema de automação total. Marx, Engels e os primeiros socialistas perceberam a alienação econômica e política, mas eram cegos para a alienação técnica, incapazes de compreender o poder destrutivo da máquina. A dialética marxista, de fato, se torna um mecanicismo estéril ao serviço de um socialismo maquinista. O socialista permanece na mesma lógica que governa a automação total sob a égide do capitalismo. Mas o pior é que o seu triunfo não terminará (a menos que abandone o marxismo) com a alienação automatista, mas será um dos fatores do movimento de aceleração, simplificação e crescimento técnico. A criação de organizações é a causa da gênese da mobilização total, que transforma tudo em celulares e em todos os lugares em oficinas ou laboratórios cheios de agitação incessante e zumbidos. Toda área social que tende a aceitar essa mobilização total favorece, queira ou não, a repressão: é a porta aberta para campos de concentração, aglomerações, deportações em massa e massacres em massa. É o reinado do gestor impávido, uma figura sinistra que pode aparecer sob mil máscaras. A técnica nunca produz harmonia, a máquina não é uma deusa dispensadora de bondades. Pelo contrário, esteriliza os substratos naturais doados, organiza a pilhagem planejada contra a "Wildnis". A máquina é devoradora e antropófaga, deve ser alimentada sem cessar e, uma vez que acumula mais do que doa, acabará um dia com todas as riquezas da Terra. As enormes forças naturais elementares são desenraizadas pela gigantesca maquinaria e retém os prisioneiros por ela e nela, o que não conduz senão a catástrofes explosivas e à necessidade de uma sobrevivência constante: outra faceta da mobilização total.

As massas se entrelaçam voluntariamente nesta automação total, ao mesmo tempo que anulam as resistências isoladas de indivíduos conscientes. As massas são levadas pelo rápido movimento da automação, a tal ponto que, em caso de quebra ou paralisação momentânea do movimento linear para a automação, elas experimentam uma sensação de vida que acham insuportável.

A guerra, também, a partir de agora, será totalmente mecanizada. Os potenciais de destruição são amplificados ao extremo. A reivindicação de uniformes, o valor mobilizador dos símbolos, a glória, desaparecem na perfeição técnica. A guerra só pode ser suportada por soldados tremendamente endurecidos e tenazes, apenas os homens que possam exterminar a piedade em seus corações poderão suportá-la.

A mobilidade absoluta que inaugura a automação total se volta contra tudo tudo que pode significar duração e estabilidade, especificamente contra a propriedade (Eigentum). Friedrich-Georg Jünger, ao meditar sobre essa afirmação, define a propriedade de uma maneira original e particular. A existência de máquinas depende de uma concepção exclusivamente temporal, a existência da propriedade é devida a uma concepção espacial. A propriedade implica limites, definições, cercas, paredes e paredes, "clausuras" em suma. A eliminação dessas delimitações é uma razão de ser para o coletivismo técnico. A propriedade é sinônimo de um campo de ação limitado, circunscrito, fechado em um espaço específico e preciso. Para progredir de forma vetorial, a automação precisa pular os bloqueios da propriedade, um obstáculo para a instalação de seus onipresentes meios de controle, comunicação e conexão. Uma humanidade privada de todas as formas de propriedade não pode escapar da conexão total. O socialismo, na medida em que nega a propriedade, na medida em que rejeita o mundo das "zonas enclausuradas", facilita precisamente a conexão absoluta, que é sinônimo de manipulação absoluta. Segue-se que o proprietário de máquinas não é proprietário; o capitalismo mecanicista mina a ordem das propriedades, caracterizada por duração e estabilidade, em preferência de um dinamismo omnidisolvente. A independência da pessoa é uma impossibilidade nessa conexão aos fatos e ao modo de pensar próprio do instrumentalismo e do organizacionismo técnicos.

Entre suas reflexões críticas sobre a automatização e a tecnificação totais nos tempos modernos, Friedrich-Georg Jünger apela aos grandes filósofos da tradição europeia. Descartes inaugura um idealismo que estabelece uma separação insuperável entre o corpo e o espírito, eliminando o "sistema de influências psíquicas" que interligava ambos, para eventualmente substituí-lo por uma intervenção divina pontual que faz de Deus um simples demiurgo-relojoeiro. A "res extensa" de Descartes em um conjunto de coisas mortas, explicável como um conjunto de mecanismos em que o homem, instrumento do Deus-relojoeiro, pode intervir completamente impune em todos os momentos. A "res cogitans"é instituído como mestre absoluto dos processos mecânicos que governam o Universo. O homem pode se tornar um deus: um grande relojoeiro que pode manipular todas as coisas ao seu gosto e alvedrio, sem cuidado ou respeito. O cartesianismo dá o sinal de saída da exploração tecnicista ao extremo da Terra.

Eduard Popov - Primavera Russa: A Dinâmica Sociopolítica do Movimento de Independência do Donbass

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por Eduard Popov



A ascensão do movimento de protestos no Donbass (e outras regiões da Nova Rússia histórica) que resultou na proclamação das Repúblicas Populares, foi uma reação ao golpe de Estado em Kiev e às políticas russofóbicas agressivas. Não é acidente que o primeiro passo legislativo das novas autoridades ucranianas foi abolir a lei dos idiomas, ratificada em 2003 pela Verkhovna Rada em linha com a Carta Europeia para Idiomas Regionais ou Minoritários, o que efetivamente empurrou o idioma russo para fora do espaço educacional e cultural-informacional da Ucrânia. Porém, o movimento popular no Donbass no fim do inverno e na primavera de 2014 também tinha motivos mais profundos. A proclamação das repúblicas populares do Donbass foi uma reação lógica ao desmonte do Estado ucraniano como ele havia sido constituído no esquema da República Socialista Soviética Ucraniana. As novas autoridades ucranianas violaram o contrato social tácito de lealdade ao Estado existente em troca por um mínimo de direitos linguístico-culturais garantidos para as regiões "Sudeste" (Nova Rússia histórica).

Imediatamente após o golpe de Estado em Kiev em fevereiro de 2014, associações de cidadãos começaram a emergir, mas foram reprimidas pelas ações das forças armadas do Euromaidan. Porém, no Donbass pós-soviético, diferentemente da Crimeia, não havia tradições fortes de movimentos russos ou autonomistas. Uma das razões para isso eram as operações centralizadas do Partido das Regiões, que objetivava subordinar todos os partidos e movimentos orientados para a representação dos interesses da metade russa da Ucrânia e restaurar os laços econômicos e humanitários com a Rússia. No Donbass, o Partido das Regiões se consolidou mais plenamente como força monopolizadora dos interesses das regiões russas da Ucrânia (o "Sudeste").

Isso desempenhou um papel decisivo na futura construção estatal das repúblicas do Donbass. O Partido das Regiões "atropelou" os movimentos sociais independentes. O movimento social República de Donetsk e as filiais regionais do Partido Bloco Russo não tinham papel significativo na vida política do Donbass, e não havia projetos políticos relevantes sob slogans russos. Apenas o Partido Comunista da Ucrânia representava algum tipo de competição para o Partido das Regiões no Donbass.

O movimento em apoio à independência do Donbass surgiu como algo repentino, uma reação visceral ao golpe oligárquico/neonazi em Kiev e em grande medida com base em células locais do Partido das Regiões e de forças da oposição de esquerda, como do Partido Comunista da Ucrânia e do Partido Socialista Progressivo da Ucrânia.

Foi predominantemente por essas forças que o referendo de independência foi organizado e preparado. Além deles, associações sociais também tiveram papel ativo no surgimento do movimento de independência. em particular, um papel enorme foi desempenhado, principalmente no primeiro momento, pelas organizações de "afegãos" (veteranos da guerra no Afeganistão), que vieram a compor o núcleo das unidades de milícia. Na região de Lugansk, um papel importante e até decisivo foi desempenhado pelas comunidades cossacas que possuíam rica experiência de auto-organização e laços desenvolvidos com os cossacos do Don na região russa vizinha de Rostov.

Por volta do fim de fevereiro e início de março de 2014, as organizações sociais do Donbass estavam disputando o controle dos municípios, seus opositores sendo as autoridades regionais. Após o fracassado Congresso de Kharkov em 22 de fevereiro de 2014, no qual os líderes do Partido das Regiões de Kharkov e da região de Kharkov, G. Kernes e M. Dobkin, essencialmente se recusaram a se opôr aos golpistas de Kiev, as burocracias das regiões de Donetsk e Lugansk se depararam com a difícil escolha de ou se submeterem ao novo e ilegítimo governo de Kiev, ou se exporem ao risco de repressão junto à população das regiões. Eles decidiram de forma razoavelmente rápida e declararam lealdade aos golpistas de Kiev. Uma fórmula conveniente justificando isso foi encontrada na noção de preservar a unidade da Ucrânia sob a condição de que Kiev expandisse a autoridade das regiões. em um fórum sobre o desenvolvimento da autoadministração local realizado em Lvov em 27 de março de 2014, o Presidente do Conselho Regional de Donetsk, A. Shishatsky, delineou sua ideia de governo descentralizado, segundo a qual redistribuir autoridade em favor das regiões envolveria excluir o ditado econômico e político de Kiev. Em 31 de março de 2014, o Conselho Regional de Donetsk apelou à Verkhovna Rada da Ucrânia com o pedido de tomar medidas para estabilizar a situação no país emendando a Constituição para empoderar o autogoverno local. [1]

Em 17 de abril de 2014, o Partido das Regiões realizou um congresso extraordinário no qual participaram os deputados dos conselhos locais da região de Donetsk bem como 29 deputados da Verkhovna Rada, que após o golpe de 21 de fevereiro haviam perdido sua legitimidade. (Não obstante, a Verkhovna Rada continuou a operar até que eleições parlamentares foram realizadas em 26 de outubro de 2014 literalmente sob mira de armas). Os líderes do Partido das Regiões, B. Kolesnikov e N. Levchenko, anunciaram que somente eles representavam o "Sudeste" na capital. Uma resolução proposta no congresso continha demandas de que Kiev garantisse autonomia fiscal às regiões orientais, desse status oficial ao idioma russo, e anistia plena a todos os manifestantes. Ao mesmo tempo, a resolução pedia que todos os manifestantes ocupando prédios nas regiões orientais baixassem as armas. Esta última demanda era, de fato, a principal, e ainda assim os líderes do Partido das Regiões admitiram que eles não podiam garantir que Kiev cumprisse os pontos sobre autonomia e status do idioma russo.

Manifestantes viram nessas ações do Partido das Regiões uma tentativa de enganar os movimentos contrários ao golpe. [2] Caracteristicamente, propostas similares buscando um compromisso com o movimento social do Donbass foram vocalizadas por representantes das novas autoridades de Kiev. O governador da região de Donetsk apontado por Kiev, Sergey Taruta, também declarou a necessidade de realizar um referendo nacional sobre o status do idioma russo e para descentralizar a autoridade. Como eventos subsequentes provaram, as afirmações e ações do Partido das Regiões eram apenas para despistar, já que emendas expandindo os direitos das regiões não foram incluídas na Constituição Ucraniana ou na prática jurídica. E o idioma russo foi gradativamente empurrado para fora da vida sóciopolítica e cultural-educacional da Ucrânia.

As declarações e ações das autoridades regionais dos Conselhos Regionais de Donetsk e Lugansk essencialmente legitimavam o governo golpista de Kiev. O Partido das Regiões, tendo emergido como instrumento político da elite financeira-industrial da região de Donetsk, se transformou em um partido clamando representar os interesses de todo o Sudeste. A participação do Partido das Regiões na Verkhovna Rada após o golpe de Estado, seus representantes (M. Dobkin e O. Tsarev) participando nas eleições presidenciais ilegítimas na primavera de 2014, e as atividades dos conselhos regionais das regiões de Donetsk e Lugansk que legitimavam as novas autoridades, demonstraram que o Partido das Regiões havia se transmutado em um dos partidos do Euromaidan ucraniano. Sua função principal se tornou, assim, fornecer um verniz de legitimidade para o governo ilegal dos golpistas de Kiev para o Sudeste.

O Donbass entrou assim na primeira fase de seu desenvolvimento político-estatal privado de sua própria classe política. Na primeira fase, o aparato estatal das regiões de Donetsk e Lugansk (as administrações regionais e a burocracia central das organizações regionais do Partido das Regiões) declarou lealdade às forças que haviam lançado o golpe de Estado em Kiev. A vasta maioria das velhas elites políticas, econômicas e administrativas da região do Donbass (as regiões de Donetsk e Lugansk), assim, apoiavam o novo regime em Kiev e abandonaram o território. A "Primavera Russa" no Donbass pode, assim, ser sociologicamente caracterizada pela frase "povo sem elite". Alternativamente, na expressão figurativa de um veterano dos eventos em Lugansk, essa foi uma revolta dos escravos. A ruptura entre apoiadores do novo governo em Kiev e o movimento russo logo recaiu em linhas socioproprietárias.

A Formação dos Sistemas Político-Partidários da RPD e da RPL: Entre a Primavera Russa e a Experiência Estatal Ucraniana

O nascimento das repúblicas populares do Donbass ocorreu sob o estandarte de um construto ideológico que foi batizado de "Primavera Russa" (imitando a "Primavera Árabe") nas obras de escritores de Moscou. Ignorando o fato de que este termo não se encaixa na situação do Donbass (a população jovem e crescente do Oriente Médio árabe vs. a população velha e em declínio do Donbass), é impossível não reconhecer a imensa importância mobilizadora desse termo no momento inicial do movimento.

O movimento popular no Donbass começou sob slogans proclamando a construção de um Estado russo e/ou de um Estado socialmente justo. Um amplo espectro de forças sociopolíticas apoiando o Donbass - de nacionalistas radicais russos e monarquistas a comunistas e anarquistas - foi unificado por uma rejeição comum do neonazismo ucraniano e de aspectos do Estado ucraniano como a burocratização, o ultracentralismo, a corrupção e a ditadura oligárquica. Na porção de protesto de seu programa, os ativistas do movimento popular do Donbass declaravam solidariedade com os slogans do Euromaidan que sonhavam com enterrar o "velho" Estado ucraniano. A "Revolução da Dignidade" (nome oficial utilizado na Ucrânia para o Euromaidan) acabou no colapso completo de todas as esperanças, o que até os mais ardentes apoiadores do Euromaidan são agora forçados a admitir. Mas o que trouxe vitória à Primavera Russa e às repúblicas do Donbass?

Em 7 de abril de 2014 o Conselho Popular da República Popular de Donetsk foi estabelecido, o qual se declarou a máxima autoridade na república. O corpo consistia de aproximadamente 70 pessoas eleitas pela cooptação de um representante ou de um coletivo de trabalhadores locais ou de uma organização social municipal (dependendo do tamanho da população) que assim se tornava o representante de sua cidade ou distrito no mais alto órgão de poder da RPD. Todas as organizações municipais da antiga região de Donetsk (com exceção dos órgãos repressoras ativamente leais ao novo regime de Kiev, ou seja, o Ministério de Assuntos Interiores e a SBU) estavam representadas no Conselho Popular da RPD. Uma parte importante do Conselho Popular consistia de representantes existentes de conselhos municipais e distritais, ou seja, pessoas eleitas a órgãos locais de poder e possuindo experiência municipal. Além desse grupo, o Conselho Popular da RPD cooptou representantes de coletivos de trabalhadores e de organizações sociais operando nos municípios.

Assim, na fase de surgimento de sua natureza estatal, a RPD e a RPL realizaram o princípio básico de soberania popular refletido nos nomes das repúblicas.

Os deputados do Conselho Popular realizaram a parte principal do trabalho de rascunhar a Constituição da RPD e preparar o referendo sobre independência. Em 7 de abril de 2014, o conselho emitiu a Declaração de Soberania da República Popular de Donetsk e o Ato sobre Independência Estatal da República Popular de Donetsk.

Apesar da pressão política, informacional e militar cada vez maiores e das provocações, um referendo foi realizado nas regiões de Donetsk e Lugansk que perguntava: "Você apoia o Ato de Independência da RPD/RPL?". Na região de Donetsk, 89.7% dos eleitores disseram "sim", enquanto 10.19% dos residentes d região votaram contra a autodeterminação e 0.74% dos bilhetes foram reconhecidos como inválidos. O comparecimento foi de 74.87%.

Na região de Lugansk, a independência foi apoiada por 96.2% dos eleitores e oposta por 3.8%, com um comparecimento total de 81%. Os referendos essencialmente legitimaram o que se tornaria a segunda parte do conflito interucraniano, as Repúblicas Populares, que se opunham ao governo ilegal em Kiev por motivos ideológicos, políticos e militares. Em 14 de maio, o Conselho Popular da RPD se transformou no Supremo Conselho da RPD composto por 150 deputados (apesar do número efetivo ser menor). Após o referendo, ministérios e departamentos começaram a ser formados, e em 14 de maio de 2014, a Constituição da RPD foi adotada. [3]

Eleições para a composição constituinte do Conselho Popular da RPD foram realizadas com observância de todos os procedimentos democráticos, enquanto o mesmo não poderia ser dito sobre as eleições presidenciais extraordinárias ucranianas realizadas em 25 de maio de 2014, que foram marcadas por grosseiras violações procedimentais. A falta de termos competitivos iguals na mídia e nas comissões eleitorais, e intimidação e violência contra candidatos e eleitores do "Sudeste" fizeram da campanha eleitoral ucraniana uma farsa.

