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Álvaro Hauschild - Qual é a Cor do Brasil?

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por Álvaro Hauschild



O Brasil é multicolor, e isto significa, como em uma bela pintura, um império orgânico dentro do qual muitas e variadas culturas coexistem, sem se misturar. Elas colaboram umas com as outras, portanto permitem umas as outras que tenham seus costumes e suas moradas preservadas.

Que o Brasil é multicolor significa que não é o desbotamento do marrom e do cinza, significa que não é um balde onde as cores se dissolvem e se destroem, mas, todo o contrário, significa que é um reino no qual se assentam muitas etnias distintas, cada qual com seu espaço e seus costumes. Cada etnia, tendo origem distinta e particular, tem uma tradição especial, uma visão-de-mundo toda própria, que não compartilha elementos essenciais com as outras, a não ser o que pertence à ampla e própria essência humana, ou seja, o respeito à religiosidade.

Esta religiosidade, por sua vez, não pode ser tomada sob uma forma universal. O “objeto” da religião não está no mundo das coisas cotidianas, no mundo das formas múltiplas (onde poderia ser identificado), o que quer dizer que não existe uma forma única de religião, embora haja um único ser transcendente. Os modos, os caminhos pelos quais os homens se re-ligam a Deus são múltiplos também – e cada caminho só ganha corpo e realidade em uma tradição popular; é a tradição que guia o homem na difícil caminhada, ampla e obscura, da alma perdida no mundo. Sem tradição, não há nada – não há Deus, não há alma, muito menos homem.

Cada tradição, cada etnia, pertencendo a uma visão-de-mundo particular, tem conceitos próprios, sensos-comuns próprios, intuições próprias, estilos próprios, cores próprias, formas próprias. O que todas têm em comum, no entanto, é a necessidade de viver no belo e no sagrado; e isto só é possível quando cada uma delas for livre no seu espaço, onde pode projetar as perfeições da sua visão-de-mundo própria, onde pode projetar sua alma e avistá-la no espaço público. Isto não pode acontecer quando as tradições, misturadas, são infiltradas por conceitos, formas e visão-de-mundo alógenos, que não possuem significado nenhum a não ser para a tradição que as criou. Com a mistura, as visões-de-mundo são relativizadas, o próprio mundo se dissolve com a perda das formas sagradas de cada tradição particular; por sua vez, uma tradição, se apropriando de formas estranhas que não compreende, as destroi quando as reproduz sem compreender. E nenhuma tradição pode compreender a outra, nenhuma tradição pode reproduzir adequadamente os elementos de outra, nem, portanto, julgar as outras.

Cada tradição é um mundo à parte. O que é sagrado para uma não é para a outra. A mistura sempre leva à corrupção de dois mundos ou mais, e é aí que advém o niilismo e o anseio do homem perdido de formalizar as relações sociais – pois no caos tudo é permitido, mas o homem é um ser político, incapaz de viver fora de um povo, fora de uma tradição. Com a perda de sentido do mundo (a perda do mundo propriamente falando), surgem, então, as formalizações da sociedade, para tentar corrigir o erro primordial da destruição das tradições: sistemas filosóficos, jurídicos e afins, que buscam inventar um novo mundo através de mitologias seculares e anti-sagradas, ou seja, conceitos rígidos, arbitrários, que servem de axiomas para todo um aparato civilizacional (científico, filosófico, social, estatal/jurídico, etc.). Mas estes sistemas de modo algum substituem as tradições; eles sequer conseguem compreender a natureza, o ente, quem dirá então as tradições que os fazem aparecer de modo vivo, real, fundadas no ser, onde são uno o povo, o homem e o mundo.

