por Arthur Lima
Texto para trabalho da disciplina de Introdução ao Direito do curso de Ciência Política da UNB
Texto para trabalho da disciplina de Introdução ao Direito do curso de Ciência Política da UNB
Com o fim da Guerra Fria, a vitória dos Estados Unidos levou a ideologia liberal a ascender como a ideologia dominante no mundo levando ao fim do mundo bipolar e iniciando o mundo unipolar. O sistema econômico internacional torna-se mais liberal e há uma enorme difusão do sistema democrático.
As ideologias derrotadas, o fascismo e o comunismo, mesmo que ainda possuam apoio atualmente, se rastejam mais do que vivem. Além disso, partes dessas ideologias se misturaram com as ideias liberais após a Guerra fria (exemplo da direita e esquerda consumista, liberal economicamente e individualista). Francis Fukuyama em sua obra “O Fim da História e o Último Homem” argumentou que o advento do sistema liberal democrático americano foi o sinônimo do fim da evolução histórica humana, o fim da história política.
Fukuyama defendeu sua tese na crença de que não haveria mais teorias ideológicas com forças a se opôr ao liberalismo. O que não era esperado era um nascimento de uma nova ideologia, a Quarta Via Política.
A Quarta Via Politica foi idealizada por Alexander Dugin, filósofo, ativista e cientista político russo, já participou de diversos movimentos indentitários e nacionalistas. Dugin é reconhecido também como um dos principais ideólogos do Eurasianismo. Em sua obra, Dugin apresenta uma nova solução contra o liberalismo, uma ideologia tradicionalista, antiglobalista e multipolar.
O liberalismo como inimigo
Dugin inicia com críticas ao liberalismo, mostrando os motivos de sua vitória perante as outras duas ideologias do século XX. Dentre as três ideologias modernas, o liberalismo foi aquele que se adequou melhor ao mundo moderno, mostrou-se aquele que se opõe aos regimes totalitários das duas ideologias modernas (os regimes soviético e alemão). Entretanto, a vitória do liberalismo mostrou que ele não é aquele que se opõe ao totalitarismo, e sim o terceiro totalitarismo. Dugin tocou em um ponto interessante, com a chegada do mundo unipolar, a ideologia liberal se espalhou para todas as dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais. Diferentes sociedades foram bombardeadas pelos preceitos liberais e suas ideologias, povos que não possuíam conceitos como o de indivíduo sofreram drásticas e forçadas mudanças. O indivíduo está acima de tudo na visão liberal, com isso ele se sobrepõe à sociedade, sua cultura, valores e todas as conquistas e construções desta. Não existe mais uma sociedade, existem indivíduos reunidos, perdidos e sem identidade, vivendo uma vida ao estilo ocidental. Aqueles povos que resistem são mal vistos, e alguma hora recebem a visita da democracia liberal e se rendem ao sistema.
César Garavito expõe bem um caso da intervenção estadunidense na Colômbia. Os Estados Unidos, por meio da USAID (Agencia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), financiaram a tentativa de uma reforma no sistema judicial e penal colombiano ao modelo estadunidense. A USAID investiu mais de 3 milhões de dólares no sistema e no seu fortalecimento e assim manter mais uma zona de controle norte-americano.
Os Estados Unidos investiram nos regimes militares latino-americanos, como foi exposto no documentário “O Dia que durou 21 anos” (no caso do Brasil) e na obra “A Doutrina do Choque” aonde Naomi Klein mostrou os danos sociais das politicas neoliberais nos países latino-americanos, além de suas relações com grandes grupos árabes no Oriente Médio eu seu interesse estratégico na rica zona de petróleo. Isso prova como os Estados unidos e o seu regime liberal, travestido de democracia, que impôs sua cultura e seus interesses perante outras nações em nome da falsa liberdade, são o terceiro totalitarismo.
A questão do conservadorismo
A Quarta Teoria Politica é uma teoria que se encontra além das três teorias modernas por estar além da modernidade. Para superar o liberalismo ela propõe seguir além da modernidade e da pós-modernidade. Críticos da quarta teoria questionam como é possível um movimento revolucionário de caráter tradicionalista e conservador, assim Dugin lança a pergunta “o que é conservadorismo?”, desse questionamento, ele nos apresenta três tipos de conservadorismo: conservadorismo liberal, conservadorismo tradicional e o conservadorismo revolucionário.
O primeiro conservadorismo, o de cunho liberal, é o conservadorismo daqueles que dizem “sim” às mudanças liberais e o avanço do mundo moderno unipolar, mas de uma forma desacelerada. O conservador liberal acredita nos preceitos liberais da modernidade, mas para os preceitos da pós-modernidade é um pouco cedo. Entretanto, ele não negará a pós-modernidade e seus danos, eles de qualquer forma ocorrerão.
Os conservadores tradicionais são aqueles que negam completamente a modernidade e a pós-modernidade, não apenas suas teorias e caráter liberal, mas tudo vivido nela. O conservador tradicional deseja voltar ao mundo tradicional, antes do moderno. É o conservadorismo retrógado, e perigoso, não apenas pelo simples fato de negar a ciência, a filosofia, os avanços do tempo, ele pretende voltar a um mundo aonde começava a doença do liberalismo, é viver o problema todo de novo.
O terceiro conservadorismo, o Conservadorismo Revolucionário é aquele que mais chega perto a Quarta Teoria Politica. Os conversadores revolucionários são aqueles que negam os preceitos liberais do mundo moderno, mas também negam um retrocesso, sabem da necessidade de seguir além, logo não nega a modernidade por completo, como a ciência e seus avanços. O conservadorismo revolucionário é crítico ao fascismo, ideólogos como Julius Evola já fizeram obras criticando o sistema, além de terem participado de movimentos antifascistas. O que o caracteriza como conservadorismo é sua defesa das identidades nacionais, culturais e morais dos diversos povos, algo que se encaixaria na visão multipolar.
A Quarta Teoria é conservadora por defender que as nações devem proteger seus valores e identidade culturais e nacionais. É importante notar quando se diz nacional e não patriota, aonde não necessariamente temos casos de identidade cultural ou nacional de um povo, exemplo de países sem identidade formada como Panamá e nações sem país como a Catalunha. Em um mundo multipolar os diferentes pólos de influencia se relacionariam, mas manteriam suas identidades, seus valores e leis, como disse Dugin “Se trabalharmos juntos, afirmando fortemente nossas diferentes identidades, seremos capazes de encontrar um mundo equilibrado, justo e melhor, um Grande Mundo em que qualquer digna cultura, sociedade, fé, tradição e criatividade humana encontrarão seu próprio e merecido lugar”.