Organizações sociais se tornaram uma fonte importante para formar o aparato administrativo e a classe política da RPD e da RPL. Em certas áreas da RPL e em menor medida da RPD, um papel decisivo foi desempenhado pelos cossacos, primariamente por aqueles ligados aos não-registrados cossacos do Don. O líder desse grupo político-militar era o famoso comandante Pavel Dremov. Planos para uma República Cossaca de Stakhanov são atribuídos a ele. (O QG do 6ª Regimento Cossaco de Infantaria Motorizada "Ataman Platov" da Milícia Popular da RPL, contando com mais de 2.000 homens, estava localizado em Stakhanov).

Na fase inicial da existência das repúblicas, líderes carismáticos locais (P. Dremov em Stakhanov, I. Bezler em Gorlovka, I. Strelkov em Slavyansk, A. Mozgovoy em Alchevsk, etc.) eram essencialmente incontroláveis pela liderança republicana em Donetsk e Lugansk. Os líderes políticos da RPD e da RPL (à época, D. Pushilin e V. Bolotov respectivamente) não desfrutavam de prestígio em círculos militares.

No primeiro momento, sob o estandarte da Primavera Russa, a formação e desenvolvimento das repúblicas do Donbass se desdobraram segundo o princípio do governo popular com grande importância atribuída ao autogoverno locao ou literalmente "autoridade no chão". Em alguns casos, autoridades locais operavam segundo as leis da "democracia militar" (por exemplo, na "República Cossaca" de P. Dremov). Este processo tinha um lado negativo que se tornou aparente após a eclosão da guerra. A "democracia militar" não raro se transformava em anarquia e uma forma de controle por grupos armados sobre certos territórios e sua população local. Ao mesmo tempo, a introdução de ordem e segurança básicas, bem como o melhoramento da eficiência das forças armadas demandavam que inúmeras brigadas milicianas fossem transformadas em um corpo militar regular subordinado a um comando centralizado.

O processo de centralização dos grupos armados, assim, afetava tanto as esferas militar como a civil. Segundo representantes de média hierarquia do comando militar da RPD questionados por nós, bem como especialistas civis em ambas as repúblias, este processo pode ser considerado de modo geral como tendo tido sucesso. Mesmo as Forças Armadas Ucranianas, os "batalhões voluntários" e especialistas militares ocidentais notaram a melhoria no gerenciamento das forças armadas da RPD e da RPL. Como qualquer processo social complexo, transformar a milícia em um exército regular não ocorre sem certos custos. Por exemplo, especialistas notaram um declínio na motivação ideológica dos soldados das repúblicas e um percentual maior de oportunistas que serviam apenas por salários e privilégios.

As forças armadas da RPD e da RPL são, atualmente, a instituição social mais importante cujo papel político não corresponde a seu status real. Se o desejo por um representante militar pode ser visto no líder da RPD, Aleksandr Zakharchenko, veterano da brigada Oplot, então na RPL, desde a morte do Ataman Pavel Dremov, o exército tem estado essencialmente privado de representação e influência política nos órgãos supremos de poder.

As repúblias há muito desenvolveram seus próprios órgãos de poder e sistemas político-partidários portando especificidades pronunciadas. Em primeiro lugar, todos os partidos ucranianos foram banidos de operar nos territórios das repúblicas, uma decisão motivada pela concordância dos partidos ucranianos de trabalhar na Verkhovna Rada após o golpe de fevereiro de 2014, uma ação que legitimava o novo governo de Kiev e a "Operação Antiterrorismo".

Na RPD, duas forças políticas reais se formaram que estão representadas no parlamento. Primeiro, há o movimento social República de Donetsk, fundado por Andrei Purgin e então transformado em partido sob o mesmo nome, atualmente chefiado pelo líder da RPD, Aleksandr Zakharchenko e pelo Presidente do Conselho Popular Denis Pushilin. O segundo partido, ou melhor conglomerado de partidos e movimentos, é o Donbass Livre. As diferenças programáticas entre os dois partidos representados no Conelho Popular da RPD são mínimas.

Dois partidos também se formaram na RPL, nomadamente, o movimento Paz para Lugansk, chefiado pelo presidente da República, Igor Plotnitsky, e o União Econômica de Lugansk. Estas forças políticas são ativas foram dos parlamentos também. Ideólogos do Paz para Lugansk orgulhosamente proclamaram um crescimento nas fileiras do movimento, que agora já conta com 87.500 membros. [4]

Tal sistema bipartidário permite que seus líderes controlem de maneira razoavelmente estável o processo político nas repúblicas. Enquanto ideias comunistas tem alguma popularidade na população do Donbass e partidos comunistas na RPD e RPL pudessem contar com apoio eleitoral, nas condições de uma situação semibeligerante, a liderança atual das repúblicas não está interessada em criar um ambiente político-partidário muito competitivo. Porém, os "partidos do poder" eles mesmos cada vez mais se assemelham ao banido Partido das Regiões, dos quais alguns deles são clones.

Alto percentual de representação dos novos "partidos do poder" na equipe administrativa de ambas as repúblicas inclui ex-funcionários do Partido das Regiões. Ao longo de nossas entrevistas com especialistas, quase todos os entrevistados notaram uma tendência perturbadora: o retorno de facto do Partido das Regiões e da burocracia ucraniana às estruturas políticas e administrativas da RPD e da RPL junto a uma separação cada vez maior entre a classe burocrática e a população. Os ex-regionalistas ocupam cada vez mais espaço não só nos órgãos administrativos, mas também nas estruturas partidárias da RPD e da RPL. Este é o mesmo processo descrito por Trótski como "burocratização de um Estado de trabalhadores isolado e a transformação da burocracia em uma casta privilegiada".

Consciência desse processo pode ser vislumbrado até mesmo a partir das publicações oficiais da RPD e da RPL. Em 14 de janeiro de 2017, o presidente da RPD Aleksandr Zakharchenko "deu um duro ultimato aos líderes inescrupulosos", prometendo supervisionar pessoalmente o trabalho das recepções públicas do movimento República de Donetsk. Sua declaração apresentou uma avaliação certeira das atividades do "partido do poder" que se transformou de "intermediário entre o governo e o povo" em um obstáculo burocrático. Zakharchenko também ressaltou um aumento no número de reclamações da população em relação ao trabalho do movimento República de Donetsk. [5]

Após o golpe em Kiev, funcionários alfandegários ucranianos (um dos setores mais corruptos do funcionalismo público ucraniano) apoiaram o novo governo de Kiev e subsequentemente fugiram para a Ucrânia após o início dos conflitos no Donbass. Por volta do verão de 2015, porém, eles retornaram em massa a seus postos, e as alfândegas na RPD e RPL passaram a estar manejadas majoritariamente por funcionários públicos leais ao governo de Kiev. O mesmo se aplica à liderança dos departamentos alfandegários na RPL. O alto percentual de funcionários públicos ucranianos que retornaram ao Donbass após os Acordos de Minsk se acomodaram nas estruturas do Ministério de Assuntos Interiores e do Ministério de Segurança Estatal. Casos absurdos são conhecidos nos quais graduandos da academia da SBU ucraniana nascidos em Donetsk e Lugansk retornaram para seus locais de origem no Donbass para trabalhar para os ministérios de segurança da RPD e da RPL. Funcionários ucranianos similarmente penetraram agências civis na RPD e na RPL, a única exceção nisso sendo as Milícias Populares na RPD e na RPL que cumprem as funções de ministérios de defesa.

Em algumas das agências governamentais da RPD e da RPL, funcionários ucranianos que retornaram já são predominantes, especiamente nos ministérios de impostos e taxas, que são particularmente "férteis" para a corrupção. Funções fiscais estão sendo, assim, realizadas por especialistas cuja lealdade às repúblicas do Donbass é, no mínimo, questionável. É apenas natural que na opinião de representantes entrevistados de círculos empresariais da RPD, toda informação sobre atividades empresariais no Donbass sejam de conhecimento instantâneo em Kiev.

Simultaneamente com o retorno do funcionalato ucraniano às estruturas políticas e administrativas da RPD e da RPL, veteranos do movimento para o estabelecimento das Repúblicas Populares tem sido cada vez mais politicamente marginalizados. Dos primeiros membros do Conselho Popular e do Supremo Conselho da RPD, apenas um punhado retém postos significativos nas esferas política e administrativa. O Partido das Regiões, que perdeu a batalha para os apoiadores do estabelecimento da RPD e da RPL na primavera de 2014 está agora consistentemente recuperando suas posições perdidas em uma "contrarrevolução burocrática".

Instituições influentes, porém informais, também estão presentes junto às elites políticas e administrativas formais da RPD e da RPL. Um papel especialmente significativo e até decisivo na região do Donbass ainda é desempenhado por oligarcas. Este papel ainda não desapareceu da vida econômica da região. É bem conhecido que o Partido das Regiões era a instituição política da oligarquia industrial-financeira de Donetsk na Ucrânia pós-soviética. Na região de Donetsk e na RPD, o "rei do Donbass", o oligarca Rinat Akhmetov, preserva relevância particular. Segundo alguns relatos, "exércitos privados" de Akhmetov até deram apoio a ativistas da Primavera Russa em Donetsk. No que concerne a situação na região de Lugansk, pode-se falar de um papel reservado ao oligarca Aleksandr Efremov (líder da facção do Partido das Regiões na Verkhovna Rada ucraniana de 2010 a 2014, e o líder da organização regional do partido em Lugansk).

A desoligarquização está acontecendo neste momento nas repúblicas do Donbass, mas essa campanha, até agora, tem adquirido apenas contornos vagos. Ela afeta não só a esfera econômica, mas as relações políticas e sociais, às quais agora nos voltaremos na próxima parte de nosso artigo.

Processos Econômicos e Sociais nas Repúblicas Populares do Donbass

A tendência para a oligarquização, ou para a formação de grandes posses de oligarcas através de privatizações injustas e de sua influência ativa ou decisiva nas políticas públicas, foi mais radical na Ucrânia pós-soviética do que em qualquer outra antiga república da URSS no continente europeu. Os oligarcas receberam amplas propriedades não por mérito, mas graças a sua proximidade com o governo ou mesmo participação no governo. Por exemplo, em certa época o homem mais rico na Ucrânia era Viktor Punchuk, genro do segundo presidente ucraniano, Leonid Kuchma. De modo geral, dois grandes clãs territoriais de oligarcas se desenvolveram na Ucrânia: os clãs de Dnepropetrovsk e de Donetsk. A região do Donbass (as regiões de Donetsk e Lugansk da antiga Ucrânia) é a região com a maior concentração de propriedade oligárquica. O oligarca número 1 não só do Donbass mas de toda a Ucrânia durante o Euromaidan era Rinat Akhmetov, que vem de círculos semicriminosos.

A preservação da propriedade oligárquica estava na contramão dos slogans sociais tanto da Primavera Russa como do Euromaidan. A questão da nacionalização da propriedade oligárquica ucraniana emergiu na primeira fase da formação das autoridades estatais independentes do Donbass. Mas nessa fase inicial do estabelecimento das repúblicas populares surgiu um sistema absurdo no qual a propriedade dos oligarcas ucranianos na RPD e RPL, ou seja, empresas que pagavam impostos que iam parar no orçamento militar ucraniano, foi preservada. Segundo o Ministério das Finanças da Ucrânia, entre o início de maio de 2014 e o fim de maio de 2016, empresas registradas nas partes de Donetsk e Lugansk não controladas por Kiev pagaram impostos, taxas e contribuições sociais no total de 36.8 milhões de hryvnias, ou aproximadamente 1.5 bilhão de dólares.

Inicialmente, os pagamentos de impostos para Kiev eram uma medida necessária, como pode ser visto no excerto de uma entrevista com um dos líderes da cidade de Konstantinovka (à época, território da RPD, mas atualmente controlada pela Ucrânia), Vladimir Bugai. A entrevista foi conduzida em meados de junho de 2014:

Eduard Popov: "Como o sistema tributário da cidade de Konstantinovka e da RPD como um todo funciona?"

Vladimir Bugai: "A República de Donetsk coleta impostos que eram previamente pagos para o orçamento local, enquanto os imposts de renda e outras taxas ainda são pagos a Kiev, de modo que eles ainda pagam nossas pensões e benefícios, porque não há sistema previdenciário pronto aqui ainda".

Popov: "Isso quer dizer que as pessoas recebem seus benefícios da Ucrânia?"

Bugai: "Até o mês passado todo mundo recebia tudo. Para maio de 2014 todo mundo recebeu 100%... Eu conversei com a liderança da República de Donetsk e eles disseram que precisamos avançar [rumo a um sistema previdenciário independente] gradualmente. Se cortarmos tudo, a economia entrará em colapso. A maioria dos impostos, ao que parece, tomamos para nós mesmos, mas parte dos impostos entregamos a Kiev para que eles paguem nossos benefícios sociais. Funciona assim: Damos a eles dois rublos e eles nos devolvem um. Assim isso agrada a eles por enquanto, e eles obviamente nos pagam, mas se eles subitamente deixarem de nos pagar, então tentaremos impedir que os impostos cheguem neles".

O "prefeito do povo" de Konstantinovka, Vladimir Bugai, acrescentou: "Temos muitas empresas trabalhando em Donetsk que estão registradas em outras regiões e pagam todos os seus impostos a Kiev, mas agora surgiu a questão sobre re-registrar essas empresas nas repúblicas do Donbass já que elas estão aqui". O proprietário da maioria dessas empresas é Rinat Akhmetov e, novamente nas palavras de Bugai, "ele não tem interesse em pagar impostos à República de Donetsk. Propusemos isso a ele e ele recusou. Agora declaramos que se suas empresas não forem re-registradas nas repúblicas até o fim do mês, então elas serão nacionalizadas. Pushilin anunciou isso em um de seus últimos discursos". [6]

Na prática, porém, a liderança da república foi cada vez mais compelida a respeitar os interesses empresariais dos oligarcas ucranianos. Segundo os especialistas que entrevistamos, criaturas dos grupos oligárquicos estão presentes nas lideranças das duas repúblicas. A nacionalização prometida em maio de 2014 pelos então líderes da RPD não aconteceu. Similarmente às promessas anti-oligárquicas do Euromaidan, os slogans da Primavera Russa sobre combater os oligarcas e construir uma sociedade socialmente justa não se concretizaram. Mas a razão para isso é mais profunda e complexa do que a mera presença de criaturas influentes dos oligarcas ucranianos no alto escalão das lideranças da RPD e da RPL, ainda que este aspecto não deva ser descontado. Ao longo de pesquisas com especialistas na RPD e na RPL conduzidas com representantes de círculos políticos e empresariais, era frequentemente dito que um desmonte radical do modelo econômico existente levaria à paralisação das grandes empresas do Donbass e, assim, privaria pelo menos dezenas de milhares de pessoas de trabalho, o que significaria que, junto com suas famílias, centenas de milhares perderiam os meios de sustento. Porém, todos os entrevistados notaram que a preservação da propriedade oligárquica ucraniana e a continuação dos pagamentos para o orçamento bélico ucraniano eram um beco sem saída.

Mas o problema não é apenas que as repúblicas do Donbass estão financiando a guerra contra elas mesmas através das deduções de impostos para o orçamento ucraniano de empresas pertencentes a oligarcas ucranianos. Ademais, o capitalismo oligárquico desenvolvido na Ucrânia é economicamente inviável, não é competitivo, e contradiz princípios de justiça social. Amplos segmentos da população da RPD e da RPL sonham com a construção de um Estado mais justo que poderia ser considerado uma nova forma de "socialismo russo" livre dos erros doutrinários da URSS e da Ucrânia neonazi/oligárquica.

A situação começou a mudar em fevereiro de 2017. O presidente e o gabinete de ministros da Ucrânia apoiaram o bloqueio do Donbass organizado no fim de 2016 por grupos neonazistas ucranianos na chamada zona da "operação antiterrorismo". O presidente ucraniano Petro Poroshenko ordenou a suspensão temporária de transporte de todos os bens, com exceção dos de natureza humanitária, através da linha de contato entre o território controlado pela Ucrânia e os distritos "ocupados pelos pró-russos" do Donbass. Essa foi uma violação direta dos Acordos de Minsk, especificamente do Ponto 8 que garante a restauração plena dos laços socioeconômicos entre as repúblicas do Donbass e a Ucrânia. [7] Essa decisão do presidente Poroshenko em 15 de março de 2017 foi formalizada em um decreto do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia no mesmo dia.

O bloqueio do Donbass, primeiro de facto e depois de jure, forneceu às autoridades das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk fundamentação para introduzir gerenciamento externo nas empresas ucranianas localizadas em território das repúblicas a partir de 1 de março. Em 27 de fevereiro, durante uma reunião extraordinária do Conselho Popular da RPD, os deputados adotaram um projeto de lei emendando o sistema tributário da república. [8] Uma decisão correspondente foi adotada pelo parlamento da RPL. A essência dessas emendas se resumia a um ultimato: Empresas de cidadãos ucranianos localizadas na RPD e na RPL tinham que ser registradas novamente para pagar impostos para os orçamentos das repúblicas até 1 de março de 2017. Os decretos subsequentes introduzindo gerenciamento externo nas empresas ucranianas na RPD e na RPL estão sendo implementados, e as empresas pertencentes aos oligarcas ucranianos estão continuando a funcionar apesar da resistência de seus proprietários. Um trabalho difícil e nem sempre de sucesso para reorientar os mercados está ocorrendo neste momento.

Aqui intencionalmente colocamos um ponto e descontinuaremos temporariamente nossa análise da situação socioeconômica das repúblicas, sobre a quai esperamos desenvolver um artigo separado. Como os sistemas de seguridade social na RPD e RPL estão estruturados é uma questão totalmente distinta que discutiremos em nosso próximo artigo.

