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Mircea Eliade - Observações Metodológicas sobre o Estudo do Simbolismo Religioso

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 por Mircea Eliade

(1959)



I

Há algum tempo, tem-se notado uma popularidade crescente do simbolismo. (Cf. Mircea Eliade, Images et symboles [Paris, 1952], pp. 9ff.) Diversos fatores contribuíram para que o estudo do simbolismo ocupasse o lugar privilegiado que tem hoje. Em primeiro lugar, houve as descobertas da psicologia profunda, especialmente o fato de que a atividade do inconsciente pode ser apreendida através da interpretação de imagens, figuras e cenários. Estes não devem ser tomados pelo seu valor de face, mas funcionam como "cifras" para situações e tipos que a consciência não deseja ou não consegue reconhecer. (Uma exposição clara das teorias de Freud e Jung sobre o símbolo pode ser encontrada em Yolande Jacobi, Komplex, Archetypus, Symbol in der Psychologie C. G. Jungs [Zurique, 1957], pp. 86 ff).

Em segundo lugar, a virada do século testemunhou a ascensão da arte abstrata e, após a Primeira Guerra Mundial, os experimentos poéticos dos surrealistas, ambos os quais serviram para familiarizar o público educado com mundos não figurativos e oníricos. No entanto, esses mundos só poderiam revelar seu significado na medida em que se conseguisse decifrar suas estruturas, que eram "simbólicas". Um terceiro fator que despertou o interesse pelo estudo do simbolismo foi a pesquisa dos etnólogos em sociedades primitivas e, sobretudo, as hipóteses de Lucien Lévy-Bruhl sobre a estrutura e o funcionamento da "mentalidade primitiva". Lévy-Bruhl considerava a "mentalidade primitiva" pré-lógica, uma vez que parecia ser governada pelo que ele chamava de "participação mística". Antes de sua morte, porém, ele abandonou a hipótese de uma mentalidade primitiva pré-lógica radicalmente diferente e em oposição à mentalidade moderna. (Cf. Lucien Lévy-Bruhl, Les Carnets, ed. Maurice Leenhardt [Paris, 1946]). De fato, sua hipótese não recebeu muito apoio entre etnólogos e sociólogos, mas foi útil como ponto de partida para discussões entre filósofos, sociólogos e psicólogos. Além disso, chamou a atenção da elite intelectual para o comportamento do homem primitivo, para sua vida psíquica e suas criações culturais. O atual interesse dos filósofos pelo mito e pelo símbolo, especialmente na Europa, deve-se em grande parte às obras de Lévy-Bruhl e às controvérsias que provocaram.

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