por Ramiro Ledesma Ramos
(1931)
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(1931)
Distingue cada época uma concepção de mundo peculiar, que é a chave de todas as valorações que nela se façam. O homem exalta hoje o que ontem desprezaram seus avós, e vice-versa. Isso, que se poderia atribuir à frívola caducidade dos valores, a relativismo ético e político, é, não obstante, a própria raiz da história, onde se denuncia e aparece a objetividade e continuidade da história.
Com grande frequência se ouvem hoje longos lamentos em honra do indivíduo, categoria política que se escapa sem remédio. Uma rápida análise da nova política surgida no pós-guerra assinala o fato notório de que o indivíduo foi despojado da significação e importância política de que antes dispunha. O fenômeno é de tal nível, que guarda o segredo das novas rotas políticas, e quem não consiga compreendê-lo com integridade, está condenado a ser um espectador cego das façanhas dessa época. Acontece que um dia o mundo descobriu que todas as suas instituições políticas padeciam de um vício radical de ineficácia. Provocavam um divórcio entre a suprema entidade pública – o Estado – e os imperativos sociais e econômicos do povo. O Estado havia ficado para trás, fiel a vigências anacrônicas, recebendo seus poderes de fontes desvitalizadas e alheias aos tempos. O Estado liberal era um sortilégio concebido para realizar fins particulares, do indivíduo. Sua aspiração mais elevada era não servir de estorvo, deixar que o indivíduo, o burguês, capturasse a felicidade egoísta de sua pessoa.