por Maurizio Neri
(2005)
Uma reconstrução filosófico-política do comunitarismo não pode deixar de se concentrar na figura de Jean Thiriart, tanto pelo uso particular do termo em questão derivado de sua reflexão teórica e suas iniciativas políticas, quanto pelos reflexos que elas tiveram na parábola do próprio comunitarismo na Itália. Vamos começar com uma breve biografia do personagem.
1 – Biografia Ponderada
Jean-François Thiriart, nascido em Bruxelas em 1922, de uma família de cultura liberal, na juventude militou na Jeune Garde Socialiste Unifiée (Jovem Guarda Socialista Unificada) e na Union Socialiste Antifasciste (União Socialista Antifascista). Mas, a certa altura, uma evolução semelhante à que caracterizou vários expoentes da extrema esquerda desde o início da época da Grande Guerra (pensemos, apenas para nos limitar ao caso mais clamoroso, ao percurso de Mussolini). De fato, ele primeiro colaborou com o Fichte Bund (Liga Fichte), subsidiária do movimento nacional-bolchevique de Hamburgo, e depois se juntou à associação Amis du Grand Reich Allemand (Amigos do Grande Reich Alemão), favorável a uma aliança da Bélgica com a Alemanha nazista, tanto que em 1943 ele foi condenado à morte pela resistência belga. Após o colapso do Terceiro Reich, Thiriart passou vários anos na prisão. Em 1960, na época da descolonização, ele se colocou decididamente a favor do predomínio domínio dos brancos no Congo, em Katanga, na Rodésia, participando da fundação do Comitê de Ação e Defesa das Belgas d’África, que mais tarde se tornaria o Movimento da Ação Cívica. O controle da África lhe parecia necessário para a luta que a Europa teria que conduzir contra os imperialismos norte-americano e soviético. Dois anos depois, como representante desse movimento, se encontrou em Veneza com expoentes de outros grupos e nacional-revolucionários europeus. Saiu dali uma declaração na qual os participantes se comprometiam a dar vida a “um Partido Nacional Europeu, centrado na ideia de unidade europeia, que não aceita a satelitização da Europa Ocidental pelos EUA e não renuncia à reunificação dos territórios da Leste, da Polônia à Bulgária passando pela Hungria".
Mas o projeto, como tantos outros criados por Thiriart, não decolou. No entanto, ele não se resignou e decidiu fundar de forma independente um novo grupo, a Jeune Europe (Jovem Europa), que logo se estabeleceu em muitos países do velho continente: Bélgica, Holanda, França, Suíça, Áustria, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra. A organização ofereceu o apoio de suas redes na região metropolitana à OEA (Organisation del l’Armée Secrète)[Organização do Exército Secreto], uma formação política constituída por militares de extrema-direita ligados ao ambiente dos franceses da Argélia que se opunham à independência da colônia. Vários militantes, incluindo o próprio Thiriart, foram presos. A aliança foi motivada pelo fato de que, no caso da vitória da OAS, a Argélia e a própria França poderiam constituir "santuários" em vista de uma ação revolucionária na Europa.
No "Manifesto à Nação Européia", era possível identificar o núcleo essencial do pensamento político de Thiriart:
"Entre o bloco soviético e o bloco dos EUA, nossa tarefa é construir a Pátria Grande: uma Europa unida, poderosa e comunitária, de Brest a Bucareste"