Conclusão

Em termos econômicos, sociais e políticos, as repúblicas do Donbass representam um fragmento da Ucrânia pós-soviética portando todas as características de seu sistema econômica e de sua casta gerencial, tal como uma base tecnológica e produção obsoletas, currupção, uma burocracia incompetente, uma classe política incompetente, desigualdade entre diferentes grupos sociais, etc. A preservação da propriedade oligárquica ucraniana no território da RPD e da RPL, de fato, nos impede de falar em uma soberania real das repúblicas. Até pouco tempo atrás, as empresas oligárquicas ucranianas pagavam ao orçamento ucraniano e, com osegue, financiavam a guerra contra o povo do Donbass. Desde fevereiro de 2017, processos contraditórios de desoligarquização e construção de um modelo econômico mais justo desde as perspectivas nacional e social estão ocorrendo. No momento atual, ainda não há material suficiente para tirar conclusões.

Rumo a que sistema socioeconômico as repúblicas populares do Donbass grvitarão? Será criada ali uma variante "nacional-capitalista" (enfatizando as empresas previamente pertencentes aos oligarcas ucranianos) ou um novo tipo de "socialismo russo"? Ou será preservado o capitalismo oligárquico, sob alguma forma? A nacionalização da propriedade dos oligarcas, por si só, não garante o desenvolvimento socioeconômico, já que um resultado possível poderia ser a substituiçã oda velha classe de grandes proprietários por uma nova casta de oligarcas, que já estava em formação nas repúblicas do Donbass.

A RPD e a RPL, nas mais duras condições, conseguiram defender sua independência do atual governo de Kiev e tiveram sucesso em formar uma Força Armada do Donbass (as milícias populares da RPD e da RPL). Desde a primavera de 2015, os serviços sociais começaram a funcionar, a ameaça de fome foi eliminada, e a população idosa tem recebido suas aposentadorias. Graças ao auxílio russo, as repúblicas do Donbass, no mínimo, não estão em situação socioeconômica pior que as regiões vizinhas da Ucrânia. Ademais, graças ao auxílio russo o Estado tem cumprido seus compromissos mínimos, incluindo na questão da fixação de preços (os bens custam significativamente menos que na Ucrânia), etc.

É óbvio que sem a ajuda continuada da Rússia, as repúblicas do Donbass, mesmo assumindo reformas sociais e econômicas, seriam entidades inviáveis. A única garantia de seu desenvolvimento futuro é a integração econômica, social e humanitária da RPD e da RPL no espaço russo seguindo o modelo osseta e abcázio. O futuro das repúblicas do Donbass pode ser determinado pelos processos políticos e pelas tendências desintegrativas continuamente avançando na Ucrânia. 

[1] http://www.sovet.donbass.com/?lang=ru&sec=04.01&iface=Public&cmd=shownews&args=id:3559

[2] http://www.regnum.ru/news/polit/1792792.html#ixzz4UyyrNkH0

[3] Украина: война с собственным народом. Доклад Московского бюро по правам человека. 19/05/2014  // URL: http://www.perspektivy.info/rus/gos/ukraina_vojna_s_sobstvennym_narodom_2014-05-19.htm

[4] http://lug-info.com/news/one/obschestvennoe-dvizhenie-mir-luganschine-naschityvaet-875-tys-uchastnikov-4658

[5] https://av-zakharchenko.su/inner-article/Stati/Aleksandr-Zaharchenko-budet-lichno-kontrolirovat-rabotu/

[6] http://old.newstracker.ru/news/interview/donbass-ne-dozhdalsia-pomoshchi-rossii-deputat-dnr/

[7] https://ria.ru/world/20150212/1047311428.html

[8] http://dnr-online.ru/parlamentom-respubliki-zakonodatelnogo-uregulirovan-poryadok-vvedeniya-vneshnego-upravleniya-na-predpriyatiyax-ukrainskoj-yurisdikcii/


Luca Siniscalco - Pensamentos para um Novo Humanismo: A Metanoia Antropológica (Comunitarista) de Mircea Eliade

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por Luca Siniscalco



Minha intervenção se desenvolve a partir de dois pressupostos teóricos essenciais, que vale a pena assinalar de imediato para evitar equívocos ou sobreposição de planos de análise heterogêneos.

Em primeiro lugar, é fundamentla, enquanto elemento crítico constitutivo, assumir que não pode haver uma filosofia política sem uma prévia e coerente antropologia (seja esta descritiva ou normativa). Sem dispôr de uma ideia precisa do homem, entendido como sujeito operante em uma rede de relações interpessoais com outros atores - assunção inevitável para escapar de qualquer perspectiva niilisticamente solipsista - não pode haver uma especulação razoável sobre modelos teóricos através dos quais examinar e organizar dita ação. Estudar o homem, e fazê-lo, empregando o vocabulário husserliano, considerando não só a quantidade, mas acima de tudo sua qualidade, e portanto a via régia com o fim de elaborar uma perspectiva comunitária advertida, que não se limita a brincadeira ingênua e sentimental.

Em segundo lugar, é importante em minha opinião estender a reflexão comunitarista a autores normalmente descuidados pelos principais teóricos dessa corrente filosófica; não por cometer estéreis parricídios ou realizar forçações ideológicas, aplicando facciosamente esquemas teóricos a autores estranhos a esta corrente com o simples objetivo de exibi-los como estampas de uma nova religião secular, mas para aceitar o desafio proposto por Aleksandr Dugin quando, em seu ensaio fundador A Quarta Teoria Política [1], convida o leitor a considerar o próprio modelo não sic et simpliciter a hipóstase de uma doutrina completa, mas uma "obra aberta" com o fim de estimular, especialmente nas pars construens, as melhores mentes da cultura antimodernista, o esforço de identificar uma postura capaz de alcançar aquela superação da linha do niilismo com a qual se enfrentaram Jünger e Heidegger na famosa Sobre a Linha [2].

É precisamente sobre a base desses dois pressupostos que tenho ai ntenção de apresentar um exame sintético sobre o "novo humanismo" teorizado pelo historiador das religiões Mircea Eliade, para mostrar como tal perspectiva pode ganhar legitimamente um lugar no debate comunitarista e sugerir núcleos conceituais particularmente eficazes na resolução de algumas problemáticas antigas, em primeiro lugar, a relação entre os pólos do universal e do particular, vínculo sempre filosoficamente polêmico - no sentido etimológico, e especificamente heraclítico, do grego polemos, "guerra".

O "novo humanismo" não é certamente um dos temas principais da obra de Eliade, que centrou sua investigação no estudo principal das religiões segundo a metodologia discutida em diferentes lugares de sua própria obra - em primeiro lugar, no Tratado de História das Religiões [3]. Não obstante, se trata de uma das expressões mais fecundas para dar forma àquela inspiração teórica que anima toda a investigação eliadiana e que às vezes emerge em algumas passagens, em ocasiões icônicas e figurativas, outras vezes dialéticas, através da qual se manifesta em toda sua dinâmica energeia aquele eros filosófico e, assim, espiritual, que anima a investigação histórico-religiosa do autor e que contribui para construir a hermenêutica [4].

A imagem do "novo humanismo"é amplamente debatida por Eliade em seu ensaio Pensamentos para um Novo Humanismo [5]. O ensaio de Eliade oferece uma exegese fenomenológica do mundo globalizado moderno, identificando alguns dos processos que estão impulsionando a transformação da cultura mundial. Os fenômenos fundamentais encontrados são dois: em primeiro termo, o confronto do Ocidente com o universo dos povos extraeuropeus, em particular os asiáticos, que começam a reclamar um papel político de peso em escala global, fazendo sua primeira entrada na temporalidade histórica; em segundo lugar, o desenvolvimento da "psicologia profunda", que abriu à razão ocidental os horizontes infinitos do inconsciente, com seus abismos perturbadores e suas revelações iniciáticas. Ambos os fenômenos puseram o homem ocidental no confronto com a alteridade radical. Eliade afirma que "o encontro com o 'totalmente diferente' [...] traz consigo a experiência de uma estrutura religiosa" [6]: trata-se da mesma estrutura, ainda que em uma escala ontológica diferente, que se manifesta no encontro com a alteridade do sagrado. Dos encontros, assim como dos enfrentamentos, de tipo espiritual surge sempre uma nova criação. Nessa situação histórica, assinala Eliade, pode-se, então, hipotetizar o advento de um novo humanismo, baseado na investigação dos orientalistas, etnólogos, psicólogos e historiadores das religiões comprometidos com o logro de um conhecimento total e orgânico do homem. Seu interesse pela dimensão mítico-simbólica, deixada de lado pelas ciências "duras" e pelas tendências culturais ocidentais, em sua maioria inspiradas pelo progressismo e pelas distintas formas de cientificismo e positivismo, permite identificar novas ideias para uma fundação cultural renovada. É nessa inspiração cultural, espiritual e ecumênica, que se reúne uma superação ulterior, por parte de Eliade, do campo específico da história das religiões. O estudioso reconhece em efeito que as estruturas e os descobrimentos de sua própria disciplina, se integram em uma Weltanschauung mais ampla, podendo oferecer sugestões não de conceitos ou puramente acadêmicas, mas filosóficas e existenciais. Para aproveitar este potencial é oportuno considerar inclusive o processo pelo qual nos aproximamos aos fatos estudados: "A atitude apropriada para compreender o significado de uma situação humana prototípica não é a 'objetividade' do naturalista, mas a simpatia inteligente do exegeta, do intérprete. [...] Aproximar-se a um símbolo, um ritual ou um comportamento arcaico como expressões de situações existenciais, significa já reconhecer neles uma dignidade humana e um significado filosófico" [7]. O conhecimento do outro, seja uma alteridade enraizada nos espaços distantes do mundo ou nos da psique, acrescenta Eliade, pode ajudar o homem ocidental a se conhecer melhor e, inclusive, a desenvolver com vigor renovado a própria busca teórica milenar. Eliade tem bem claro este último ponto, que a filosofia contemporânea não nos deixa de confirmar, demonstrando a previsão do erudito romano. Ele o explica claramente indicando:

"A vontade de compreender adequadamente os 'outros' dará lugar a um enriquecimento da consciência ocidental. O encontro poderia, inclusive, conduzir a uma renovação da problemática filosófica, da mesma maneira que o descobrimento das artes exóticas e primitivas abriu há meio século, novas perspectivas na arte europeia. Nos parece, por exemplo, que um estudo profundo da natureza e da função dos símbolos poderia estimular o pensamento filosófico ocidental e ampliar seu horizonte. É surpreendente que os historiadores das religiões tenham sido levados a ressaltar as audaciosas concepções dos 'primitivos' e dos orientais sobre a estrutura da existência humana, sobre a queda na temporalidade, sobre a necessidade de conhecer a 'morte' antes de poder acessar o mundo do espírito, reconhecendo ideias muito próximas às que hoje estão no centro mesmo da busca filosófica ocidental". [8]

A necessidade de encontro com a alteridade pressiona. Ela insta tanto porque o homem ocidental necessita um repensar e uma nova compreensão de uma parte importante de sua própria herança - aqui a referência está bastante clara: trata-se da dimensão mítico-simbólica suprimida da modernidade - enquanto que "mais cedo ou mais tarde o diálogo com os 'outros', quer dizer, com os representantes das culturas tradicionais asiáticas e primitivas, deverá ser mantido não já na linguagem empírica e utilitária de hoje [...], mas em uma linguagem cultural capaz de expressar as realidades humanas e os valores espirituais" [9]. Trata-se de uma linguagem metafórica e não coisificadora, de tipo mítico-simbólico. O mito, como representação plástica do sagrado, volta a brilhar dentro da prosa eliadiana em sua principal função mediadora: não só entre o imanente e o transcendente, sobre um plano ontológico, mas também entre diferentes culturais, no plano antropológico, que é um singular, mas fascinante reflexo do metafísico.

Sem entrar em mais considerações metodológicas utilizadas por Eliade neste artigo - mas também em um ensaio relacionado, Um Novo Humanismo [10] - destinado a conjugar o "novo humanismo", a hermenêutica e a história das religiões, é oportuno considerar as repercussões teóricas que tais considerações podem ter em um debate comunitarista. O resumo em cinco pontos fundamentais:

* O confronto com a alteridade não é um fenômeno acessório e contingente, mas um dado elementar da natureza humana, que demanda um "outro de si" para reconhecer a própria autoconsciência. Uma perspectiva comunitarista capta e interpreta este processo de um modo mais eficaz que a orientação individualista própria do modelo liberal capitalista.

* O universalismo pode ser compreendido, mais além de qualquer deriva niveladora, igualitária e sincretista, à luz das constantes da natureza humana, que Eliade reconhece como pertencentes à esfera do sagrado, já que, de acordo com qualquer metafísica tradicional, unicamente o sagrado (das Heilige) é propriamente real (das Seiende), ao menos no sentido ontológico forte. Uma perspectiva esta que, ainda que em diferentes facetas, é geralmente compartilhada pela escola da philosophia perennis e pelo pensamento Tradicional [11].

* O humanismo não é o humanismo. Sim, de fato, o conceito de "humanismo" implica principalmente no debate cultural novecentista um antropocentrismo inspirado em princípios racionalistas e imanentistas, a noção de "humanismo", em sua exemplariedade histórica valorizada pela ótica histórico-religiosa adotada por Eliade, representa um panorama dentro do qual a centralidade humana está intimamente ligada, pelo menos segundo a interpretação proporcionada pelo intelectual romeno, à transcendência e ao misticismo, de acordo com um ideal orgânico e holístico do portato cósmico. O humanismo eliadiano é, então, "anti-humanista", de acordo com as categorias descritas por Martin Heidegger em sua famosa Carta sobre o Humanismo [12], e reivindica uma filiação direta da tradição renascentista do homem integral, ao mesmo tempo cientista, alquimista e filósofo.

* As estruturas mítico-simbólicas das quais se constituem tanto a ontologia do real como as formas cognitivas humanas, são coessenciais à antropologia e não podem ser eliminadas do imaginário arquetípico do homem, inclusive do moderno, ou do pós-moderno. O homem é aristotelicamente "animal político", mas inclusive antes homo religiosus, ou melhor homem "total", cujas manifestações são concretamente irredutíveis à parcialidade das disciplinas que se ocupem disso e sempre excedem os planos das ciências particulares, sendo o excesso um caráter constitutivo de sua natureza. Repensar o homem, mais além do dualismo de molde cartesiano e remontando a suas raízes espirituais - meio fundamental entre a dimensão da imanência e a da transcendência, entre a comunidade dos vivos e dos mortos, poderíamos dizer - é uma tarefa mais urgente do que nunca.

* Uma nova resolução da relação entre o particular e o universal é, assim, emblematicamente oferecida pela antropologia elidiana. O resultado dessa última é paradoxal: o homo religiosus é realmente um homem precisamente na medida em que não é homem, isto é, em sua atitude perante a impessoalidade que converge na união mística com o divino. Uma existência aberta para o mundo - em sentido vertical e axial, não horizontal - permite ao sujeito reconhecer a si mesmo e proporcionar um sentido à própria ação, que se mostra já não desligada em relação à estrutura universal, mas complementar a ela. Microcosmo e macrocosmo aparecem em um novo equilíbrio dinâmico, segundo uma resolução da relação entre o individual e o universal que Eliade persegue em toda sua obra: a nível individual, como uma harmonia entre os ritmos do homem e os ciclos cósmicos; a nível comunitário, como conexões vitais entre os membros de uma comunidade e o centro da mesma nas relações entre o indivíduo e as formas de coletividade ulteriores ou ampliadas, a nível metafísico, mediante a ontologia da coincidentia oppositorum (coincidência dos opostos).

Estas breves notas, que demandariam maior aprofundamento, esclarecimento e, principalmente, uma contextualização dentro da obra elidiana e dentro dos temas que nessas notas sobre o comunitarismo são propedêuticas ou consequentes - cito como exemplo os problemas do Centro, a dialética hierofânica, da origem - tem um valor eminentemente evocador. Mas quiçá seja justamente de poderosas evocações e apelações correspondidas de que mais tem necessidade a mísera idade contemporânea a nós. O caminho mais além da consciência infeliz, rumo a uma metanoia que seja uma transformação real - metafísica, portanto - do coração.

1 Arktos, London 2012.

2 A cargo de F. Volpi, tr. it. di A. La Rocca e F. Volpi, Adelphi, Milano 2010.

3 A cargo de P. Angelini, tr. it. di V. Vacca, Boringhieri, Torino 2008.

4 Aquela hermenêutica que Eliade define como "criativa" e "total" e crê ser metodologia irrefutável de uma ciência histórico-religiosa realmente consciente. Aquela hermenêutica que é fundação de uma teoria fenomenológica e descritiva, e que se baseia paralelamente na consciência da impossibilidade de se aproximar ao dado puro – o fato – religioso, sob pena de recair em um naturalismo neopositivista olvidado de toda a problemática gnoseológica. Neste âmbito de estudos metodológicos a obra de Eliade tem muito a oferecer, até invadir problemáticas especificamente teóricas. Uma contribuição a ser redescoberta que, em minha opinião, apresenta concordâncias significativas com as agudas e bem conhecidas considerações desenvolvidas por Husserl em La filosofia come scienza rigorosa, prefacio de G. Semerari, tr. it. de C. Sinigaglia, Laterza, Roma-Bari, 2005) y La crisi delle scienze europee e la fenomenologia trascendentale, prefacio de G. Semerari, tr. it. de C. Sinigaglia, Laterza, Roma-Bari, 2005). Sobre la fenomenología de Eliade, cfr. S. Alexandrescu, “Per una discussione filosofica dell’opera di Mircea Eliade”, en AA.VV., Confronto con Mircea Eliade. Archetipi mitici e identità storica, a cargo de L. Arcella, P. Pisi, R. Scagno, Jaca Book, Milán 1998, pp. 401-409.