Embora forças políticas, intelectuais e financeiras tentem fazer do Brasil uma sopa horrível através de projetos de desconstrução cultural e miscigenação, fazendo irromper doenças e sequelas sociais profundas, ainda não temos na nossa pátria esta sopa, e comunidades do interior das mais variadas regiões do Brasil resguardam, como guardiões ocultos de uma sabedoria primitiva, tradições enraizadas e encrustadas no modo de vida do povo. Isso significa que o processo de desenraizamento das etnias no Brasil não é espontâneo e natural, mas provocado artificialmente por uma elite completamente consciente dos seus atos, que age através do poder midiático, financeiro e intelectual/político. É preciso dizer aqui que o processo de desenraizamento é um aspecto do esquecimento do ser já denunciado por Heidegger; mas sendo este desenraizamento provocado, tem por agente um sujeito externo, um parasita, um tipo nômade, internacionalista e apátrida, que age às ocultas, bem conhecido por derrubar impérios e fundar oligarquias “democráticas”. Pois não poderiam as tradições do Brasil se perder sozinhas, visto serem enraizadas no ser; as tormentas pelas quais a pátria passa são artificiais: elites de há muito vêm tentando criar no país todo uma maneira padronizada de pensar, a fim de subjugar o povo por inteiro através de uma máquina estatal e midiática, subjugação que tem no dinheiro seus motivos e suas ferramentas mais obscuras.

Desde os nacionalismos do século XX, as elites buscam arrebatar o povo todo como a um caldeirão cinza-marrom, com as políticas miscigenatórias e civilistas do “Estado forte”, industrialista e tecnicista. Na época da ditadura, anos 1960, começa, no entanto, a explícita tomada do Brasil por forças externas, principalmente dos EUA, ou então especuladores internacionalistas apátridas, momento em que as forças políticas, filosóficas e artísticas vindas do exterior prendem o povo a uma doutrinação anti-patriota, embora as aparências conservem superficialmente um ar de patriotismo, apenas como desculpa para a ativação do exército contra a população. Aqui se infiltram no Brasil apelos à commonwealth, muito velados pela algazarra militarista, causando a expulsão e cassação de políticos e intelectuais católicos[1], a fim de impor uma visão-de-mundo completamente laica, irreligiosa, materialista, antitradicional sobre o povo por inteiro, tomado como uma massa informe controlada pelo Estado violento – aqui, o Estado é antipopular, demonstrando ser ferramenta de forças externas, completamente estranho ao povo, distante dele. Intelectuais e políticos liberais se tornam a regra, são privilegiados pela elite, e recebem cargos importantes a fim de servirem de ferramentas – jornalistas liberais ganham fama e “conquistam” o povo, a fim de transformá-lo sem que ele o perceba, a fim de ajoelhá-lo e adoçá-lo, prepará-lo para que cada vez mais aceite os ideais estrangeiros.

Com a chegada dos anos 1990 e do século XXI, quando o povo já se entulha nas metrópoles e já clama por tudo que é exterior, odiando a si mesmo, surge a possibilidade de causar uma grande migração interna e também de pressionar os grandes cérebros e gênios do povo a se mudarem para os centros de pesquisa europeus e norte-americanos, onde devem servir aos interesses da elite de um modo mais facilmente controlado. Enquanto isso, a classe média brasileira, atraída pelo estrangeiro, leva seu dinheiro para lá em turismo ou em compra de produtos e marcas estrangeiras, se não de fato se mudar também para lá a fim de trabalhos pesados e sujos que os estrangeiros mesmos em sua terra se negam a fazer[2]. Internamente as massas são jogadas em metrópoles multiculturais, onde o caldeirão miscigenatório está preparado para aniquilar as diferenças culturais e decepar as tradições ainda vivas no interior e em regiões rurais[3]. Externamente, são pulverizadas numa “sociedade” global, onde todos estão cegamente controlados por elites distantes e em geral ocultas ao povo. Os princípios filosófico-políticos que a tudo controlam e padronizam que se propõem universais e eternos, matemáticos, escondem a arbitrariedade e o manejo das elites que os formulam e os impõem. Não sendo princípios tradicionais, pertencem e obedecem ao raciocínio mecânico de poucas mentes.

Chegado ao momento de uma nova e grande tomada de poder através das privatizações e da transferência do poder público para mãos particulares, que inclui o controle sobre a indústria bélica e dos múltiplos departamentos de um complicado sistema estatal, passamos agora para um chocalhar governamental, em que os partidos, impotentes, confusos e divididos, não têm o que fazer senão se entregar a correntes e fundos financeiros externos e internacionalistas, os mesmos contra os quais deveriam lutar pela soberania tanto do Brasil como de si mesmos enquanto partidos independentes. Não sabemos o que será do futuro brasileiro, mas se seguirmos este caminho do financismo e do racionalismo sistematizante certamente nos veremos cada vez mais perdidos e entregues a vontades sinistras de poucos homens ambiciosos.

