por Franco Cardini
(2016)
Caríssimo,
apenas algumas linhas, porque mais seriam muitas.
Achei difícil acreditar que você também fosse mortal. A esta altura já estávamos acostumados à Sua presença distante e feiticeira, à Sua longa vida que dia após dia parecia interminável.
Você acompanhou minha vida por muito tempo, desde o final dos anos cinquenta. Eu o conheci, ou melhor, nós o conhecemos, há mais de meio século: naquela época éramos um pequeno grupo de subversivos em busca de um caminho a seguir. Alguns eram católicos, outros eram ateus ostensivamente e pouco convictamente ou neopagãos imaginários: não gostávamos do comunismo soviético, não estávamos satisfeitos com o Ocidente liberal-democrata. Mas havia a "Guerra Fria", que confundia os contornos de qualquer verdade e nos impedia de avaliar corretamente o que acontecia no mundo. Obscuramente, entendemos que a hostilidade entre as duas superpotências ocultava uma ilusão: que era a máscara de uma cumplicidade surda e sombria, o truque para manter a hegemonia mundial através de uma parceria brutal.
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