5 En «Antaios», IV, (1963), pp. 113-119; tr. it. como prefacio a M. Eliade, Mefistofele e l’androgine, tr. it. di E. Pinto, Mediterranee, Roma 2011, pp. 7-13.

6 M. Eliade, Gedanken zu einem neuen Humanismus (Pensieri per un nuovo umanesimo), cit., p. 115.

7 Ibíd., p. 116.

8 Ibíd., pp. 117-118.

9 Ibíd., pp. 118-119.

10 En M. Eliade, La nostalgia delle origini. Storia e significato nella religione, tr. it. di A. Crespi Bortolini, Morcelliana, Brescia 2000, pp. 13-23. Trata-se de uma versão revisada e ampliada de um artigo originalmente chamado História das Religiões e um Novo Humanismo, que foi publicado pela primeira vez em História das Religiões I (1961).

11 Dentro do qual, em certo sentido, é justamente a Tradição que serve como universal e que se encontra em um continuum com suas manifestações históricas específicas. A literatura sobre a relação entre Eliade e os tradicionalistas é interminável, e com frequência conduz a considerações divergentes. Me limite a remeter aqui a: “Diorama letterario”, Storia, mito e sacro, n. 109 (1987); M. De Martino, Mircea Eliade esoterico. Ioan Petru Culianu e i “non detti”, Settimo Sigillo, Roma 2008, pp. 367-412; L. Sanjakar, Mircea Eliade e la tradizione. Tempo, mito, cicli cosmici, Il Cerchio, Rimini 2014; P. Pisi, “I “tradizionalisti” e la formazione del pensiero di Eliade”, in AA.VV., Confronto con Mircea Eliade. Archetipi mitici e identità storica, cit., pp. 43-133.

12 A cargo de F. Volpi, Adelphi, Milano 1995.



Alessio Mulas - Política, Liberalismo e Violência: Walter Benjamin e Carl Schmitt

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por Alessio Mulas



Tornou-se célebre a carta que, em 1930, Walter Benjamin escreveu a Carl Schmitt. Omitida por Adorno na primeira edição dos Gesammelte Schriften, mas publicada mais tarde por Jacob Taubes, a carta tinha como objetivo informar ao advogado de que seus estudos, em particular Die Diktatur, lhe haviam sido de grande ajuda. [1] Mais além das relações pessoais, é interessante ver como dois pensadores nas antípodas haviam encontrado involuntariamente pontos de convergência de valor notável, e sobre estes pontos se centrará nossa breve análise. Ainda que a teoria política que se conhece com o nome de comunitarismo seja uma via pouco comentada, o certo é que as diversas formas que ela encarna tem como alvo polêmico comum o liberalismo. Para formular uma crítica comunitária é necessário, portanto, examinar a relação do direito e da política com a violência, tema dissimulado pelo liberalismo, mas que afeta à política em sua essência. É o terreno sobre o qual les extrême se touchent.

A Crítica da Violência

Entre os escritos filosóficos de Walter Benjamin, destaca-se por sua lucidez o ensaio Para uma Crítica da Violência. Gewalt, violência, em alemão também significa força, poder, autoridade; a palavra, como em seguida deixa claro o autor, indica uma causa agente moralmente conotável. Entrelaça-se com o direito e a justiça no ciclo dos fins e dos meios. Para o direito natural não se propõe o problema da utilização de meios violentos para fins justos; a delegação de direitos feia pelos indivíduos para o Estado pressupõe "que o indivíduo enquanto tal, e antes da conclusão desse contrato racional, exerce também de jure todos os poderes que tem de facto", [2] já que spinozianamente "o direito de cada um se estende até onde se estende seu determinado poder" [3]. Em contraste com a teoria jusnaturalista da violência como "fisiológica", natural, o direito positivo considera o poder historicamente dado, julgando somente o uso de seus meios. O direito natural e o direito positivo se distinguem respectivamente como critério dos fins e critérios dos meios, na medida em que se baseiam, um sobre o princípio da justiça e o outro sobre o princípio da legalidade. O único ponto de união das duas escolas é, em palavras de Benjamin, o "dogma fundamental comum: os fins justos podem ser alcançados com meios legítimos, os meios legítimos podem ser empregados para fins justos". [4] Em outras palavras, o jusnaturalismo adapta os meios aos fins justos, enquanto que a teoria positiva do direito garante o bom fim com a legitimidade dos meios, razão pela qual "se o direito positivo é cego para a incondicionalidade dos fins, o direito natural é cego para os condicionamentos dos meios" [5]; as duas perspectivas revelam uma insuficiência crítica.

No caso da violência, a distinção entre legitimidade e ilegitimidade não é evidente por si mesma. O direito natural dissolve o problema da legitimidade dos meios (portanto, também o da violência) em uma casuística infinita, fazendo com que ele dependa da justiça-injustiça dos objetivos, para os quais legítimo é o meio utilizado para fins justos. Ao contrário, o direito positivo estabelece em primeiro lugar uma distinção de princípio inerente à violência reconhecida, sancionada como poder, prescindindo dos casos individuais nos quais ela se aplica:

"Estas relações jurídicas se caracterizam - no que concerne à pessoa singular como sujeito jurídico - pela tendência a não admitir fins naturais das pessoas singulares em todos os casos nos quais estes fins poderiam ser, em ocasiões, coerentemente perseguidos com a violência. Vale dizer que este ordenamento jurídico tende, em todos os campos nos quais os fins das pessoas singulares poderiam ser coerentemente perseguidos com a violência, a estabelecer fins jurídicos que podem ser realizados dessa maneira somente a partir do poder jurídico" [6]

Daqui derivam alguns problemas do direito positivo, que esmaga a perseguição de fins naturais (onde por naturais entendemos fins que carecem de um "reconhecimento histórico universal") a favor dos fins jurídicos (que, por sua vez, possuem tal reconhecimento por parte do Estado). O exemplo proposto por Benjamin se refere às leis que limitam o castigo educativo: o ordenamento limita um bom fim, a educação rigorosa e severa dos jovens, tem-se como meio castigos e penitências considerados como mais ou menos violentos. A discrepância entre os fins naturais e os fins jurídicos se resolve a favor destes últimos.

A tese de Benjamin é que o direito positivo limita a violência de que a pessoa pode fazer uso não porque o ordenamento tenha a intenção de garantir a proteção dos fins jurídicos, mas sim para salvaguardar o próprio direito. De fato, o direito monopoliza a violência, a retira das possibilidades dos indivíduos, enquanto teme que ela "quando não está em posse do direito em seu momento existente, representa por isso uma ameaça, não por causa dos fins que persegue, mas por sua mera existência fora da lei". [7] Recht (direito) é Vorrecht (privilégio). Para o direito positivo interessa que a violência seja exercida na legalidade, que nã ose situe fora dos canais do direito, e isso também alberga a contradição exemplificada por Schmitt através de duas respostas de Hans Kelsen, o pai do juspositivismo novecentista:

"Àqueles que lhe perguntaram: 'Quando a democracia é ameaçada pelos mesmos meios da democracia, não se deve defendê-la com a violência?' Kelsen respondeu: 'O problema é vosso. Não se trata de uma questão jurídica, quer dizer, de uma questão que um jurista possa resolver'. Em uma discussão que teve lugar em 1926, o professor vienense Hold von Ferneck apresentou essa pergunta a seu colega: 'Caso a um legislador enlouquecido venha à mente dar a ordem de que a cada domingo sejam fuzilados dez homens por um motivo qualquer, por exemplo porque tem cabelo ruivo, também isso deveria ser considerado direito e lei?'. E Kelsen respondeu com calma: 'Sou um jurista, não um moralista'." [8]

Diálogo contra a Violência: Uma Zona Franca?

A análise de Benjamin não tem o objetivo moralista da crítica das realidades coercitivas, como a polícia, mas aponta para a afirmação, em absoluto banal, de que a violência enquanto meio é poder que põe ou conserva o direito, e renuncia a qualquer validade se rechaça uma dessas duas funções. A questão é, então, se são dadas regulações não violentas aos conflitos. A resposta de Benjamin é afirmativa, e exemplo disso são as relações entre particulares, através dos meios segundo a "cultura do sentimento" (Die Kultur des Herzens). Mas aqui está a anomalia: por puras que possam ser tais relações, elas originam a violência da política. Não pertencem, de fato, às soluções imediatas, mas sempre a soluções mediadas. "Eles [os meios de solução] não se referem nunca, portanto, diretamente à resolução de conflitos entre homem e homem, mas somente através do intermediário das coisas" [9] A conversa (Unterredung), o melhor exemplo civil de acordo, e a linguagem, zona estranha aos espaços do conflito, são em origem exemplos de soluções não violências: não obstante, declarando o engano e a mentira objeto de castigo (quer dizer, vetando-os), o direito "limita o uso de meios inteiramente não violentos, já que, como reação, poderiam engendrar violência" [10]. Como assinalou Emanuele Castrucci, Benjamin partilha com Schmitt a consciência crítica da deformação liberal da linguagem, perspectiva segundo a qual se pode mediar tudo na mesma medida em que se pode falar de tudo.

"A linguagem neutralizaria todo o espaço da violência, da transgressão, das possibilidades do absolutamente outro/absolutamente hostil, usando funcionalmente as próprias categorias práticas: o intercâmbio, a conversação informativa, a discussão não violenta [...] A descritibilidade da essência do totalmente outro reduziria - através da linguagem - a natureza catastrófica da violência ao jogo-conversa, fair play ilimitado e onipotente". [11]

Na realidade, escreve Benjamin, cada contrato e cada compromisso, mesmo quando pacificamente acordados, possuem caráter coercitivo, porque está implícita uma violência manifestável somente em última instância.

A Deformação Liberal da Linguagem

Sobre esta última instância Carl Schmitt, o "zelote da decisão" (segundo a definição de Taubes), fundou o "político". Este, assinala Schmitt, tem "critérios próprios que atuam [...] em relação com os diversos âmbitos concretos, relativamente independentes, dop ensamento e da ação humana"; estes âmbitos se baseiam em uma distinção de fundo - bem e mal (Gut und Böse) para o plano moral, belo e feio (Schön und Hässlich) para o estético, útil e danoso (Nützlich und Schädlich) para a economia. Por analogia, também o político se rege sobre uma distinção específica, à qual seja possível referir "o atuar político", ou melhor "as ações e os movimentos políticos". [12] Como se sabe, Schmitt propõe como definição conceitual (não exaustiva) e como critério (não com valor conteudístico) o par amigo-inimigo (Freund-Feind). Entre as diversas antíteses não existe uma relação de fundação, nem de identidade. A especificidade da antítese amigo-inimigo é a indicação "do grau extremo de intensidade de uma união ou de uma separação, de uma associação ou de uma dissociação" [13], que subsiste independentemente das distinções morais, estéticas e econômicas. O inimigo não é necessariamente mau, feio ou prejudicial, e nada exclui que com ele se possa fazer bons negócios; mas é seu ser "existencialmente, de forma particularmente intensa, algo outro e estrangeiro", sua alteridade (Anderssein) o que torna real a possibilidade de um conflito no caso extremo (Ernstfall). Tal autonomia do político não significa tanto que a política constitua uma área delimitada, distinta, já que o político indica a intensidade de uma contraposição dada por existente, como sua originalidade, que para Schmitt é acima de tudo "inderivabilidade", presença primigênia e originária; o conceito de "política", de fato, "implica o fim da política 'bem fundada'." [14]

Só na política se pode decidir se tal Anderssein, a alteridade existencial, é a negação do próprio modo de existir, e eventualmente combater o estrangeiro (der Fremde). Na primeira versão do Begriff fala-se da afirmação e negação "ontológica da própria forma de existência". [15] É patente, assinala Schmitt, que "na realidade psicológica" se tende a ver o inimigo como economicamente prejudicial, esteticamente feio e moralmente mau, mas isso não afeta a autonomia do amigo-inimigo em relação às outras contraposições. Ao contrário, para compreender os conceitos de amigo e inimigo não precisamos considerá-los ideais típicos, metáforas, símbolos, nem comprometê-los com conceitos econômicos, morais e estéticos.

Aqui chegamos àquilo que, seguindo Castrucci, chamamos consciência crítica (benjaminiana-schmittiana) da deformação liberal da linguagem. O risco evidenciado por Schmitt é o de cair na armadilha do liberalismo, o qual reduz o inimigo a competir no plano econômico e a adversário de discussões sobre temas espirituais. Está clara a referência ao reacionário Juan Donoso Cortés, que definia à burguesia liberal como uma classe que se subtrai à decisão, uma classe discutidora que "transfere todas as atividades políticas ao discurso, à imprensa e ao Parlamento". [16] O liberalismo se subtrai ao "político", confiando em reconduzir a uma solução privada (através da conversação) o que nos afeta publicamente - à pergunta de se ele era um liberal, Schmitt respondeu, "perguntem a minha esposa", o que indica que liberal é um termo que identifica, precisamente, virtudes privadas. Como bem resume Jean-François Kervégan, "O liberalismo é acima de tudo, segundo as categorias schmittianas, um empreendimento intelectual de crítica e até mesmo negação da política". [17] Não é o diálogo eterno, mas a decisão que importa. À pergunta "Cristo ou Barrabás?" o liberalismo responderia, como ironizava Donoso Cortés, "com o estabelecimento de uma comissão de investigação" [18]. Mas o inimigo não é o competidor vago ou o adversário genérico. A dificuldade que Schmitt encontra na explicação do conceito é dada pela falta, no léxico, de uma distinção clara entre inimigo público e privado, que empurra o jurista a fazer uso dos termos inimicus e ἐχϑρός para inimigo privado, e hostis e πολέμιος para inimigo público, quer dizer de "um conjunto de homens que combatem pelo menos virtualmente, quer dizer, com base em uma possibilidade real". [19]

A Possibilidade Real da Morte Física

Em qualquer caso, os conceitos de amigo e inimigo adquire significado quando se referem à guerra, a realização extrema da hostilidade; não a guerra genérica, nem a luta simbólica (como é a vida humana, diz Schmitt), mas a "possibilidade real da morte física" (die reale Möglichkeit der physischen Tötung). A essência do político - dê-se atenção - não é a guerra em si, nem toda negociação política se resolve em um confronto militar. O que o pensador alemão quer evidenciar é que o "político" não existe sem a já mencionada possibilidade da morte. Se a violent death, primum malum, em Hobbes caracteriza o estado de natureza (em fugir da morte violenta se chega à cessão de direitos ao soberano), em Schmitt a verdadeira Möglichkeit der physischen Tötung é a condição necessária para que o conceito de inimigo se mantenha em seu sentido primeiro: a possibilidade da guerra é o pressuposto da política. Recuperando a máxima clausewitziana, usualmente mal interpretada, que pensava a guerra como continuação da política por outros meios, ele especifica que o teórico militar prussiano entendia mais precisamente a guerra como um dos muitos instrumentos da política: em termos schmittianos, ela é a ultima ratio do amigo-inimigo, a antítese sobre cuja base os povos se reagrupam desde sempre. Não é, portanto, a guerra derivada da política, mas a política que expõe a natureza "polemológica" do homem.

Reconstruindo a lógica de Schmitt, temos:

* A possibilidade real da guerra constitui o pressuposto do político;
* A presença do inimigo (hostis/πολέμιος) precede logicamente a possibilidade real da guerra;
* O primeiro requisito do político, portanto, é o inimigo público.

Digam o que quiserem os críticos católicos, segundo os quais o Sermão da Montanha contraria qualquer gênero de realismo político, o paradoxo do convite a ser τέλειος (completo, perfeito, maduro), do próprio mandamento de amar aos seus próprios inimigos ("amai a vossos inimigos e orai por vossos perseguidores", Mt. 5:48), está justo ao pressupor a existência do inimigo, mais além do privado e do público. Para repetir com Cacciari, "o simples fato - de que se tem inimigos - é pré-potente em relação ao amor". [20] O amor é solicitado para o inimigo enquanto tal, mas não suprime a existência do inimigo - ele, que nos persegue, que nega nossa forma de existência, é necessário. Sempre há um inimigo ao qual dar a outra face, para o qual deixar o manto se lhe subtraírem a túnica, ou ao qual dirigir o perdão. 