E, apesar de toda essa disputa financeira e política, permanece em cada brasileiro uma alma irresoluta, sedenta de Deus, portanto sedenta de beleza e harmonia, que só a simplicidade é capaz de oferecer. O dinheiro, o poder político, o acúmulo de “experiências”, como viagens e sexo, de bens, nada disso preenche o vazio e mata esta sede, como prometem a mídia e os monopólios de mercadorias. Pelo contrário, quanto mais afastado da tradição, maior se torna este vazio, e a sede, uma vez milagrosa, transforma-se em pura tragédia, despertando vícios cada vez piores e o desejo de auto-destruição. Apesar de toda tecnologia, da multiplicidade de prazeres e atividades lúdicas, falta ao povo o essencial, que só os folclores, as lendas, os camaradas, as mulheres e as crianças, enquanto participantes de um todo, reunidos em uma dança comunitária, são capazes de revelar por si só, sem que seja necessário dissecar pássaros para esta revelação da verdade mais pura. Percebe-se em cada homem uma agitação que busca o conforto da alma, o sossego, a tranquilidade de uma vida simples – pois simples é a verdade, simples é a beleza, simples é o ser, simples é Deus, e tudo o mais é barafunda, complicação arbitrária, fútil, que do pó ao pó é sempre um nada.

Pois os folclores não são meras distrações, são símbolos da verdade; o heroi não é um mero exemplo moral, é o homem com uma certeza íntima, dotado de uma intuição da verdade, e para ela se dirige, para ela está sempre apontado, e dela também recebe sua direção, seu norte. E para a alma humana, que é pura intensão, um evento do ser, a verdade é uma necessidade, é o seu fim, é a direção para a qual veio a existir. A harmonia do folclore revela a harmonia do mundo, incomensurável e indeterminável, mas eternamente presente. A verdade se vê com a intuição, não com o raciocínio, e o sacro é percebido intuitivamente, não pode ser calculado. Se fosse calculável, não seria essencial, não estaria ao mesmo tempo “no além” e “no íntimo”, seria apenas convenção, arbítrio, como são todas as medidas e valores socio-políticos ou científicos. A raiz do folclore é metafísica, a origem do folclore o é: a intuição folclórica e a ideia dos folclores, os símbolos folclóricos, não são ajuntamentos de sinais e formas humanas a criar um espetáculo; os símbolos folclóricos são transcendentes, as lendas, com suas histórias, pertencem a outro mundo – eles apenas são trazidos ao homem pela conexão intuitiva do homem com as esferas transcendentes. É uma ação dupla: do homem ao intuir, buscar, admirar, e de Deus ao oferecer e iluminar com as formas eternas de uma história eterna de um tempo que não passa. As lendas são memórias de uma história que não passa, perdida para o homem na matéria temporalizada; viver os rituais de uma tradição é se aproximar, através da memória constante, desta história que não passa, é abrir um caminho por meio do véu da existência rumo ao fim da alma humana, que é a eternidade.

Por rituais não se compreende aqui apenas aquelas festas que acontecem de vez em quando, mas todo um modo de vida guiado pelos princípios tradicionais; dormir, comer, arar, tudo isto pertence à tradição e dela recebe seu verdadeiro significado, e são rituais absolutamente religiosos – mal se dá conta disso a superficialidade do homem moderno! - . Devem, pois, ganhar a forma da tradição, pois é a tradição, com seus rituais, que funda o mundo, e a tudo revela um motivo, misterioso porém presente e real (sim, oracular!). Toda a vida do homem integra a tradição e a ela pertence; quando esta funda o mundo, funda também o homem, pois é por ela que o ser vem a ser, que o homem se torna de fato homem, que ele vê a luz o resgatar da escuridão, da dúvida e da perdição. Que respostas o niilismo moderno conseguiu até agora? Em compensação, qual tradição fiel se viu alguma vez abandonada por Deus?

