por Santiago Galindo Herrero
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“Eu represento a tradição, pela qual são o que são as nações em toda a dilatação dos séculos. Se minha voz tem alguma autoridade, não é, senhores, porque é a minha: a tem porque é a voz de nossos pais”. – Juan Donoso Cortés
Primeiros Anos
Extremadura suportava em 1809 energicamente, resistindo até o limite, a pressão do exército napoleônico. Mas suas cidades iam caindo em mãos do inimigo. Em 28 de março foi ocupada Medellín. A população civil, carente de meios de defesa; fugia diante da aproximação dos gabachos. A família Donoso Cortés, vizinha de Don Benito, não foi alheia a estes azares, agravados pelo fato de que a mãe se encontrava muito perto de dar luz; tanto, que não pôde terminar sua viagem, e em 6 de maio de 1809 lhe nascia um varão. As circunstâncias extraordinárias desse nascimento, a inquietação dos camponeses da região que buscavam refúgio frente ao invasor de sua pátria, haviam de estar presentes durante o resto de sua vida no recém-nascido, que a mãe ofertou à Nossa Senhora da Saúde, muito venerada na paróquia em que ele foi batizado. Ao neófito foram impostos os nomes de Juan Francisco María de la Salud.
O lugar de nascimento é origem de controvérsias. O certo é que nasceu fora de Don Benito e que foi batizado na paróquia mais próxima ao nascimento: a de Valle de la Serena.
Os Donoso Cortés eram, e são, uma família de estirpe bastante elevada e antiga, descendentes do conquistador do México, Hernán Cortés, originários, parece, de Aragão e estabelecidos na Extremadura há várias gerações. O pai do futuro Marquês de Valdegamas era advogado, lavrador e pecuarista estabelecido, o que lhe permitia uma ampla mobilidade econômica. Por isso se permitiu o luxo de levar a Don Benito um mestre que ensinasse as primeiras letras a seus filhos. Juan, aos onze anos, sabia já algo de latim, e convenientemente orientado pelo pai se mudou para Salamanca para prosseguir seus estudos. Isso foi no ano de 1820, o do pronunciamento de Riego em Cabezas de San Juan, o que indubitavelmente faz supor que a velha Universidade, já acusada com anterioridade de doutrinas liberais, seria um foco destes ensinamentos.
A bagagem espiritual que Juan levava para Salamanca provinha, principalmente, dos desvelos de sua mãe, que o inspirou uma doce devoção pela Santíssima Virgem, que foi, sem dúvida, uma das bases mais seguras para o desenvolvimento do processo do que ele chamou de sua conversão.