por Alain de Benoist
(1994)
"O testemunho mais importante e doloroso do mundo moderno, aquele que talvez reúna todos os outros testemunhos que esta era é responsável por assumir [...] é o testemunho da dissolução, deslocamento ou conflagração da comunidade" (Jean-Luc Nancy, La communauté désoeuvrée, Christian Bourgois, 1986, p. 11).
A ideologia liberal, em geral, interpretou o declínio do fato comunitário como intimamente ligado ao surgimento da modernidade: quanto mais o mundo moderno se impunha como tal, mais os laços comunitários iriam se enfraquecer em favor de formas de associação mais voluntárias e contratuais e de modos de comportamento mais individualistas e racionais. Desse ponto de vista, a comunidade aparece como um fenômeno residual, que as burocracias institucionais e os mercados globais estão destinados a erradicar ou dissolver. Toda ênfase dada ao valor da própria noção de comunidade pode, então, ser interpretada como uma "sobrevivência" conservadora, testemunha de uma era passada, ou como parte de uma nostalgia romântica e utópica ("sonho de uma vida simples", uma "era de ouro") ou, ao contrário, como um apelo a alguma forma de "coletivismo". Um tema relacionado é que, em troca do abandono das antigas comunidades, os cidadãos desfrutarão de maior liberdade e bem-estar, destinados até mesmo a serem estendidos ad infinitum, e para os quais a reorganização da sociedade em uma forma racional e atomizada é precisamente a condição. Como podemos ver, todo esse tema está estruturado em torno das noções de progresso, razão e indivíduo.
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