Vemos no Brasil atual uma grande confusão, mas vemos a completa perda da tradição? O Brasil é um país niilista? Ou é “atrasado”, “medieval”, “ignorante”, “preconceituoso”? Com orgulho e esperança constatamos que é, graças à Deus, ainda bastante “atrasado”, “medieval”, “ignorante”, “preconceituoso”, pois isto significa que ainda não está subjugado pelas mais dianteiras frentes da pós-modernidade. Ainda temos o velho e teimoso nordestino, que despreza com violência a moda estéril das grandes cidades; ainda temos o gaúcho que grita, rabugento, contra a perda dos valores e do amor à terra sagrada; temos o índio tribal que, de arco e flecha na mão, investe contra a esterilização industrial das florestas; temos, sobretudo, até nas metrópoles, aquele homem e aquela mulher que, antes de dormir, oram por aqueles que amam, oram para que Deus ilumine a nossa pátria e a cure do câncer que a ameaça. Muito diferente das massas padronizadas e doutrinadas de terras inférteis, como os EUA e a Europa, completamente insípidas, temos no Brasil micropopulações, comunidades, que resguardam histórias e religiosidades muito particulares, próximas e amigas à terra que as acolheu; o nordestino viaja ao sul e descobre um mundo completamente estranho, e o mesmo constata qualquer outro que sair da sua comunidade. Esta riqueza maravilhosa não é compreendida pelo estadunidense, acostumado a ver o mundo todo igual e desalmado, a partir de cuja visão julga todos os povos, tomando o seu ponto de vista como universal, básico, sendo ele o mais superficial de todos. Lá sim temos o cinza-marrom, o caldeirão desculturado do multiculturalismo, onde tudo é metrópole, enquanto aqui, no Brasil, ainda temos resquícios poderosos que a mídia e o empresariado se esforçam, em vão, em ocultar e apagar[4].

Não há um “formato brasileiro”, e mesmo assim há o Brasil, a alma brasileira que se distingue das outras por sua única e singular hospitalidade, por sua compaixão e humildade ao lidar com as diferenças culturais. E isto não pode ser posto no papel, em análises científicas do povo; o romance, a arte, é que podem expressar esta sabedoria, apreensível somente por almas sensíveis; mas é o folclore, o culto popular, a comunidade local, que verdadeiramente desvela a alma brasileira de uma determinada tradição regional. O folclore é o povo. É por esse caráter singular de um país múltiplo que estrangeiro nenhum nos compreende. Ora somos loucos, ora bobos, ora atrasados e bagunçados aos olhos externos, e apesar disso, nós nos entendemos muito bem, obrigado; mas mais do que isso, sempre somos admirados, por amor ou ódio externos, por homens que querem se tornar brasileiros ou pôr suas garras nesse Brasil “bárbaro”, dominá-lo, tê-lo para si.

Pois somos católicos, apaixonadamente religiosos, e mesmo às vezes confusos jamais conseguiremos nos desfazer dessa paixão; mesmo que nos naturalizemos europeus, estadunidenses, australianos, jamais conseguiremos nos desfazer do Brasil que nos gerou, nos alimentou, nos formou e que reside dentro de cada um de nós – ir ao estrangeiro é sair de casa, ter aquilo que os bons germânicos ainda chamam de heimweh (heim: lar, weh: dor, sofrimento), a saudade de estar longe do lar, a sensação de estar fora de si, de ter perdido a própria essência pelo caminho e ter acabado vazio, nulo. Mesmo que adotemos ideias estrangeiras, através dos meios de comunicação dominados por uma elite internacionalista e globalista, só nos sentimos acalmados e curados do agito e da carência quando resgatados pelos costumes caseiros das nossas tradições que nos formaram. Se o protestantismo e as excêntricas “igrejas” evangélicas se instalaram com êxito no Brasil, foi porque souberam se aproveitar dessa carência gerada pela corrupção contínua de várias gerações e, claro, do poder político e financeiro das máfias também. Se a secularização do país em todos os âmbitos obteve sucesso até então, foi pela maquinação incessante da maçonaria e de outras sociedades secretas, “discretas” e “abertas” afins, cuja rede é imensa e trabalha pelo aburguesamento e pelo inchaço da classe média, através dos ideais laicos que, nomeemos os bois, são formas veladas (máscaras) de uma alma judaica, predominante entre as elites financeiras, aquelas que mexem os pauzinhos de grande parte da política, do empresariado, da classe intelectual e da mídia.