______________________________________

1 - W. Benjamin, Gesammelte Schriften, B. I/3, Suhrkamp, Frankfurt a.M. 1974, p. 887. 
2 - W. Benjamin, Per la critica della violenza, in Angelus Novus. Saggi e frammenti, Einaudi, Turín, 1962, p. 6.
3 - B. Spinoza, Trattato teologico-politico, XVI, a cargo de A. Dini, p. 517. Sobre a relação entre poder e direito em Spinoza, cfr. W. Bartuschat, «Spinozas über Macht und Recht in der Politik», en Teoria 2012/2, pp. 153-166.
4 - W. Benjamin, Per la critica della violenza, cit., p. 6.
5 - Ibid, p. 7.
6 - Ibid, p. 8.
7 - Ibid, p. 9. 
8 - C. Schmitt, Colloquio con Dieter Groh e Klaus Figge, en Un giurista davanti a se stesso. Saggi e interviste, a cargo de G. Agamben, Neri Pozza, Vicenza 2012, pp. 60-61.
9 - W. Benjamin, Per la critica della violenza, cit., p. 18.
10 - Ibid, p. 19. 11 E. Castrucci, La forma e la decisione. Studi critici, Giuffrè, Milán, 1985, p. 68.
12 - C. Schmitt, Il concetto di ‘politico’, in Le categorie del ‘politico’, Il Mulino, Bolonia, 1972, p. 108. 
13 - Ibid, p. 109. 
14 - C. Galli, Genealogia della politica. Carl Schmitt e la crisi del pensiero politico moderno, Il Mulino, Bolonia 2010,  p. 742. 
15 - C. Schmitt, «Der Begriff des Politischen», in Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, LXVIII, n. 1, settembre 1927, p. 17. 
16 - C. Schmitt, La filosofia dello Stato della controrivoluzione: De Maistre, Bonald, Donoso Cortès, en Donoso Cortès interpretato in una prospettiva paneuropea, Adelphi, Milán 1996, p. 33.
17 - J.-F- Kervégan, Hegel, Carl Schmitt. Le politique entre spéculation et positivité, Presses Universitaires de France, París, 1992, p. 111. 
18 - D. Cortés, Saggio sul cattolicesimo, il liberalismo e il socialismo, Rusconi, Milán, 1972, libro segundo, VIII, pp. 232-233.
19 - C. Schmitt, Il concetto di ‘politico’, cit., p. 111.
20 - M. Cacciari, Dell’Inizio, Adelphi, Milán, 1990, p. 584 

Eduardo Velasco - Estrogenização, leite, álcool e íons positivos: venenos quotidianos

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Todo mundo conhece o problema da contaminação, e qualquer um é interessado, ainda que minimamente, pelo assunto da degradação alimentícia que o mundo "desenvolvido" vem sofrendo há décadas, devido à industrialização dos setores agrícolas, ao processamento de alimentos e à adição de conservantes, corantes, aromas, edulcorantes e um longo etc. Aqui, nos países "civilizados", existem as maiores abominações alimentares. Ao nos afastarmos do único estilo de vida natural (o caçador-coletor) nos colocamos sob um guarda-chuva, a civilização, que está em completa contradição com nossos mecanismos biológicos e que nos faz pagar caro.

A modo de "bibliografia" será proporcionado, ao longo deste artigo, abundância de informação para fornecer a cada um a possibilidade de investigar por conta própria e tirar suas próprias conclusões que, sem dúvida, são muito importantes, por afetar o mais importante que existe neste planeta: nosso código genético.

A ESTROGENIZAÇÃO AMBIENTAL

Em primeiro lugar, ¿o que são estrogênios? Os estrogênios são os hormônios femininos, a substância oposta aos androgênios. Como exemplos de estrogênios, temos compostos como estradiol, estrona, estriol ou progesterona ― embora a última seja um progestágeno, outro tipo de hormônio feminino. Como exemplos de andrógenos ou hormônios masculinos, temos androsterona, androstenediona, androstenediol, DHEA, DHT e a mais conhecida: a testosterona.

No entanto, o que trataremos aqui serão os xenoestrôgenos. Esses compostos diferem dos arquiestrogênios (os estrogênios naturais, mencionados acima) na medida em que são sintéticos e são encontrados em produtos artificiais (como o onipresente plástico) introduzidos no mundo por empresas químicas, agrícolas e industriais nos últimos setenta anos. Os xenoestrôgenos são chamados de Disruptores Endócrinos ou DE's (também chamados de "estafadores químicos"), substâncias artificiais que pululam pelo meio ambiente através da poluição e imitam os efeitos dos estrogênios naturais, atuando como potentes mensageiros hormonais e propiciando mudanças importantes em pessoas e animais (especialmente peixes e anfíbios).

Hoje em dia, graças à contaminação imperante, a estrogenização ambiental é muito alta. Encontramos estrogenização no revestimento interno de latas e garrafas, nos aditivos de alimentos processados, no cheiro de materiais dentro de um carro, aparelhos de ar condicionado, produtos químicos na água, na infinita gama de plásticos que nos cerca... é uma verdadeira praga. Tanto é assim que inclusive nas tribos mais isoladas do mundo foi encontrado efeitos claros de estrogenização, infiltrada através através do ar e da água.

A essa altura do campeonato, ¿de verdade, alguém acha que isso é uma simples moda, ou que é o efeito de uma sutil porém pegajosa contaminação feminizante?

Em Espanha, a população está mais estrogenizada quanto mais para o Sul e especialmente para o Leste, e menos estrogenizada quanto mais para o Oeste e especialmente para o Norte. Isso é devido à maior industrialização, urbanização e densidade da população do Mediterrâneo, o que inevitavelmente implica uma imensa contaminação desse mar e das áreas próximas.

O fato é que, juntos, temos uma série de fatores (tanto químicos como espirituais) que, em nosso mundo moderno, o equilíbrio "yin-yang" (que deveria ser 50-50), está claramente desequilibrado em favor do yin, produzindo todos os tipos de problemas. E, mesmo que muitos continuem desiludidos pela vigência do espírito e da mente e a não-vigência do corpo, o cientificamente correto é que os hormônios são os mensageiros biológicos mais poderosos que existem, e que mesmo quantidades pequenas condicionam nossos atos em grande medida. Não devemos esquecer que o que diferencia os homens das mulheres, tanto física como psicologicamente, é devido, em primeiro lugar, à predominância de andrógenos ou estrógenos. Não podemos, portanto, viver em um ambiente altamente estrogenizado como o nosso sem pagar as consequências.

Quando o mundo era puro e o homem caçador seguia as leis naturais, as coisas eram mais como o símbolo da esquerda: havia um equilíbrio entre dois pólos extremos, e essa voltagem entre eles proporcionava a "tensão" de uma vida autêntica. Agora, as coisas têm a aparência do símbolo da direita: um domínio do yin. A tensão foi sabotada e a energia interna dos humanos tornou-se indelével e insossa.

A ESTROGENIZAÇÃO PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL

É simbólico que essa estrogenização química que sofremos vem muito em sintonia com a estrogenização espiritual e mental que sofre o mundo (particularmente a Civilização Ocidental), e da qual não é mais que a contrapartida material. A música está estrogenizada, temos uma mentalidade passiva, cobarde, hippie e pacifista, vivemos em uma era de dramas sentimentalistas, inseguranças pessoais, entretenimento para garotas entediadas, saladas mentais, indecisões variadas, roupas coloridas, medo de dizer as coisas como são, uma completa falta de força de vontade e, em suma, nossa sociedade é dominada por valores muito claramente femininos e muito claramente privados de autoritarismo e mão direita. Todos os sintomas descritos não são coisa de homens e não tem absolutamente nada a ver com a mentalidade masculina normal, mas vêm do mundo das debilidades femininas.

Somos, sem dúvida, e, em parte, graças à estrogenização, uma sociedade de crianças mimadas, incapazes de defender pela força bruta nossos interesses em um mundo, em geral, cada vez mais embrutecido. A Civilização Ocidental e a raça branca, depois de um processo que tem acontecido há mais de dois milênios, foi castrada.

Sociedade de mimados e progressistas versus sociedades de homens jovens, brutos e alfabetos. Não coexistem opostos

CONSEQUÊNCIAS DA ESTROGENIZAÇÃO

Nesta seção vou me concentrar nos efeitos da estrogenização ambiental (química e espiritual) em nossa sociedade, descrevendo uma série de sintomas que acredito que qualquer pessoa normal irá reconhecer instantaneamente. 

• Adianto da puberdade nas meninas. Casos de primeira menstruação aos nove, oito, sete e até seis anos de idade. Seios anormalmente grandes; meninas sexualmente maduras, com o corpo de uma mulher, mas mentalidade de uma menina, incapaz de controlar seus miasmes hormonais e depois cometer erros que eventualmente se arrependerão. Desfase de idade em relacionamentos de casal: um jovem de 18 anos sexualmente imaturo não atrairá nem às de 14 anos, que procurarão homens muito mais maduros do que elas. 

• Adianto da idade do envelhecimento em mulheres. Consequência do ponto anterior. Isso é devido a dois motivos: o avanço prematuro da adolescência, e a promiscuidade inevitavelmente associada a uma pessoa com idade mental de 12 anos e uma idade hormonal de 20 anos (como é sabido, a promiscuidade feminina faz com que as mulheres envelheçam, enquanto está demostrado que quanto maior o número parceiros já tidos, maior a frustração psicológica e tendência à neurose), pelo simples motivo de que suas ações estão condicionadas por um excesso hormonal que nem seus corpos nem sua maturidade mental estão preparados para assimilar ou canalizar como deveria. O "desgaste" moral causado por ter tido muitos parceiros em idade prematura também é a razão pela qual, depois de certa idade, após terem sido feitas mil sujeiras, as jovens modernas não conseguem mais se apaixonar, tendo perdido a ilusão juvenil pelo resto de sua vida. O fato de vadiarem precocemente distancia as mulheres de sua verdadeira missão natural e genética (preparar-se para a maternidade) e do esporte, de modo que, quando a queda hormonal pós-adolescente vem, o efeito cumulativo de anos de preguiça, indolência e ócio manifestam-se, geralmente sob a forma de sobrepeso e/ou outras formas de degradação física e mental. 

• Retraso da chegada da menopausa. Isso pode resultar no engravidamento de mulheres que já não têm corpo para dar à luz, resultando em menor qualidade genética, além de uma maior taxa de defeitos congênitos e abortos espontâneos. 

• Retraso da puberdade nos garotos. Vemos garotos de 15 anos que, para todos os efeitos, são ainda crianças fisicamente. Incluso jovens de 18 anos que ainda não desenvolveram corpo de homem, nem largura dos ombros nem estreiteza da cintura, e que, por outro lado, suspeitosamente acumularam quantidades estranhas de gordura no peito (ginecomastia) e cintura. Para isso, adicionamos a total falta de cultura desportiva que prevalece atualmente. Por outro lado, já existem muitos estudos que mostram que, desde o início da puberdade, a maioria dos jovens modernos está perdendo (graças à estrogenização, poluição ambiental e hábitos prejudiciais) qualidade seminal, motilidade espermática e, portanto, fertilidade ― uma coisa que, levado ao extremo, produz esterilidade. Emancipar-se do círculo vicioso que a produz me parece uma necessidade de primeira ordem para quem se considera um homem.

• Aumento espetacular nos casos de câncer de mama. Um dos efeitos do estrogênio é aumentar o tamanho das glândulas mamárias. Levado ao extremo, isso acaba se convertendo na multiplicação descontrolada de suas células ― isto é, em um tumor maligno. A idade da doença também foi incrivelmente avançada: há casos de mulheres que, por volta de 20 a 30 anos, já apresentam sintomas de câncer de mama. 

• Feminização física e psicológica dos homens. Não é possível ter uma geração de jovens que tenham sido submetidos a uma forte influência química e espiritual feminizante sem pagar as consequências: homens com quadris mais largos do que os ombros, chassis esqueléticos, cintura larga, músculos flácidos e barriga de chope, sem contar o aumento de casos de malformação genital, testículos mal colocados, ambiguidade sexual, micropênis e, acima de tudo, homens que não se sentem homens ou se identificam com o papel masculino. A diferença entre as mulheres estrogenadas e os homens estrogenados é que as primeiras são (em teoria) "mais mulheres" e estão mais fortemente sexuadas, enquanto os segundos são "menos homens" e estão mais castrados.

• Irregularidade na menstruação, incluindo de jovens que deveriam ser férteis. O equilíbrio hormonal feminino é extremamente delicado; uma mulher hormonalmente bem equilibrada, com boa nutrição e boa saúde, deveria ter menstruação matematicamente a cada 28 dias, o que é sinal de fertilidade e que o corpo funciona bem de acordo com os ciclos lunares. Isto é normal. Hoje, com as várias neuroses, uma dieta completamente antinatural, uma vida sedentária e uma estrogenização generalizada, há poucas mulheres que podem prever o dia exato em que vem sua menstruação, que pode chegar em 26 ou 32 dias, ou mesmo saltos mais abruptos do que esses. 

• Aumento sem precedentes da homossexualidade e das tendências femininas nos homens. Inclusive no caso daqueles que não estejam diretamente "cortando pro outro lado", muitos jovens têm comportamentos, modos de pensar e reações estranhas, mais típicos das mulheres do que dos homens. Também temos uma proporção importante de jovens que, sem estar do outro lado, estão excessivamente em contato com seu "lado feminino" e não têm problemas de "provar coisas novas". É a indecisão e a falta de clareza interna produzida por ter muito mais hormônio feminino do que é normal em um homem. 

• Sobreproteção das mulheres através de medidas sociais exageradas. No passado, com nossas conquistas, nossas invenções, nossas lutas e nossos trabalhos e sacrifícios, contribuímos para a criação de um mundo tão seguro e confortável para as mulheres, que a sociedade esqueceu em grande parte a fonte do conforto que desfruta. A feminização social traduziu-se numa hostilidade para com a masculinidade e em uma desconfiança da sexualidade e agressividade masculina, como se não fossem essas as forças primordiais que conquistaram o conforto que desfrutamos hoje. 

• Aumento da promiscuidade feminina. Imagine um mundo androgenizado em vez de estrogenizado. É inegável que isso influenciaria fortemente a promiscuidade masculina. O mesmo acontece agora com as mulheres. 

• Infertilidade em ambos os sexos, no caso das mulheres, rompendo o delicado equilíbrio hormonal e seus ciclos de ovulação (resultando em partos prematuros e outros problemas) e no caso dos homens, contrariando os efeitos dos andrógenos. Isso, que seria a tragédia de qualquer casal, se torna uma fonte inacreditável de renda para clínicas de fertilidade, e também implica renda substancial para o negócio de adoção e o impulso da mestiçagem para a adoção de crianças de países do Terceiro Mundo. Porém, há boas notícias para casais ou indivíduos que acreditam que são inférteis: na maioria dos casos, é algo reversível através de uma dieta decente e um estilo de vida mais saudável e natural. Se recarregarem suas baterias, elas geralmente recuperam a capacidade de perpetuar seus genes.

FORMAS DE EVITAR A ESTROGENIZAÇÃO 

Apesar do dinheiro que dá a estrogenização (custos baratos para fábricas, o negócio das clínicas de fertilidade, casas noturnas, moda) para certos parasitas, seria cruel listar as origens da estrogenização e suas consequências sem dizer também como minimizar o impacto deste flagelo e como impedir que ele atinja nossos filhos. 

• Água pura sempre que possível. Se alguém tiver a oportunidade de acessar água de poço, fontes naturais ou, de preferência, água de córregos de altas montanhas, não hesite em metê-la em um montão de recipientes de vidro e leva-la. A diferença será incrivelmente perceptível. Comprar um ionizador de água é outra excelente opção, embora muito cara. 

• Evite alimentos processados ​​e empacotados, especialmente artificialidades. Abaixo temos uma lista dos alimentos mais estrogenizantes.

• Não beba bebidas carbonatadas, frutos de processos industriais onde colocam açúcares de baixíssima qualidade e todos os tipos de conservantes, aromas e corantes que convertem essas bebidas literalmente em plástico líquido (e, portanto, em estrogênio). Acabou o refrigerante e bebidas energéticas e tudo o que estávamos acostumados. Água, sucos naturais, infusões e batidos são as únicas coisa que um ser humano deve beber. 

• Para as mulheres: evite os tampões. As substâncias artificiais que contêm (e não apenas estrogênio mas outras cancerígenas) atravessam facilmente as finas camadas das paredes vaginais para acabar afetando todo o corpo, e são uma das causas reconhecidas do câncer uterino. Use compressas em vez de tampões. 

• Para os nossos filhos: evite brinquedos de plástico, não só porque o estrogênio que liberam facilmente cruza a pele, mas porque a possibilidade deles colocá-los na boca aumentaria sua absorção ainda mais (além do risco de asfixia). 

• Para as mulheres (bis): os contraceptivos que tomam passam para a sua urina, daí até as águas residuais e de lá para os rios e para o mar, aumentando a estrogenação generalizada. A opção é parar de usar esses produtos químicos que também afundam o equilíbrio hormonal das mulheres desde idades muito precoces. 

• Evite recipientes de plástico de tereftalato de polietileno (o famoso PET), BPA, BPP etc. A água e a comida devem ser armazenadas em recipientes de vidro. Mesmo assim, não vamos evitar a contaminação que já sofreu, mas, pelo menos, evitaremos que sua contaminação degenere ainda mais devido à liberação gradual das substâncias nocivas do plástico. Existem áreas onde, além disso, é preciso abster-se de beber água da torneira, recorrendo à água engarrafada. 

• Evite as drogas. Todas têm um efeito estrogênico mais ou menos pronunciado, especialmente no caso de drogas de desenho (pílulas variadas) e derivadas da cannabis (fumar maconha acaba impondo atitudes efeminadas e passivas, reduz a contagem de esperma e pode levar à infertilidade). A cocaína está sempre ou quase sempre misturada com produtos químicos estrogênicos que os cheiradores cheiram sem qualquer preocupação. O consumo habitual de drogas coloca os indivíduos ao nível de ineptos sociais ― um drogado, um cocainômano ou um traficante viciado são, por definição, criaturas patéticas, incapazes de dar um rumo próprio na vida. 

• Evite leite e produtos lácteos (além de serem estrogenizados, abaixo veremos mais motivos). 

• Evite, "na medida do possível", os medicamentos. Praticamente todos os remédios têm um forte componente pró-estrogênico, então, embora seja claro que uma doença precisa de atenção, "prevenir é melhor que curar", levando um estilo de vida saudável, uma dieta limpa e completa. Pessoas que, por causa da incapacidade de levar uma vida decente, tomam xaropes, aspirinas, barbitúrico, antidepressivos, na maioria dos casos, acabarão pagando no curto prazo com o desequilíbrio de seus corpos e suas mentes. 

• Fazer exercício aeróbico ajuda a limpar todas as substâncias acumuladas de nosso corpo, não só gorduras, mas também retenção de fluidos, toxinas e estrogênios, todos intimamente relacionados. Ideal manter o coração em 120-140 batimentos por minuto durante as sessões cardiovasculares. 

