por Luca Siniscalco
(2019)
“Tenho várias vidas: a literária, a política, até mesmo a mística e, claro, a privada. Mas o destino não queria que eu sossegasse: as várias famílias que tentei constituir sempre se desmoronaram. E agora eu vivo assim: eu pego moças na estação de Leningradskaya ou, caso contrário, passo longos meses sozinho com o meu rato” (Zona Industrial)
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Soube agora da sua morte. O meu fôlego tropeça perante a memória de uma jornada decembrina de poucos meses atrás. O entusiasmo com a notícia do seu regresso à Itália, a alegria com a sua entrada no “palco” da conferência de imprensa (ele que era um ator shakespeariano nato), a honra de poder ter uma conversa, ainda que breve, com ele, a desilusão de reconhecer a sua dura frieza eslava, a serenidade, pouco depois, na experiência do pathos da distância – o que Nietzsche ensina, poucos compreendem, e menos ainda a praticam. Emmanuel Carrère tentou compreendê-lo, com resultados literários extraordinários, e conseguiu criar um fenômeno cultural generalizado: ao proletário anárquico e elitista que fundou Limonka – um jornal com o título dadaísta, “granada Limonov” – nunca foi de agrado.