E, sendo católicos, sendo filhos de uma monarquia cristã, temos o dever de retornar a ser o que sempre fomos, como o filho pródigo que reconhece e se arrepende dos seus erros, e abraça com ainda mais paixão suas origens. Sendo uma pátria de muitas etnias e tradições, temos o dever de velar pela preservação e pela vivência de cada uma delas, contra a modernização e padronização da forma de vida do povo em uma massa burguesa, urbana. Temos o dever, também, de formar uma elite intelectual preocupada com essa nossa vasta pátria, repleta de florestas, rios, montanhas e praias, preocupada em devolver ao povo sua própria alma, perdida na história pelos descaminhos dos sistemas e padrões estéreis. A esta elite, é necessário debruçar-se também em geopolítica, para não acabar novamente refém de falsas alianças e influências, que de nada têm de inocentes.

O Brasil não chega a ser um mosaico, onde as cores, individualizadas, se opõem umas às outras e carecem de unidade. Mas também não é a mistura das cores, uma tela única. É, antes de tudo, uma bela pintura, em que as cores, distintas umas das outras, divididas em inúmeros tons e preservadas, completam umas às outras na harmonia de um todo, na harmonia de uma grande obra de arte divina, a ser compreendida unicamente por seu caráter harmônico e total, e não por medíocres análises que em tudo inventam padrões e leis.

Muitos brasileiros compreenderam e compreendem isto. Um deles, devemos recordar, foi Ariano Suassuna, que se engajou no projeto de redespertar as tradições e deve servir de exemplo e inspiração aos artistas, filósofos, políticos e demais estudiosos, empenhados na continuação de seus projetos. Pois Suassuna é um arquiteto do Brasil.

[1] Ernani Maria Fiori, Ernildo Stein, estudiosos da fenomenologia também se incluem aqui.

[2] Os brasileiros servem de mão-de-obra barata em restaurantes, em casas de família, em troca iludida de “morar no estrangeiro”, como se se tratasse de algo sobrenatural, mítico, um mantra este “morar no estrangeiro”. O papel da mídia, das músicas, do cinema, aliado a uma situação financeira difícil causada conscientemente no Brasil, é inegável neste fenômeno. O povo, inocente, mas pervertido por uma educação irreligiosa e materialista, se submete a qualquer canalha que lhe oferece uma promessa de “vida boa”, e teme, por outro lado, aqueles homens duros, firmes, que o amam, mas que, impotentes, não conseguem encontrar luz para a resolução de um problema enorme e complexo.

[3] Intercâmbio eventual de pessoas avulsas entre povos e etnias é sempre comum em todas as épocas e em todos os povos e tradições, mas a miscigenação forçada das massas inteiras é coisa nova e artificial, que tem por fim a destruição das tradições e a simultânea construção de uma “sociedade” ordenada por princípios artificiais, lógico-matemáticos, herdados do contratualismo inglês. Lembremo-nos também da "sociedade aberta" de Karl Popper.

[4] As diferenças civilizacionais contam bastante para esta diferenciação. Vemos que a distinção está mais na raiz do que se imagina: os EUA foram construídos sob um experimento racionalista, filosófico, do contratualismo. O modelo da commonwealth está aí para denunciar. Já o Brasil foi todo ele formado “sem querer”, aos poucos, conforme os povos se assentavam cada um a uma terra, logo se identificando com ela; aqui o fenômeno foi orgânico, e não pressionou a um modelo “a priori” os muitos povos, dentro do qual encaixar-se-iam, mas permitiu a cada um desenvolver-se quase autonomamente. Um fator que contribuiu para isso é o fato de que o Brasil foi colônia de exploração, tipo que não teve por meta encaixotar povos  obrigá-los moralmente; o que é diferente dos EUA, que foram colônia de povoamento, tendo que obedecer aos arbítrios de mentes limitadas da Inglaterra, que exigiu o massacre da civilização instalada, a dos ameríndios.

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