• Evite o álcool, especialmente em doses altas. Um ambiente alcoolizado é um ambiente estrogenizado e, portanto, feminizado. Demonstrou-se que as mulheres que consomem regularmente álcool têm níveis mais altos de estrogênio do que abstêmias (Gavaler et al., 1991; Ginsburg et al., 1995; Madigan et al., 1998; Muti et al., 1998). A cerveja, tão amada por tantos dos nossos, contém produtos fito-estrogênicos (Torgerson et al., 1997) que já demonstraram desencadear o crescimento dos peitos nos homens. Também está comprovado que o consumo habitual de cerveja atrasa dois anos a menopausa nas mulheres (abaixo falarei mais sobre o álcool). 

• Evite, "na medida do possível", os produtos empestados com aditivos, conservantes e colorantes. Aqui incluo não só bebidas carbonadas, mas todos aqueles alimentos embalados que são tão abundantes nas prateleiras. 

• Para os homens: tomar algum suplemento de zinco (o famoso ZMA antes de dormir vai muito bem, especialmente junto com Vitamina B6 + Tribulus Terrestris), bem como azeite de linhaça (favorece o equilíbrio hormonal). 

• Comer muita fibra. A fibra tende a se ligar à gordura, absorve a retenção de líquidos como uma esponja e "arrasta" tudo isso pra fora do trato digestivo, e, além de eliminar o excesso de estrogênio, limpa o sistema digestivo. É recomendado a fibra de produtos vegetais, e não abusar do cereais, que têm uma longa lista de danos.

• Favorecer os estímulos que tendem a solidificar a masculinidade e o instinto proativo. Música pesada acima da música sentimental, exercício físico violento, esportes de contato, pensamentos determinados, atitude interior forte e uma ideologia sólida. Somente um extremo pode anular o desequilíbrio para retornar ao ponto médio.

ALIMENTOS ANTI-ESTRÓGENOS

• Vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, repolho, couve). Notável a couve-lombarda, muito recomendada pela medicina tradicional chinesa.

• Frutas cítricas (laranjas, tangerinas, limões, toranjas). 

• Mel.  

• Canela. Reduz o açúcar no sangue. 

• Camomila e passiflora (também presente no chá). 

• Cebola e alho. Notabilíssimos os efeitos potentes de limpeza e desintoxicação do alho, um alimento altamente recomendado, pelo menos um dente por dia. 

• Folhas verdes frondosas, como espinafre ou alface. 

• Frutas vermelhas, como framboesas, amoras, morangos, arándanos, gojis, e em geral, os frutos do bosque.

• Azeite de oliva extra virgem. Sem fritar. 

• Peixes selvagens gordurosos, como salmão, sardinha, truta, tubarão. 

• Frutos secos e sementes, por exemplo, nozes, amêndoas, cajus e sementes de abóbora, notáveis essas últimas por seus efeitos benéficos na próstata. 

• Algumas especiarias, como açafrão, curry, orégano, tomilho, alecrim, gengibre.

ALIMENTOS PRÓ-ESTRÓGENOS

Aqui, veremos os tipos de produtos que temos que evitar se estamos interessados ​​em minimizar essa feminização anormal e aberrante que o Sistema força na maior parte da população. 

• Leite e produtos lácteos

• Cerveja e outras bebidas alcoólicas (veja abaixo), bem como qualquer coisa com lúpulo. A cerveja contém estrogênio vegetal (fito-estrógenos) que inativa a testosterona e, portanto, reduz a força muscular e promove o desenvolvimento das glândulas mamárias e o volume de quadris, cintura e barriga, especialmente em pessoas sedentárias. Para isso deve-se adicionar distúrbios graves do pâncreas e da vesícula biliar. 

• Água da torneira, de acordo com a região (a Catalunha é, sem dúvida, a pior área da Espanha, e Barcelona, ​​onde existem bairros inteiros onde as autoridades nem aceitam a água como "potável"― algo que os barcelonenses não sabem ―, a pior província da Catalunha), mas, em geral, toda água "potável" está sob tratamento químico (flúor). 

• Doces e outros alimentos açucarados, especialmente guloseimas, verdadeiros venenos processados. 

• Soja e derivados (óleo de soja, fórmulas de alimentos para bebes à base de soja ― uma autêntica burrice ― proteína de soja e tofu). A soja possui isoflavonas estrogênicas, que são fortes precursores diretos do hormônio feminino. Bom para mulheres, ruim para homens (especialmente hoje em dia). Pesquisar no Google "Soy Alert" trará dezenas de páginas que abordam os graves perigos da soja como produto pró-hormonal. 

• Comidas fritas, especialmente se forem com óleo de soja, mas, em geral, qualquer fritura tem um efeito estrogênico. 

• Cimicifuga. Esta erva é conhecida, como a soja, pelos seus efeitos benéficos durante a menopausa feminina e tem um potente efeito estrogênico. 

• Alcaçuz: outro produto com efeito estrogenizante. 

• Menta verde (mais conhecida como hortelã-verde), comum em infusões, guloseimas e outras formas, tem um notável efeito antiandrogênico e reduz os níveis de testosterona no sangue.

PRODUTOS QUÍMICOS COM EFEITOS ESTROGÊNICOS

Aqui, forneço uma lista de pesquisa que, embora curta, ajuda a dar uma ideia da medida em que a estrogenização é omnipresente em nosso mundo. 

- 4-mbc.

- Aldrina

- Atrazina: inseticida.

- BHA e BHT.

- BPA. 

- DDE. 

- DDT. 

- DEHP.

- Dieldrina.

- Endosulfan.

- Eritrosina.

- Etinilestradiol.

- Fenosulfotiazina.

- Ftalatos. 

- Heptacloro.

- Lindano. 

- Metaloestrógenos. 

- Metoxicloro.

- Nonilfenóis.

- Parabenos.

- PCB's.

- E muito, muito mais.

SOBRE OS DANOS DO LEITE MODERNO 

O principal argumento contra o leite é que o ser humano é o único animal que continua a beber leite após a amamentação, e, além disso, leite doutros animais. Aqui valeria a pena pontuar, porque o contra-argumento fácil é que os europeus desenvolveram, seja pela adaptação ou pela seleção natural, uma maior tolerância à lactose do que qualquer outra raça. E sim, os europeus, em particular os mais nórdicos-vermelhos [NT: brünn], são caracterizados por uma grande tolerância ao leite, mas as pessoas esquecem que nós, europeus, estivemos nos alimentando no passado com leite natural e que o que agora é chamado de "leite"é qualquer coisa menos leite de vaca em condições naturais. Assim, as primeiras questões que devemos prestar atenção é a) ¿você é predominantemente nórdico-vermelho? b) ¿você bebe leite natural? e c) ¿você bebe sozinho ou mistura com outros alimentos? 

¿Como prevenir a osteoporose na terceira idade? Não se trata de mandar cálcio pra dentro, mas, que o cálcio que ingerimos tenha alta biodisponibilidade (em outras palavras, ser absorvido e facilmente assimilado). Portanto, a prevenção da osteoporose na terceira idade não é alcançada pelo aumento do cálcio, mas pela diminuição da proteína, o que interfere no processo de assimilação do cálcio. E é que, nessas idades, o metabolismo e o anabolismo proteico descem bruscamente, e é absolutamente insano continuar consumindo as mesmas quantidades de proteína como sempre, porque nesse ponto as proteínas não são metabolizadas ou digeridas mas acumulam-se no sistema digestivo e, muitas vezes, constituem focos de putrefação que podem acabar envenenando todo o organismo e provocando câncer de cólon. Em suma, temos nessas pessoas um excesso de proteína. E como o corpo não é uma máquina eficiente, para regular os ácidos liberados pelo excesso de proteína, ele tira cálcio dos ossos. Não é surpreendente que muitos idosos que bebem leite e comem carne estão cada vez mais descalcificadas e, portanto, com um esqueleto cada vez mais fraco e frágil (porque deveriam comer mais verduras e frutas), e que as nações que consomem a maioria dos produtos lácteos (como os EUA) são precisamente as nações onde a osteoporose é mais abundante.

Outros males, frequentemente associados ao leite, são asma, excesso de mucosidade nasal, dores de cabeça, dores de ouvido, vários transtornos gástricos e fadiga muscular.

RESUMO DOS EFEITOS NOCIVOS DO "LEITE" MODERNO
(Tirado de "The tao of health, sex and longevity", de Daniel Reid, 1989) 

Agora chegamos a uma das questões mais controversas e menos compreendidas de toda a dieta ocidental. Os orientais e os africanos tradicionalmente evitam o consumo de leite, exceto como purgante. Mas no mundo ocidental, as pessoas acostumaram a beber leite todos os dias durante o resto de suas vidas. 

Se observarmos a natureza, veremos que os animais se alimentam exclusivamente de leite até serem desmamados com outros alimentos. O desaparecimento natural da lactase (a enzima que permite digerir o leite) do corpo humano no início da maturidade demonstra claramente que os humanos adultos não têm mais necessidade de leite do que tigres ou chimpanzés adultos. Embora o leite seja um alimento proteico quando consumido naturalmente, também contém gordura, o que significa que ele combina mal com qualquer alimento que não seja ele próprio. Ainda assim, muitos adultos têm o hábito de acompanhar as suas refeições com leite frio. O leite coalha assim que atinge o estômago, então, se houver outro alimento presente, os grumos coagulam as partículas de alimentos e isola-os da ação dos sucos gástricos, atrasando sua digestão o suficiente para que comece a putrefação. Portanto, a primeira e mais importante regra a ser tomada em consideração no consumo de leite é "beba-o sozinho ou não beba-o". Hoje, o leite tornou-se ainda mais indigerível devido à prática generalizada de pasteurização, que destrói todas as enzimas naturais e altera suas delicadas proteínas. O leite natural contém as enzimas ativas lactase e lipase, que permitem digerir. O leite pasteurizado, desprovido de lactase e outras enzimas ativas, não pode ser digerido adequadamente por estômagos adultos, e incluso é difícil para crianças, como demonstrado pelas cólicas, erupções cutâneas, problemas respiratórios, gases e outras condições tão comuns em lactentes alimentados com mamadeira. Além disso, a ausência de enzimas e a alteração das proteínas vitais causam que o cálcio e de resto dos minerais contidos no leite não sejam bem assimilados. 

Em 1930, o Dr. Francis M. Pottenger realizou um estudo de dez anos sobre os efeitos relativos de uma dieta de leite natural e pasteurizado em uma população de novecentos gatos. Um grupo recebeu nada mais do que o leite natural, enquanto o outro foi alimentado exclusivamente com leite pasteurizado da mesma fonte. Os gatos alimentados com leite natural evoluíram bem, mantendo-se saudável, ativo e alerta ao longo de suas vidas, mas aqueles alimentados com leite pasteurizado logo ficaram inquietos, confusos e extremamente vulneráveis ​​a uma grande quantidade de doenças crônicas degenerativas que geralmente estão relacionadas ao ser humano: doenças cardíacas, afecções renais e tiroidais, problemas respiratórios, perda de dentes, fragilidade óssea, inflamação hepática etc. Mas o que mais chamou a atenção do Dr. Pottenger foi o que aconteceu com a segunda e terceira geração. Os primeiros descendentes do grupo de leite pasteurizado nasceram com dentes pobres e ossos fracos e pequenos, sintomas óbvios de uma deficiência de cálcio que, por sua vez, indicaram uma má absorção de cálcio do leite pasteurizado. Os descendentes do grupo do leite natural nasceram tão saudáveis ​​quanto seus progenitores. Muitos dos gatinhos da terceira geração do grupo pasteurizado nasceram mortos e aqueles que sobreviveram eram estéreis e incapazes de reproduzir. O experimento teve que terminar porque não havia a quarta geração de gatos alimentados com leite pasteurizado, embora o grupo do leite natural continuasse reproduzindo e procriando indefinidamente. Se isso não provar evidências suficientes dos efeitos nocivos do leite pasteurizado, tenha em mente que mesmo os bezerros recém-nascidos que são alimentados com leite pasteurizado obtidos de suas próprias mães morrem antes de seis meses, um fato comprovado que a indústria leiteira se recusa a reconhecer. 

Apesar de toda essa evidência científica em favor do leite natural e do fato de que, até o início do século XX, a espécie humana medrou com leite natural, agora é proibido vender leite natural ao consumidor em quase todos os estados americanos. Para a indústria de laticínios é muito mais econômico pasteurizar o leite para ampliar sua vida no comércio, embora este leite desnaturado não faça nada de bom para a saúde humana. Além disso, a pasteurização torna o leite de vacas doentes em vacarias de baixa qualidade relativamente "inofensivo" para os seres humanos, pois mata alguns dos germes perigosos ― mas não todos ―, e isso também ajuda a reduzir os custos de produção da indústria. 

Apenas três gerações foram necessárias para que os gatos do Dr. Pottenger, alimentados com leite pasteurizado, se tornarem estéreis e fracos. E este é o número aproximado de gerações que os europeus, americanos e australianos levam consumindo leite pasteurizado. Hoje, a esterilidade tornou-se um grande problema entre jovens casais norte-americanos, enquanto a deficiência de cálcio tornou-se tão difundida que mais de 90% das crianças estadunidenses sofrem de doenças dentárias crônicas. 

Para piorar ainda mais a situação, atualmente foi imposto o costume agora de "homogeneizar" o leite, a fim de evitar a separação da nata. A homogeneização consiste em fragmentar e pulverizar as moléculas de gordura até o ponto de não serem separadas do resto do leite. Mas os pequenos fragmentos de gordura assim obtidos são facilmente filtrados através das paredes do intestino delgado e aumentam consideravelmente a quantidade de colesterol e as gorduras desnaturalizadas absorvidas pelo corpo. Na verdade, mais gordura láctea é absorvida por beber leite homogeneizado do que consumir nata pura. 

As mulheres preocupadas com osteoporose devem tomar nota de todos estes dados sobre os produtos lácteos pasteurizados: este leite desnaturado não fornece cálcio suficiente para combater a doença, como está plenamente demonstrado pelo fato de que as mulheres estadunidenses, que consomem as maiores quantidades de vários produtos lácteos pasteurizados, têm uma maior incidência de osteoporose do que qualquer outro país do mundo. A couve crua, por exemplo, proporciona muito mais cálcio assimilável do que qualquer quantidade de leite pasteurizado ou seus derivados, como iogurtes, queijos e todos os outros produtos lácteos desnatados. (...) 

Todos os adultos devem refletir seriamente a conveniência do leite como parte integrante da sua dieta diária, exceto no caso de poderem obter leite natural certificado, o que é um excelente alimento. Todavia, alimentar crianças com leite pasteurizado para crescer "saudável e forte"é pura aberração, porque é impossível para eles assimilarem os nutrientes. Na verdade, homens, mulheres e crianças devem eliminar todos os produtos lácteos pasteurizados de sua dieta, uma vez que apenas servem para entupir seus intestinos com camadas e mais camadas de um lodo limoso que evita a absorção de nutrientes orgânicos. 

Norma: elimine completamente o leite homogeneizado e pasteurizado de sua dieta. Se você pode encontrar leite natural, consuma-o como uma refeição completa por si só, nunca combinado com outros alimentos.

¡MAS PRECISAMOS DE CÁLCIO!

100 g de leite de vaca têm 125 mg de cálcio, enquanto que 100 g de leite humano têm apenas 33 mg. Contudo, algo não se enquadra na explicação de que devemos beber leite de vaca apenas pelo cálcio, afinal, ¿não é suposto que o leite humano seja o nutriente perfeito para os bebês, desenvolvido de forma evolutiva pela Natureza e seleção natural para ser o "melhor" para um humano estando em sua primeira fase de desenvolvimento?

"Você tem osteoporose, então tem que beber mais leite, que tem cálcio. ¿Você bebe dois litros de leite por dia? Ah, então... beba quatro, ¿ok? São cem pratas pela consulta."

Se olharmos mais de perto, veremos que os 100 g de leite de vaca, além dos 118 mg estimados de cálcio, têm 97 mg de fósforo (em comparação com apenas 18 mg de fósforo em 100 g de leite humano). No sistema digestivo, o fósforo combina com cálcio e bloqueia sua assimilação. Por este motivo, só é possível obter cálcio de produtos cuja relação cálcio-fósforo seja 2/1 ou mesmo maior. A relação entre cálcio e fósforo no leite humano é 2,35/1, enquanto que no leite de vaca é apenas 1,27/1. Para piorar as coisas, 100 g de leite de vaca contêm 50 mg de sódio, provavelmente uma das principais causas de excesso de sódio (e cálculos renais) na dieta moderna. Diante disso, nos conviria mais o leite de cabra, cuja composição química é semelhante ao humano.

Isso para não mencionar o mais simples: para cada 100 g de leite de vaca, temos 118 mg de cálcio que é pouco assimilável e de baixa biodisponibilidade para humanos. Compare com a quantidade de cálcio presente em 100 g dos seguintes alimentos:

• Gergelim: 1160 mg.

• Algas kelp: 1090 mg.

• Sardinhas: 400 mg. Todos os peixes consumidos com espinhas (sardinhas, salmão, anchovas) são ricos em cálcio.

• Amêndoa: 254 mg. 

• Avelãs: 226 mg 

• Couve: 187 mg.

• Gema de ovo: 140 mg.

• Brócolis: 130 mg.

• Outros alimentos ricos em cálcio: mexilhões, ostras, camarões, laranja, tangerina, pêssego, damasco, espinafre, coco, alfafa, milho, abóbora, beterraba etc.

