por Rémy Valat
(2020)
A história dos guerreiros japoneses, suas técnicas de combate e sua ética fascinam o público ocidental. Estudos, romances, filmes, animações e mangá nos oferecem uma imagem muitas vezes enganosa desses homens retratados como fanáticos, servos zelosos, fiéis à morte, o drama da Grande Guerra na Ásia confirmando para muitos essa interpretação dos guerreiros japoneses. Uma vez terminada a guerra, um Japão pacificado, colocado sob a tutela norte-americana, tentou esquecer seu passado violento e militarista e forjar uma nova imagem, que recentemente passou a ser conhecida como Cool Japan.
A sede do público europeu e norte-americano por uma espiritualidade exótica, e consequentemente mais verdadeira, mais autêntica, favoreceu o desenvolvimento no Ocidente das artes marciais modernas, exportadas do Japão. O Budô, que surgiu no início da era Meiji, representa hoje a imagem que o Japão e os japoneses gostariam de dar de si mesmos ao mundo. Existe uma grande lacuna entre o Hagakure de Yamamoto Tsunetomo (e suas apologias contemporâneas, O Japão Moderno e a Ética Samurai, de Yukio Mishima) e as publicações contemporâneas sobre artes marciais que promovem o desenvolvimento pessoal, na realidade mascarando, no caso do kendô, por exemplo, uma atividade esportiva ocidentalizada.
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