• Uma excelente fonte de cálcio é a casca de ovo (90% carbonato de cálcio). Existem várias maneiras de prepará-la. Em uma delas, conserve a casca de um ovo que foi cozido (para esterilizar), despojada da "membrana" que a separa do ovo, então triture, moa, e dissolva em suco de limão, batendo, se necessário. Outra maneira é assar a casca no forno sem queimar, e depois, deixar esfriando para moer em pó. Metade de uma colher de sopa desse pó dissolvido em suco de frutas, duas vezes por dia, é uma excelente fonte de cálcio. No entanto, repito que não é bom exagerar no cálcio, já que o excesso é acumulado na forma de cálculos renais. Todos devem conhecer seu corpo e suas necessidades.

Como já vimos antes, a osteoporose não acontece pela falta de consumo de leite. Se fosse assim, os Cro-Magnons do Paleolítico Superior, que eram homens evolutivamente modernos, que não consumiam uma única gota de leite, não teriam tido a enorme estatura e uma constituição esquelética muito mais robusta e densa do que qualquer homem moderno. A osteoporose atual (que atinge suas frequências mais altas precisamente em países que têm muitos produtos lácteos) é devido ao consumo de carboidratos refinados, farinha branca e açúcar, que retiram minerais e enzimas do corpo, produzindo não apenas osteoporose, mas também o subdesenvolvimento esquelético, pancreatite e toda uma gama de defeitos dentários desagradáveis. Sobre esse assunto, vimos com mais detalhes noutro artigo. 

Geralmente, quando alguém abandona o consumo de "leite", sofre uma melhoria notável, especialmente de funções digestivas e, ao longo do tempo, de acne, erupções, alergias etc. Se você passar um tempo sem consumir leite e decidir um dia beber um copo, notará imediatamente os efeitos do leite. 

SOBRE OS DERIVADOS LÁCTEOS E A INDÚSTRIA LÁCTEA

Para as pessoas tolerantes à lactose, ou simplesmente para aqueles que não querem abandonar o consumo de leite, apesar do exposto, a melhor escolha é o leite de cabra, cujo perfil nutricional é mais parecido com o leite humano. Além disso, os únicos produtos lácteos que não representam risco são a manteiga fresca (gordura saturada facilmente digerível e altamente benéfica, a manteiga genuína, ao contrário da margarina, não é tem uma cor amarela-pálida, mas dourada) e iogurte fresco preparado com fermento vivo e que está "pré-digerido" pelas lactobactérias fermentadoras. Mesmo assim, esses tipos de produtos devem ser consumidos com moderação, e idealmente preparados a partir de leite cru natural, não pasteurizado. E geralmente isso não abunda hoje, graças à indústria de laticínios. 

É importante ressaltar, portanto, todos os absurdos da indústria de laticínios, incluindo a pasteurização. 

¿Quais? Entre outras coisas, as vacas leiteiras são exploradas, sendo muitas vezes ordenhadas vinte e quatro horas por dia. Para que produzam grandes quantidades de leite, os animais tomam hormônios que estimulam sua produção incessantemente ― esses hormônios, é claro, tornam-se parte da composição do leite que é vendido. Atualmente, o leite com hormônios é a principal causa da infertilidade, especialmente nas mulheres, cujo equilíbrio endócrino é mais delicado. Assim, a Dra. Annemarie Colbin, em "Food and healing", nos diz que:

O consumo de produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, sorvete) parece estar fortemente associado a vários transtornos do sistema reprodutivo das mulheres, incluindo tumores e cistos ovarianos, secreções e infecções vaginais. Eu vejo esse relacionamento confirmado uma e outra vez pelas inúmeras mulheres que relatam a diminuição ou o desaparecimento desses problemas depois de ter parado de consumir produtos lácteos. Conheço tumores uterinos benignos que foram expulsos ou dissolvidos, o mesmo com câncer cervical e irregularidades menstruais. [...] Incluso vários casos de esterilidade parecem ter sido resolvidos por este método.

Outra consequência do regime de sobrexploração imposto a esses pobres animais é a mastite, isto é, a inflamação e a infecção das glândulas mamárias, que dão leite. Esta doença desagradável implica que grandes quantidades de pus também façam parte do produto destinado ao consumidor desavisado, crédulo e confiante, que, devido à TV, pensa que as vacas pastam calmamente pelos verdes campos das Astúrias em vez de serem amontoadas em máquinas de alta tecnologia, repletas de hormônios, antibióticos e alimentos artificiais infestados com pesticidas estrogênicos.

Este veneno contaminado, adulterado, refinado, armazenado, refrigerado e pasteurizado (a pasteurização destrói o valor nutricional do leite alterando suas proteínas e enzimas de carga, como a lactase e lipase; os bezerros alimentados com leite pasteurizado, mesmo que seja de sua própria mãe, não tendem a viver mais que seis semanas), tratado quimicamente, homogeneizado, saturado com vitaminas, cálcio e outros minerais adicionados (não indo ao esqueleto, mas para aumentar pedras nos rins, uma vez que não possuem enzimas e são de baixa biodisponibilidade), é vendido em uma caixinha decorada com imagens dos tranquilos campos da Galiza, como um produto de primeira classe e recentemente ordenado antes de ultrapassar controles de qualidade ultrarigorosos. Com isso, convencem milhões de mães dizendo-lhes que "leite"é o melhor alimento para o crescimento de seus filhos e, assim, envenenam tantos milhões de crianças quanto podem para obter receitas extremamente altas no processo.

Esta mulher está ingerindo pus, hormônios, produtos químicos e um líquido puramente artificial e adulterado, que também irá transmitir ao bebê, causando-lhe exatamente os mesmos problemas que ela, mas com mais gravidade, já que é um corpo em desenvolvimento.

Acredito sinceramente que, antes de ler esta seção, qualquer pessoa que bebia "leite" ou dava-o aos seus filhos era simplesmente alguém que não tinha tido a oportunidade de conhecer a verdade. Mas depois de ler isso, quem continua a beber esse veneno líquido, denominado "leite", é simplesmente suicida. Vamos assumir desde já que beber "leite"é estúpido e contraproducente. 

¿Por que a indústria de laticínios está ao nível das grandes empresas, em vez de ser um negócio mais natural, saudável e mais local (como a figura inglesa do milkman ou leiteiro) e, portanto, mais lucrativo e benéfico para as pessoas? Simplesmente porque proporciona uma enorme renda para as empresas apátridas que são privadas e, portanto, não buscam o benefício do povo ou da nação, mas o benefício próprio, é claro. Graças a isso, fabricam e vendem um produto pernicioso de menor qualidade, com um custo econômico baixo pra eles, médio pro povo e alto pra saúde.

MAIS INFORMAÇÕES 

Antes de fechar esse tópico dedicado ao leite com sítios cheios de informações, gostaria de dar um conselho às mulheres que planeiam ter filhos ou que, de fato, já têm: amamentem seus filhos com seu próprio leite. Amamentá-los com leite de vaca é uma burrada, especialmente em estágios tão precoce, onde a criança precisa do melhor alimento para crescer. Assim como os homens devem garantir a qualidade de sua substância reprodutiva, as mulheres devem fazer o mesmo com a qualidade do leite materno, abstendo-se do álcool e do tabaco, se possível toda a vida, mas especialmente nos anos anteriores à concepção de um criança, exercitando o corpo diariamente e levando uma dieta completa e limpa. 

Lembre-se que tudo o que você come, bebe, respira, os produtos químicos que você liberta em seu corpo de acordo com seu estado de espírito, seus sentimentos e pensamentos, suas esperanças, vão para o corpo de seu filho, porque mãe e filho são um só. Após o parto, tudo isso continuará influenciando a qualidade do seu leite materno, o que terá (ou deveria ter) influência decisiva sobre o desenvolvimento de seus filhos. Portanto, as mulheres grávidas e lactantes devem prestar atenção requintada aos hábitos diários, ao que comem, bebem, respiram, fazem e sentem.

Aleitamento materno na Alemanha Nazista. Os alemães estavam bem conscientes de que alimentar bebês com leite de vaca era uma abominação; por isso, era encorajado, através de subsídios e prêmios, que as mulheres que produzissem mais leite materno doassem para mulheres com pouca produção de leite, para melhorar a saúde e o crescimento das crianças alemãs. No projeto Lebensborn, as mulheres que produziam mais e melhor leite eram decoradas com a "Cruz Maternal".

Sites dedicado a alertar sobre os problemas do leite: (1) e (2).

O ÁLCOOL AFEMINA OS HOMENS
por María Burke

Estudos feitos em homens mostram que beber muito álcool pode levar à perda de libido, impotência e reduzir o tamanho dos testículos. Outras consequências são ginecomastia, crescimento dos quadris, perda de cabelo, músculos flácidos e ossos mais frágeis.

¿Como você planeja comemorar o final do ano? Há muitas possibilidades que a celebração inclui vários copos de um líquido incolor produzido pela estrela de todos os fungos, Saccharomyces cerevisiae. Estamos falando do álcool. Antes de planejar sua festa, saiba que perder a compostura com champanhe é o mesmo que com cerveja; e que o álcool desperta os instintos sexuais dos homens; verifique uma lista (não científica) de remédios de ressaca; e o mais surpreendente: o álcool desviriliza os homens. Várias investigações mostram que o abuso de álcool diminui a libido; pode reduzir o tamanho dos testículos e a fertilidade, e até mesmo criar impotência. Beber excessivamente pode pesar sobre sua paixão, ou se consegue sentir o calor, sobre seu prazer. Pior ainda, o consumo prolongado pode danificar o corpo de um homem, deixando seu equipamento amoroso desmastreado, seus músculos mais fracos e os seus ossos frágeis.

O álcool é o pior inimigo de um homem. Um homem que bebe também pode ficar emasculado: fica com ginecomastia, o corpo curvo e calvo. 

Por causa desse veneno hepatotóxico líquido, cada dia você fica mais afeminado. 

- Ereções. Apenas um excesso alcoólico pode ser suficiente para mitigar a paixão de um homem, e muitos bebedores inveterados geralmente experimentam uma perda total de libido. O principal motivo é que o álcool reduz os níveis sanguíneos do hormônio sexual masculino, a testosterona. Uma das suas muitas funções é precisamente manter e regular o instinto sexual. "Os níveis desse hormônio podem cair, tanto após ingestão maciça, como exposição prolongada ao álcool", de acordo com Mary Ann Emanuele. O álcool age nos testículos de diferentes maneiras, suprimindo as células testiculares que produzem e liberam testosterona e aumentam os níveis de alguns hormônios que inibem essas células.

Em uma ereção, os impulsos que chegam do cérebro e nervos locais causam o relaxamento de pequenos músculos no pênis, permitindo que o sangue encha rapidamente os corpos cavernosos, que estão localizados ao longo do pênis e aumentam seu volume. "O álcool age diretamente no sistema nervoso", diz David Schwartz. "Altos níveis de álcool podem reduzir a condução nervosa necessária para a ereção. Isso é reversível e ocorre somente quando os níveis de etanol no sangue são altos". Se o excesso torna-se habitual, um homem pode danificar permanentemente sua masculinidade. "O álcool afeta o sistema nervoso periférico e central e pode levar à disfunção erétil e à impotência", diz Michael Wilks. Uma ingestão elevada de álcool entre cinco e dez anos pode produzir uma inflamação dos nervos e mesmo impotência, que persiste até se parar de beber.

- Testículos. Um estudo feito em alcoólatras descobriu que metade deles mostra sinais de declínio testicular, de acordo com Timothy Peters. Isto deve-se, em parte, ao fato de que os testículos afetados produzem menos espermatozoides, que normalmente ocupam 95% do volume testicular.

Contudo, é improvável que bebedores moderados sofram esse tipo de redução. Estudos sugerem que, em alguns bebedores crônicos, os testículos podem se recuperar após um período prolongado de abstinência. Mas uma pesquisa na Finlândia mostra que mesmo o consumo moderado pode reduzir a produção de esperma, o que pode reduzir a fertilidade. Pekka Karhunen e Jarkko Pajarinen (ambos da Finlândia) classificaram como bebedores moderados homens que consumiam entre 50 e 100 mililitros de álcool por dia (menos de um litro e meio de cerveja). Eles descobriram que alguns deles apresentavam o esperma com sintomas de ter parado seu desenvolvimento completo no terceiro mês de seu ciclo de vida. Em contrapartida, a produção e o crescimento de esperma cessava completamente em um quinto dos homens que bebiam mais de 200 mililitros de álcool diariamente durante pelo menos um ano.

Esses pesquisadores também descobriram que a ingestão moderada de álcool pode alterar a forma e estrutura do esperma, indicando que isso reduz a capacidade do esperma para fertilizar um óvulo. As experiências de laboratório mostram que o álcool pode interferir com as enzimas da cabeça do esperma, envolvidas na fertilização do óvulo. Estudos com alcoólatras determinaram que 45% deles têm formas anormais de esperma e 50% têm comprometimento da motilidade espermática.

- Músculos. Beber habitualmente pode atrofiar os músculos, tornando-os mais pequenos e mais fracos. De acordo com Peters, a deterioração muscular, ou a miopatia alcoólica, é uma doença lenta que pode afetar bebedores que consomem regularmente 1.000 mililitros de álcool por semana. A miopatia alcoólica afeta as fibras musculares envolvidas em movimentos curtos e explosivos, como  dos glúteos, coxas e ombros. Aqueles que sofrem com isso cansam facilmente com esforço. Os pesquisadores pensam que o álcool interfere com o mecanismo da síntese proteica, de modo que o músculo não pode se autoreparar. Embora os bebedores crônicos estejam mais em risco de miopatia, o consumo excessivo também pode afetar os músculos. Peters diz que aqueles que exageram podem desenvolver uma estranha condição que resulta em músculos flácidos e inchados, muitas vezes na panturrilha. Além disso, eles podem sofrer danos nos rins.

- Ossos. O cálcio determina a força e consistência do osso. O álcool altera a forma como é absorvido, excretado e distribuído por todo o corpo.

O consumo agudo de etanol pode fazer com que o corpo excrete muito cálcio na urina, enquanto o consumo de álcool cronicamente abusivo pode causar que o cálcio seja absorvido pela comida.

- Mudanças estéticas. Os homens que bebem normalmente em grande quantidade podem desenvolver quadris, ginecomastia e flacidez em geral. A razão é novamente o declínio nos hormônios. O álcool pode acabar com o equilíbrio entre a testosterona e a hormona feminino, o estrogênio. O álcool parece acelerar a conversão normal da testosterona e um dos seus precursores, androstenediona, em estrogênio, possivelmente estimulando a enzima envolvida em sua conversão. Como resultado de sua ingestão por um longo tempo, o estrogênio não é retirado do sangue e os níveis aumentam, o que, portanto, suprime a testosterona.

Outra possível explicação para o aumento do estrogênio é que algumas bebidas alcoólicas contêm substâncias similares a este hormônio. Estes fitoestrógenos, que se originam em plantas utilizadas para produzir bebidas alcoólicas, foram identificados em bourbon, cerveja e vinho. Além disso, alguns homens podem perder pelo facial e corporal.

SOBRE OS ÍONS

Neste apartado me concentrarei não na contaminação química do ar (gases, fumaça, poeira, smog, produtos químicos etc.), que é bem conhecida, mas sobre a contaminação iônica de certos ambientes. Um ser humano pode sobreviver por dois meses sem comida e talvez duas semanas sem água, mas sem ar, a morte é uma questão de minutos. Nunca deixamos de respirar o que nos rodeia, portanto, o estado do ar influencia de forma absolutamente determinante em nossa saúde — e, como veremos, no equilíbrio bioelétrico das células do nosso corpo.

No artigo sobre o Graal vimos a importância que os chineses davam ao Qi ou Chi, considerado como uma centelha de energia que estava em toda parte, e cujo fluxo corporal era suscetível de ser canalizado pelo homem graças ao controle da respiração. A maioria dos povos têm um nome para esta energia.

O Chi energizante do ar fresco é equivalente ao que a ciência ocidental identificou como íons negativos (ou aniões), partes moleculares pequenas e extremamente ativas e possuindo uma carga elétrica negativa equivalente à de um elétron. Os benefícios dos íons negativos são bem descritos, incluindo a neutralização de odores desagradáveis, bactérias e pólen (daí, alergias e infecções), frescor, grande redução da poluição ambiental, revigoramento geral do organismo etc. Muitos dispositivos de filtragem de ar (como nos hospitais) estão equipados com geradores de íons negativos, que também são considerados uma vantagem para condicionadores de ar. Além disso, uma boa quantidade de íons negativos externa e internamente de nossas células, potencializa muito todas as funções biológicas do corpo.

¿Como se ioniza o ar? Naturalmente, graças à radiação eletromagnética de ondas curtas do Sol e outros raios cósmicos, que bombardeiam as moléculas de ar energizando seus fragmentos. A importância desses raios cósmicos foi vista no artigo sobre contaminação magnética. Outro ionizador natural é a evaporação e o movimento de grandes corpos de água, bem como o movimento do vento em grandes espaços abertos. Assim, não é surpreendente que as cargas mais altas de íons negativos ou Chi sejam encontradas no ar puro das zonas rurais, costeiras, praias, parques e especialmente nas montanhosas, onde a radiação solar e cósmica é mais intensa, onde o vento sopra forte e incessantemente, e onde há água na forma de ibons, correntes muito batidas e oxigenadas e chuvas frequentes. É nos momentos após uma grande tempestade quando a concentração de íons negativos atinge seus níveis mais altos.

As montanhas aproximam o homem da nobreza e da bondade. Nossos antepassados não se equivocaram quando atribuíram às montanhas qualidades místicas relacionadas à santificação do herói, à saúde e à proximidade de Deus. Os cumes — onde os raios cósmicos são mais fortes, onde o solo está mais próximo do céu, onde o ar e a água são puros e cristalinos, onde cada rocha nua é o resultado de uma resistência contra o vento incessante, onde tudo está curtido, oxigenado e em renovação contínua — são os lugares onde há maiores concentrações de íons negativos e "Chi", especialmente após as tempestades. Sem mencionar as correntes telúricas ascendentes, que, por "efeito funil", sempre acabam sendo canalizadas para as encostas e acumulando em seus picos, verdadeiros centros de energia do planeta. Aqueles que tiveram o privilégio de passar dias ou mesmo semanas beneficiando-se de tal fonte de saúde, sabem bem o que falo.

Enquanto os íons negativos têm um efeito salutar do mais desejável, os íons positivos (ou catiões) são exatamente o oposto, pois são formados por poeira, fumaça e produtos químicos tóxicos, sob a forma de grandes íons polimoleculares, de carga positiva (como prótons), e que têm o efeito de cancelar os íons negativos atraindo-os e neutralizando-os. Isso causa fadiga, malestar, alergias, fraqueza, falta de oxigenação adequada e leva a uma multiplicidade de doenças. Também está demonstrado que os íons positivos aumentam a produção de serotonina no organismo (o famoso "hormônio do estresse").

Para dar uma ideia sobre a distribuição de íons negativos e positivos, vale a pena dizer que, nas áreas de campo, geralmente há três íons negativos para cada íon positivo. Nas cidades, essa proporção é revertida de forma absolutamente desproporcional, atingindo facilmente mais de quinhentos íons positivos por íon negativo.

Não basta a poluição ambiental sob a forma de produtos químicos, poeira e fumaças vinda de fábricas e veículos para neutralizar e contrariar os benefícios dos poucos íons negativos, também temos o efeito deionizador dos aparelhos de ar condicionado (aqueles que não contém geradores de íons negativos), roupas de fibra sintética, calefação, materiais plásticos e espaços fechados. É um fato bem conhecido que horas de trabalho num escritório deixa os trabalhadores esgotados sem ter feito nenhum esforço físico, enquanto um alpinista, depois de um intenso dia de montanhismo, certamente ficará cansado, mas de modo algum fadigado, mas revigorado, fresco e vigoroso.

É também a razão pela qual, durante os primeiros anos do programa espacial, os astronautas, apesar de serem indivíduos bem treinados e de excelente saúde, ficaram absolutamente fadigados e acabaram sentindo tonturas depois de poucas horas dentro de uma cápsula, tanto se estivessem orbitando no espaço como se estivessem ensaiando na Terra. Quando descobriram que a causa do problema era devido às cápsulas de metal, os dispositivos foram logo equipados com geradores de íons negativos que criavam uma atmosfera artificial benéfica em seu interior, permitindo que os astronautas passassem até meses no espaço.

Entre a Terra (elemento feminino, yin) e a atmosfera (elemento masculino, yang) existe uma "polaridade" ou "gradiente de potencial" produzido pelo campo magnético que medeia entre eles, e que em áreas de ar puro pode atingir várias centenas de volts por metro. O corpo humano age como o condutor dessa corrente elétrica sutil. O ar poluído interrompe essa relação, sabotando a correta interação entre o céu e a terra.

Curiosidade: em 1991, dois cientistas alemães, Bert Sakmann e Erwin Neher, ganharam o Premio Nobel por suas pesquisas sobre a influência dos íons nas células humanas.

FORMAS DE EVITAR OS ÍONS POSITIVOS

Em um lugar altamente desionizado como o atual mundo poluído das grandes cidades, é possível seguir algumas orientações simples para reduzir o impacto horrível que o mesmo tem em nossos corpos e minimizar as agressões ao nosso precioso sistema bioelétrico, que é a chave do crescimento e equilíbrio individual. [1]

• Frequentar zonas rurais de ar limpo, especialmente montanhas. Fazer exercício nas áreas mencionadas para oxigenar todas as células do corpo com esse ar benéfico. Altissimamente recomendado alpinismo, acampamento, esqui e snowboard.

• Evite, "na medida do possível", ambientes fechados cheios de ar com fumos de cigarro e cozinha, e pouco ventilados, ou ventilados por aparelhos de ar condicionado e aquecedores centrais sem geradores de íons negativos. Por outro lado — e embora pareça paranoico — em ambientes fechados com muitas pessoas, o ar fica com eflúvio (respiração, transpiração e muitas vezes coisas piores) de pessoas que não têm hábitos saudáveis. Com a fumaça dos outros, nos tornamos fumantes passivos, com os eflúvios dos outros também estamos nos estrogenando, contaminando e deionizando passivamente. É claro que na vida moderna é impossível evitar grandes concentrações humanas (filas, multidões, transportes públicos, ginásios) e que é normal fazer parte de várias em uma semana ― mas o ideal é evitá-las sempre que possível.

• Evite, "na medida do possível", tubos fluorescentes e lâmpadas fluorescentes compacta, posto que são uma forma de iluminação de baixo consumo, constituem uma fonte de desionização, campos eletromagnéticos artificiais e eletricidade suja.

• Evite, "na medida do possível", telas de TV e de computador, pois são fontes de desionização e campos eletromagnéticos de carga indesejável, como vimos no artigo da contaminação magnética. Uma boa ideia obter ionizadores (existem específicos pra telas) para corrigir a situação, especialmente para aqueles que trabalham com PCs. Uma má ideia deixar, sistematicamente, a TV ou PC ligados, apesar de não estarem usando, pois o que conseguem com isso é contaminar o campo eletromagnético de uma sala inteira. Para não mencionar pessoas que assistem várias horas de TV por dia, que são a maioria, ou as crianças que passam a infância jogando com um console. De acordo com o taoísmo, esses dispositivos emitem ondas que atingem o olho, elevam o nervo óptico e desativam a glândula pituitária, associada ao sexto chakra e ao "terceiro olho", órgão da imaginação criativa.

A antítese das montanhas: o escritório — um ambiente no qual atualmente trabalham milhões de pessoas em idade reprodutiva — é o exemplo perfeito de um ambiente onde convergem muitos fatores desionizadores: lugar fechado, muitas pessoas, ar condicionado e calefação, lâmpadas fluorescentes, inúmeros móveis e objetos de plástico, falta de atividade física, e uma praga de telas de computador... sem contar outros males como comida e água estrogenizada. O corpo humano não é projetado para essa vida deprimente. Uma boa ideia para para aqueles que trabalham em escritório é comprar um gerador de íons negativos (eles não são caros e saúde não tem preço) e, se possível, mantenha-o perto, e leve comida de casa em um recipiente de vidro, que sai mais barato além de mais nutritivo. Os benefícios serão sentidos imediatamente, mas tornar-se-ão mais evidentes à medida que os anos passam.

• Existem certos ventos, como aqueles provenientes do deserto do Saara, que contém uma carga perniciosa de íons positivos. Sabe-se, por exemplo, o efeito psicológico negativo de vento do Levante (uma verdadeira avalanche de íons positivos) no Cádis e, em tal medida, isso é reconhecido, o que constitui judicialmente numa circunstância atenuante de caso de crime. Algo parecido acontece com os ventos como Tramontana ou Siroco (Espanha), Sharav (Israel), Föhn (Alemanha, Suíça, Áustria), Chinook (Canadá), Berg (África do Sul), Afganet (Ásia Central) ou Hamsin (Oriente Médio). Pelo contrário, os ventos do Norte, mais frescos e limpos, geralmente contêm uma carga de íons negativa muito benéfica. É óbvio que os ventos não podem ser "evitados", mas pelo menos é interessante estar ciente da razão desse fenômeno, que tem a capacidade de alterar nosso humor de forma radical.

• Evite, "na medida do possível", as grandes cidades. Uma vez que muitos têm o infortúnio de viver nas grandes cidades, pelo menos tentem passar longos períodos em parques, e organizem viagens para zonas de campo, especialmente montanhosas. Altissimamente recomendado canionismo, canoagem, escalada, montanhismo, passeios simples ou o que quer que seja, mas certifique-se de energizar o corpo, ao menos uma vez por semana, com ar puro "real".

• Evite, "na medida do possível", o interior dos carros. Por causa das latarias e materiais plásticos (produtores de odores saturados de estrogênio), são gerados dentro dos automóveis campos elétricos positivos (repelem íons negativos e impelem íons positivos). Essa inércia é a razão pelo qual o sono é tão comum dentro do carro, mesmo se não estiver cansado.

• Evite materiais plásticos. Eles têm um efeito desionador e, também por sua constituição química, disparam substâncias pró-estrogênicas. Evite móveis de plástico ou brinquedos plásticos para crianças e esteja ciente de que muitos aparelhos (forno de micro-ondas, a citar um de vários) são feitos de plástico.

• Desfaça de tapetes e carpetes. Eles atuam como esponjas que retêm bolhas de ar quente, íons positivos, partículas de poeira, bactérias, ácaros, produtos químicos de limpeza e outros agentes indesejáveis. Eles são uma causa de peso em muitas doenças, especialmente alergias respiratórias e relacionadas. Um piso duro e liso pode ser varrido e esfregado completa e facilmente.

• Compre um ionizador (gerador de íons negativos). Instale geradores de íons negativos nos aparelhos de ar condicionado da casa, carro ou simplesmente em salas onde passa muito tempo. Os japoneses, que estão bem familiarizados com o conceito de Ki, trabalham há muito tempo em atmosferas ionizadas por geradores, o que, em certa medida, pode ser a causa de sua alta produtividade e desempenho. Como disse, todos sabem que dirigir cansa e atonta, não só pelos estrogênios emitidos por material plástico e outros, mas pela carga positiva de íons que se acumula devido ao campo eletromagnético do motor e aos materiais do chassi e carroceria. Se todos tivessem um ionizador em seu carro, a "fadiga de estrada" seria uma coisa do passado, não aparecia essa tendência de passageiros dormir em viagens longas e, além disso, reduziria acidentes rodoviários, poupando muitas vidas, uma vez que os reflexos e a atenção melhorariam.

• Mesmo que você viva em uma área saudável com um poderoso campo elétrico natural, os benefícios da ionização ambiental podem ser anulados usando calçados de borracha, vestindo fibras sintéticas, viver cercado de móveis e objetos de plásticos, ou não ventilando a casa, porque tudo isso tende a isolar o corpo da eletricidade atmosférica tão beneficiosa. Para confirmar o que digo, basta andar descalço, vestido com roupas leves de algodão, em um campo numa área rural que ainda conserva o orvalho matutino. A grama úmida (é a causa da alta estima que tinham a maioria das culturas europeias pelo orvalho ou "água da Lua", relacionando-a aos monumentos megalíticos) atua como um pólo magnético, absorvendo literalmente a energia do Céu através do nosso corpo, que tem um efeito incrivelmente energético. Caminhe descalço e em solo natural "na medida do possível". Essa prática é conhecida como gramoterapia.

CONCLUSÃO

Acredito que poucas pessoas duvidam de que a civilização, o estilo de vida urbano moderno promovido pelo Sistema, tende a destruir nosso corpo, nossa mente, nosso espírito e nossa saúde, bem como degenerar nosso código genético cada vez mais, geração após geração, sabotando nossa fertilidade e, literalmente, muitas vezes arruinando a vida de muitas pessoas por "estresse", tensão, mal-estar, desequilíbrios físicos e psicológicos, insatisfações, que na maioria dos casos provêm do veneno que nos rodeia, e que alteram completamente o equilíbrio bioquímico e bioelétrico de nosso corpo transformando-nos em pessoas que não somos. De certa forma, estamos acostumados a adotar uma escala de valor aberrante, permitindo que o materialismo infecte nossa sociedade e resulte nesses dois produtos inteiramente hostis à vida pura, à saúde, à coragem e à força de vontade: escritórios e discotecas. Sem contar o trabalho de contra-seleção genética que sofremos há milênios, esses fatores contaminantes sozinhos degeneraram terrivelmente a qualidade biológica da população europeia, que por seu maior desenvolvimento tecnológico é, ironicamente, o setor étnico mais afetado do planeta.

Pode ser desmoralizante ver quão extremamente difícil seria construir uma vida longe dessa poluição. Na verdade, para estar completamente "a  salvo", deve-se viver em um vale distante, beber água de poço ou córregos, criar gado e cultivar seu alimento e passar a maior parte de sua vida ao ar livre. Isso seria o "ideal". Mas, por mais forte que seja o envenenamento, existem maneiras de minimizar seu impacto. Um dia, serão construídos Estados inteiros que estarão cientes desses problemas, os levarão com a seriedade e agirão de acordo, mas, por enquanto, devemos, na medida do possível, tomar medidas para sermos os precursores de tais países.

Um indivíduo que está ciente dessas coisas deve aplicá-las, não somente nele, mas em sua família e em suas crianças vindouras, a fim de dar-lhes uma grande vantagem sobre as pessoas ao seu redor. Aqueles que, na era da degradação biológica e da doença, do auge da feiura e da miscigenação, da covardia e da preguiça, podem levar uma vida saudável e crescerem fortes e com força de vontade, serão, sem dúvida, os mestres do futuro.

NOTAS

[1] Von Liebenfels, apesar de seus devaneios em outros assuntos, não estava tão errado quando disse que "somos elétricos", uma vez que está provado que o corpo humano é constantemente arado por correntes elétricas de voltagem variável. Ele pensava que a "raça ariana" originalmente tinha uma maior intensidade de energia elétrica (o "elektron dos deuses"), que estava relacionada às glândulas pituitária e pineal e que tal poder antigamente poderia ser direcionado à vontade

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por Paul Antonopoulos Introdução A ascensão de Hugo Chávez, um oficial militar de carreira, à presidência em 1999 viu o início do que se tornou conhecido como a revolução bolivariana após a adoção de uma nova constituição para a Venezuela. A revolução viu a redistribuição da riqueza do petróleo depois que a indústria viu uma nacionalização limitada e um pouco independente dos cartéis

Horacio Cagni - A Influência da História Clássica e da Guerra Antiga no Realismo Político Estadunidense

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por Horacio Cagni[1] Se bem o realismo político - tal como todo ismo - é uma expressão ambígua, no léxico político ele é um conceito central, que apela "ao modo de ser das relações de poder, consideradas independentemente dos desejos e preferências dos atores ou das teorias, mais ou menos explicitamente normativas, dos espectadores". É a realidade, então, a que opõe resistência aos

Kerry Bolton - Foi o Bolchevismo um Produto do Messianismo Tradicional Russo?

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por Kerry Bolton Com o centésimo aniversário da Revolução Bolchevique em Outubro de 1917, a Rússia ainda é em grande parte produto daquele legado. Mas e quanto ao bolchevismo em si? O bolchevismo despertou forças contraditórias. Este artigo defende que a facção vitoriosa não foi a do marxismo doutrinário, mas sim que ela foi moldada pela "Rússia eterna", e metamorfoseada em algo

Esteban Montenegro - Pampa e Estepe

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por Esteban Montenegro Comemorando o centenário da revolução russa fazemos esta contribuição ao diálogo dos povos, em face da visita de Aleksandr Dugin à Argentina. I Introdução O Ano Novo do Espírito Universalização e Filosofia da História A tendência à unificação do globo terrestre acontece com a força de um destino. Todos sentimos, em um primeiro momento, que se

Aleksandr Dugin - Cesarismo Político, Hegemonia e Contra-Hegemonia

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por Aleksandr Dugin Em todo o mundo, inclusive na Rússia, está surgindo uma crescente demanda por uma verdadeira alternativa ao globalismo. Neste sentido, os conceitos de cesarismo e contra-hegemonia (retirados da filosofia do comunista Gramsci) possuem um enorme valor teórico e ajudam a explicar muitas coisas. A hegemonia é a difusão da ideologia liberal-burguesa em escala global (

Esteban Montenegro - Superar o Populismo

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por Esteban Montenegro Considerações críticas a partir da visita de Alain de Benoist Na Argentina há visitas intelectuais que, como a de Ortega y Gasset em 1916, despertam não só um grande interesse mas também uma participação ativa na marcha do pensamento. É necessário dizer em primeiro lugar que aos argentinos nos invade um especial entusiasmo quando aterrisa em nossa terra o

Aleksandr Dugin - É necessário que nos livremos da globalização das mentes

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por Aleksandr Dugin Tradução por Helena Kardash A multipolaridade é um olhar para o futuro (como nunca antes feito). Um projeto de organização da ordem mundial sobre princípios completamente novos. Uma revisão profunda dos axiomas sobre os quais a modernidade está assente – em termos ideológicos, filosóficos e sociológicos. A série de livros Noomaquia é fruto do desejo de estabelecer

Roy Starrs - Dialética Nietzscheana nos Romances de Yukio Mishima

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por Roy Starrs Apesar das ideias de Nietzsche terem tido o mesmo tipo apelo amplo e às vezes superficial para os escritores criativos japoneses que a suas contrapartes ocidentais, entre os principais escritores Yukio Mishima (1925-1970) deve ser considerado como singular tanto pela medida como pela maneira de seu uso daquelas ideias. De fato, qualquer interpretação dos argumentos

Ernst Niekisch - Violência e Espírito

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por Ernst Niekisch A princípio, a violência e o espírito são antíteses. O espírito é o primeiro antagonista da violência. O espírito cresceu a tal extremo que, no fim das contas, ele se situa sempre contra a violência. A violência é sentida como ampla e maciça no espaço; o espírito tem ao seu lado o tempo, e em todo caso mostra ir mais longe com ele. Onde a violência se sobrepõe, o
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